MayaEnquanto Clarice falava em tom autoritário, sendo a ótima advogada que era, puxei as fotos para mim e comecei a passar uma a uma. Eram fotos do meu dia a dia: entrando ou saindo do hospital, passeando com Bow algumas semanas atrás, chegando em casa no carro do meu pai há um mês e até mesmo em Seattle com Victor, passeando pela cidade. Havia fotos nossas abraçados e nos beijando, e saindo do hotel onde ficamos hospedados.— Quando vocês tiverem uma declaração de algum homem ou mulher alegando terem praticado tal ato, ou provas concretas, constituídas mediante uma investigação legal, vocês me procurem. Caso contrário, estamos de saída — avisou Clarice.— São vocês? — perguntei segurando uma foto em minha mão, onde eu estava em um restaurante com meu pai, em Oklahoma. — Vocês quem estão me seguindo? Ou essas também foram fotos dadas pela pessoa que me denunciou? — perguntei sentindo a raiva me possuir. Os detetives se entreolharam e depois me encararam em silêncio. — Eles estão me s
Maya— O mesmo aconteceu comigo — disse a ela. — Nós não nos lembramos de nada. Ele foi tão convincente em relatar como foi nossa noite, dizendo como eu fiquei bêbada e de como lhe pedi para me amarrar e transar comigo, que não sei se isso foi um estupro ou se consenti com tudo, mesmo não recordando! — disse em meio aos soluços do choro.— É claro que foi um estupro, você estava inconsciente. E por que não foram à polícia? Isso é estupro de vulnerável. Não interessa se pediram por isso ou não. Vocês não estavam sóbrias e foram drogadas! — disse Clarice.— Porque ele disse saber sobre a Penny. Ameaçou a expor caso procurássemos a polícia — respondi.— Com que tipo de pessoas você se envolve? — perguntou Clarice a Penny.— Com gente da alta sociedade. Se eu for a julgamento terei que citar nomes e isso vai gerar muito problema para mim, pode custar até mesmo minha cabeça.— Isso é perigoso demais, Penny. Não vou deixar que procure a polícia.— Maya tem razão. Nem sempre a proteção da ju
Maya— Deixe-me ver — pediu Clarice as pegando da minha mão. — Meu Deus! Tinha mesmo alguém invadindo sua privacidade, Maya. — Abri o bilhete e fiquei em choque ao ler o que estava escrito com letras impressas em um cartão branco. — O que foi, querida? O que está escrito?Será que o seu pai terá orgulho da sua garotinha, a vendo nessas imagens?Talvez ele até queira as pôr sobre a mesa do seu escritório, ou quem sabe, as emoldure e pregue na parede do corredor.— Eu preciso ligar para o meu pai.Voltamos para o quarto e tentei ligar para ele, mas a chamada ia direto para a caixa de mensagem. Depois de muito insistir, finamente consegui.— Alô — disse ao atender.— Pai? — chamei-o em um sussurro.— Na cadeia deixam você usar o celular? — perguntou com rispidez na voz.— Pai, me ouça, por favor — implorei, já sentindo meus olhos ficarem marejados.— Ouvir o quê? Que a filha que eu criei com tanto amor e sacrifício, não passa de uma vadia? — perguntou aos berros. — Você foi presa, acusad
MayaLevantei devagar da cama e vesti uma calça jeans, calcei meus tênis e juntei minhas coisas que estavam espalhadas pelo quarto, colocando tudo dentro de uma das minhas malas, fazendo o mínimo de ruído possível para não acordar a Clarice. Peguei papel e caneta sobre uma pequena escrivaninha no canto do quarto e sentei-me na cadeira para escrever um bilhete para ela.Querida Clarice,Em primeiro lugar, obrigada por existir na minha vida. O amor que tenho por você é o mesmo que tenho por minha mãe. Eu te amo, não tenha dúvidas. Em segundo lugar, obrigada por sua ajuda. Sem você, ainda estaria presa e sendo acusada injustamente. Eu preciso de tempo. Tempo para me curar, tempo para me achar outra vez, montar meus planos e descobrir meus novos ideais. Não me procure, eu estarei bem. Sempre que quiser falar comigo, pode me ligar, mas lhe mandarei notícias. Não estou fugindo, apenas seguindo minha vida, é preciso! Um dia vou voltar e tentar conversar com meu pai, mas agora não consigo, si
Reconstruindo Sonhos - Livro 2 / Trilogia ValenteMayaQuase dois dias na estrada e eu já estava sentindo-me extremamente cansada. Meu corpo implorava por uma cama e um bom banho quente, enquanto meu estômago reclamava dizendo não aguentar mais nenhuma comida de estrada. Estava a meia hora da última parada onde seria meu destino final, quando tive curiosidade de abrir o aplicativo do banco em meu celular para consultar meu saldo atual. Tinha apenas oitocentos e vinte três dólares na minha conta. Isso não seria o suficiente nem mesmo para uma semana. Recostei-me na poltrona e fechei meus olhos tentando me manter otimista com minha nova vida.— Moça... Moça! — Uma voz grave chamou-me, cutucando meu ombro com o dedo.Abri meus olhos lentamente e pisquei rápido algumas vezes, tentando limpar minha visão embaçada. Eu havia caído no sono sem perceber.— Já chegamos — avisou o motorista de pé ao meu lado.— Obrigada — agradeci e me levantei.Peguei minhas malas no bagageiro e as arrastei com
MayaDepois de um banho demorado, tudo o que eu mais queria era me deitar na cama e dormir até o dia seguinte. Peguei meu celular e deitei-me sob o edredom macio. Ao destravar a tela, vi que havia seis ligações perdidas da Clarice, somente na última hora. A última vez que nos falamos, eu estava passando por Memphis. Estava tão cansada e nada a fim de conversa, então, resolvi apenas mandar uma mensagem a ela.Já cheguei.Estou bem.Maya20:23 p.m.Não vai me dizer onde está?Clarice20:24 p.m.Ainda não. Boa noite.Maya20:24 p.m.Deitada, comecei a pensar um pouco na bagunça que se encontrava minha vida. Abri a galeria de imagens e comecei a buscar fotos das minhas férias no ano passado. Minha mãe estava bem e havia acabado de se curar do primeiro câncer. Seus cabelos ainda estavam curtinhos, mas lindos e bem arrumados. Seu sorriso era grande e de pura gratidão.Em meio a tantas fotos de momentos especiais com meus pais e em dias bons com amigos da faculdade, achei uma que marejou me
MayaFechei a porta e descemos para o térreo. Caminhamos pela calçada até o ponto de ônibus a alguns metros mais à frente.— Então... qual é a sua história? — perguntou ela.— Como assim, a minha história?— Você não é daqui, está sozinha e desempregada. Então, você tem uma história.— Ah, bom... Eu sou de Oklahoma e vim para Chicago, porque precisava de um novo ponto de partida. História curta. E você?— Meu pai é um alcoólatra machista, que acredita que amor se demonstra com socos e chutes. Seu talento é bater na minha mãe e nos seus filhos. Fugi dele e vim parar aqui, mas voltarei em breve para livrar minha família daquele crápula.— Sinto muito.Realmente sentia, tive pena da sua história.— Seus irmãos ficaram na sua cidade? — perguntei curiosa.— Sim, mas estão em uma casa de apoio para menores.— E a sua mãe?— Ela se recusa a deixá-lo e toda vez que apanha, justifica dizendo que ele só está em um dia ruim e sempre acredita quando ele diz que vai mudar.— Você vai conseguir bus
MayaSegui-o em silêncio e ele abriu a porta dando-me passagem para entrar primeiro. Pette entrou em seguida e fechou-a nos dando privacidade. Tomou seu lugar atrás da mesa espelhada com base de ferro cromado. Fiquei parada de pé à sua frente enquanto ele abria uma pasta preta sobre sua mesa.— Pode se sentar, eu não mordo — disse sem me dirigir o olhar.Aproximei e me sentei em uma das poltronas postas à frente da sua mesa. Meu rosto formigava e minhas mãos suavam frio. Senti um nervoso de pura ansiedade gelar meu estômago.— Gostei do seu trabalho — elogiou quebrando o minuto tenso de silêncio.Ele recostou-se em sua cadeira e me dirigiu seu olhar duro. Pette era um homem bonito e jovem, mas seu jeito me intimidava. Seus curtos cabelos pretos eram bem penteados para trás e cheios de gel. A pele levemente bronzeada dava destaque a sua barba um pouco cheia e bem-feita. Seus belos olhos azuis eram o que chamava a atenção, nunca havia visto uma íris tão clara como a sua.— Você aprendeu