Na manhã seguinte, após uma noite de insônia cheia de angústia, Alexandra foi convocada novamente à sala do diretor. Seu estômago se contorcia de nervosismo, e ela mal conseguia pensar direito, já imaginando o que a esperava. No entanto, ao chegar lá, percebeu que não estava sozinha. Além dela, Miguel e outro garoto já estavam na sala. O menino parecia familiar; um dos bolsistas só primeiro ano, ela tinha quase certeza.
O garoto tinha um porte franzino, as roupas ligeiramente desajustadas, e o cabelo escuro desgrenhado, como se tivesse acordado e saído correndo para a escola. Ele não parecia mais velho do que Alex, talvez até um pouco mais jovem, com traços delicados e pele clara, que agora exibia um hematoma roxo no rosto, como se tivesse levado um soco recentemente. Seus olhos, que evitavam contato com qualquer um na sala, estavam cheios de insegurança e medo. Ele se encolhia na cadeira, mexendo nervosamente nas mãos, que tremiam levemente.Na manhã seguinte, a reunião com os pais foi marcada bem cedo, e Alex já sentia a pressão antes mesmo de entrar na sala. Enquanto seus pais participavam por chamada de vídeo, os pais de Miguel estavam presentes em pessoa. Seu pai, um homem de aparência rígida, vestindo um terno impecável, tinha uma postura severa, como se estivesse o tempo todo julgando a todos ao seu redor. A mãe de Miguel, uma mulher alta e bem arrumada, tinha uma expressão de desdém no rosto, os lábios finos comprimidos em uma linha dura de desaprovação. Miguel estava sentado entre eles, parecendo pequeno e impotente. Seu habitual ar confiante tinha desaparecido, substituído por uma tensão visível. Ele mantinha os olhos fixos no chão, quase como se quisesse desaparecer dali. A cada palavra que seus pais trocavam com o diretor, o garoto parecia murchar ainda mais, sem coragem de enfrentar o olhar de Alex ou de seus próprios pais. O pai de Miguel, sempre firme, falava com aut
Durante a semana, com o passar dos dias, o trabalho parecia que seria pesado, logo se mostrou tranquilo e o inspetor logo tirou sua fantasia de "carrasco" e foi relaxando. Seu nome era Seu Jorge, um funcionário veterano do colégio que, com o tempo, começou a contar histórias de sua vida.— Vocês sabiam que eu já fui campeão de truco? — perguntou ele num tom mais descontraído, enquanto jogavam cartas na quarta-feira, quando já não tinham mais tanto trabalho assim. — Ah, meu tempo de glória foi grande. Viajei por toda a região jogando campeonatos.Miguel, com as cartas na mão, sorriu.— Truco? Agora faz sentido por que você é bom nisso, Seu Jorge. Eu tô perdendo toda hora!Seu Jorge riu e deu um tapa amigável no ombro de Miguel.— Mas, olha, estou pegando leve com vocês. Se fosse sério, vocês não ganhariam nem uma rodada.Os almoços com os funcionários também se tornaram momentos agradáveis. O clima era leve, e Seu Jorge sempre trazia histórias novas e engraçadas, fazendo com que as
Alex olhou para o próprio celular, mas nenhuma notificação apareceu. Ela não tinha recebido o convite, nem foi adicionada ao grupo da festa. O incômodo cresceu dentro dela, mas ela sabia que Miguel havia mantido isso em segredo de propósito. Suas reações precisavam ser autênticas para que ninguém percebesse que tudo fazia parte de um plano maior.Conforme os minutos passavam, ela ouvia mais e mais sobre a festa, até que, como de costume, Camila apareceu ao seu lado com aquele sorriso venenoso.— Ah, Alex... Parece que nem todo mundo é convidado para as festas, né? Acho que, mesmo dormindo com um dos "bem-sucedidos", você nunca vai fazer parte do grupo — alfinetou Camila, com a voz carregada de sarcasmo.Antes que Alex pudesse responder, Lucas, que estava sentado a poucos metros, notou a situação e se levantou para intervir. Ele se aproximou e, com um tom tranquilizador, disse:— Eu posso levar um convidado e, se quiser, pode ser você, Alex.Ela balançou a cabeça, recusando com firmeza
O sábado finalmente chegou, e já às duas da tarde, o campus estava quase vazio. Boa parte dos alunos já havia partido para a tão aguardada festa de Miguel, que começara cedo, às 13h, para garantir que todos pudessem voltar ao Instituto antes do toque de recolher. Alexandra estava ansiosa enquanto arrumava os últimos detalhes de sua roupa. Ela e Lucas haviam combinado de pegar um táxi, mas, antes de sair, ela não pôde deixar de notar o quanto Lucas estava deslumbrante.Quando ele apareceu com um blazer bem ajustado, Alexandra quase não o reconheceu. Sem os óculos de estudo e com os cabelos levemente desarrumados de um jeito proposital, ele parecia uma outra pessoa.— Uau... você está... incrível — Alex soltou, tentando disfarçar o impacto que a aparência de Lucas causou.— Va
Alex realmente acreditou que sua história com Miguel havia sido encerrada naquele dia no jardim de inverno. A leveza que sentiu ao deixar tudo para trás, rindo com ele, parecia o ponto final de toda aquela confusão. No entanto, sua paz durou pouco. Os burburinhos começaram a surgir novamente pelos corredores, e logo Alex se viu no meio de novos rumores.Alguém tinha visto os dois juntos no jardim e começou a espalhar que Miguel havia voltado para Alex porque Camila era virgem e beijava mal. A história se espalhou como fogo, alimentada pelo recente escândalo da festa. Embora Camila não estivesse mais provocando Alex diretamente, o olhar frio e ressentido havia voltado, agora mais intenso e vingativo. Mesmo humilhada e reclusa após o ocorrido, era claro que Camila ainda nutria rancor.Mas Alex estava decidida a não se deixar abalar. Po
Alguns minutos depois de sair da sala do diretor, Miguel alcançou Alex no corredor.— Ei! — chamou ele, com um sorriso que indicava que tinha boas notícias. — O diretor liberou a gente por hoje, por todo o constrangimento. Podemos sair do campus por algumas horas.Alex parou e o encarou, surpresa, antes de soltar uma risada curta. Era quase inacreditável que o dia, que havia começado de forma tão caótica, estava se tornando uma oportunidade de escapar da tensão.— Sério? — perguntou ela, arqueando uma sobrancelha.— Sério. Vamos almoçar fora? — Miguel sorriu de lado, estendendo a mão.Os dois saíram juntos, deixando para trás os boatos e o ambiente sufocant
Na manhã seguinte, ao despertar, Alex percebeu que Elloá já havia saído. A cama estava vazia, e o quarto silencioso. Isso a deixou inquieta, e sua mente começou a trabalhar em um milhão de possibilidades. Sentia que estava ficando paranoica, mas não conseguia evitar. Os fragmentos de conversas, o estado frágil de Elloá, tudo levava a uma conclusão assustadora.— Arthur... — Alex murmurou para si mesma.A ideia a atingiu como um soco. Até onde ela sabia, Elloá nunca havia tido contato com outro garoto e antes da proibição de Camila, ela chegou até a sair do campus com ele. Para Alex, a única explicação lógica era que Arthur havia engravidado Elloá.Alex se levantou da cama, o coração acelerado e a mente repleta de perguntas e suspeitas. Precisava de respostas, mas
Apesar de uma sensação de insegurança esmagadora, Alex reuniu coragem e foi ao encontro de Arthur no jardim de inverno. Ele a aguardava sentado em um banco, as mãos apoiadas sobre uma bolsa de couro marrom que estava em seu colo. A postura tensa e os olhos fixos no chão mostravam que ele estava tão perturbado quanto Alex. O ambiente ao redor estava escuro, e a única iluminação vinha dos postes de luz espalhados pelo campus, já que o toque de recolher havia passado há algum tempo. A aura de mistério e apreensão parecia sufocar o ar ao redor.Alex hesitou por um instante antes de se aproximar, o medo e a desconfiança crescendo em seu peito. No entanto, a necessidade de respostas a empurrou para frente, e ela se sentou ao lado de Arthur. O professor a observou por um momento, seu olhar carregado de algo que Alex não conseguia definir—talvez medo ou culpa. Sem dizer nada, ele abriu sua bolsa de c