Capítulo III
Kizua, cansado de uma vida da qual se sentia possuidor de muito pouco, não queria apoucar ainda mais a sua existência, decidiu então correr atrás de respostas do único momento da sua vida que lhe fazia sentido... Seus sonhos!
Em uma determinada manhã, enquanto seu aparelho de som da marca Casio tocava repetidas vezes o clássico “Con te partiro” de Andrea Bocelli e sua mente vagava nos pensamentos dos romancistas contemporâneos, que afirmaram que “um sonho não partilhado continua sendo um sonho, mas um sonho sonhado e partilhado com outrem é o princípio de uma realidade”.
No reflexo deste pensamento, Kizua começou a entender que era necessário interpretar os enigmas dos seus sonhos, mas que para tal precisaria antes reunir as peças, algo que mexia com sua musculatura cerebral.
Seu jeito meio apático fazia de Kizua um homem de poucas amizades, por isso até partilhar um sonho para ele estava representando ser um problema, pois com quase ninguém se sentia à vontade para conversar e principalmente a respeito de tal assunto, que aos olhos dos pseudossábios pareceria loucura. E era assim que Kizua sentia-se algumas vezes, desta vez não teria outra solução senão visitar um psiquiatra, mas pensou consigo mesmo que um louco não se entregaria a uma psiquiatra, seu pensamento pareceu sensato, e fê-lo pensar em outra saída, na busca de uma, encontrou duas alternativas...
A primeira seria um Sacerdote, e a segunda um psicólogo, mas antes mesmo que se decidisse por qual optar, foi consultar o médico do século XX. Ou seja, o YouTube, que ganhou a aceitação de muitos, mas também pelo conjunto de tantas informação cria desinformação.
Decisão tomada, agora era hora de partir, Kizua estava trajado com uma camisa de tecido samakaka bem típico da região Sul do país a que era oriundo, Angola, e na escolha da cor das calças optou por um preto que com tudo combina, pois em seus pés vestia os famosos Nonkakos (sandálias de borracha de pneu utilizada pelos povos Mumuilas e Mukubais, que ganhou sua aceitação no mercado da moda nacional e internacional).
Como de costume, quando saiu pela porta, deu de cara com uma manhã ensolarada e pronunciou a frase de costume “Bom dia, dia!”, que lhe fez lembrar o significado do seu nome Kizua (o dia). Lançou de repente os olhos ao final da rua alcançando o velho de semblante leve que sempre se encontrava sentado na esquina.
Logo em seguida os assobios que o fizeram sentir vaticinavam a aproximação da jovem Rosa Baila, ela que sempre que passava transforma a rua em um campo de batalha, na concorrência daqueles que intencionalmente chamavam a atenção daquela linda mulher. Neste instante Kizua obriga-se a fazer um contorno de trezentos e sessenta graus (360 g) em busca de alcançar Rosa Baila, ela, que pensara nunca ter chamado sua atenção. Rosa sorriu para ele como de costume, mas desta vez decidiu arriscar dizer um “olá”.
Neste instante Kizua embasbacado, ficou com as pupilas dilatadas, movimentos peristálticos parados por alguns segundos e quando da sua boca escorregava um “O... O... Olá!” de resposta, Rosa baila já estava muitos passos a diante, mas ainda assim conseguiu ouvir os sussurros de Kizua.
Depois de alguns instantes Kizua se recompôs e seguiu em direção ao consultório do Dr. Kiacumbuta, que por conta de seus longos anos na área ganhará a estima e a aceitação de todos, e isso, dava-lhe a certeza que dentro de poucos minutos teria a resposta do dilema que estava vivendo. Ao chegar ao consultório, na sua frente de haviam mais dois pacientes, parecia que também esperavam para serem consultados pelo Dr. Kiacumbuta, dentre eles uma jovem que trazia pendurado em seus ouvidos uns auscultadores (fones de ouvidos), dos quais era possível se ouvir a canção por ele escutada em dias anteriores, “Con te partiro” de Andrea Bocelli.
Chegou por alguns momentos a pensar que ali estava a mulher de seus sonhos, mas a forma como ela deixava os mais de 80 decibéis invadirem seus ouvidos fez-lhe de imediato parar de pensar em tal absurdo, porque esta estava a milhas daquela meiga, linda, de voz melíflua e aveludada,, que jamais permitiria ser invadida com tal violência sonora.
Neste instante seu tempo psicológico entrou em uma contradição com o tempo cronológico, pois a ansiedade de se deixar ser ouvido tomava conta de si, antes mesmo que seu pensamento continuasse a ousar perturbá-lo, ouviu uma voz vir de dentro do consultório chamando seu nome.
– Sr. Kizua!
Lançou seus passos consultório a dentro, dando de cara com um homem de expressão esdrúxula que em seguida convidou-lhe a sentar-se.
O doutor estaria tendo sonhos mais aterrorizantes que os meus. - pensou Kizua consigo mesmo, rindo.
Após oferecer um copo de água, emprestou um sorriso que visava confortar seu paciente, e seguiram-se as perguntas protocolares até a mais esperada...
– Como se sente e o que lhe traz aqui Sr. Kizua?
Neste instante Kizua suspira entre a desconfiança da realidade que ele estava vivendo, temendo não ser desacreditado por outrem.
Dr. Kiacumbuta encoraja-o a seguir em frente.
– Minha vida, quer dizer meus sonhos, são a razão de eu aqui estar, sinto-me um ser diferente e estranho, isso porque meus sonhos parecem ser a continuação dos sonhos passados, quer dizer parece ser uma vida real e a pessoa com quem sonho, não obstante eu não a conheça, também parece viver tal fenômeno em sua vida, ou seja, em seus sonhos, ela é linda. – disse Kizua.
Este comentário pareceu contraditório para o doutor, pois Kizua afirmou agora a pouco nunca ter visto a mulher dos seus sonhos, mas sua experiência não lhe permitiu interromper o paciente, sabia que dele mesmo viriam aquelas respostas que ele realmente precisava.
No primeiro instante de silêncio de Kizua, que denunciava querer respostas, o Dr. Kiacumbuta deixou sair de sua boca as palavras que num primeiro instante desiludiu o jovem.
Afirmando, que psicólogos não realizam milagres e que são pessoas que estudam o maior dois universos, o cérebro, eles dedicam seu tempo no estudo de fenómenos emocionais, com tal conhecimento, associado ao conjunto de informações passadas pelos pacientes ajudam na organização destas mesmas informações para de forma sistemática encontrarem respostas ou direcionarem para o alcance das mesmas, com isso, e a luz do conhecimento científico o que o paciente havia mencionado, o fez-me mergulhar nas salivas de pensadores que defenderam a existência de um fenómeno que ganhou muitos nomes “Sonhos simultâneos ou Sonhos compartilhados”, que é quando duas pessoas ou mais sonham com a mesma coisa. Em geral, o sonho é composto pelos mesmos elementos visuais e também pode ocorrer em um local semelhante para as duas ou mais pessoas.
– Embora ainda não haja pesquisas mais aprofundadas sobre o assunto, sabe-se que há um vínculo entre os sonhadores. Portanto, os sonhos compartilhados são comuns entre pessoas que estão conectadas emocionalmente, acima de tudo quando passam mais tempo juntas. – disse o doutor.
Isso não fazia sentido para Kizua, pois jamais tivera cruzado na estrada da vida com aquela mulher, ou talvez já e isso só deixava-o mais confuso, mas decidiu continuar ouvindo atentamente o doutor que prosseguiu dizendo que a aproximação entre os sonhadores é como uma ponte entre as duas vidas. Cada pessoa tem acesso ao outro lado e o contato é facilitado quando há muita emoção na relação delas.
Nessa questão, portanto, a intuição também é uma ferramenta que entra em ação, porque ela guia os sonhadores a verem a mensagem dos seus corações.
– Por isso meu caro, analise cada elemento visualizado e as emoções sentidas. No primeiro momento, os sonhos podem ser confusos, mas todos eles trazem uma mensagem que combina com a realidade das pessoas.
Antes mesmo que terminasse sua fala o pensamento de Kizua agora girava em volta da seguinte afirmação: “por isso meu caro, analise cada elemento visualizado e as emoções sentidas”, neste instante tudo que ele queria era dormir para voltar a sonhar, para desta vez prestar atenção aos elementos visualizados porque as emoções sentidas disso ele já sabia.
Pela terceira vez o doutor chamou pelo nome do jovem que entendeu estar viajando em seus pensamentos, e perguntou: consegue perceber o que lhe estou dizendo?
– Sim doutor, sim! Muito obrigado por tudo que me foi dito, foi claro como água.
E tão logo pronunciou estas palavras, lembrou das muitas vezes que abraçou a mulher dos seus sonhos e via de longe um brilho de um azul marinho que brilhava dentre os dedos de um homem, que justo agora percebeu que esta era das coisas mais constantes e que despertou a atenção, aquele brilho parecia único.
De regresso a casa, agora mais do que nunca percebendo que as respostas estariam nos detalhes, e que este brilho refletido do anel começou a parecer ser a luz no fundo do seu poço, e que lembrava ser o mesmo brilho que lhe dava inspiração para se declarar aquela mulher. Ela que até agora só de imaginar lhe dera inspiração para compor uma poesia...
Se tudo fosse um sonho
Se tudo fosse um sonho...
Acordava e lhe contava,
Das coisas fúteis, ainda gozava.
Daqueles que vão, também choro.
Traga-os de volta, a Deus imploro!
Se tudo fosse um sonho é o título que a ti ponho, antes mesmo que terminasse de ser poeta em um dia percebeu que acabara de adentrar na rua onde residia, neste mesmo instante seu instinto telepático fez-lhe sentir o alvo de um forte olhar que o acompanhava, não demorando, para perceber que era o olhar do velho que sentava na esquina, e hoje diferente das muitas vezes, ele quis encarar o velho e foi impedido por um forte brilho que não lhe permitiu ter noção do horizonte. Acabou esbarrando na pessoa que vinha a sua frente, fazendo com que a caixa que trazia escapasse de suas mãos.
Capítulo IV Após a violenta colisão dada entre Kuzola e Kizua, ele descuidado como de costume não conseguiu evitar a queda da caixa de madeira que trazia em suas mãos. Era uma caixa de madeira envelhecida com uma tampa presa por duas dobradiças enferrujadas de um lado, e um cadeado de segredo do outro, parecia transportar algo de valor estimáveldentro dela. Notava-se pelo desespero de Kizuapara não deixar que a caixa se despedaçasseao chão. O desespero foi tamanho que ele se atirou ao chão, impactando seus cotovelos violentamente na calçada de concreto sem pensar no ferimento que poderia lhe causar e que de fato ocorreu. O
Capítulo V Kuzola passa o dia todo no abrigo com suas tarefas diárias e nem percebe o dia passar.Mal sabe ela que receberá uma visita especial em seus sonhos. Aproxima-se a hora de seu deleite e neste instante um sorriso atravessa o rosto de Kizua e ele se questiona se quer de fato ter controle sobre seus sonhos, mas neste mesmo instante fita os olhos para o anel que recebeu do velho e sente uma pazimensurável, dando-lhe a certeza que estava no caminho certo e que tudo estava propiciando o alcance das respostas a que muito buscava. Já arrumado e desta vez com a sábia escolha do perfume Montblanc, p
Capítulo VI Naquele mesmo ponto, já desesperado e com os braços dormentes, pois até um ramalhete de flores, segurados por trinta minutos pareciam “manguitos”. Neste instante já desanimado e com a sensação de mais uma noite perdida, lembrou-se de tudo que lhe dissera aquele senhor de idade que dizia chamar-se Nzambe e tudo o que ele havia dito, mas que neste instante parecia ser mais um charlatão. Lançou os olhos para o anel que trazia e novamente foi consumido por uma paz interior, que lhe dava forças, complacente em esperar pela sua amada que hoje seu coração lhe dera a certeza que viria. Dez passos do
Capítulo VIICaminhando pelas ruas, os jovens seguem de mãos dadas sem imaginar que logo isso acabaria e voltariam à solidão de vossos quartos. Lentamente vão sumindo ao longe e ali parado na esquina observando o casal enamorado estáNzambi. Ele olha sorrindo singelamente e estala os dedos fazendo com que ambos acordem. Cada um em seu solitário aposento. Kuzola por sua vez ao abrir os olhos se emociona e acorda chorando sentida ao ver sobre seu travesseiro um ramalhete de tulipas, as flores que o jovemlhe deudurante seu derradeiro sonho. Apanha o ramalhete e dá-lhe um afago e um cheiro sentindo o mesmo perfume queoutrora&nb
Capítulo VIII Enquanto isso Kizua em seu quarto se preparava para mais um dia, e como de costume dar um “bom dia” para a manhã que acabara de eclodir trazendo o Sol ao Leste, desta vez, perdido em detalhes para o seu aperalto, porque finalmente neste dia conheceria em seus olhos nus a realização daquilo que vivia em seus sonhos, uma vez que suas coordenadas cognitivas já lhe revelara a identidade daquela linda mulher. Lançando seus pés para o abandono de sua residência, gotas caídas céu a baixo fizeram-lhe apressadamente optar pelo recuo, o sol com seu olhar envergonhado era invadido por um céu nublado que gerava aguaceiros ao longo da r
Capítulo IX Deitado na cama, olhando e admirando o escultural corpo nu de Kuzola permanecia o jovem rapaz encantado. Curvas acentuadas e uma pele macia e suculenta despertavam novamente o desejo de amar em Kizua. Suas mãos suavemente acariciavam o corpo da tão sonhada Rosa Baila e o perfume exalando de seu corpo acendia ainda mais a chama que o queimava por completo. Para não acordar de seu delicioso sono, Kizua levanta-se e vai para o banheiro tomar um banho e acalmar as batidas do coração. Enquanto a água quente do chuveiro acalmava seus hormônios, observava de longe ela dormindo profundamente e minutos depois sair enrolado em uma toalha branc
Odair Miguel José Júlio é de nacionalidade angolana. Formado pela Universidade de Tráfego de Beijing nas áreas de Engenharia de Tráfego e Gestão e mestrado em Planejamento de Tráfego Rodoviário. Tradutor de mandarim/português.Ator em dublagem para empresa Star times. Eeditor para um site de e-book. Odair Júlio Kadu Junqueira é de nacionalidade brasileira, compositor de música sertaneja e autor da obra “Enquanto eu dormia”. É filho de um motorista de ônibus com muito orgulho e uma senhora dona de casa. Casado, pai de dois filhos a quem d
Ao meu pai Domingos José Júlio que deste sempre foi a minha enciclopédia viva. Ele que tem enfrentado bravamente uma peleja pela vida, em sua condição de insuficiente renal, sujeito a sessões de diálise. Igualmente dedico a minha mãe e amiga, Maria de Jesus, que com sua fé nos ensinou a crer no Deus doimpossível. Odair Miguel José Júlio Principalmente para meu amado pai José Carlos Junqueira Andrade, que foi meu incentivador fundamental, pois em cada palavra que escrevo está representada uma das batidas do meu coração por ele. Eu sei que do céu, ao lado de