Patrícia ainda não tinha percebido, mas ao se inclinar levemente, sua testa tocou a de Teófilo. Era tão suave. Teófilo, com os olhos fechados, repetia mentalmente que tudo diante dele era vazio e irreal. Felizmente, o barbear foi rápido, e ele pôde relaxar um pouco. Patrícia lavou as mãos e aplicou óleo essencial, começando a massagear sua cabeça com ainda mais habilidade do que antes. Inicialmente sem sono, Teófilo foi gradualmente relaxando sob suas mãos e com o agradável aroma, adormecendo sem perceber. Patrícia suspirou aliviada ao vê-lo dormir. Ela se levantou, se esticando e olhando para o calendário, calculando que em no máximo uma semana o veneno no corpo de Teófilo estaria 90% eliminado, o restante teria que ser gradualmente recuperado por ele mesmo. Ela se perguntava se esse homem iria embora tão facilmente. Se ele não fosse, talvez ela devesse ir. Depois de consultar um livro médico por algum tempo, Patrícia percebeu que não havia sinais de que ele acordaria
A repentina pergunta quase fez o coração de Teófilo saltar pela boca. Admitir que havia recuperado a visão naquela situação seria como assinar sua sentença de morte. Claro que Teófilo não admitiria!— Paty, eu também gostaria de recuperar minha visão o mais rápido possível, assim não te causaria tantos problemas. — Disse ele com um semblante cheio de preocupação.— Não se mexa, vou pegar um pouco de papel.— Está bem.Teófilo claramente viu Patrícia se enrolar em um roupão de banho e tirar uma adaga de debaixo do travesseiro, se aproximando dele. Enquanto isso, seu olhar estava fixo no rosto dele, tentando descobrir qualquer pista. Como Teófilo não suspeitaria de seus pensamentos? Ela já começava a desconfiar dele. Se Patrícia descobrisse que ele estava fingindo ser cego para enganá-la, o resultado seria previsível. Ele estava nervoso, mas cuidava para não mostrar nenhuma falha em sua expressão. Deixava o sangue do nariz escorrer, fazendo uma pergunta idiota:— Paty, onde você es
Neste mundo, não havia nada que ele não pudesse fazer, especialmente quando se tratava dos laços com seus quatro filhos com Patrícia. Ele dizia a si mesmo para não se apressar, definitivamente, não podia se apressar demais.Um gelo de um metro de espessura não se formou em apenas um dia de frio, para dissolver o ressentimento entre ele e Patrícia, ainda seria necessário um catalisador.Pensando no sorriso genuíno de Patrícia e na troca de corações sinceros, ele de repente teve uma ideia.— Paty, onde está a toalha?Suas roupas estavam todas ensanguentadas e ele não podia vesti-las. Então, Patrícia pediu a Fernando que lhe trouxesse roupas.Ela até saiu do quarto para evitar Patrícia, permitindo que Fernando o ajudasse a se vestir.— Chefe, a Sra. Patrícia instruiu que, assim que você se vestir, eu devo levá-lo de volta ao seu quarto.O rosto de Teófilo estava frio e sério, Patrícia estava usando isso para dizer a ela que não havia mais possibilidade entre eles.Mas ele era rebelde por
Patrícia estava preparando o carro de bois, o meio de transporte na vila se resumia a carros de bois ou carroças puxadas por cavalos. Apesar das condições serem difíceis, Patrícia preferia ficar ali do que enfrentar a vida competitiva das grandes cidades.— Deixe Teófilo ir com você, será mais rápido a dois.Fernando tinha acabado de receber um curativo e precisava aplicar mais remédio, portanto, não podia se mover. Paloma, ansiosa para juntar os dois, fazia com que Patrícia, ciente das intenções dela, não conseguisse recusar.De qualquer forma, eram só mais alguns dias.Teófilo e ela sentaram lado a lado no carro de bois, que balançava consideravelmente, fazendo com que os corpos deles sacudissem de vez em quando.De repente, Teófilo riu, e Patrícia olhou para ele:— Do que você está rindo?— Só estava pensando como esses dias são interessantes. Nunca imaginei que acabaríamos assim, você guiando um carro de bois e eu colhendo milho. Não há nada de ruim nesses dias, são calmos e simple
O vilarejo é pequeno, e ela praticamente conhece todos ali, mas as duas pessoas à sua frente não formam um casal nem são amantes. A mulher, chamada Kátia, é a cunhada do homem. Dois anos atrás, o marido dela sofreu uma queda de um penhasco enquanto coletava ervas na montanha e ficou paralisado, perdendo a capacidade de manter relações sexuais. Provavelmente, Kátia recorreu a encontros secretos com o irmão do marido por não conseguir resistir à solidão. A traição é comum na cidade, se descoberta, o pior que pode acontecer é o divórcio, mas no vilarejo, não há divórcios, apenas viuvez. Se Kátia fosse descoberta, só restaria a ela a morte. Os dois também vieram para este lugar temendo ser descobertos em casa, a esta hora, todos que estavam trabalhando nos campos já haviam retornado, exceto Patrícia e Teófilo, que não pensam como as pessoas comuns. Teófilo começou a falar:— Paty...Mal pronunciou uma palavra e Patrícia já cobriu a boca dele. Teófilo, que chegou ao vilarejo há pouco
Patrícia já sentira as tensas linhas do corpo do homem e, no ar abafado, ambos cobertos pelo suor do trabalho no campo, o aroma medicinal dela se tornava cada vez mais intenso, como um veneno que o seduzia incessantemente. Ela deu um tapa na mão inquieta dele:— Se comporte.Teófilo, desta vez, não foi tão obediente, ele precisava de uma oportunidade. André e Kátia eram a chance para ele e Patrícia romperem. Os dois estavam emocionalmente agitados, provavelmente reprimidos há muito tempo, e com o anoitecer e a ausência de luzes no campo, todos já haviam corrido para casa para jantar, ninguém ficaria naquele lugar desolado. Assim, esse tipo de clima e cenário apenas servia para despertar ainda mais os desejos primitivos dos humanos, os talos de milho quase se quebravam!A respiração de Teófilo estava ao pé do ouvido dela, e até o vento da noite parecia abrasador ao acariciá-los. Ele suspirou:— Paty, se você não quer, não vou forçá-la, mas assim, não conseguirei me controlar. Se le
Patrícia estava pronta para se levantar de Teófilo a qualquer momento. Ela afastou as folhas de milho e olhou para fora para checar a situação. Inesperadamente, André empurrou Kátia para fora em uma nova posição, as roupas dela estavam enroladas até as axilas, e ela estava sem nada por baixo. As pessoas da vila geralmente tinham a pele morena, mas Kátia era uma exceção, com uma constituição que não se bronzeava facilmente. Seu corpo, nunca tendo dado à luz, mantinha curvas perfeitas. André, de pele morena devido ao trabalho constante nos campos, tinha contornos de músculos abdominais visíveis em sua cintura. Ao entardecer escuro, a paixão entre branco e preto se chocava.Na idade de vigor, poucos podem suportar a solidão. Patrícia silenciosamente desviou o olhar. Um novo ciclo começava, talvez por causa da escuridão, no campo aberto, os dois sentiam uma liberdade sem precedentes, como se todo o céu e a terra pertencessem a eles. A juventude é por natureza corajosa, mesmo sabendo
Patrícia poderia ter utilizado as técnicas de autodefesa que aprendera para lidar com ele, mas fazer muito barulho poderia alertar Kátia e André, e todo o seu esforço anterior para suportar teria sido em vão. Nunca conseguiria viver em paz se, por sua causa, Kátia cometesse suicídio por vergonha. Trair é errado, mas não vale a pena pagar com a vida. Tantas pessoas se machucaram por ela, perderam vidas, Fernando ainda sofre sequelas nos pés após tantos anos, Suzana está enterrada, e Branquinha, que caiu do telhado bem diante de seus olhos. Até as cicatrizes nas costas de Teófilo foram causadas por causa dela. Todas essas coisas se tornaram uma preocupação constante no coração de Patrícia, ela não queria mais que alguém perdesse a vida por sua causa.— Teófilo, seu idiota, me solte. — Disse ela com os dentes cerrados, baixinho.Teófilo sussurrou em seu ouvido:— Paty, por que você pode perdoar todos, mas é tão cruel comigo?Patrícia encarou ele nos olhos e disse com firmeza:— Você r