Capítulo IV
Após a violenta colisão dada entre Kuzola e Kizua, ele descuidado como de costume não conseguiu evitar a queda da caixa de madeira que trazia em suas mãos.
Era uma caixa de madeira envelhecida com uma tampa presa por duas dobradiças enferrujadas de um lado, e um cadeado de segredo do outro, parecia transportar algo de valor estimável dentro dela. Notava-se pelo desespero de Kizua para não deixar que a caixa se despedaçasse ao chão.
O desespero foi tamanho que ele se atirou ao chão, impactando seus cotovelos violentamente na calçada de concreto sem pensar no ferimento que poderia lhe causar e que de fato ocorreu.
O sangue escorreu por seus braços através dos cortes feitos em ambos os cotovelos, mas seu esforço foi em vão. A caixa bateu com tanta força que sua tampa foi arremessada fazendo com que vários papeis se espalhassem por todos os lados. O vento nesse exato momento soprou forte levando para longe alguns desses papeis. Enquanto isso Kuzola tentava ajudá-lo apanhando parte dos papéis espalhados.
Kizua estava sentindo muita dor, mesmo sem olhar para ela, o rapaz foi mais que depressa recolhendo o máximo que conseguia, colocando apressadamente os papéis dentro da caixa. Após conseguirem recolher todos os papéis, ele simplesmente colocou a tampa novamente na caixa de qualquer jeito, indo embora sem nem sequer agradecer a ajuda da moça. Ela também não se atentou aos papéis e simplesmente foi embora sem olhar para trás, pensando o quanto aquele rapaz era esquisito e que nem sequer lhe agradeceu.
Enquanto ia caminhando notou que um dos papeis havia voado para a beira da sarjeta, este havia passado despercebido por eles. Ela apanhou o papel e direcionou seus olhos para trás, ainda na tentativa de avistar aquele rapaz, na intenção de lhe entregar o que quer que fosse aquele papel, mas ele já havia sumido de sua vista. Guardou consigo, pensando em devolver em outra oportunidade ao verdadeiro dono e assim seguiu seu caminho.
O dia foi passando e Kuzola até esqueceu-se que aquele pedaço de papel amarelado estava a tiracolo guardado em sua bolsa.
Chegou ao seu local de trabalho e foi como de costume conversar com Dona Eleonora que a aguardava ansiosa para as conversas rotineiras.
Kuzola lhe contava os acontecimentos do dia a dia como se fossem duas amigas de infância dividindo suas vidas e suas histórias e isso fazia Dona Eleonor viajar em pensamentos e ela sorria ao ver o brilho nos olhos da jovem.
– Conte-me como foi essa “trombada” com o rapaz novamente minha menina! - pedia a velha senhora.
– Claro que conto “dona Leonor”! - com um sorriso nos lábios e muita paciência dizia Kuzola.
E mais uma vez a moça contava detalhadamente tudo o que aconteceu e até revelou que havia ficado com um desses papéis.
Dona Leonor muito curiosa perguntava o que havia nesse papel e Kuzola dizia sempre que é falta de educação ler coisas que não são para você.
– Isso não se faz, é invasão de privacidade. -dizia ela sorrindo.
Mas em seus pensamentos a curiosidade era constante, queria saber o que tinha de tão importante naqueles papeis, tanto que o jovem moço até se machucou para proteger aquela caixa misteriosa.
O dia passou e Kuzola finalmente foi para casa. E assim como de costume ia arrancando assovios e suspiros dos homens que a viam passar pelas ruas.
Lá na esquina como de costume o velho estava sentado e sem se mover apenas observava a moça a desfilar.
Do outro lado da cidade o jovem Kizua fazia um curativo em seus cotovelos que latejavam de dor pelo ferimento que sofrera. Quando finalmente terminou de curar a ferida foi conferir a caixa e tentar de alguma maneira consertar sua tampa.
Ao organizar os papéis notou que faltava um e por sinal era o que mais estimava dentre os demais. Deixando a caixa em cima da cama e retornando para o local do acidente, onde culminou a perda. Andava de um lado para o outro, olhando em cada canto, cada lata de lixo que encontrava, cada centímetro do local foi vasculhado e nem sinal do tal papel.
O velho simplesmente observava o desespero do rapaz e nada fazia ou dizia para o jovem.
Sentado na sarjeta Kizua ficou olhando para o horizonte e rezava para que a moça não tivesse encontrado aquele papel.
O velho finalmente se levantou e lentamente caminhou em direção ao rapaz.
–O que tanto lhe atormenta meu jovem? - perguntou o velho já sabendo a resposta, mas queria ouvir de Kizua o porquê do desespero.
O rapaz não dizia uma palavra sequer.
Apenas olhava para o velho que permanecia parado em sua frente com as mãos para trás.
O olhar do velho é penetrante, isso faz com que o jovem não consiga desviar o olhar e simplesmente diz que não entenderia. O rapaz se levanta e vai embora deixando o velho sozinho. Nessa noite não haverá sonho...
Nessa noite Kizua não conseguiu pregar os olhos, passou a noite em claro, imaginando que a moça devia estar rindo dele ao ver o papel.
O dia amanheceu e Kuzola não entendeu por que essa noite não sonhou.
Levantou de sua cama e antes de ir ao banheiro para tomar um banho, vê em cima da mesa sua bolsa aberta e dentro dela consegue ver aquele estranho papel amarelado e envelhecido.
Ela está curiosa para ver do que se trata, mas sua educação não permite que a curiosidade interfira. E sacudindo a cabeça de um lado para o outro vai para o banho e tenta se esquecer daquele papel.
A água quente cai em seu corpo nu, lavando e perfumando com óleos especiais, deixando sua pele com cheiro de flores silvestres.
Enrolada em uma toalha branca, ela sai do banheiro, descalça vai para o quarto se trocar e assim seguir para mais um dia de luta. Colocando sua calcinha vermelha com detalhes em renda e um sutiã que completa o conjunto, um vestido na altura dos joelhos repleto de estampas floridas dando um ar de leveza e frescor no tecido suave. Em seus pés uma sapatilha leve e confortável, feita de um tecido também florido que combina com as flores de seu vestido e solado sintético tornando macio os seus passos.
Apressadamente apanha sua bolsa e não percebe que o papel cai embaixo da mesa e ali fica sem ser notado.
Desfilando pelas ruas ela vai toda sorridente, mais uma vez os velhos e jovens suspiram ao vê-la passar.
Lá num canto cabisbaixo está o jovem atônito sem se mover, seus olhos fitam o chão e Kuzola passa por ele exalando o cheiro de flores silvestres que emana de sua pele. Embriagado pelo perfume da jovem sorridente, lentamente o rapaz levanta a cabeça e apenas lhe dirige um tímido sorriso acompanhando-a com olhar discreto.
Na esquina o velho permanece sentado, observando tudo o que acontece e acena para o jovem rapaz chamando-o para que se aproxime estendendo a mão em direção a ele, sinalizando que tem algo a lhe oferecer.
Kizua caminha desconfiado em direção ao velho e com olhar fixo em sua mão estendida tenta adivinhar o que tem ali.
– Tem coragem de enfrentar o que lhe espera? - pergunta o homem de idade avançada.
Com receio do que está por vir, porém muito curioso apenas acena que sim com a cabeça.
O velho diz em voz alta novamente: tem coragem ou não?
– Sim! - diz Kizua em alto e bom tom.
O velho abre a mão e mostra um anel de pedra azul da cor do céu e diz ao jovem:
– Coloque esse anel em seu dedo antes de dormir e poderá controlar seus sonhos. Mas tome cuidado. Suas ações enquanto estiver sonhando poderão lhe afetar quando acordar.
Kizua pega então o anel e vai embora sem perceber que a jovem tentadora já se foi.
O velho sorri e diz a ele: “muito cuidado, pois este será um caminho sem volta”.
Capítulo V Kuzola passa o dia todo no abrigo com suas tarefas diárias e nem percebe o dia passar.Mal sabe ela que receberá uma visita especial em seus sonhos. Aproxima-se a hora de seu deleite e neste instante um sorriso atravessa o rosto de Kizua e ele se questiona se quer de fato ter controle sobre seus sonhos, mas neste mesmo instante fita os olhos para o anel que recebeu do velho e sente uma pazimensurável, dando-lhe a certeza que estava no caminho certo e que tudo estava propiciando o alcance das respostas a que muito buscava. Já arrumado e desta vez com a sábia escolha do perfume Montblanc, p
Capítulo VI Naquele mesmo ponto, já desesperado e com os braços dormentes, pois até um ramalhete de flores, segurados por trinta minutos pareciam “manguitos”. Neste instante já desanimado e com a sensação de mais uma noite perdida, lembrou-se de tudo que lhe dissera aquele senhor de idade que dizia chamar-se Nzambe e tudo o que ele havia dito, mas que neste instante parecia ser mais um charlatão. Lançou os olhos para o anel que trazia e novamente foi consumido por uma paz interior, que lhe dava forças, complacente em esperar pela sua amada que hoje seu coração lhe dera a certeza que viria. Dez passos do
Capítulo VIICaminhando pelas ruas, os jovens seguem de mãos dadas sem imaginar que logo isso acabaria e voltariam à solidão de vossos quartos. Lentamente vão sumindo ao longe e ali parado na esquina observando o casal enamorado estáNzambi. Ele olha sorrindo singelamente e estala os dedos fazendo com que ambos acordem. Cada um em seu solitário aposento. Kuzola por sua vez ao abrir os olhos se emociona e acorda chorando sentida ao ver sobre seu travesseiro um ramalhete de tulipas, as flores que o jovemlhe deudurante seu derradeiro sonho. Apanha o ramalhete e dá-lhe um afago e um cheiro sentindo o mesmo perfume queoutrora&nb
Capítulo VIII Enquanto isso Kizua em seu quarto se preparava para mais um dia, e como de costume dar um “bom dia” para a manhã que acabara de eclodir trazendo o Sol ao Leste, desta vez, perdido em detalhes para o seu aperalto, porque finalmente neste dia conheceria em seus olhos nus a realização daquilo que vivia em seus sonhos, uma vez que suas coordenadas cognitivas já lhe revelara a identidade daquela linda mulher. Lançando seus pés para o abandono de sua residência, gotas caídas céu a baixo fizeram-lhe apressadamente optar pelo recuo, o sol com seu olhar envergonhado era invadido por um céu nublado que gerava aguaceiros ao longo da r
Capítulo IX Deitado na cama, olhando e admirando o escultural corpo nu de Kuzola permanecia o jovem rapaz encantado. Curvas acentuadas e uma pele macia e suculenta despertavam novamente o desejo de amar em Kizua. Suas mãos suavemente acariciavam o corpo da tão sonhada Rosa Baila e o perfume exalando de seu corpo acendia ainda mais a chama que o queimava por completo. Para não acordar de seu delicioso sono, Kizua levanta-se e vai para o banheiro tomar um banho e acalmar as batidas do coração. Enquanto a água quente do chuveiro acalmava seus hormônios, observava de longe ela dormindo profundamente e minutos depois sair enrolado em uma toalha branc
Odair Miguel José Júlio é de nacionalidade angolana. Formado pela Universidade de Tráfego de Beijing nas áreas de Engenharia de Tráfego e Gestão e mestrado em Planejamento de Tráfego Rodoviário. Tradutor de mandarim/português.Ator em dublagem para empresa Star times. Eeditor para um site de e-book. Odair Júlio Kadu Junqueira é de nacionalidade brasileira, compositor de música sertaneja e autor da obra “Enquanto eu dormia”. É filho de um motorista de ônibus com muito orgulho e uma senhora dona de casa. Casado, pai de dois filhos a quem d
Ao meu pai Domingos José Júlio que deste sempre foi a minha enciclopédia viva. Ele que tem enfrentado bravamente uma peleja pela vida, em sua condição de insuficiente renal, sujeito a sessões de diálise. Igualmente dedico a minha mãe e amiga, Maria de Jesus, que com sua fé nos ensinou a crer no Deus doimpossível. Odair Miguel José Júlio Principalmente para meu amado pai José Carlos Junqueira Andrade, que foi meu incentivador fundamental, pois em cada palavra que escrevo está representada uma das batidas do meu coração por ele. Eu sei que do céu, ao lado de
Capítulo I Ele (Kizua) - O mês era Abril e como sempre marcado por chuvas miúdas, estas dispostas a estragarem qualquer compromisso. E eu era um daqueles sujeitos que percebia bem a mensagem das chuvas de Abril, e por isso, tinha sempre encontros marcados com a minha cama, mas só um único motivo me fazia sair para ir naquele ponto emespecífico, onde em um mesmo horário passava aquela mulher que a silhueta do seu corpo ficou desdeaprimeira vista tatuada em minha mente. Rosa Baila, nome este dado pelas ruas, pois sempre que passava seu andar gigante despertava a atenção de quem a visse passar, e eu, sempre naquele ponto, como uma constante de uma equação matemática,