Capitull Quatro

AARON BITENCOURT

NO MOMENTO QUE O SOM DA MINHA VOZ preencheu o espaço e a última palavra dita por mim, ressoou no ar, como um abrir e fechar de olhos, a mulher que tinha uma expressão temerosa e os olhos que refletiam o puro medo, mudou suas feições e o ódio estava visível em seu olhar e ouvir as palavras que sobressaíram ao barulho irritante que saia da boca da criança em seus braços, fez cada fibra do meu corpo vibrar e o sangue ferver e borbulhar em minhas veias.

— O senhor deseja que eu tampe a boca dela?— disse sem desviar os olhos de mim, como se estivesse me desafiando.

— Sua m*****a insolente. — vocifero furioso, porém, o meu corpo todo foi envolvido por um calor escaldante quando a infeliz que sempre pareceu um animal acuado começou a colocar suas garras para fora e suas palavras saíram aos berros.

— Chega! Eu cansei e mesmo gostando muito da Melinda, não vou aceitar que o senhor continue me humilhando, pois tudo nessa vida tem limites e eu cheguei ao meu. Durante os três meses que estou aqui, venho aturando o seu mau humor e não é atoa que ao longo de um ano essa pobre criança já teve várias babás. Tendo um monstro como patrão, ninguém, por mais que se renda aos encantos desse anjo, aguenta ficar sobre os domínios de alguém tão perverso. Alguém que tem uma pedra dentro do peito, no lugar do coração e é incapaz de gesto nobre até com um pequeno anjo. Pode procurar outra pessoa, pois sou eu quem não quer mais ficar nesse emprego.

A desgraçada colocou a criança que gritava a todo vapor, dentro do berço e caminhou em direção ao cômodo onde ficava guardado as suas coisas e não demorou muito para sair puxando uma mala. Então se aproximou do berço e suas palavras se fizeram presentes novamente.

— Eu sinto muito minha princesa e desejo do fundo do coração que Deus olhe por você, que não merece tudo que vem passando, o choro cessou e era como se a criança estivesse perdida em seu próprio mundo.

— Eu vou cuidar pessoalmente para que você não encontre nenhum outro emprego — falei extremamente irritado.

Com passos largos, a atrevida começou a se mover em minha direção e antes de chegar até a porta, retrucou:

— Algum dia todos descobrirá a sua verdadeira face que é a do próprio demônio. O senhor sabe o número da minha conta, então coloque nela tudo que tenho por direito.

Assim como o som das malditas palavras que fez a raiva me incendiar ainda mais por dentro, ecoavam no ambiente, e deu lugar ao silêncio, instantes depois ela desapareceu do meu campo de visão. Jamais fui tomado por sentimentos tão ruins, porém, desde tudo aquilo que aconteceu em minha vida, é como se algo sombrio e cruel tivesse se apossado do meu coração. Um monstro que deseja se libertar e anseia por subjugar e exterminar todos os obstáculos que surgem em meu caminho.

Manhã seguinte...

Depois do ocorrido de ontem, Emília acabou ficando com Melinda e esta por sua vez, após choramingar por um longo período de tempo, acabou caindo no sono profundo, contudo, ainda estava tão possuído de raiva que não consegui dormir, só bem tarde, quando era alta madrugada foi que adormeci. Acordei logo nas primeiras horas da manhã, no entanto, meu coração estava agitado, como se algo que não estava sob o meu controle estivesse prestes acontecer. De banho tomado e arrumado, deixei o meus aposentos, passos precisos foram dados por mim e ao passar pelo corredor que dava acesso ao primeiro andar da minha mansão, o silêncio reinava no ambiente e quando cheguei ao topo da escada, meu olhar se voltou para a mulher que já tem por volta de uns 55 anos, assim que surgiu em minha frente.

Emilia e Sebastian são os únicos que trabalham comigo desde o tempo que os meus pais ainda eram vivos e apesar de ter me transformado no ser insensível que sou hoje, respeito a ambos como se fossem da minha família. Meus pensamentos foram deixados de lado assim que me livrei do último degrau e ouvi sua voz.

— Bom dia!

— Bom dia, você já sabe o que fazer. Dessa vez ofereça um salário ainda maior, mas quero alguém que seja eficiente.

— Mandarei colocar o anúncio daqui a pouco.

Sem delongas, prossegui em direção a porta e só espero que desta vez não seja mais uma incompetente ou não irei controlar a minha fúria.

ALICIA SCOTT

Meu olhar continua fixo no rosto pálido da mulher que ainda está em um sono profundo após todos os procedimentos médicos. Eu estava tão perdida e desorientada com tudo que aconteceu em minha vida, que tinha a sensação de que o céu havia desabado sobre mim, no entanto, o choque da realidade me atingiu de verdade quando me foi permitido vir para o quarto em que a minha mãe estava. Senti um aperto profundo no meu peito ao ver o seu corpo frágil e imóvel sobre a cama. Passei toda noite ao seu lado e não consegui dormir, pois mil coisas se passavam pela minha cabeça, as lágrimas grossas inundavam o meu rosto e uma dor insuportável apoderou-se de todo o meu ser.

Não teria forças para seguir adiante se algo pior tivesse acontecido com ela, meus pensamentos que estavam a milhões de quilômetros, logo se concentraram nela assim que seus olhos se abriram e um sorriso largo surgiu no meu rosto. Porém, a mulher a minha frente tinha uma expressão totalmente desconhecida por mim. Suas órbitas estavam em um tom mais escuro, seu rosto revelava sinais de uma máscara dura como se ela tivesse perdida em meio aos devaneios.

— Mãe! Mãe! Mãe...

Chamei a por diversas vezes, mas sua boca continuava fechada e seu olhar distante. O medo me envolveu e antes que eu viesse a ter qualquer outra reação, a porta foi aberta, e o médico, ao lado de uma enfermeira, adentrou o ambiente.

— Por que ela está assim? — pergunto e as lágrimas começam a descer pelo meu rosto.

Ele se aproximou e começou a examiná-la e a cada segundo que se passava, o meu desespero aumentava. Foram minutos de muita agonia e se eu achava que toda essa situação não poderia ficar pior, as palavras que vieram dele, não só caiu como um golpe cruel que quase me nocauteou, como atingiu a minha alma.

— Como havia dito, era possível que houvesse sequelas. Houve uma diminuição muito acentuada da função cerebral, sua mãe acabou entrando em um estado vegetativo. Tendo apenas movimentos involuntários, como a respiração e os batimentos cardíacos e, embora os estímulos extremos, como os sons, continuem chegando até ao cérebro, ela não consegue interceptar e por isso, não tem qualquer reação.

Eu tentava processar tudo aquilo e não esperava que o pior ainda estivesse por vir.

— E o que pode ser feito? Ela vai ficar boa?

— Esse estado pode durar, dias, semanas, meses ou ela pode ficar assim para sempre. Porém, hoje temos vários recursos que ajudam na recuperação do paciente, contudo você vai precisar de bastante recurso já que o tratamento, além de ser caro, é algo que não sabemos por quanto tempo ela fará uso até voltar ao seu estado de consciência.

Nos momentos seguintes, ele me explicou tudo e quando fiquei novamente sozinha com ela, meu olhar ficou cravado no seu rosto, o nosso maior bem material é a nossa casa e não posso me desfazer dela. A pouca economia que temos só vai dar para pagar um mês do tratamento e o dinheiro da pensão que ela recebe do meu pai, dá apenas para pagar as contas de casa. Sei que o maior sonho dela era que eu entrasse em uma faculdade e tivesse um futuro melhor, porém, agora tudo isso é pequeno perto de toda essa situação e não importa o que eu tenha que fazer e enfrentar. Chegou o momento de retribuir todo esforço que ela fez durante todos esses anos.

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