AARON BITENCOURT EU FIXO MEU OLHAR NUMA ÚNICA direção, enquanto Alicia esta dando comida para Melinda. A temperatura emanada do meu corpo era tão intensa, que o sangue borbulhava em minhas veias e assim que a criança me olhou, senti uma sensação de queimação na garganta, fazendo a raiva rasgar dentro da minha pele e as palavras escaparam da minha boca como uma torrente que não podia mais ser contida: — O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO AQUI? — vocifero. A criança imediatamente arregala os olhos, eu posso sentir o seu medo. No entanto, aquela que mantinha sua total atenção nela, disse: — Olha o aviãozinho Linda — a menina logo tirou o seu olhar do meu rosto e o medo deu lugar a um brilho intenso, direcionado para a colher cheia de comida. Assim que ela abriu a boca e abocanhou a colherada, Alicia desviou seus olhos dela e me encarou. — Antes de mais nada, o senhor deveria saber que esses gritos deveriam ser evitados perto del... — a minha ira se intensificou e sem deixá-la dizer algo mai
AARON BITENCOURT O som daquela pequena palavra ecoa em minha mente, misturando-se com várias sensações que eu não conseguia controlar. — PAPA! PAPA!Meus batimentos cardíacos eram intensos e minha respiração tornou-se ofegante, enquanto eu tentava encontrar forças para me livrar daquela adrenalina que tomou conta de todo o meu ser.— Papa! Ouço novamente a palavra que fez meu coração se agitar como quisesse sair para fora do meu peito. Seu olhar ficou fixo no meu e era como se eu estivesse enfeitiçado, observando minuciosamente aquele belo rosto. Seus olhos têm um tom claro, cristalino, penetrante da maneira mais alarmante e são como chamas azuis que não se extinguem. Uma pele de porcelana com o rosto de princesa e por mais que uma força totalmente sobrenatural quisesse me dominar e fazer o ódio percorrer cada fibra do meu corpo, um sentimento que envolveu até a minha alma, era uma coisa grandiosa demais para ignorar, e pela primeira vez, senti o desejo de não a ter distan
EMÍLIA TRABALHO PARA A FAMÍLIA BITENCOURT DESDE que os pais de Aaron eram vivos. Acompanhei de perto toda sua história com Marina, o quanto seus olhos brilhavam ao estar na presença dela e quando seus pais se foram, foi o amor e a companhia de Marina que fez o meu menino seguir adiante. Três anos depois de casados, Marina, enfim, engravidou e esta casa foi tomada pela pura felicidade, até que nove meses depois, uma sombra pairou em volta do homem que sempre emanou uma luz intensa. Muitos por aqui passaram, mas era difícil ter que cuidar de uma recém-nascida e ter que enfrentar o homem de belo rosto, mas que por dentro alimentava uma fera e era este lado que ele fazia questão que aflorasse, o tornando um homem amargurado e de coração empedrado. Não foi fácil ver que o fruto de um grande amor, o qual deveria ser muito amado, era renegado pelo próprio pai, que colocou sua dor acima de tudo. Melinda, embora tão pequena, sofreu as consequências da rejeição dele, desde o nascimento, era
ALICIA SCOTTMEDO!Este se apoderou de mim por alguns segundos, mas logo se esvaiu ao sentir o aroma familiar que tomou conta do espaço. A escuridão se foi e em meio à claridade, assim que meu olhar se encontrou com o azul dos olhos dele, me tirou o fôlego. Minhas pernas ficaram bambas, senti meu coração acelerado. O homem parado a minha frente estava vestindo apenas uma calça preta de moletom e eu pude contemplar aqueles músculos fortes e torneados. No momento que senti uma onda de calor se espalhar pelo meu interior, tentei fugir para longe dali, mas suas mãos tomaram posse da minha cintura e uma volúpia fez o meu corpo frágil vibrar diante da magia que o seu olhar carregado de luxúria provocou, afetando todos os meus sentidos que ficaram em alerta, enquanto o desejo dominava o meu corpo.Quando ele me puxou para junto dele, a minha pele ficou quente, muito quente, mas eu estava ciente de que aquilo era errado. Contudo, antes que eu tivesse novamente qualquer reação para escap
ALICIA SCOTTCOMPLETAMENTE ATORDOADA, EU TENTO PROCESSAR O que acabei de ouvir e repasso em minha mente as suas últimas palavras.“— Diga com toda sinceridade se você não está sentindo nada? Diga-me se não deseja que a minha boca esteja junto da sua? Eu não quero somente o seu corpo, eu quero você por inteira, Alicia.”Respiro tremulamente. Por uma fração de segundos perdi o ar, o raciocínio e o meu coração que já batia descompassado, reagiu mediante a suas palavras. Uma corrente percorreu meu corpo, fazendo meu sangue correr mais quente e denso em minhas veias."O que é tudo isso que estou sentindo, senhor?"A dúvida me assola e eu sinto que minha cabeça gira e gira. Não conseguia mais encontrar minha voz. Não conseguia me mexer. Só conseguia sentir a presença do seu corpo colado ao meu. Senti a porta gelada atrás das minhas costas e meu olhar se mantinha fixa naquelas órbitas cristalinas, que me fizeram viajar no passado, trazendo à tona lembranças, às quais eu queria apagar de
AARON BITENCOURTDESLIGO O CHUVEIRO E APÓS ENROLAR UMA TOALHA em volta da minha cintura, deixo o banheiro indo direto para o meu quarto. Alicia foi dar banho em Melinda e colocá-la para dormir, mas antes que isso viesse a acontecer, a criança que parecia elétrica, mesmo andando cambaleando pela sala, não se mantinha quieta. Confesso que nos últimos dias, ao contrário de antes, a sua presença de nada me causou aquele atoleiro de sensações ruins, como se algo no meu interior tivesse esquentando e acordando o meu pior lado. Aquele que só conseguia ver uma imensa escuridão a sua volta e sempre ficava preso nas lembranças torturantes do passado. Eu senti uma paz interior que há muito tempo não pairava ao meu redor e aquela simples palavra dita por ela, aquecia os órgãos dentro da minha caixa torácica, porém, não me causava um desconforto ruim e sim uma sensação devastadora, que palavras não eram suficientes para explicar a explosão que aconteceu dentro de mim.Dou algumas piscadas espant
AARON BITENCOURTFICAR PERTO DELA, ERA TÃO BOM, que eu não conseguiria descrever o montão de coisas que gritavam dentro de mim. No entanto, por mais que a presença de Melinda já não me causasse um desconforto tão intenso, estava fora de cogitação agir como se de fato, eu tivesse esquecido tudo, porém, acabei inventando que estaria ocupado e ver o jeito como Alicia ficou, me deixou inquieto e como se isso não fosse o suficiente, Emília como sempre, foi a voz da razão, me fazendo entender que ela sempre iria colocar a Melinda em primeiro lugar e pelo pouco que já conhecia dela, acabaria se afastando de mim diante das minhas atitudes. Não que para ficar com ela, iria fingir o que não sou, mas quando Emília me deixou sozinho, estava com planos de ir até o meu escritório, entretanto, minhas pernas se negavam a se moverem naquela direção e ao olhar para porta, a imagem das duas surgiu como um clarão em minha frente e naquele instante, eu já não conseguia mais ir contra o que realmente quer
AARON BITENCOURT MUITO MAIOR QUE O DESEJO ARDENTE que corria em minhas veias, foi o desespero diante daquele choro incessante da minha filha. Alicia logo escapou da minha posse e saiu em disparada para dentro do quarto, quando nos aproximamos do seu leito, o barulho persistia, no entanto, ela estava de olhos fechados e se debatia jogando seu pequeno corpo de um lado para o outro. Pela expressão temerosa, era provável que estivesse tendo um pesadelo com o que havia acontecido no parque. Em meio a preocupação e receosos em acordá-la, ficamos observando-a, porém, Melinda acabou abrindo os olhos e começou a balbuciar chamando por aquela que escolheu para ser sua mãe, já que embora tendo Emília tão próximo a ela, nunca havia dito essa palavra. — Mama! Mama! Alicia a tirou do berço e começou acalentá-la em seus braços, enquanto eu esboço um sorriso ao ver Melinda apontando o dedo em direção a cama. A minha filha era muito esperta e certamente estava com medo que viesse a ficar sozinha, se