MaluEu queria ter dito muitas coisas na cara do Pardal naquele momento… Que direito ele acha que tem sobre mim, para fazer uma merda dessas? Não sou prêmio de consolação para ser distribuído gratuitamente a quem quiser levar. Mas eu simplesmente paralisei, porque realmente fiquei sem saber o que dizer ou como retrucar tamanha audácia. Passei o resto da noite indignada, minha vontade mesmo era ir até ele dizer umas verdades que, talvez, seus pais não souberam lhe dizer ou não tiveram coragem de educá-lo do jeito certo. Por isso virou o que virou.Filho da puta! Porém, eu decidi não ir até ele, primeiro precisava esfriar minha cabeça antes de fazer qualquer coisa. Na hora da raiva, a gente acaba fazendo merda.Após tomar um banho e relaxar um pouco, depois de um dia cansativo, peguei o coelhinho do Rael para costurar, sentada no sofá, assistindo à novela das nove, enquanto consertava o bichinho de pelúcia, fiquei lembrando daquela criança. Na verdade, lembrei de todos que eu tinha vist
MaluFiquei ali sozinha por mais alguns minutos, acabei pegando mais um copo, enquanto o esperava, mas já estava de saco cheio de ficar parada sem fazer nada. A música até que estava legal, porém, eu não tinha a menor vontade de dançar, não estando sozinha, sem a companhia da minha amiga farreira.Deposito meu copo em um lugar qualquer e sinto uma mão em minha cintura.— Tá sozinha, gatinha? — um homem que nunca vi na vida, me pergunta.Provavelmente é bandido também, pelo jeito que está vestido. — Não, ela tá acompanhada e se eu fosse tu, metia o pé daqui. — não preciso nem mesmo olhar para trás para saber que o Pardal está atrás de mim.Consigo senti-lo muito perto.— Oh, foi mal aí, Pardal. Vi a mina aqui sozinha, não sabia que tava contigo. — o cara o responde todo desconfiado.Para completar o cenário, só faltou se mijar de medo, como todos que chegam perto do ogro.— Vaza daqui, antes que eu perca a paciência. — Pardal ordena, com a mão em minha lombar, como se fosse meu dono.O
PardalO convite do Pitbull para o baile do alemão tinha chegado dias atrás, mas, pra ser bem sincero, eu não queria ir, sabia exatamente a razão para aquele filho da puta ter dado ordens estritas que eu tinha que estar lá. Depois que a porra daquele corpo com a cabeça decepada foi encontrado em meu carro, a notícia se espalhou muito rápido e logo chegou aos ouvidos dele.Eu tinha certeza de que ele tocaria nesse assunto, mas, devido a nossa parceria, eu jamais poderia negar o convite. Foi por isso que eu chamei a mandada pra ir comigo, porque assim teria um motivo a mais para não precisar ficar ouvindo sermão durante horas, já que ele é o manda-chuva da facção. Na verdade, ele é praticamente o braço direito do chefão.— Já não era sem tempo… — o comentário do pau no cu foi a primeira coisa que escutei, ao entrar na boca.— E aí? — me aproximei dele sentado em sua cadeira de maneira despojada, se sentindo o poderoso chefão e cumprimentei brevemente com um meneio de cabeça e um toque de
MaluSemanas depois…Finalmente o resultado do Enem saiu e, para minha total surpresa, tirei uma nota muito boa. Não sei como, mas consegui setecentos pontos. Lembro-me como se fosse hoje, no dia em que a Yasmin e eu soubemos que o resultado havia saído, foi hilário. A ansiedade foi tanta, que quase derrubamos o notebook dela, de tanta alegria. No mesmo dia, já abrimos o site da UFRJ e procuramos pela nossa oportunidade dos sonhos. Minha amiga não hesitou em se inscrever no curso de direito, ela estava tão feliz e eu já conseguia até vê-la trabalhando como advogada. Sempre foi o sonho dela.Sempre quis cursar medicina, lembro de citar isso em muitas das minhas conversas com a Yasmin, então, meus olhos chegaram a brilhar quando cliquei e fiz minha inscrição. Aquilo nem parecia real. Eu estava tão nervosa, que meu coração parecia uma escola de samba, de tão acelerado. Se eu já fiquei desse jeito somente para realizar uma inscrição, ficava pensando como eu estaria se ela fosse aprovada
Malu— Posso saber o que a majestade está fazendo aqui? — ligo a luz e cruzo meus braços abaixo dos seios, sem querer acreditar que realmente estou vendo ele em minha frente.O trote que levei na faculdade me deixou tão atordoada, que eu nem me dei conta que a luz da sala estava apagada, mas a televisão ligada.— Onde você tava, Malu? O Perigo bateu o fio, disse que tu saiu do morro e não sabia onde cê tinha ido. — ele olha para mim.— O que eu faço ou deixo de fazer, não é da sua conta. Quantas vezes vou precisar te falar isso? Já me viu, estou inteira — abro os braços e dou uma voltinha devagar — Pode ir embora. — aponto para a porta, sem deixar de encará-lo.Vejo-o levantar do sofá e caminhar em minha direção, com um semblante muito sério.— Para de se fazer. Só vou perguntar mais uma vez, onde tu tava? — ele está tão perto, que consigo sentir seu hálito quente em minha pele e devo admitir que o cheiro do seu perfume, misturado a nicotina, me deixam inebriada.— Na faculdade, Parda
MaluEstava tão cansada ontem, que acabei apagando ali mesmo no peito dele, não tive nem forças para levantar, me vestir ou qualquer coisa do tipo. Ao acordar logo cedo, estou deitada normalmente na cama e sinto seu braço em volta da minha cintura. Isso me faz pensar em tudo o que tenho vivido nos últimos dias, ou melhor, nos últimos dois meses mais ou menos.Lembro de tudo o que minha mãe passou com meu pai, antes daquele miserável nos deixar. Quando eu ainda era apenas uma criança. Lembro de todo o sufoco que ela passou para me criar, para nunca deixar faltar nada para mim. Então, penso que, provavelmente, não era esse o futuro que ela desejava para mim. Ser mulher de bandido.— Tá pensando na morte da bezerra? — a voz do ogro me faz despertar do meu transe.Não percebi que ele havia acordado.— Bom dia pra você, também, Pardal. — digo sem a menor paciência.— Tenho que trabalhar, tu deixa já suas coisas arrumadas aí, que eu vou mandar os menor levar pra minha goma.— Chama aquilo d
MaluConversamos bastante no caminho até a faculdade, tanto que nem percebemos que já havíamos chegado ao nosso destino.— Estão entregues, moças. — o motorista chama nossa atenção, nos olhando pelo espelho retrovisor.— Obrigada. — agradeço, lhe entregando o dinheiro. Descemos do carro e seguimos em direção a entrada do prédio. Caminhamos pelo corredor, procurando por algum sinal da Maju, mas não a encontramos e, levando em conta que ela já está no último período, talvez nem estude na mesma ala que eu. Paramos em frente a sala do diretor, dou dois toques na porta e aguardamos permissão para entrar — não demoramos a ouvir a voz masculina do lado de dentro. Giro a maçaneta e abro a porta, vendo-o sentado em sua poltrona atrás da escrivaninha, mexendo em alguns papéis.— Boa noite, senhor Garcia. — minha amiga e eu o cumprimentamos.— Boa noite, senhoritas. Sentem-se, por favor. — ele diz, apontando para as cadeiras a sua frente e retirando seu óculos de grau, repousando-o na mesa.—
MaluA semana foi bem agitada, trabalho, faculdade e, como se não bastasse, ainda minha adaptação ao meu novo lar. É apenas modo de falar, já que lar é uma palavra muito forte para definir assim o lugar onde estou morando. Sem esquecer de mencionar que para ser lar, a gente precisa sentir que aquele determinado lugar é nosso, precisamos nos sentir bem e, definitivamente, não é exatamente assim que tenho me sentido.Especialmente, pelas inúmeras vezes em que o Pardal sai a noite sem dizer para onde vai, às vezes, pela manhã, quando acordo, ele está na cama, abraçado ao meu corpo, outras vezes, só o vejo na noite seguinte. Sei que não deveria me incomodar com isso, porque não temos nada, apenas moramos juntos, mas, infelizmente, isso me incomoda mais do que eu queria admitir.— É… Quero dar um téti a téti contigo. — Pardal chama minha atenção.— É só falar. — estou lavando os pratos sujos do almoço, então o respondo sem olhá-lo.Geralmente, em horário de almoço, faço minha refeição no t