Augusto encara Ângelo, de cenho franzido. O rumo daquela conversar o incomoda.
— Do que exatamente está falando? Estamos exportando café como nunca.
— Isso tende a acabar.
— Como pode saber? Por acaso agora se tornou adivinho? — Desdenhou Augusto.
— Não. Não me tornei — encarou o irmão com olhos apertados — Se você se desse ao trabalho de me considerar um homem de negócios, e não apenas um moleque gastador de dinheiro, saberia que não estou dizendo bobagem.
— Você? Um homem de negócios?
— Se a fazenda também não fosse minha eu bem que deixaria você se arrebentar inteiro. — Disse Ângelo, ruborizado.
— A fazenda será sua depois que trabalhar nela!
— Estamos correndo o risco de perdê-la! Eu sei o que estou dizendo. Se vendê-la agora, fi
Sorri diante da perspicácia de Marina.— Posso continuar? — Perguntei virando a próxima folha.— Claro que sim. Agora quero saber tudo.— Então não me interrompa.— Não dá! Esse cara me dá nos nervos. — Por quê?— Pode chamar de instinto. Não confio nele.— Ainda nem comecei a falar dele! Em que se baseia? Meramente no instinto ou tem algo mais?— Não sei, Alberto. Tirando o fato de ele ser um homem extremamente bonito, tenho impressão de que vai aprontar alguma.— Qual o problema em ser um homem bonito? — perguntei desconfiado — Desde quando a beleza define o caráter de um homem? — Não define. Apenas não confio em homens bonitos. Eles sempre se julgam o máximo, sempre acham que todas as mulheres estão
Gloria o viu deixar a cozinha, soltando o ar devagar. Apaixonara-se por Augusto assim que o vira e não fora simplesmente porque a contratara, ou tratara-a de forma tão correta. Era um homem bonito, culto e decidido, bem diferente de outros coronéis que só pensavam em benefícios próprios, esquecendo-se de que só os tinha por causa dos que se matavam de sol a sol para isso. Augusto era diferente. Preocupava-se com todos os colonos. Achava graça na amizade sincera que ele tinha com Zezinho desde os tempos de criança.Sabia que ele não a via com os mesmos olhos que ela, contudo, sentia que um dia, talvez isso pudesse mudar.— Sonhando acordada de novo, menina? — Perguntou dona Helena, com um sorriso discreto nos lábios, ao entrar novamente na cozinha.— Não estou sonhando. — Respondeu com cara amarrada.— Sei. Já tomou café?&
Não nego que senti um tiquinho de ciúme, ao abordá-la:— Você está realmente falando dele ou de outra pessoa? Tive a impressão que...— Estou falando dele. — Interrompeu-me, ácida.— Está bem. Posso continuar? — Perguntei, com medo de incitá-la ainda mais e obter uma resposta que ferisse meu coração.— Pode, mas se continuar nessa linha acho que vou odiar esse cara. Filhinho de mamãe, pomposo.— Ele está apenas tentando salvar os negócios da família, Marina.— Sei não, Alberto. Acho que tem gato nessa tuba. Meus instintos não falham. Já te disse.— Nunca falharam, Marina? Nem mesmo quando você se encontrava apaixonada por aquele seu namorado ator?— Nem mesmo. — respondeu-me com os olhos cintilando — Talvez tenha demorado um pou
Depois que Verônica nos deixou, dizendo voltar em breve com alguma informação, fui interpelado por Marina:— Parece que você gostou muito de Verônica!— É claro que sim. Ela é linda, extrovertida e muito inteligente.— Acho que extrovertida demais, não acha?— Senti um leve ciúme na sua voz? – Perguntei brincando, mas louco para saber a verdade.— Vai se achando, vai!— Que bom que não sente nada por mim. Talvez eu possa me arriscar com sua amiga. O que acha? Ela está sozinha? — Encarei-a, vendo-a ruborizar.— O que você faz da sua vida não me interessa. — Respondeu ácida e era tudo o que eu precisava saber. Talvez ela não tivesse se machucado tanto assim com o ator metido à besta.— Bem, vamos ao trabalho? As coisas estão
Augusto o encara ressabiado. Deveria acreditar num moleque que até então só sabia gastar o dinheiro do pai com mulheres e viagens? Estava cansado de ouvir reclamações sobre seu comportamento. Contudo, soubera que se saíra muito bem com alguns investimentos, apesar dele nem desconfiar que tudo acontecia com o seu consentimento.— O que o faz ter tanta certeza de que perderemos a colheita? E por que está se mostrando tão preocupado somente agora?— Já lhe disse. Acabei de chegar de Nova York e tudo o que temos também me pertence. Nada mais justo que me preocupe e não queira perder dinheiro.— Tem algo mais, Ângelo. Sei que tem. Diga agora ou não te ouvirei mais.— Está bem. Investi em ações na América e, por causa da crise que estão vivendo, perdi tudo da noite para o dia.— Quanto?—
De repente, a fazenda nunca fora tão interessante quanto naquele momento. Ângelo saiu por detrás do grande tronco e se pôs a caminhar mansamente. Ainda não era o momento de se denunciar. Espera ansiosamente a reação da galega ao vê-lo surgir com seus imensos olhos azuis e depois atacá-la com seu sorriso mortal.— Ora, ora. Não pensei que nesse riacho houvessem sereias. — Disse, assustando a pobre menina, que se mantem paralisada por um instante, antes de se virar para o dono da voz.Foi um giro lento e assustado. Não estava acostumada a ter seu ritual interrompido naquelas horas da manhã. Todos os homens estavam nos campos de café. Então quem seria aquele que lhe atormentava, roubando-lhe a paz?— Quem é o senhor e o que faz aqui? — Perguntou desconfiada.— Ninguém que vá lhe fazer mal.— P
Aldora sente-se nervosa diante do semblante divertido do homem a sua frente, enquanto o irmão se aproxima ferozmente.— O que pensa que está fazendo? — Perguntou o rapaz, soltando fogo pelas ventas, ao vê-la conversando com o estranho engomadinho.— O que pensa que estou fazendo? — Olhou para o irmão, visivelmente enfurecido, deixando-o desconcertado e fazendo Ângelo erguer a sobrancelha, admirado.— Por que tá conversando com esse estranho?— Porque, diferente de você, sou uma pessoa educada.— Deixa o pai saber dessa sua educação toda. Anda, pega as roupas e vamos embora daqui.— Se você não percebeu, ainda não terminei. E o cavalheiro já está de saída.— Não quero ser o motivo de discórdia entre irmãos. Peço que me perdoem...— An
E como imaginei, a explosão veio por parte de Marina:— Mas esse cara é um cretino, mesmo! — disse, ruborizando — Sabe, eu até que estava quase me simpatizando com ele. Parecia ser divertido, mas... Acho que era mesmo um cafajeste. É exatamente como eu pensava. Esse tipo acha que pode tudo só por ser belo. Idiota.— Acho que ele apenas estava tentando despertar um ciúme em Augusto. Parece que Glória estava apaixonada por seu patrão e não era correspondida.— Mas isso não é maneira de se tratar uma mulher!— Ele a beijou Marina. Não vá me dizer que uma mulher não gosta de ter um beijo roubado?— É claro que não! Quer dizer... Só se ela estiver afim do cara. Mas não foi o caso de Glória.— Como você pode saber? De repente ela até que gostou de despertar