MayaAcordei com a luz do sol batendo forte em meu rosto e deitada no chão acarpetado. Tentei abrir meus olhos, mas a claridade me cegou forçando a fechá-los outra vez. Um enjoo intenso subiu em minha garganta, eu apenas virei para o lado despejando tudo o que tinha em meu estômago. Fraca e sentindo meu corpo todo tremer, sentei-me ao chão e uma ressaca gigantesca bateu em mim, causando uma dor aguda em minha cabeça. Olhei para o lado e deitado no chão de um quarto estranho, estava o Nick, completamente nu. Olhei para o meu corpo desesperada e notei que também estava nua. Tentei levantar-me rápido, mas a fraqueza me jogou de volta no chão.— Vai com calma, gata. — disse ele com a voz rouca de sono. — A noite passada foi intensa — Sentou-se sorrindo para mim.— O que aconteceu? — perguntei tentando cobrir meu corpo com meus braços. — Você abusou de mim? — gritei assustada, recordando-me dos últimos segundos antes de apagar no banheiro.— Eu? Não — disse levantando-se. — Nós transamos. T
VictorDepois que falei com a Maya por telefone, pude sentir que ela havia ficado chateada pela forma como a tratei. Tinha certeza de que ela ouviu a voz da Margot chamando-me. Uma sensação ruim tomou conta do meu peito e soube imediatamente que era hora de voltar para casa, mesmo sendo antes da hora. Liguei para minha secretária e pedi que preparasse o jatinho para voltar o quanto antes a Houston. Disse que ligaria para ela quando amanhecesse nos Estados Unidos, mas achei melhor não, por dois simples motivos: primeiro, eu já estava a caminho de casa e logo mais nos encontraríamos. Segundo, sabia que ela me questionaria sobre a voz que ouviu me chamar de amor e não queria ter que lhe dar explicações por telefone, muito menos iniciar uma discussão.Quando o avião pousou em Houston, era pouco mais das duas da manhã de uma segunda-feira. Noberto aguardava por mim próximo ao carro, com uma feição preocupante no rosto. Nesse momento, meu coração disparou e pensei que algo ruim poderia ter a
VictorQuando escutei o barulho do seu salto ecoar no corredor depois da porta, no piso de madeira, soube que era ela quem estava chegando. Levantei-me da cadeira e virei de costas para a porta, virando o último gole do uísque. Não queria olhá-la agora. Sua voz soou trêmula e amedrontada atrás de mim, quando chamou por meu nome.— Eu mandei você sentar! — disse enfurecido, virando-me para ela. — Seu amor por mim é de arrepiar. Você some e eu fico louco atrás de você! — gritei, parando à sua frente. Ela encolheu seus ombros e olhou-me com um olhar assustado. — Onde você estava? — perguntei querendo ouvir da sua boca, mas ela permaneceu em silêncio, o que me deixou com ainda mais ódio. — Responda! — berrei agarrando seus braços com força, os apertando para machucá-la. Queria lhe causar dor física, seja como for, para que ela pudesse sentir na pele a dor que eu sentia por dentro. — Fale, sua vadia! Assume que estava sendo a puta que você é! Onde eu estava com minha cabeça quando me envolv
MayaVirei uma noite em claro chorando e me lamentando pelo que houve na festa e com Victor. Acordei decidida que o faria me ouvir.Penny só chorava trancada no banheiro e com febre alta. A coloquei para dormir e saí à procura dele. Era terça e Victor só podia estar em seu escritório no centro da cidade àquela hora. Peguei um táxi e segui até a sede da sua empresa. Ao chegar lá, senti uma mistura de medo e ansiedade, quando vi seu carro estacionado na vaga exclusiva do CEO. Fiquei parada na calçada, esperando que ele saísse de lá, sabia que se eu tentasse entrar, seria barrada. Fiquei andando de um lado para o outro na calçada por quase três horas, até que Victor saiu com Noberto e outros dois seguranças.Meu coração, que já estava quebrado, se estilhaçou ainda mais quando ele me ignorou mandando-me para o inferno e deixou que um de seus seguranças detivesse-me pelos ombros. Ele entrou no carro e logo seguiu pela avenida, sumindo ao virar a esquina. O segurança enfim soltou-me e entro
MayaEnquanto Clarice falava em tom autoritário, sendo a ótima advogada que era, puxei as fotos para mim e comecei a passar uma a uma. Eram fotos do meu dia a dia: entrando ou saindo do hospital, passeando com Bow algumas semanas atrás, chegando em casa no carro do meu pai há um mês e até mesmo em Seattle com Victor, passeando pela cidade. Havia fotos nossas abraçados e nos beijando, e saindo do hotel onde ficamos hospedados.— Quando vocês tiverem uma declaração de algum homem ou mulher alegando terem praticado tal ato, ou provas concretas, constituídas mediante uma investigação legal, vocês me procurem. Caso contrário, estamos de saída — avisou Clarice.— São vocês? — perguntei segurando uma foto em minha mão, onde eu estava em um restaurante com meu pai, em Oklahoma. — Vocês quem estão me seguindo? Ou essas também foram fotos dadas pela pessoa que me denunciou? — perguntei sentindo a raiva me possuir. Os detetives se entreolharam e depois me encararam em silêncio. — Eles estão me s
Maya— O mesmo aconteceu comigo — disse a ela. — Nós não nos lembramos de nada. Ele foi tão convincente em relatar como foi nossa noite, dizendo como eu fiquei bêbada e de como lhe pedi para me amarrar e transar comigo, que não sei se isso foi um estupro ou se consenti com tudo, mesmo não recordando! — disse em meio aos soluços do choro.— É claro que foi um estupro, você estava inconsciente. E por que não foram à polícia? Isso é estupro de vulnerável. Não interessa se pediram por isso ou não. Vocês não estavam sóbrias e foram drogadas! — disse Clarice.— Porque ele disse saber sobre a Penny. Ameaçou a expor caso procurássemos a polícia — respondi.— Com que tipo de pessoas você se envolve? — perguntou Clarice a Penny.— Com gente da alta sociedade. Se eu for a julgamento terei que citar nomes e isso vai gerar muito problema para mim, pode custar até mesmo minha cabeça.— Isso é perigoso demais, Penny. Não vou deixar que procure a polícia.— Maya tem razão. Nem sempre a proteção da ju
Maya— Deixe-me ver — pediu Clarice as pegando da minha mão. — Meu Deus! Tinha mesmo alguém invadindo sua privacidade, Maya. — Abri o bilhete e fiquei em choque ao ler o que estava escrito com letras impressas em um cartão branco. — O que foi, querida? O que está escrito?Será que o seu pai terá orgulho da sua garotinha, a vendo nessas imagens?Talvez ele até queira as pôr sobre a mesa do seu escritório, ou quem sabe, as emoldure e pregue na parede do corredor.— Eu preciso ligar para o meu pai.Voltamos para o quarto e tentei ligar para ele, mas a chamada ia direto para a caixa de mensagem. Depois de muito insistir, finamente consegui.— Alô — disse ao atender.— Pai? — chamei-o em um sussurro.— Na cadeia deixam você usar o celular? — perguntou com rispidez na voz.— Pai, me ouça, por favor — implorei, já sentindo meus olhos ficarem marejados.— Ouvir o quê? Que a filha que eu criei com tanto amor e sacrifício, não passa de uma vadia? — perguntou aos berros. — Você foi presa, acusad
MayaLevantei devagar da cama e vesti uma calça jeans, calcei meus tênis e juntei minhas coisas que estavam espalhadas pelo quarto, colocando tudo dentro de uma das minhas malas, fazendo o mínimo de ruído possível para não acordar a Clarice. Peguei papel e caneta sobre uma pequena escrivaninha no canto do quarto e sentei-me na cadeira para escrever um bilhete para ela.Querida Clarice,Em primeiro lugar, obrigada por existir na minha vida. O amor que tenho por você é o mesmo que tenho por minha mãe. Eu te amo, não tenha dúvidas. Em segundo lugar, obrigada por sua ajuda. Sem você, ainda estaria presa e sendo acusada injustamente. Eu preciso de tempo. Tempo para me curar, tempo para me achar outra vez, montar meus planos e descobrir meus novos ideais. Não me procure, eu estarei bem. Sempre que quiser falar comigo, pode me ligar, mas lhe mandarei notícias. Não estou fugindo, apenas seguindo minha vida, é preciso! Um dia vou voltar e tentar conversar com meu pai, mas agora não consigo, si