"Não pode ser.""Teófilo, esse desgraçado, será que sua alma foi possuída por alguém?""Você mesmo percebe, você ainda é a mesma pessoa de antes? Seu caráter desmoronou.""Comparado com a esposa, o caráter não tem utilidade alguma, a esposa fugiu, de que preciso de dignidade?"Sem receber resposta de Patrícia, Teófilo falou novamente: — Desculpe, esse pedido foi um pouco rude, finja que não ouviu, vá descansar, eu estou bem sozinho.Patrícia, sabendo que havia um certo propósito nas palavras dele, mas ciente de que ele estava cego, envenenado e havia caído em um buraco de cobras, irritadamente passou a mão pelos cabelos. No fim, cedeu, trazendo seu próprio cobertor e travesseiro para perto dele: — Eu estou aqui agora, você pode dormir.— Obrigado, Paty.Não muito depois, quando Patrícia estava quase dormindo, a pessoa ao seu lado chamou novamente: — Não venha.Patrícia abriu os olhos:— O que aconteceu?No segundo seguinte, uma pessoa se enroscou em seu cobertor, e o homem a abraçou
Aquela noite foi de insônia para Teófilo. Ele refletia sobre o tempo que levou para poder abraçar Patrícia e quanto lutou para tê-la de volta, e por isso, não queria deixá-la ir. Embora não conseguisse ver claramente o rosto de Patrícia, ele resistia a fechar os olhos, abraçando ela cuidadosamente, com olhos cheios de um amor profundo. Patrícia dormiu tranquilamente até o amanhecer. Quando abriu os olhos e encontrou o olhar perdido de Teófilo, se assustou:— Você não dormiu a noite toda?Com a voz rouca, Teófilo respondeu:— Fico pensando naquelas cobras, e você me envolveu tão fortemente que simplesmente não consegui dormir.Patrícia baixou os olhos e viu que estava agarrada a ele com braços e pernas, como um polvo. Imediatamente corou e o empurrou para longe, apressadamente:— Não foi intencional.— Mesmo que fosse, não tem problema. — Teófilo sorriu para ela. — Não me importo.Patrícia agitou a mão na frente dos olhos dele e, ao perceber que ele não reagia, finalmente relaxou.
A porta rangeu ao abrir, e Patrícia entrou carregando remédios. Ao ver Teófilo deitado na cama com uma expressão triste, ela ficou preocupada.— O que houve com ele? Fernando hesitou em olhar para Teófilo, receoso de revelar a verdade. Ele repetiu a desculpa de Teófilo:— O chefe não tem conseguido dormir à noite. Assim que fecha os olhos, se lembra daquela cena e não consegue descansar, o que retarda sua recuperação.Patrícia franziu a testa, pois havia se mantido distante de Teófilo nos últimos dias, interagindo com ele apenas para entregar medicamentos.— Você ainda não consegue dormir à noite? — Patrícia observou as profundas olheiras sob os olhos dele.Ela sabia que Teófilo passava as noites em claro pensando nela, com medo de ser expulso de casa por Patrícia no dia seguinte, o que o deixava ansioso e explicava suas intensas olheiras.Teófilo acenou fracamente com a cabeça:— Sim, assim que fecho os olhos, começo a pensar nessas coisas. Mas não se preocupe, Paty, não dormir não
Patrícia ainda não tinha percebido, mas ao se inclinar levemente, sua testa tocou a de Teófilo. Era tão suave. Teófilo, com os olhos fechados, repetia mentalmente que tudo diante dele era vazio e irreal. Felizmente, o barbear foi rápido, e ele pôde relaxar um pouco. Patrícia lavou as mãos e aplicou óleo essencial, começando a massagear sua cabeça com ainda mais habilidade do que antes. Inicialmente sem sono, Teófilo foi gradualmente relaxando sob suas mãos e com o agradável aroma, adormecendo sem perceber. Patrícia suspirou aliviada ao vê-lo dormir. Ela se levantou, se esticando e olhando para o calendário, calculando que em no máximo uma semana o veneno no corpo de Teófilo estaria 90% eliminado, o restante teria que ser gradualmente recuperado por ele mesmo. Ela se perguntava se esse homem iria embora tão facilmente. Se ele não fosse, talvez ela devesse ir. Depois de consultar um livro médico por algum tempo, Patrícia percebeu que não havia sinais de que ele acordaria
A repentina pergunta quase fez o coração de Teófilo saltar pela boca. Admitir que havia recuperado a visão naquela situação seria como assinar sua sentença de morte. Claro que Teófilo não admitiria!— Paty, eu também gostaria de recuperar minha visão o mais rápido possível, assim não te causaria tantos problemas. — Disse ele com um semblante cheio de preocupação.— Não se mexa, vou pegar um pouco de papel.— Está bem.Teófilo claramente viu Patrícia se enrolar em um roupão de banho e tirar uma adaga de debaixo do travesseiro, se aproximando dele. Enquanto isso, seu olhar estava fixo no rosto dele, tentando descobrir qualquer pista. Como Teófilo não suspeitaria de seus pensamentos? Ela já começava a desconfiar dele. Se Patrícia descobrisse que ele estava fingindo ser cego para enganá-la, o resultado seria previsível. Ele estava nervoso, mas cuidava para não mostrar nenhuma falha em sua expressão. Deixava o sangue do nariz escorrer, fazendo uma pergunta idiota:— Paty, onde você es
Neste mundo, não havia nada que ele não pudesse fazer, especialmente quando se tratava dos laços com seus quatro filhos com Patrícia. Ele dizia a si mesmo para não se apressar, definitivamente, não podia se apressar demais.Um gelo de um metro de espessura não se formou em apenas um dia de frio, para dissolver o ressentimento entre ele e Patrícia, ainda seria necessário um catalisador.Pensando no sorriso genuíno de Patrícia e na troca de corações sinceros, ele de repente teve uma ideia.— Paty, onde está a toalha?Suas roupas estavam todas ensanguentadas e ele não podia vesti-las. Então, Patrícia pediu a Fernando que lhe trouxesse roupas.Ela até saiu do quarto para evitar Patrícia, permitindo que Fernando o ajudasse a se vestir.— Chefe, a Sra. Patrícia instruiu que, assim que você se vestir, eu devo levá-lo de volta ao seu quarto.O rosto de Teófilo estava frio e sério, Patrícia estava usando isso para dizer a ela que não havia mais possibilidade entre eles.Mas ele era rebelde por
Patrícia estava preparando o carro de bois, o meio de transporte na vila se resumia a carros de bois ou carroças puxadas por cavalos. Apesar das condições serem difíceis, Patrícia preferia ficar ali do que enfrentar a vida competitiva das grandes cidades.— Deixe Teófilo ir com você, será mais rápido a dois.Fernando tinha acabado de receber um curativo e precisava aplicar mais remédio, portanto, não podia se mover. Paloma, ansiosa para juntar os dois, fazia com que Patrícia, ciente das intenções dela, não conseguisse recusar.De qualquer forma, eram só mais alguns dias.Teófilo e ela sentaram lado a lado no carro de bois, que balançava consideravelmente, fazendo com que os corpos deles sacudissem de vez em quando.De repente, Teófilo riu, e Patrícia olhou para ele:— Do que você está rindo?— Só estava pensando como esses dias são interessantes. Nunca imaginei que acabaríamos assim, você guiando um carro de bois e eu colhendo milho. Não há nada de ruim nesses dias, são calmos e simple
O vilarejo é pequeno, e ela praticamente conhece todos ali, mas as duas pessoas à sua frente não formam um casal nem são amantes. A mulher, chamada Kátia, é a cunhada do homem. Dois anos atrás, o marido dela sofreu uma queda de um penhasco enquanto coletava ervas na montanha e ficou paralisado, perdendo a capacidade de manter relações sexuais. Provavelmente, Kátia recorreu a encontros secretos com o irmão do marido por não conseguir resistir à solidão. A traição é comum na cidade, se descoberta, o pior que pode acontecer é o divórcio, mas no vilarejo, não há divórcios, apenas viuvez. Se Kátia fosse descoberta, só restaria a ela a morte. Os dois também vieram para este lugar temendo ser descobertos em casa, a esta hora, todos que estavam trabalhando nos campos já haviam retornado, exceto Patrícia e Teófilo, que não pensam como as pessoas comuns. Teófilo começou a falar:— Paty...Mal pronunciou uma palavra e Patrícia já cobriu a boca dele. Teófilo, que chegou ao vilarejo há pouco