Capitulo Cinco

ALICIA SCOTT

CAMBALEANDO, DEIXEI O QUARTO EM QUE minha mãe estava. Vê-la naquele estado me causou um desconforto intenso, como jamais havia sentindo na vida. A tristeza que senti pela decepção com aquele que acreditava ser o grande amor da minha vida, se tornou tão insignificante ao ser comparada com a dor, que tomou conta, não só do meu coração, como estava dilacerando a minha alma. Era como se tivessem cravado algo no meu peito, atingindo o meu coração e este por sua vez, a cada batida, me causava essa angústia profunda de uma dor que parecia não ter fim. Eu queria ficar ao seu lado, mas não me foi permitido. O médico me explicou que de nada adiantaria a minha permanência ali ao seu lado, já que ela estava em estado vegetativo e que não se sabia ao certo quando ela sairia da escuridão em que se encontrava, onde seus olhos podiam estar abertos, mas era como se tivessem envolvidos por nuvens negras.

Como ele, disse tudo dependeria dela, dias semanas, meses e a pior palavra veio quando ele mencionou que ela poderia ficar por anos daquela forma. Mas, o meu mundo já havia começado a desabar e suas últimas palavras trouxe uma tempestade, a qual eu precisaria enfrentar e ter forças para lutar. Não se sabendo por quanto tempo ela precisaria ficar no hospital, além de ter que continuar pagando o plano de saúde para que ela permaneça por um período sem data determinada para sair, tenho que pagar um valor ainda maior, já que o nosso plano só garante até 15 dias de internação.

Além da pensão da minha mãe e o dinheiro que certamente irei receber pelo tempo de serviço dela no restaurante, vai dar para pagar as despesas por mais dois meses. O único bem que temos é a nossa casa, e esta, por tudo que passamos, farei de tudo para mantê-la do jeito que ela deixou, mesmo que fosse o último recurso que tivesse, não poderia me desfazer, já que enquanto ela estiver respirando, eu não tenho autoridade para me desfazer de um bem que está em seu nome. Dessa forma, preciso de qualquer maneira arrumar um emprego e assim ter dinheiro para mantê-la nesse lugar pelo tempo que for necessário.

Meus pensamentos foram afastados quando por reflexo fecho os meus olhos por uma fração de segundos ao passar pela porta de vidro e me deparar com a forte claridade da rua que atingiu as minhas retinas. Eu estava tão distraída que não havia me dado conta que meu rosto estava banhando pelas lágrimas. Limpo as minhas bochechas e meus olhos passeiam rapidamente pelo lugar a minha volta, há certa distância avisto uma banca de jornal e revista, era o momento de deixar as lamentações de lado e tomar as rédeas da situação, pois não importa os obstáculos, eu preciso fazer de tudo pela vida da minha mãe, e enquanto eu respirar, vou manter sempre a minha esperança de que depois dessa tempestade, vem a calmaria. Confiante e esperançosa, com passos firmes, caminho em direção ao lugar, entre as notícias certamente haverá uma vaga de emprego e só assim o maior amor da minha vida terá a chance de sobreviver.

Horas depois...

Assim que entrei no metrô, ao me sentar, meus olhos foram de encontro a segunda página do jornal, onde havia alguns avisos de emprego, entre todos que estavam disponíveis pela idade solicitada, só me enquadrava na vaga de garçonete de um restaurante bem renomado. Mediante a situação, meu trajeto mudou e segui rumo ao lugar, uns 40 minutos depois, já estava em frente ao restaurante, olhando para a enorme fachada de vidro que tinha o letreiro com o nome Mario's Restaurant, com passos firmes, segui adiante, e ao adentrar no ambiente, fiquei fascinada com tudo ao meu redor, era extremamente luxuoso, com uma decoração rústica e encantadora. Havia magníficos quadros e tapeçarias nas paredes. As mesas estavam enfeitadas com arranjos de flores. Não demorou muito para que eu viesse a sair do transe que me encontrava.

— Você deve ter vindo pela vaga de emprego. Certo? — um rapaz que tinha por volta de uns 25 anos, indagou.

— Sim — digo exibindo um largo sorriso, mas achei estranho que não houvesse outras candidatas para vaga, o que me fez questionar se já havia sido ocupada. Deixo os devaneios de lado quando ouço sua voz novamente.

— As entrevistas vão começar amanhã às 14 horas, aqui está o folheto com algumas informações — acabei por entender porque não havia uma multidão. Do jeito que emprego esta difícil, era estranho não ter outros concorrentes, porém, ao mesmo tempo, por não ter tanta experiência, estava preocupada, mas precisava ficar confiante, agradeci a ele e assim que me virei em direção à porta e dei alguns passos, um senhor muito elegante surgiu no meu campo de visão e seus olhos foram de encontro aos meus. O homem desviou seu olhar do meu rosto e pude sentir calafrios quando com o olhar, ele fez uma varredura pelo meu corpo e pude sentir um tremor violento ao ouvir o som da sua voz.

— Vejo que apareceu uma candidata que pode atender, enfim, aos meus requisitos — não passou despercebido por mim a malícia em suas palavras e como ele me olhava como se eu fosse um pedaço de carne que ele queria devorar.

Apesar de estar numa situação onde este emprego pode ser a solução para os meus problemas, depois de tudo que venho passando, não posso fechar os olhos para o perigo que está diante de mim. Respiro fundo, e respondo.

— Como fui informada, as entrevistas serão amanhã, então não posso concordar com o senhor, já que não sabemos se entre as candidatas não há alguém com mais experiência para vaga de emprego, o que acredito ser o requisito que realmente deve importar.

O homem que esboçava um sorriso, logo ficou com uma expressão fechada. Mesmo vivendo no país onde se tem leis rigorosas contra o assédio no trabalho, isso não evita de acontecer. Homens como este a minha frente, que tem idade para ser o meu pai, acham que por ter dinheiro e saberem que seus subordinados precisam do emprego, tentam tirar proveito da situação, forcei um sorriso de lado para o rapaz que foi muito educado comigo e antes que aquele homem viesse a dizer mais alguma coisa, com passadas largas, prossegui rumo a saída.

Sei que havia agido da forma certa e embora tudo parecesse difícil, eu ainda tinha esperança.

AARON BITENCOURT

Maldição!

Dias se passaram desde que foi colocado o anúncio sobre a vaga de babá, nunca pensei que entre dezenas de candidatas, houvesse somente infelizes que eram incompetentes, entre elas, duas ainda durou mais que três horas, mas não conseguiam fazer com que aquela criança viesse a parar de choramingar e para contornar a situação, Emília teve que cuidar pessoalmente dela, mas pela idade da mulher, sei que isso não poderia se perdurar por mais dias e desta forma, intensifiquei os anúncios e dupliquei o valor que estava oferecendo. Espero que desta vez encontre alguém que me seja útil e saiba que na minha casa, deve ser seguido as minhas regras. Caso contrário, terá o mesmo destino da outra infeliz.

ALICIA SCOTT

Cansada. São praticamente três dias que não durmo direito e o desespero está me deixando totalmente destruída. Além da minha mãe que continua do mesmo jeito, durante esses últimos dias, eu deixei o curso de lado e toda minha atenção estava direcionada para as diversas vagas de emprego que encontrei nos jornais. Algumas já haviam sido preenchidas, outras, por não ter experiência, acabava por ser descartada sem ter chance de mostrar que estava disposta a dar o meu melhor.

Afasto as lembranças de lado ao sentir uma forte dor na minha barriga, estava tão preocupada que não havia comido nada. Saio da estação e caminho em direção ao hospital, minutos se passaram e ao me aproximar de uma lanchonete que fica próximo ao meu destino, meu estômago começou a roncar, causando-me um intenso desconforto. Olhei para o lado direito, já avistando o hospital, mas sabia que se continuasse desse jeito, ia acabar ficando doente e isso só iria atrapalhar os meus planos. Entro no lugar e ao fazer o meu pedido, enquanto a garçonete se dirigiu ao balcão, meu olhar foi de encontro ao mural fixado na parede que dava acesso ao banheiro, não sei explicar, mas sentir meu coração se agitar fortemente e minhas pernas ganharam vida própria, era como se um imã as puxasse naquela direção. Quando reduzi a distância, fiquei ali parada e meus olhos vidrados em cada anúncio, quando de repente senti um vento gelado passar por mim e meu olhar caiu sobre o último anúncio.

"PROCURA-SE BABÁ QUE DURMA NO TRABALHO".

A princípio fiquei receosa, até olhar para o valor que estão pagando, sem contar que amo crianças e sempre lamentei por não ter tido irmãos. Não estava em meus planos ter que morar em um lugar que não fosse a minha casa, mas esta pode ser a luz que pedi a Deus, esse emprego pode mudar a minha vida.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo