O sábado finalmente chegou, e já às duas da tarde, o campus estava quase vazio. Boa parte dos alunos já havia partido para a tão aguardada festa de Miguel, que começara cedo, às 13h, para garantir que todos pudessem voltar ao Instituto antes do toque de recolher. Alexandra estava ansiosa enquanto arrumava os últimos detalhes de sua roupa. Ela e Lucas haviam combinado de pegar um táxi, mas, antes de sair, ela não pôde deixar de notar o quanto Lucas estava deslumbrante.
Quando ele apareceu com um blazer bem ajustado, Alexandra quase não o reconheceu. Sem os óculos de estudo e com os cabelos levemente desarrumados de um jeito proposital, ele parecia uma outra pessoa.
— Uau... você está... incrível — Alex soltou, tentando disfarçar o impacto que a aparência de Lucas causou.
— Va
Alex realmente acreditou que sua história com Miguel havia sido encerrada naquele dia no jardim de inverno. A leveza que sentiu ao deixar tudo para trás, rindo com ele, parecia o ponto final de toda aquela confusão. No entanto, sua paz durou pouco. Os burburinhos começaram a surgir novamente pelos corredores, e logo Alex se viu no meio de novos rumores.Alguém tinha visto os dois juntos no jardim e começou a espalhar que Miguel havia voltado para Alex porque Camila era virgem e beijava mal. A história se espalhou como fogo, alimentada pelo recente escândalo da festa. Embora Camila não estivesse mais provocando Alex diretamente, o olhar frio e ressentido havia voltado, agora mais intenso e vingativo. Mesmo humilhada e reclusa após o ocorrido, era claro que Camila ainda nutria rancor.Mas Alex estava decidida a não se deixar abalar. Po
Alguns minutos depois de sair da sala do diretor, Miguel alcançou Alex no corredor.— Ei! — chamou ele, com um sorriso que indicava que tinha boas notícias. — O diretor liberou a gente por hoje, por todo o constrangimento. Podemos sair do campus por algumas horas.Alex parou e o encarou, surpresa, antes de soltar uma risada curta. Era quase inacreditável que o dia, que havia começado de forma tão caótica, estava se tornando uma oportunidade de escapar da tensão.— Sério? — perguntou ela, arqueando uma sobrancelha.— Sério. Vamos almoçar fora? — Miguel sorriu de lado, estendendo a mão.Os dois saíram juntos, deixando para trás os boatos e o ambiente sufocant
Na manhã seguinte, ao despertar, Alex percebeu que Elloá já havia saído. A cama estava vazia, e o quarto silencioso. Isso a deixou inquieta, e sua mente começou a trabalhar em um milhão de possibilidades. Sentia que estava ficando paranoica, mas não conseguia evitar. Os fragmentos de conversas, o estado frágil de Elloá, tudo levava a uma conclusão assustadora.— Arthur... — Alex murmurou para si mesma.A ideia a atingiu como um soco. Até onde ela sabia, Elloá nunca havia tido contato com outro garoto e antes da proibição de Camila, ela chegou até a sair do campus com ele. Para Alex, a única explicação lógica era que Arthur havia engravidado Elloá.Alex se levantou da cama, o coração acelerado e a mente repleta de perguntas e suspeitas. Precisava de respostas, mas
Apesar de uma sensação de insegurança esmagadora, Alex reuniu coragem e foi ao encontro de Arthur no jardim de inverno. Ele a aguardava sentado em um banco, as mãos apoiadas sobre uma bolsa de couro marrom que estava em seu colo. A postura tensa e os olhos fixos no chão mostravam que ele estava tão perturbado quanto Alex. O ambiente ao redor estava escuro, e a única iluminação vinha dos postes de luz espalhados pelo campus, já que o toque de recolher havia passado há algum tempo. A aura de mistério e apreensão parecia sufocar o ar ao redor.Alex hesitou por um instante antes de se aproximar, o medo e a desconfiança crescendo em seu peito. No entanto, a necessidade de respostas a empurrou para frente, e ela se sentou ao lado de Arthur. O professor a observou por um momento, seu olhar carregado de algo que Alex não conseguia definir—talvez medo ou culpa. Sem dizer nada, ele abriu sua bolsa de c
A sala de estar era estranha aos olhos de Alex. Cristais estavam espalhados em prateleiras e sobre uma mesa central. Incensos queimavam em vários pontos do ambiente, liberando uma fumaça densa e um aroma forte de sândalo. Retratos de gatos, de todos os tipos e tamanhos, estavam pendurados pelas paredes. As luzes eram fracas, criando sombras que dançavam por todo o cômodo.— Vou preparar um chá para nós. — Verena disse calmamente antes de desaparecer pela porta que dava à cozinha.Enquanto esperavam, Arthur olhou para Alex e começou a falar em tom baixo:— Eu conheci Verena há dois anos. Ela me seguia por toda parte, como uma stalker. — Ele suspirou. — Eu a ignorava porque, sinceramente, ela parecia completamente lunática. Sabia coisas sobre mim e sobre pessoas importantes pa
— E o que vocês pretendem fazer? — Alex perguntou com a voz trêmula, o medo crescendo enquanto aguardava a resposta.Arthur e Verena trocaram um olhar tenso antes de Arthur falar com firmeza:— Que fique claro que assassinato não é uma opção! — Ele disse, olhando diretamente para Verena, dando a entender que esse pensamento já havia surgido em algum momento anterior.Verena suspirou, cruzando os braços com impaciência, mas não disse nada em resposta.— A melhor opção seria um aborto — Arthur continuou, agora mais calmo, mas ainda angustiado. — O problema é que não sabemos como fazer isso, como convencer Elloá... Ainda mais agora que ela cortou todo contato comigo por ordem de Camila.
PREFÁCIOO céu noturno era iluminado por algumas estrelas e a lua minguante quase não aparecia no céu; aquela era uma das coisas deprimentes de estar na cidade, o céu nunca estava limpo como o do interior.Quisera Alexandra que aquela fosse a única coisa deprimente naquele dia. O cigarro entre seus dedos foi aceso após alguns minutos de contemplação; do telhado de seu alojamento, sentada a borda da construção, o Instituto São Bartolomeu, mesmo à noite, ainda ostentava beleza e imponência. Ela nunca se sentira tão pequena quanto naquele momento.Aquele sempre foi seu sonho, mas estando ali, tudo estava sendo diferente e da pior maneira possível. O pior é que haviam passado apenas 30 dias. Um mês dentro de um ambiente da nata da sociedade, e Alex já não aguentava mais um segundo.No entanto, todo seu drama e autopiedade se esvaíram de seu corpo em segundos quando ela viu claramente a garota correndo pelo pátio, fugin
A manhã seguinte se iniciou com as colegas de quarto sendo despertadas pelo sinal. Naquele dia, um sábado, não era necessário acordar cedo, mas durante a semana o despertar naquele horário, às 5 da manhã, era obrigatório. Dali meia hora, haveria a oração matinal na capela e até às seis e meia, serviam o café da manhã. No fim de semana não havia atividades e a instituição permitia a saída dos estudantes, desde que retornassem até às 19. A biblioteca, piscina e quadra de esportes também ficavam abertas; havia muito o que fazer ali mesmo.Alex se levantou e iniciou a organização de seus pertences, enquanto Elloá continuou deitada, usando o celular. Antes de saírem para o café, faltando vinte minutos para encerrar a distribuição, Alex ligou para os pais; Lucca não atendeu, ainda não estava acordado.Para as amigas, no grupo de mensagens intitulado “Bests”, Alex enviou uma foto retirada no espelho do banheiro, onde ostentava seu uniforme de dia não letivo. O uniforme consistia em uma cami