David— Liza, escolha o que quiser, espero que não esteja enjoando muito. — digo, recostando-me na cadeira. Ela ergue os olhos para mim, avaliando minha expressão, e por um instante acho que vai discutir. Mas, em vez disso, apenas suspira e concorda com um aceno de cabeça. Pedimos a comida e, enquanto esperamos, conversamos sobre coisas triviais. Ela evita falar sobre nós e sobre tudo o que aconteceu, e eu respeito.Depois do almoço, seguimos para uma loja de roupas infantis. Os olhos dela brilham ao passar pelas araras repletas de roupinhas minúsculas. Ela desliza os dedos sobre os tecidos macios, parando em um conjunto de macacões.— São lindos — murmura, pegando um azul-claro e um verde. — Minhas primeiras compras para os bebês...— Pegue mais — incentivo, aproximando-me. — Tudo o que quiser. E para você também.Ela hesita.— Não preciso de muita coisa.— Vai precisar. O corpo muda muito, e logo sua barriga vai crescer de verdade.Ela faz uma careta divertida.— E como você sabe d
LizandraMeus sentidos entram em alerta, meu coração dispara no momento em que ouço a sua voz cortante. — Compra o que quiser. As despesas dos nossos filhos são minha obrigação. Quando iria iniciar uma briga, meu pai pede o telefone, eles trocam palavras e logo ouço David:— Eu amo sua filha. Eu jamais tentaria comprá-la com presentes. Quero lutar por ela. E vou.Meu peito se aperta, e eu engulo em seco. Como ele pode dizer essas coisas e fazer meu coração se render um pouco mais? Malldito David.— Boa sorte, garoto. Vai precisar.Meu pai se despede, e quando pego o telefone de volta, apenas escuto. Sei que David está tentando, que quer estar presente. "Ele está se esforçando, filha, então colabora". Me despeço do meu pai e guardo o celular. David me encara, e antes que eu possa me afastar, ele toca meu rosto, afastando uma mecha de cabelo. Droga. Meu corpo o quer tanto quanto minha alma tenta resistir, como queria me entregar mais uma vez a ele, mas aquelas palavras ainda estão v
DavidA água quente escorre pelo meu corpo, mas não é suficiente para lavar a angústia que carrego no peito. Meus pensamentos giram em torno de Lizandra, do desejo insano que tenho por ela, a sensação dos lábios de Lizandra nos meus, do cheiro dela, do calor de sua pele sob minhas mãos e da dor de sua recusa. Fecho os olhos, tentando encontrar algum tipo de paz, mas tudo que vejo é o rosto dela, a lembrança do seu toque, do seu beijo.Então, sinto mãos suaves em minhas costas. Não preciso abrir os olhos para saber quem é. O cheiro familiar de minha mãe me envolve antes mesmo de sua voz soar.— Você está sobrecarregado, filho. Eu vejo nos seus olhos. — a minha mãe murmura, pegando a esponja e ensaboando minhas costas com delicadeza, como fazia quando eu era criança. O gesto, longe de me incomodar, me acalma de um jeito que só ela consegue. Permito-me fechar os olhos por um instante, absorvendo aquele carinho que há tempos eu não recebia.Depois de ensaboar e enxaguar minhas costas,
Liana LambertiniPreciso conhecer Lizandra! E farei isso agora!A dor de um filho é também a dor de uma mãe. Sei disso desde o momento em que vi David nascer, quando segurei aquele pequeno ser em meus braços e entendi que meu coração nunca mais seria meu. Ontem, ao vê-lo arrasado, perdido nos próprios sentimentos, sinto como se algo dentro de mim estivesse se despedaçando junto com ele. Eu não posso mais ficar parada, assistindo ao sofrimento do meu filho sem agir.Por isso, visto um elegante vestido azul-marinho, arrumo os meus cabelos e saio de casa determinada. Não posso obrigar Lizandra a perdoá-lo, mas posso mostrar a ela a verdade, despida de orgulho e mágoas. Meu motorista me leva até a casa dela, e quando aperto a campainha, ouço passos leves se aproximando. A porta se abre, e Lizandra surge diante de mim, os olhos arregalados pela surpresa.Ela veste um short de malha e um top simples, mas minha atenção vai direto ao pequeno volume em sua barriga. É sutil, mas está ali, a pro
LizandraEu ando de um lado para o outro na sala, sentindo meu peito subir e descer em um ritmo frenético. As palavras de Liana ecoam na minha cabeça, cada frase carregada de uma certeza que eu não consigo ignorar. "David mudou. Ele está sofrendo." Meu coração aperta, e eu levo as mãos ao rosto, tentando conter a avalanche de sentimentos que me domina.Eu o amo. Isso nunca esteve em questão. Mas amar não significa esquecer. Não significa simplesmente apagar a dor, como se nada tivesse acontecido. Meu corpo sente a falta dele. Dói fisicamente, como se um pedaço de mim estivesse faltando. As noites são longas, solitárias, e a ausência de David pesa sobre mim como uma sombra constante.Mas e se Liana estiver certa? E se ele realmente tiver mudado? E se essa dor que eu carrego só puder ser curada voltando para ele?Respiro fundo e encaro meu reflexo na janela. Eu sei o que preciso fazer.Caminho até o quarto e troco de roupa rapidamente. Nada de hesitações. Visto uma calça jeans, uma blus
DanielO tédio é um veneno. Um veneno que corrói, que me deixa inquieto, com os nervos pulsando e a necessidade de aliviar a tensão. E eu já sei exatamente como. Pego o celular e deslizo os dedos até o nome que me interessa. Maia.— Onde você está? — digito direto ao ponto.A resposta vem quase instantânea:— Em casa. Entediada.Sorrio. Isso facilita as coisas.— Estava pensando em nós. Naquele dia, depois da aula... Você sabe. Preciso matar a saudade.Ela demora alguns segundos para responder, o suficiente para me deixar ainda mais ansioso.— Também estou precisando, Daniel. Quero transarr com um gostoso.Rio com seu jeito direto. Eu gosto disso nela. Sem joguinhos. Sem enrolação.— Estou indo te buscar. Nem precisa perder tempo se arrumando. Aonde vamos, roupas não serão necessárias.— Vou só tomar um banho e colocar um vestido bem folgadinho... para facilitar na hora.Maldita provocadora. Arranco as chaves do carro da mesa e saio sem pensar duas vezes.Quando Maia entra no carro, e
DavidMeu telefone vibra sobre a mesa, e um frio percorre minha espinha ao ver o nome do soldado que deixei na escolta de Lizandra. Algo dentro de mim diz que não é uma boa notícia.— Fale. — minha voz sai cortante.— Senhor, sua mãe está na casa da senhorita Lizandra.Fecho os olhos e respiro fundo. Então ela decidiu agir por conta própria. Parte de mim quer ligar para ela agora mesmo, mas algo me impede. Se minha mãe está lá, é porque acredita que pode fazer algo por nós.Os minutos se arrastam, minha paciência no limite, até que o telefone vibra novamente.— Ela saiu da casa. — o soldado informa.Aperto o celular com força, mas apenas concordo com um som abafado e encerro a chamada. Meu peito está apertado, e a ansiedade cresce. O que ela fará agora?Dessa vez, o telefone toca mais rápido do que eu esperava. Atendo sem paciência.— O que foi agora? — rosno.— A senhorita Lizandra saiu pilotando uma moto de alta cilindrada. — A voz do homem sai tensa, mas ele continua. — Está acele
DavidMinha respiração falha. Sinto um nó se formar na minha garganta, algo quente e doloroso. Não sou um homem que se permite fragilidade, mas agora, na frente dela, me permito.— Eu sei que errei. Sei que te magoei de um jeito que talvez eu nunca possa consertar... Mas eu te amo. E vou passar a minha vida provando isso para você, se for preciso.Ela fecha os olhos com força, e mais lágrimas caem. Eu não seguro as minhas. Pela primeira vez, me permito deixá-las escorrer. Deixá-la ver que estou destruído sem ela.— Eu não posso mudar o passado. — Mas eu posso prometer que nunca mais serei o homem que te machucou. Eu te amo, Lizandra. Mais do que qualquer coisa nesse mundo. Você e os nossos filhos são tudo para mim.Ela solta um soluço, levando a mão à boca para conter o choro, mas não consegue. Está despedaçada. Assim como eu.— E se eu não conseguir, David? E se um dia eu acordar e o medo ainda estiver aqui? — sua voz falha, carregada de desespero.Aproximo-me mais, segurando seu ros