DavidAcordo com um humor daqueles. O sol entra pela janela como uma provocação direta, mas nem isso ilumina a escuridão que toma conta de mim. O peso das últimas semanas me acompanha desde o momento em que abro os olhos. Me arrumo de forma casual, jeans escuros e camisa branca, sem paciência para formalidades. Na sala, a atmosfera é densa. Minha mãe lança olhares afiados enquanto tomamos café da manhã. Sei exatamente o motivo, Lizandra e a gravidez. Não preciso que ela diga uma palavra.Darlan está quieto, o que é raro, e as gêmeas resmungam algo, ainda sonolentas, mas prontas para a escola. Meu pai, sempre o Don sério e controlador, observa todos com um ar desconfiado. Eu prendo um suspiro. Essa mesa parece uma panela de pressão prestes a explodir.Levanto sem terminar meu café.— Vou para a faculdade — digo, seco.Darlan me segue em seu próprio carro, mantendo uma distância segura para evitar meu humor. Escolta discreta, mas presente.Quando chego à faculdade, vou direto para a sa
David Conteúdo sensívelDepois do pequeno embate, vou direto para a câmara onde Frederico está sendo mantido. O cheiro de metal e concreto toma conta do lugar. Os pulsos feridos pelo atrito das algemas. Seu olhar é de ódio, mas eu vejo o medo por trás da pose.Aproximo-me lentamente.— Vamos tentar isso de novo Frederico. — digo, minha voz baixa e perigosa. — Quem está te financiando?Frederico cospe no chão.Não perco tempo.— Você acha que aguenta? — pergunto, minha voz cheia de sarcasmo. — Vou descobrir se você tem mesmo essa fibra toda.— Quem está por trás de você?Ele respira com dificuldade, mas continua calado. O silêncio tenso é quebrado apenas pelas respirações ofegantes de Frederico. O suor escorre pelo seu rosto. Ele estremece ao ouvir o som metálico do estilete deslizando pela mesa de aço.Eu seguro a lâmina com firmeza, meus dedos firmes e a mente fria. Caminho ao redor dele, sentindo a tensão em seu corpo.— Sabe qual é a diferença entre você e eu, Frederico? — per
David A luz suave dos lustres de cristal refletem nas paredes, enquanto os ruídos da cidade de Buenos Aires ficam abafados pelas paredes reforçadas. Aqui dentro, o tempo parece estagnado, suspenso entre palavras não ditas e intenções afiadas como navalhas.A mesa central, acomoda as figuras que carregam o peso de impérios e batalhas. Cada homem tem a sua história no submundo do crime. Don Vittorio, o meu pai, está ao centro, com seu semblante de pedra e olhos que poderiam cortar diamantes. Ao lado dele, Dilton, o meu tio, tamborila os dedos no braço da cadeira, um gesto contido que contrasta com a tensão no ar.Eu e Darlan estamos sentados em lados opostos da mesa. Meu irmão cruza os braços sobre o peito, o olhar afiado como uma lâmina. Desde que assumimos o comando da Lambertini, não há espaço para hesitação. As alianças que mantemos são escudos e espadas, e hoje estamos aqui para decidir o próximo movimento.Don Vittorio inicia a reunião, sua voz grave reverberando pelo salão: — P
David O relógio marca três da manhã, e enquanto a maioria das pessoas está mergulhada em sonhos tranquilos, eu estou no estacionamento da La Russa, observando o carregamento de um caminhão que transporta uma tonelada de cocaína e 30.000 unidades de ecstasy. A carga segue junto com insumos hospitalares destinados ao Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. Uma jogada inteligente, enquanto as caixas de medicamentos passam despercebidas, nossas "mercadorias" atravessam fronteiras sem levantar suspeitas.— Jaime Orti é o motorista, como solicitei? — pergunto ao coordenador, mantendo o tom frio.Ele acena com a cabeça. Escolhi Orti a dedo para essa rota. Um homem eficiente, mas que me odeia profundamente. Vejo quando ele recebe o kit com fardamento, ticket refeição e cartão corporativo. Seu olhar de raiva é evidente, mas ele não ousa contestar.Resolvo manobrar a carreta eu mesmo. Não é comum, mas gosto de colocar a mão na massa para garantir que tudo saia conforme planejado. A empilha
DarlanO cheiro de sangue, suor e desespero impregna o ar assim que abro a porta do galpão. Meu estômago revira, não de nojo, mas pelo incômodo da cena diante de mim. Frederico está amarrado na cadeira de ferro, a cabeça caída para frente, a respiração fraca. O que me faz travar não é o estado deplorável dele, e sim a ausência de pele no rosto. David esteve aqui e deixou a sua assinatura na face do homem.Caminho até ele, tirando uma garrafa d’água da sacola e um punhado de comprimidos. Estendo para o infeliz, que me encara com o que restou dos olhos inchados.— Toma isso. — Minha voz sai firme, sem espaço para contestação.Frederico ergue a cabeça com dificuldade e solta uma risada fraca, quase um sussurro.— Me deixa morrer logo, porrah…Reviro os olhos, impaciente.— Engole a merda dos remédios. Não vou repetir.Ele hesita, mas a fome e a sede falam mais alto. Joga os comprimidos na boca e engole a água de uma vez, tossindo em seguida. Abro um saco e entrego dois pães. Ele devora q
DavidEu poderia estar em qualquer lugar, mas a verdade é que estou fugindo. Fugindo dela. Fugindo de mim mesmo. Fugindo do que sinto. Mas por mais que eu tente, a porrah desse sentimento não me abandona. Ele queima, consome, me destrói por dentro. E quando vejo Lizandra saindo da faculdade e entrando no carro com Daniel Malta, algo dentro de mim ruge como um animal enjaulado. Ela me ignora completamente. Como se eu não fosse nada. Como se nunca tivesse sido dela. Maia, ao meu lado, observa a cena e suspira, me lançando um olhar de pesar.— Não fica assim, David… — diz, baixinho.Ignoro seu tom de pena e faço o que qualquer covarde faria, desvio o olhar e me agarro à primeira distração que aparece.— Entra no carro, Maia. Vamos conversar.Ela hesita por um segundo, mas aceita. Seguimos para a Gemini, e enquanto reviso documentos em meu escritório, tudo o que consigo falar é sobre Lizandra. Sobre como a perdi. Sobre como não sei viver sem ela. Maia escuta com paciência, e então diz:—
DavidA adrenalina dispara no meu peito no momento em que meu celular vibra. Pego o aparelho e leio a mensagem do soldado que coloquei para seguir Lizandra. Ela está no shopping. Sozinha. Comprando coisas para os bebês. Meu coração acelera, e antes que perceba, já estou me levantando.— Preciso sair. Agora. — Digo seco, sem dar explicações.Sem Nina aqui para me tranquilizar, minha impaciência aumenta. Eu ainda não engoli essa demora dela. Mas agora não é hora de lidar com isso. Pego o celular e ligo para Lucca enquanto saio do prédio do Grupo Lambertini.— Me encontre na entrada principal. Agora. — ordeno.Ele não questiona, apenas obedece. Minutos depois, estou dentro do carro, enquanto ele dirige. Aproveito o tempo para ligar para Nina. Assim que ela atende, minha voz sai cortante:— Volta hoje à noite. Vou mandar alguém te buscar.— David, eu... — ela hesita, mas não dou espaço para discussões.— Hoje, Nina. É o máximo que posso esperar. — Desligo antes que ela tente argumentar.Q
David— Liza, escolha o que quiser, espero que não esteja enjoando muito. — digo, recostando-me na cadeira. Ela ergue os olhos para mim, avaliando minha expressão, e por um instante acho que vai discutir. Mas, em vez disso, apenas suspira e concorda com um aceno de cabeça. Pedimos a comida e, enquanto esperamos, conversamos sobre coisas triviais. Ela evita falar sobre nós e sobre tudo o que aconteceu, e eu respeito.Depois do almoço, seguimos para uma loja de roupas infantis. Os olhos dela brilham ao passar pelas araras repletas de roupinhas minúsculas. Ela desliza os dedos sobre os tecidos macios, parando em um conjunto de macacões.— São lindos — murmura, pegando um azul-claro e um verde. — Minhas primeiras compras para os bebês...— Pegue mais — incentivo, aproximando-me. — Tudo o que quiser. E para você também.Ela hesita.— Não preciso de muita coisa.— Vai precisar. O corpo muda muito, e logo sua barriga vai crescer de verdade.Ela faz uma careta divertida.— E como você sabe d