MayaQuando entrei no quarto, passei de encantada a apaixonada pelo lugar. Coloquei a bolsa de academia que havia trazido com alguns pertences sobre a cama e sentei-me ao lado, olhando para as portas francesas de vidro e imaginando o quanto devia ser bela a vista do quarto ao amanhecer. Só fazia uma hora e quinze minutos que eu havia falado pela última vez com o Victor e ainda iria demorar um pouco para ele chegar. Tirei minhas botas de cano curto e deitei-me na cama sentindo-me finalmente mais calma.Relaxada sobre o colchão macio, acabei cochilando enquanto esperava por ele e fui despertada da melhor maneira possível, com beijos em meu pescoço e carícias nos meus cabelos. Abri meus olhos lentamente e meu campo de visão foram os olhos verdes do Victor, deitado ao meu lado. Sorri feliz em vê-lo e estendi minha mão para tocar seu rosto. Ele sorriu e aproximou-se beijando meus lábios e invadindo minha boca com sua língua. Seu beijo tinha gosto de chocolate e isso me deixou excitada. Ele
MayaVi Victor fechar os olhos e contrair sua mandíbula, claramente arrependido do que havia dito.— Minha mãe e mais quem, Victor? — Ele me soltou e afastou-se esfregando seu polegar em sua testa.— Eu não me lembro o nome dela. Ver a sua mãe hoje foi como ver um fantasma. — Ele virou-se para mim e olhou-me com pesar, apoiando suas mãos em seu quadril. — Quando a vi, no primeiro instante, tive dúvidas se seria ela, mas sua reação me mostrou que eu estava certo. Apesar da doença, ela não mudou tanto. Apenas envelheceu assim como eu.— Há quantos anos?— Maya...— Eu perguntei quando se conheceram? — gritei, atraindo um olhar furioso do Victor.— Há uns vinte e cinco anos.— O que houve? — Ele encarou-me com a respiração pesada, negando-se a dizer. — Victor... vocês... vocês tiveram alguma coisa? — perguntei com um fio de voz. — Vocês transaram? — Senti um nó se formar em minha garganta e as lágrimas voltarem a escorrer por meu rosto.— Claro que, não! Se quer saber mais, pergunte a ela
MayaCheguei a tempo de pegá-la em casa, antes de sair para o trabalho.— Maya? Oi! — disse surpresa ao me ver aproximar dela, que se preparava para entrar em seu carro, estacionado à frente da garagem. — Aconteceu alguma coisa? — perguntou preocupada.— Minha mãe está bem — disse para tranquilizá-la. — Mas quero falar com você a respeito de outra coisa.Sua feição preocupada deu lugar a uma que demonstrava que já esperava por isso.— Vem. Vamos entrar. — Caminhamos até a porta e entramos. — Sua mãe me ligou ontem. — Fechou a porta. — Você aceita um chá ou café? — perguntou caminhando em direção à cozinha.— Não. Estou bem.— Não parece bem. Está com os olhos fundos — disse servindo uma xícara de chá e pousou-a sobre o balcão à minha frente. — Por favor... sente-se e beba o chá. Vai te fazer bem — pediu educadamente.— Obrigada — agradeci e sentei-me no banco alto da ilha da cozinha, puxando a xícara de chá para mim. — Quando ela me contou, eu não acreditei. Achei que seria impossível
Maya— Chegamos em casa três dias depois e decidimos que nunca contaríamos para ninguém sobre o que aconteceu lá. Pedimos desculpas aos nossos pais por termos fugido e contamos histórias de aventuras que nunca aconteceram. Sua mãe disse sim ao seu pai e eles se casaram meses depois.— Eu sinto muito pelo que vocês passaram. Não devia ter tentado forçar minha mãe a dizer nada.— Tudo bem, querida — disse segurando minha mão. — Você está apaixonada por ele e precisava da verdade para viver em paz. No fundo... — disse sorrindo para mim. — foi bom contar isso para alguém, finalmente. — Suspirou aliviada.— Nunca pensou em ir à polícia, depois que voltaram?— Quando me formei em Direito, decidi que iria atrás dele e pedir justiça. Mas quando procurei pelo nome Evan Johnnes, descobri que o homem havia sido acusado de lavagem de dinheiro e se suicidado três meses após sua da condenação, em sua cela. Ele deixou um filho de apenas oito anos para trás. Através da minha busca por ele, encontrei a
Maya— Darei alta para ela na terça pela manhã, mas ela tem que repousar em casa e estar de volta na quarta às oito. — Tudo bem.— Nada de esforço físico e nem emocional. A alimentação regrada continua, queremos mantê-la forte, lembrem-se disso. — Vamos nos lembrar — garanti a ele, sentindo-me animada de poder dar um dia em casa para minha mãe. — Obrigada, Dr. Collins — agradeci apertando sua mão.— Tudo bem, ela merece. Está há tempo demais nesse hospital.— É, infelizmente. Tenha uma boa-noite, doutor — disse sorrindo simpática e agradecida, antes de voltar para o hospital.— É Maya, não é isso? — perguntou, fazendo-me para e olhar para trás.— Isso mesmo.— Estou indo a um bar aqui perto, encontrar uns amigos. Gostaria de ir? Você passou o dia todo aqui no hospital. — Encarei-o surpresa pelo seu convite totalmente inesperado e sem palavras.— Ela não pode. — A voz do Victor ecoou no estacionamento deserto e escuro. — Já temos compromisso — disse ao médico, antes de selar minha boc
MayaSaímos da emergência sem olhar para trás e entramos no elevador para voltar ao quarto andar. Quando as portas se abriram para sairmos, demos de cara com meu pai esperando pelo mesmo. Ele olhou para Victor que estava ao meu lado, perto demais, e depois para mim com uma expressão confusa. Apertei a mão do Victor que estava agarrada a minha e engoli em seco já prevendo mais uma cena dramática para esta noite. Meu pai desceu seu olhar para nossas mãos unidas e seu semblante ficou sério, fechando em seguida em uma carranca.— Pai...— Que porra é essa, Maya? — interrompeu-me em um grito. — Você desaparece e te encontro com esse homem. Quem é ele? — perguntou nervoso, ficando com o rosto vermelho, apontando para o Victor.— Sou Victor White — Victor se apresentou saindo do elevador e estendendo sua mão para ele, que foi correspondido com um soco em seu nariz, fazendo-o cambalear para trás batendo contra as portas fechadas do elevador.— Pai! Meu Deus! — Abaixei-me ao lado do Victor que
MayaSaí do quarto enquanto ele tomava seu banho e desci até o andar debaixo, à procura da cozinha. Ao chegar lá, encontrei uma moça de mais ou menos uns vinte anos, usando apenas uma camisola fina de algodão, mostrando parte de sua bunda. Parei atrás dela e fiquei observando aquela cena de braços cruzados. Pigarreei para chamar sua atenção e ela virou-se em um pulo assustada. Quando notou que era eu quem estava atrás dela, puxou a barra de sua camisola para baixo, na tentativa de cobrir-se mais.— Desculpe-me, senhorita. Precisa de algo? — perguntou desconcertada, com as bochechas rosadas.— Na verdade, eu preciso sim. Preciso que vista uma roupa e use peças íntimas somente quando estiver no seu quarto — disse enfurecida.— Achei que todos já estivessem deitados. Desculpe-me. Não vai se repetir.— Acho bom! — disse lhe dando as costas e saindo da cozinha.— Maya — chamou Noberto ao me encontrar no hall. — Precisa de algo? Já passam das dez, os empregados já foram dispensados.— É, eu
MayaEstava com raiva e com vontade de lhe acertar umas boas bofetadas no rosto, mas tentava me controlar. Victor me encarou e eu o ignorei, enquanto colocava leite no meu café. O escutei respirar fundo e lentamente, sabia o quanto ele odiava que eu o ignorasse.— A dispense e lhe dê uma carta de referência — disse Victor a Noberto, que saiu em direção à cozinha, sem dizer nem uma palavra. Levantei minha cabeça e olhei para ele, sem acreditar se estava mesmo fazendo aquilo. — Não quero mais problemas entre a gente. — Sorriu para mim.— Que bom. Porque não tenho muita paciência com gente folgada.— Vai com calma, meu amor — pediu inclinando-se até mim e beijando meu rosto. — Já falou com seu pai?— Ainda não. Ele quer sair para almoçar comigo hoje.— Tudo bem, eu tenho que ir para Houston.— Vai ficar a semana toda lá?— Não. Eu volto na terça à tarde.— Okay.— Quer conversar sobre o que fez ontem o dia todo? — perguntou ele, apoiando seus cotovelos sobre a mesa e dando-me sua atenção.