As palavras de Marcelo tiveram um impacto imediato tanto em Esther quanto em Sofia.Para Esther, que estava ao lado de Marcelo há sete anos, conhecendo bem seu temperamento, ficou claro que a atitude dele dizia muito. Ela estava ali, bem perto, e como sua secretária, esperava que ele mandasse que ela própria ajudasse Sofia a se levantar. Mas isso não aconteceu. Era evidente que Marcelo estava inclinado a favor de Sofia.Apesar dessa constatação, Esther ficou calma. Desde o início, ela não largou o celular, não fez nenhum movimento, mantendo-se serena na certeza de que a verdade prevaleceria. O monitoramento das câmeras só provaria que Sofia não passava de uma palhaça.Para Sofia, no entanto, a situação era diferente. Ela sentiu na pele o desprezo de Marcelo, especialmente com aquele tom frio e distante. Ele não acreditava nela. A queda teatral de Sofia não havia surtido o efeito desejado, e agora ela estava num jogo arriscado.Pouco depois, cerca de dois minutos, o segurança voltou com
Esther percebeu algo importante, mas não mencionou. Com isso, Sofia achou que Marcelo estava prestes a confrontá-la, o que a fez sair triunfante.— Por que você não falou isso antes? — Marcelo franziu a testa.As palavras de Esther fizeram ele perceber que havia algo errado.Esther deu um sorriso irônico e zombou:— Você realmente acha que eu mudaria sua opinião só porque eu disse algumas palavras?Depois de dizer isso, Esther se desvencilhou bruscamente de Marcelo. Ela se afastou, deixando-o para trás, com um único pensamento em mente: manter sua dignidade. Marcelo, por sua vez, não a seguiu, nem tentou detê-la. Mas seus olhos, escuros e penetrantes, continuaram fixos na figura de Esther enquanto ela se afastava....Marcelo havia acabado de acender um cigarro quando o telefone tocou. Era Sofia. Ele ativou o viva-voz.A voz de Sofia soou frágil e rouca do outro lado da linha:— Marcelo, por favor, não seja duro com a Srta. Esther. Eu sei que a culpa é minha. Daqui para frente, vou co
Marcelo empurrou o prato de comida na direção de Esther.— Quer que eu te alimente? — A voz de Marcelo soou calma, sem qualquer alteração.Esther, no entanto, não acreditava que ele realmente iria alimentá-la. Com um tom frio, ela respondeu:— Não estou com vontade de comer. Será que nem essa liberdade eu tenho?Marcelo não disse nada. Mas, no segundo seguinte, ele realmente levou a colher com a comida até a boca de Esther. Naquele momento, os olhos escuros de Marcelo estavam fixos nela, mas não tinham a frieza de sempre.Esther ficou atônita com o gesto inesperado dele.Ele, porém, falou suavemente:— Você precisa comer.O tom dele era tão gentil que Esther, pega de surpresa, rapidamente pegou a colher das mãos de Marcelo e disse:— Eu mesma posso fazer isso.Para evitar que Marcelo insistisse, ela comeu algumas colheradas simbolicamente.Marcelo, com cuidado, lhe ofereceu um copo d'água.— Beba um pouco. Não quero que você engasgue.Esther não estava engasgada, mas sim assustada com
Esther achou irônico ele trazer à tona algo que nunca tinha mencionado antes. Com um sorriso cínico, ela retrucou:— Sou sua secretária, e você tem uma garagem cheia de carros. Para que eu precisaria de mais um?Mas, ao observar as atitudes de Marcelo, ficou claro que ele queria usar essa oferta para convencê-la a ficar.— Você não pode ficar saindo sempre no meu carro ou pegando táxi.Marcelo estava sentado no banco traseiro. Esther, concentrada na estrada, mantinha os olhos fixos à frente, sem que ele pudesse ver sua expressão. Mesmo assim, pela entonação da voz dela, ele percebeu que Esther não tinha o menor interesse na proposta.Com um tom de frieza, ela respondeu:— Quando uso o seu carro, é para assuntos de trabalho. Se eu comprar um carro barato, de alguns poucos milhares de reais, o que os outros vão pensar? Que, como sua secretária, comprei uma lata-velha? Será que você não vai se sentir envergonhado?As palavras de Esther foram cortantes, cada sílaba carregando um peso claro
Marcelo ponderou por um momento, então, por fim, decidiu acompanhar Luiza.— Vamos lá.Assim, Esther foi deixada para trás. Ela não tinha intenção de ficar no salão e encarar a assistente de Luiza. Além disso, ela se lembrou de que o jantar de comemoração do primeiro mês do filho de Alfredo havia sido antecipado para aquela noite. Diana, claro, estaria presente, então Esther começou a tentar falar com ela pelo telefone enquanto se dirigia para fora do lugar.No entanto, antes que conseguisse completar a chamada, uma voz conhecida a interrompeu:— Olha só quem está aqui! Nossa Esther, que agora é secretária do Sr. Marcelo, parece que até perdeu a noção do que é ser humana!— É isso mesmo! Primeiro, despacha Hugo com cinco mil reais, dizendo que está ocupada, e agora aparece aqui como se nada tivesse acontecido.— E ainda por cima, saindo daquele salão! — Outra zombou, apontando para o lugar de onde Esther havia acabado de sair.— É, pelo jeito, estar com os colegas não é uma prioridade
Mesmo que não fosse possível mandar aquelas pessoas para a prisão, ao menos uma lição seria dada pela polícia.— Esther, você não tem o menor escrúpulo! Que tipo de pessoa cruel você se tornou! — Uma das mulheres disparou.— Cruel? Olha só quem fala! Se não fosse por mim, vocês já teriam espancado ela em grupo! — Luiz respondeu, irritado com a atitude das mulheres. Ele não conseguia acreditar que pessoas do mesmo sexo podiam ser tão cruéis umas com as outras.— A gente não pode se defender? — A mulher de cabelo curto replicou com arrogância, sem demonstrar nenhum arrependimento.Luiz queria rebater, mas Esther puxou ele pela manga, interrompendo-o:— Não adianta perder tempo com gente que não vale a pena.Luiz sentiu um calor no peito. O simples gesto de Esther, segurando sua manga, teve um impacto profundo nele. Embora o toque não tivesse um significado especial, para Luiz, significava muito. Afinal, Esther era a mulher que ele mais admirava, aquela por quem ele estava apaixonado, mas
— Luiz, deixa pra lá, não precisa se preocupar com isso. — Disse Esther, soltando um suspiro leve.Às vezes, até ela mesma não entendia Marcelo completamente. Bastava um encontro casual com colegas, e ele já ficava cheio de insinuações. Se ele fosse do tipo que aceitasse explicações, não teria se virado e ido embora sem mais nem menos.— Luiz, obrigada por ter aparecido na hora certa e me ajudado. — Acrescentou ela, com um tom de gratidão genuína.— Foi só uma pequena ajuda, não precisa agradecer. — Luiz respondeu, com um sorriso doce e acolhedor.Luiz estava prestes a falar mais alguma coisa quando Esther, percebendo isso, foi mais rápida:— Eu vou voltar para o meu camarote agora. A gente se fala depois, e te pago um jantar qualquer dia desses.— Eu estou livre amanhã à tarde. — Luiz respondeu de imediato, levando a sério o que Esther havia dito, embora soubesse que provavelmente era apenas um gesto de educação.Esther ficou surpresa por um momento, mas logo assentiu:— Então, eu te
O motorista havia sido avisado sobre a relação delicada entre Esther e Marcelo no momento em que aceitou o emprego. Gilberto, sempre cuidadoso, explicou a situação para que ele soubesse como agir. Desde que Marcelo entrou no carro, não parou de fumar, o que indicava claramente que algo havia acontecido entre ele e Esther. Além disso, o motorista percebeu os detalhes. As ordens para seguir Esther e o movimento hesitante de abrir a porta do carro, que ele observou atentamente.Marcelo estreitou os olhos, analisando rapidamente o novo motorista. Era um homem alto e magro, com a pele ligeiramente bronzeada, dando um ar de quem já havia passado por muito na vida. Marcelo soltou um sorriso frio e irônico, repreendendo:— Gilberto não te explicou as regras?O motorista manteve a postura submissa e respondeu com um tom respeitoso:— Gilberto me explicou, sim, Sr. Marcelo. Sei que não deveria me intrometer, mas já passei por algo semelhante. Eu e minha esposa brigamos por um mal-entendido, e e