No dia em que Patrícia Bastos recebeu o diagnóstico de câncer de estômago, Teófilo Amaral estava acompanhando sua “deusa” na consulta de saúde do filho dela.
Nos corredores do hospital, Roberto Catelli segurava o relatório da biópsia, com um olhar sério:
- Patrícia, os resultados dos exames saíram. É um tumor maligno em estágio 3A. Se a cirurgia for bem-sucedida, a taxa de sobrevida em cinco anos varia de quinze a trinta por cento.
Os dedos delicados de Patrícia apertaram a alça da bolsa, seu rosto pálido mostrando uma expressão grave:
- Roberto, se eu não fizer a cirurgia, quanto tempo me resta?
- De seis meses a um ano, varia de pessoa para pessoa. No seu caso, é melhor fazer duas sessões de quimioterapia antes da cirurgia. Isso ajudará a evitar o risco de infiltração, disseminação e metástase.
Patrícia mordeu o lábio com dificuldade e disse:
- Obrigada.
- Por que está me agradecendo? Vou providenciar sua internação imediatamente.
- Não é necessário, não pretendo fazer o tratamento. Não vou aguentar.
Roberto ainda queria dizer mais algumas palavras, mas Patrícia fez uma reverência respeitosa:
- Roberto, peço que mantenha isso em segredo. Não quero preocupar minha família.
A família Bastos havia falido, e apenas cuidar das despesas elevadas de seu pai, João Bastos, já estava esgotando os recursos de Patrícia. Informar sua família sobre sua condição só pioraria as coisas.
Roberto suspirou impotentemente:
- Fique tranquila, vou guardar segredo. Ouvi dizer que você se casou, e seu marido...
- Roberto, peço que cuide bem do meu pai. Ainda tenho coisas a fazer, com licença.
Patrícia parecia relutante em abordar esse assunto e saiu apressadamente antes que ele pudesse responder.
Roberto balançou a cabeça. Segundo os rumores, ela abandonou a universidade para se casar antes de se formar. A brilhante estudante de medicina parecia ter caído como uma estrela cadente, e agora estava cheia de cicatrizes.
Nos últimos dois anos, apenas Patrícia se ocupou dos cuidados de Sr. João. Mesmo quando ela mesma ficou doente, foi um desconhecido que a trouxe para o hospital, em nenhum momento seu marido apareceu.
Patrícia recordou o passado. No primeiro ano de casamento, Teófilo a tratava sinceramente bem. Infelizmente, tudo mudou depois que sua “deusa” voltou ao país, grávida. Quando ela estava grávida de seis meses, ela e sua “deusa” caíram na água juntas.
Enquanto lutava, Patrícia viu Teófilo nadando desesperadamente em direção a Mariana Freitas. Mariana também entrou em trabalho de parto prematuro devido ao susto. Patrícia foi resgatada mais tarde, o que atrasou o tratamento adequado, e, quando chegou ao hospital, o bebê já estava morto em seu ventre.
No sétimo dia após a perda do filho, Teófilo pediu o divórcio, algo que ela nunca concordou.
Agora, sabendo de sua própria condição de saúde, Patrícia já não era mais capaz de continuar insistindo.
Com as mãos trêmulas, ela discou o número dele. Após três toques, a voz fria e magnética dele veio do outro lado:
- A não ser pelo divórcio, não quero te ver.
Os olhos de Patrícia se encheram de lágrimas, sua voz embargada. Ela engoliu as palavras que tinha preparado para contar sobre sua doença, quando a voz de Mariana interrompeu abruptamente do outro lado da linha:
- Teófilo, o exame do bebê vai começar.
As lágrimas que Patrícia segurou por tanto tempo finalmente caíram. Seu filho se foi, sua família estava destruída, enquanto ele construía uma nova vida com outra pessoa. Tudo isso tinha que chegar ao fim.
Sem a súplica que costumava ser tão humilde, a voz de Patrícia soou frágil, mas determinada:
- Teófilo, vamos nos divorciar.
Houve uma pausa perceptível do outro lado da linha, seguida por um riso frio:
- Patrícia, que truque você está tentando agora?
Patrícia fechou os olhos e disse palavra por palavra:
- Teófilo, te espero em casa.
Quando desligou o telefone, Patrícia já tinha gasto toda a sua energia. Seu corpo deslizou pela parede, e a chuva forte do lado de fora invadiu, molhando-a. Ela segurou com força o telefone, mordendo a manga de sua roupa enquanto soluçava silenciosamente.
Teófilo olhou para o telefone que tinha sido desligado repentinamente, perdido em pensamentos. Um ano de guerra fria, ela havia resistido a não se divorciar, então por que de repente mudou de ideia hoje?
Sua voz tinha um tom choroso. Depois de olhar um pouco para a chuva torrencial do lado de fora da janela, Teófilo levantou-se e saiu da sala de diagnóstico.
- Teófilo, para onde você vai?
Mariana saiu correndo com o filho nos braços, mas só conseguiu ver as costas de Teófilo se afastando rapidamente. Seu rosto amável de repente se tornou sombrio e assustador.
“Aquela vagabunda, ela ainda não desistiu?”, pensou ela.
Teófilo não entrava no quarto do casal havia muito tempo. Ele pensou que Patrícia teria preparado uma mesa cheia de pratos que ele gostava, mas quando chegou, a mansão estava vazia e escura, repleta de silêncio.
As noites de inverno sempre chegavam cedo, e, embora fossem apenas seis da tarde, lá fora já estava escuro.
Teófilo olhou para as flores murchas e mortas na mesa.
Dado o temperamento de Patrícia, ela nunca permitiria que as flores murchassem assim. Só havia uma possibilidade: ela não tinha estado em casa nos últimos dias e provavelmente estava no hospital o tempo todo.
Patrícia entrou, vendo o homem alto e bem-vestido em pé ao lado da mesa. Um rosto bonito, frio como gelo, olhou para ela por um instante, e em suas pupilas negras havia um ódio profundo.
Patrícia, que tinha corrido da chuva para entrar, estava encharcada. Sob o olhar gelado dele, ela sentiu um arrepio nas costas.
- Onde você estava? - A voz fria de Teófilo ressoou.
Os olhos brilhantes de Patrícia agora estavam sem brilho. Ela olhou para ele de forma suave e disse:
- Você ainda se importa com minha vida ou morte?
Teófilo riu friamente:
- Tenho medo de que, se você morrer, não haverá ninguém para assinar o divórcio.
Uma única frase perfurou seu coração cheio de feridas. Patrícia entrou com seu corpo encharcado, sem chorar e sem fazer cena. Surpreendentemente, sua emoção estava estável enquanto ela tirava um acordo de uma pasta:
- Não se preocupe, eu já assinei meu nome.
O acordo em preto e branco foi colocado sobre a mesa, e Teófilo nunca tinha achado a palavra "divórcio" tão gritante.
Ela tinha apenas uma exigência: uma indenização de dez milhões.
- Eu sabia que você não aceitaria se divorciar facilmente, então tudo é por causa do dinheiro.
Seu rosto sarcástico encheu seus olhos. Se fosse no passado, ela teria tentado se explicar, mas hoje ela estava realmente cansada demais.
Portanto, Patrícia permaneceu em pé, calmamente no mesmo lugar, e respondeu suavemente:
- Originalmente, eu poderia ter reivindicado metade da propriedade do Sr. Teófilo, mas eu pedi apenas dez milhões. No final das contas, eu ainda sou muito gentil.
Teófilo deu um passo à frente, sua alta figura cobrindo Patrícia. Seus dedos longos seguraram o queixo dela e sua voz estava fria e profunda:
- O que você acabou de me chamar?
- "Sr. Teófilo". Se o senhor não gosta desse título, "ex-marido" também pode ser, não me importo. Depois que você assinar o documento, poderá sair.
O rosto teimoso da mulher provocou a insatisfação de Teófilo:
- Esta é a minha casa, quem você acha que é para me mandar sair?
Patrícia sorriu friamente:
- Você está certo, Sr. Teófilo, fique tranquilo. Assim que recebermos o certificado de divórcio, eu vou sair daqui. - Ela se livrou da mão de Teófilo e encarou-o com olhos escuros e determinados. Sua voz saiu fria e clara. - Sr. Teófilo, amanhã às nove da manhã, traga o acordo de divórcio e sua identidade. Vamos nos encontrar no cartório.