Capítulo 4
Quando Joaquim chegou em casa, já passava das onze da noite.

A mansão estava estranhamente silenciosa, com apenas uma luz noturna acesa na sala de estar. Natacha estava sentada no sofá, parecendo estar esperando por ele o tempo todo.

Joaquim tirou o casaco, afrouxou a gravata e falou com um leve tom de impaciência:

- O divórcio não foi acordado ao meio-dia? Não vou te prejudicar no que diz respeito à propriedade. Você pode confiar nisso.

Ele pensou que ela queria mais dinheiro.

Natacha interrompeu ele, com uma voz rouca:

- Joaquim, é por causa daquela mulher que você quer se divorciar de mim?

Joaquim mudou sua expressão por um momento, mas logo voltou a sua calma de sempre. Ele não queria mais esconder isso dela, nem se dava ao trabalho de esconder.

- Sim, tenho que dar a ela uma explicação, é o que devo a ela. – Admitiu Joaquim, com calma.

- Só hoje percebi como você é hipócrita. Ao meio-dia, você se fez de vítima, me fez sentir culpada, me forçou a me divorciar. Talvez naquela hora você estivesse até se regozijando, finalmente pegou algo para me usar, para me forçar a fazer o que você queria com ela. – Disse Natacha, com um sorriso sarcástico.

Joaquim franzia a testa, sua voz soava fria demais:

- Natacha, então me deixe esclarecer as coisas hoje. Mesmo que se trata de quem veio primeiro, foi Rafaela quem esteve comigo primeiro. Você sabe muito bem como você se casou comigo. Agora que você está com outra pessoa, podemos considerar as coisas iguais. Deixe-nos seguir em frente, deixar um ao outro em paz, que tal?

- Não! – A voz de Natacha era suave, mas suas palavras eram afiadas. – Eu odeio ser enganada. Durante esses dois anos, você e ela me trataram como uma idiota, me manipulando. Você acha que vou deixar vocês dois escaparem impunes?

Joaquim massageou os olhos, contendo sua raiva, e perguntou entre dentes:

- Então o que você quer fazer?

- Eu não vou me divorciar.

Com essa declaração, Natacha se virou e foi em direção ao quarto.

Quase no momento em que virou as costas, as lágrimas começaram a cair.

Durante dois longos anos, ela esperou que ele voltasse seu olhar para ela pelo menos uma vez.

Sua mãe disse a ela antes de morrer que a maioria dos casamentos nesse mundo crescia com o tempo.

O amor à primeira vista era o amor, como ela sentia por Joaquim. Mas o casamento, no final das contas, dependia da compreensão e da paciência.

Ela pensou que sua persistência poderia conquistar o coração dele. Agora ela percebeu a quão ilusória era essa esperança.

A existência daquela mulher já negou todos os seus esforços e persistência.

...

Pelas próximas duas semanas, Joaquim nunca mais voltou para casa. Ele não dormia nem mesmo no quarto de hóspedes.

Natacha preferiu se concentrar em seus estudos na sala de experimentos da escola.

Ela estava no último ano da faculdade naquele ano e estava se preparando para o exame de pós-graduação. Ela não queria se prender a um casamento sem futuro.

Mesmo que o amor tivesse acabado, pelo menos ainda havia uma carreira!

A única maneira de não pensar em Joaquim agora era se concentrar.

No final da tarde, ela finalmente terminou seus experimentos e saiu do laboratório.

- Você é a Srta. Natacha, certo?

Rafaela estava embaixo do prédio do laboratório, como se estivesse esperando por ela.

Natacha reconheceu ela imediatamente como a dançarina entrevistada por Rosana.

- Sim, quem é você? – Natacha agiu como se não conhecesse ela, com um tom frio.

Rafaela sorriu com gentileza, como sempre, e disse:

- Srta. Natacha, você se importaria de sair para conversar? Sou uma amiga de Joaquim, meu nome é Rafaela.

- Amiga? – Disse Natacha, com sarcasmo, levantando de leve o canto dos lábios. – Joaquim tem muitos amigos, mas nunca ouvi falar de você. Desculpe, mas não tenho tempo agora.

No entanto, Rafaela se colocou em frente a ela e continuou sorrindo.

- Srta. Natacha, não vai demorar muito.

Na verdade, Natacha já guardava muito ressentimento contra essa mulher.

Já que ela estava insistindo tanto, Natacha queria ver o que Rafaela estava tramando.

Assim, as duas foram para uma cafeteria perto da Universidade da Cidade M.

- Srta. Natacha... – Rafaela mal começou a falar quando foi interrompida por Natacha.

- Srta. Rafaela, já que você é amiga do Joaquim, deve conhecer minha identidade, não é? Por favor, me chame de Sra. Camargo!

As últimas palavras foram ditas com um tom especialmente pesado.

Rafaela ficou um pouco constrangida e concordou, acenando com a cabeça.

- Tudo bem, então eu vou te chamar de Sra. Camargo. Estou aqui hoje para me desculpar. Afinal, por minha causa, Joaquim te fez passar por muitos problemas.

- Foi mesmo? – Perguntou Natacha, fingindo sorrir de forma casual. – Que problemas ele me causou? Eu não sabia disso. Srta. Rafaela, talvez você esteja se levando muito a sério. Joaquim tem sido muito bom para mim, realmente.

Rafaela sorriu ainda mais, e com a voz mais suave, desmascarou Natacha:

- É mesmo? Mas Joaquim me disse, Sra. Camargo, que você não quer se divorciar. Isso tem deixado ele muito preocupado. Afinal, eu e Joaquim somos colegas de faculdade, e nós dois nos apaixonamos muito cedo. Pois é, quando você tinha essa idade, nós já estávamos juntos.

Mesmo que Natacha estivesse preparada para enfrentar a amante, quando ela retrucou, ela percebeu que estava em desvantagem em comparação com Rafaela.

Especialmente quando Rafaela começou a relembrar os momentos que teve com Joaquim na frente dela.

- Joaquim me contou tudo sobre vocês dois. Na época em que o vovô Paulo fez uma cirurgia cardíaca muito complicada, foi sua mãe quem salvou ele, o que fez o vovô Paulo sentir que devia muito a vocês. Então, quando sua mãe entregou ele a você antes de morrer, ele com certeza não poderia recusar. Claro, você também foi sacrificada nesse casamento arranjado pelos mais velhos, você é realmente digna de pena. – Continuou Rafaela.

Sua voz suave, nem apressada nem irritada, era suficiente para esmagar a face e a dignidade de Natacha.

Natacha mexeu nervosamente os dedos ao mexer o café na sua frente, seu coração estava completamente apertado.

Então Joaquim realmente contou tudo sobre ela.

Ela devia ser uma piada para eles, não é mesmo?

Natacha resolveu seguir o fluxo da conversa:

- Srta. Rafaela, se você está com pena de mim, então por que não age como uma boa pessoa e para de perturbar a minha vida com Joaquim, o que acha?

Rafaela ficou um pouco surpresa com a resposta de Natacha. Ela esperava que ela ficasse furiosa, mas não esperava que essa garota conseguisse se conter tão bem.

Rafaela sorriu e disse:

- Eu também não quero isso, mas Joaquim insiste em ser responsável por mim. Afinal, embora não tenhamos o título de marido e mulher, já vivemos como tal. Srta. Natacha, você ainda é jovem e não vai entender.

Natacha apertou com firmeza a mão que estava embaixo da mesa. Cada palavra de Rafaela parecia cortar seu coração em mil pedaços.

Ela também podia imaginar que eles não eram inocentes, afinal, como um homem podia se controlar ao lado da mulher que amava?

Mas quando Rafaela disse a ela isso tão claramente, Natacha sentiu um aperto no peito quase sufocante.

Ela respirou fundo e disse:

- Então o objetivo de você vir me procurar hoje é que eu aceite vocês?

- Se for possível, eu farei com que Joaquim forneça mais segurança para sua vida no futuro, eu jamais permitiria que você fosse prejudicada.

Rafaela pensou que Natacha estava cedendo e tentou seduzir ela com uma oferta tentadora, usando dinheiro como isca.

Natacha soltou uma risada e disse:

- Sinto muito, mas se eu continuar sendo a Sra. Camargo, posso obter muito mais do que esse acordo de divórcio.

- Mas o amor sempre vem em primeiro lugar. – Rafaela viu que Natacha não estava cedendo e sua expressão ficou tensa. Ela falou com urgência. – Srta. Natacha, mesmo que você insista dessa maneira, será inútil. Afinal, fui eu quem chegou primeiro ao lado de Joaquim, nós é que somos amor.

- Sim, vocês são amor, mas nós somos casamento. O amor pode ser uma questão de quem chegou primeiro, mas a lei não protege essa ordem. Aquela certidão de casamento já determinou que a você não tem legitimidade, você nunca terá o direito de subir ao altar. – Rebateu Natacha, assentindo a cabeça.

Naquele momento, o celular de Natacha tocou.

Vendo que era Joaquim ligando, Natacha imediatamente se lembrou de que era dia 15 do mês, quando eles costumavam voltar à Antiga Mansão da família Camargo para jantar com Sr. Paulo. Ela atendeu de propósito o viva-voz na frente de Rafaela. Do outro lado da linha veio a voz de Joaquim:

- Onde você está? Hoje vamos voltar juntos para a Antiga Mansão.

- Querido, estou na universidade, acabei de terminar um experimento. Você poderia vir me buscar?

A voz de Natacha era suave e tinha um toque de carinho. Joaquim ficou surpreso por um momento, sem acreditar que aquela palavra que havia acabado de ouvir foi pronunciada por Natacha.

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