A noite na casa de praia avançava, envolta em uma tranquilidade enganadora. Do lado de dentro, Alexandra e Camila estavam sentadas em um dos sofás luxuosos da sala de estar, com Elloá deitada no chão, apoiada em um travesseiro. No centro, um jogo de tabuleiro estava montado sobre o tapete felpudo. A luz amarelada dos lustres fazia o ambiente parecer acolhedor, quase íntimo, embora houvesse uma tensão latente que nenhuma delas verbalizava.
— É a sua vez, Alex. — Camila disse, jogando um dado preguiçosamente enquanto bebia água com gás em um copo alto.Alexandra estava mais relaxada do que esperava. Talvez fosse a distância temporária de suas preocupações habituais, ou o simples fato de estar distraída.— E você está em desvantagem, Camila. — Alex respondeu com um sorriso irônico, movendo suas peças no tabuleiro. — Nem adianta apelar.— Você fala como se já tivesse vencido. — Camila rebateu, ajeitando o cabelo de forma despreocupada.<Elloá começou a respirar de forma irregular, os olhos virando levemente para trás enquanto seu corpo ficava inerte no chão frio do banheiro. Alexandra segurou o rosto da amiga com cuidado, mas a desesperança tomou conta. — Elloá? Elloá, fala comigo! — Alex suplicava, sacudindo-a levemente. Camila estava paralisada, a mão na boca enquanto seus olhos estavam fixos na cena à sua frente. — Ela… ela morreu? — Alex perguntou, a voz rouca e embargada, lágrimas já brotando em seus olhos. Antes que Camila pudesse responder, um calafrio percorreu a espinha de Alexandra. O ar ao seu redor pareceu se transformar, ficando pesado e denso. De repente, o chão desapareceu sob seus pés, e o mundo à sua volta girou, sugando-a para outro lugar. Quando Alex abriu os olhos novamente, estava em um espaço estranho e surreal. O ambiente era sombrio, mas ao mesmo tempo refinado, como se tivesse sido esculpido por mãos divinas. As paredes eram feitas de mármor
Alex tentou engolir o nojo que subia pela garganta, mas era impossível não se sentir devastada com o que via. Ela queria gritar, chorar, ou até mesmo destruir aquele trono de mármore, mas estava completamente impotente. Azrathel, indiferente ao sofrimento dela, estalou os dedos mais uma vez, e o "filme" prosseguiu. As imagens mostraram Elloá e Magno no quarto de hóspedes durante aquele fatídico jantar. Magno tinha um sorriso calculista enquanto falava, com um tom de voz macio, quase paternal. — Você poderia ter tudo, Elloá. Tudo o que quisesse — ele dizia, seus olhos frios analisando cada reação dela. — Só precisa fazer algo pequeno para mim. Elloá parecia hesitar por um momento, mas então seus olhos brilharam, fascinados pela promessa de um mundo que ela nunca tinha conhecido. — Tudo o que eu quiser? — perguntou, com uma mistura de empolgação e incredulidade. Magno confirmou com um leve aceno de cabeça, e Elloá sorriu. — Eu aceito.
Azrathel a observou com um sorriso cruel, seus olhos brilhando como brasas, enquanto Alex se contorcia na cadeira, incapaz de conter as lágrimas. — Sabe o que é engraçado? — ele começou, sua voz grave ressoando na sala vazia. — Você, tentando ser a heroína, a salvadora de todos, quando no fundo sempre foi egoísta. Sempre. Alex ergueu o olhar, confusa e apavorada, enquanto o "filme" mudava. Agora as imagens mostravam flashes de sua própria vida, momentos que ela teria preferido esquecer. Ela viu o dia em que viu Lucca pela primeira vez. Não havia nada de especial nele, ela sequer gostou dele à primeira vista. Mas quando percebeu que uma de suas amigas estava interessada, algo em seu interior mudou. As imagens mostraram Alex sorrindo e flertando, apenas para roubar a atenção dele, mesmo sabendo que magoaria a amiga. — Viu? — Azrathel comentou, casualmente. — Você nem gostava do garoto, mas isso não importava, não é? Desde que você saísse por cim
Arthur caminhava pela estrada deserta, os sapatos já desgastados pela distância percorrida. Ele havia abandonado o carro no acostamento horas antes, após uma pane mecânica inexplicável, e desde então tentava uma carona sem sucesso. Cada farol que passava parecia um pequeno lampejo de esperança, mas nenhum veículo parava. O tempo se arrastava, e a escuridão ao redor parecia absorver qualquer tentativa de orientação. Ele tirou o celular do bolso mais uma vez, frustrado ao ver a falta de sinal. O mapa offline não ajudava muito; as bifurcações da estrada se confundiam, e ele já não sabia se seguia na direção certa. — Droga... — murmurou, apertando o celular entre os dedos. Enquanto seguia, algo estranho aconteceu. Um som leve, como um sussurro carregado pelo vento, chamou sua atenção. Ele olhou ao redor, mas a estrada estava vazia, cercada apenas por árvores imóveis. Então sentiu um peso estranho no bolso do casaco, algo que ele tinha cert
Camila sentia o peso do desespero como uma mão apertando seu peito. As horas pareciam se arrastar, e o silêncio dentro da casa era quase ensurdecedor, quebrado apenas pelo som irregular da respiração de Alex, que agora tinha espasmos intermitentes. Sentindo o corpo fraco e tremendo de fome, Camila decidiu que precisava comer algo. Ela foi até a cozinha e começou a preparar um sanduíche com as mãos trêmulas. O simples ato de passar manteiga no pão parecia um esforço monumental, e seu estômago se contorcia de ansiedade tanto quanto de fome. Enquanto terminava de montar o sanduíche, ouviu passos atrás de si. Quando se virou, viu Elloá passando pela cozinha. O corpo da amiga parecia rígido, quase mecânico, os movimentos desumanamente precisos. A feição de Elloá era fria, sem nenhuma emoção, como se fosse apenas uma casca vazia. — Elloá? — Camila chamou, hesitante, sentindo o coração bater mais rápido.
Camila apertou as mãos contra os lábios, contendo um grito. Cada espasmo parecia mais violento que o anterior, os dedos de Alex arranhando o chão como se procurassem algo para se agarrar. O som das unhas raspando na madeira fazia Camila estremecer. Ela deu um passo para frente, mas hesitou. O que poderia fazer? Tocá-la parecia perigoso, como se algum tipo de energia sombria estivesse preenchendo o ambiente, sufocando qualquer coragem que ainda pudesse restar nela. — Alex? — murmurou, a voz quase inaudível. Nenhuma resposta. Alexandra continuava a se debater, os olhos abertos mas desfocados, presos em algo que Camila não conseguia ver. Elloá passou pela cozinha mais uma vez, o corpo rígido e os passos quase inaudíveis. Camila se virou rapidamente, chamando: — Elloá! Você precisa me ajudar! Alex está... el
A cena que encontrou no interior da casa fez o estômago revirar. No hall de entrada, Camila estava no chão, com Elloá sobre ela, os dedos apertando seu pescoço com uma força implacável. O rosto de Elloá era uma máscara vazia, o oposto do brilho de vida que ele costumava ver em seus olhos.— Elloá! — Arthur gritou, sua voz ecoando pelo espaço.Sem pensar, ele correu até elas e agarrou Elloá pelos braços, puxando-a para longe de Camila. Como Verena havia dito, a força de Elloá, mesmo possuída, não era páreo para a de um homem adulto. Arthur conseguiu afastá-la com relativa facilidade, mas o mais estranho foi que ela não resistiu. Assim que foi solta, Elloá se levantou e, sem dizer nada, caminhou até a porta da frente, trancando-a com movimentos deliberados antes de desaparecer novamente pelos corredores.— Camila, você está bem? — Arthur perguntou, ajoelhando-se ao lado dela.Camila tossiu, lutando para recuperar o fôlego. As marcas dos dedos de Elloá estavam
Arthur caminhava pela casa, os passos lentos e cuidadosos, o ambiente sombrio e silencioso pesando sobre ele. As paredes da mansão pareciam fechá-lo em um labirinto de mistério e tensão. Ele chamava por Elloá, a voz baixa e quase hesitante: — Elloá? Onde você está? Nenhuma resposta veio além do eco de sua própria voz. Ele virou corredores, entrou em salas, observando móveis caros e decoração impecável, mas sem sinais dela. Até que finalmente a viu. Elloá estava na sala de estar, em frente a uma ampla janela de vidro que dava para o jardim dos fundos. Seu corpo movia-se em gestos lentos e automáticos, trancando e destrancando a janela repetidamente, como uma máquina programada para executar uma única tarefa. Sua expressão era fria, inumana, com os olhos vazios mirando algo que Arthur não podia ver. — Elloá! — Ele chamou, aliviado e tenso ao mesmo tempo. Ela não respondeu. Continuou o movimento repetitivo, as mãos pequenas girando o trinco com precisão mecânica. Arthur se aproximo