POR LORENAEstiquei os braços, fazendo um alongamento antes de começar a preparar o café. Meu pai foi quem acordou mais cedo, passando na padaria para trazer alguns pães fresquinhos, além de biscoitos caseiros e outras iguarias.— Está bom de açúcar? — servi um pouco numa xícara e passei para minha mãe.— Está perfeito, filha — respondeu ela, após provar. Estava muito mais calada do que o habitual, e havia inquietude em sua aura. Peguei uma bandeja, coloquei os sonhos dentro e depois abri a sacola com os pães de mel e saboreei um.— Querida — começou ela — é tão ruim assim a possibilidade de vocês não voltarem para esse outro mundo?— Mãe... — peguei a mão dela, sentindo-me tocada pela mesma angústia. — Eu sei o quanto isso é difícil para você e para o papai, mas Zuldrax é um rei que tem um povo para zelar, e eu, como esposa, tenho a obrigação de ficar ao lado dele. Eu amo você e o papai, amo esse mundo apesar das imperfeições e amo a nossa cultura. Por mim, eu e Zuldrax ficaríamos aq
POR LORENAFiquei na sala brincando com Noturno até que os demais se juntaram a nós. Zuldrax sentou-se no chão de frente para mim, Lincy se acomodou em uma poltrona e os outros no sofá. Mamãe ficou de pé, um pouco mais atrás. Resolvi quebrar o silêncio que se instaurara.— Qual é o plano agora? Lunester vai voltar para Halis?— Por enquanto não. Ainda estou pensando em um modo de ajudá-los.— E ele pode voltar? O dom dele não estava falhando? — perguntou Zuldrax, ainda inconformado que nem as dióxys nem o dom funcionaram com ele.— Meu dom está atuando normalmente. Verifiquei isso com Jeradar à noite, antes de dormir.— Então o que aconteceu? — perguntei.— Isso deve estar relacionado com quem o utiliza. Talvez o dom halisiano só funcione em outro halisiano — sugeriu Lincy, sabiamente. Ela se levantou, estendeu a mão para Lunester, que compreendeu o gesto e a pegou prontamente, com delicadeza.— É uma ótima lembrança essa — disse Lunester, rindo, enquanto fixava o olhar nela. — Acho q
POR LORENAZuldrax parecia atordoado ao descobrir que nunca estivera realmente preso neste planeta. Eu poderia ter aberto o portal de retorno assim que me despedisse dos meus pais, quando meu marido apareceu neste mundo. Confiei automaticamente em Zuldrax quando ele afirmou que as dióxys pararam de funcionar e acabei nunca averiguando por mim mesma. Essa situação era desconcertante e engraçada ao mesmo tempo. Minha conclusão é de que, simplesmente, era para ser assim.— Acho que dessa vez é um adeus mesmo — expressou minha mãe, pegando o celular para encaminhar as novidades por escrito ao meu pai e apressá-lo.— A dióxy de localização encontra versões temporais também? — perguntou Zuldrax. Ele ainda ansiava por voltar ao ponto em que deixou Halasin. Tornei a pegar a dióxy, pensando em uma lembrança de Alister do passado. A força de localização parecia seguir um sentido temporal único. Antes que eu tivesse tempo de responder, Zadiel se intrometeu novamente.— Isso não é uma dióxy de lo
POR LORENAZadiel apontou o polegar para Lunester e Jeradar, levando Lincy a encará-lo com incredulidade. Lunester se remexeu no sofá, com a aura visivelmente perturbada. O termo “dupla mais inútil” o atingiu como um trauma.— Lunester? — perguntou Lincy, esperando alguma explicação sobre o porquê de Zadiel se referir a eles dessa forma.— É assim que eles são chamados em Feron pelo restante da família real — explicou Miridar. — Lunester, apesar de ser príncipe, possui um dom que não é considerado valioso para a família dele.— Ninguém nunca quer me mostrar nada. Não posso ver lembranças se as pessoas não as expuserem para mim — explicou Lunester. — Fora Jeradar, Ragrim foi o único que acreditou no meu dom. O dom de Jeradar também tem suas limitações. Ele só encontra o que consegue ver e ouvir.— Mas isso é incrível de qualquer forma, certo? — comentou Lincy, ainda tentando entender a situação.— Seria, se ele não fosse surdo — explicou Miridar. Fiquei pasma com essa informação. Final
POR LORENADióxys, simples pedras com grande poder escondido, que, se reunidas, eram capazes de causar muito estrago. No momento em que soube da destruição que a aquisição delas por mãos erradas poderia causar, senti uma tristeza profunda. Temia pela vida do meu povo e de todos em Halasin. Bastava imaginar que alguém pudesse realmente querer fazer-lhes mal para que meu coração se enchesse de angústia.— Lincy, Lenissya... — continuou Zadiel com um olhar firme. — Vocês foram escolhidas por seus corações nobres e pela capacidade de se manterem firmes nos propósitos do que consideram justo e bom. O tempo é curto e a guerra está próxima; apenas aguardávamos o início da contagem a partir do nascimento do outro lado da balança. A solução está nas mãos de vocês.— E o que devemos fazer? — perguntei.— Precisam reunir todas as dióxys, de ambos os continentes, e destruí-las. El Dorado sem o ouro são só ruínas, assim como Halasin sem as dióxys é apenas um mero planeta aos olhos de quem está por
POR LORENANos alinhamos em volta uns dos outros, mas quando peguei a dióxy de localização, Lunester tocou de leve minha mão como quem pede para eu recuar.— Confiem em mim! Precisamos ganhar tempo — pediu, segurando a mão de Jeradar e iniciando a invocação de um portal.Entreguei a dióxy de localização para Zuldrax guardá-la e segurei a mão livre dele. Com a outra mão, me segurei em Lincy, e ela em Miridar, e ele em Jeradar, fechando a corrente.Senti-me estremecer ao encarar aquelas luzes, e fechei os olhos assim que adentramos o portal dimensional. Desde a última experiência, ganhei um temor absoluto da dimensão zero.— Onde estamos? — perguntei, assim que meus pés se firmaram no chão e abri meus olhos. Havia muitas árvores ao redor, numa paisagem verde e exuberante. A grama sob meus pés era baixa, macia e de coloração esbranquiçada, tal qual a nossa aura agora. A claridade era tanta que tive que piscar várias vezes até me acostumar.— Halis — respondeu Lincy, afastando-se do grupo
POR LINCYHalasin era exatamente como Lenissya havia descrito, mas acompanhar tudo era impossível com a turbulência que se agitava dentro de mim. Passamos o restante do dia explicando ao irmão teimoso dela tudo o que havíamos descoberto até então. Teria sido mais fácil se ele acompanhasse o raciocínio com a mesma rapidez que Zuldrax.— Então, seremos alvos de uma invasão? — pronunciou-se o ancião ao lado de Alister. Estávamos em uma sala de reuniões, debatendo o assunto com muitos rostos ainda desconhecidos para mim, que, no momento, pouco poderiam ajudar.— Exatamente, Ikzar. Agora entendem a urgência da situação? Precisamos nos unir pelo bem do nosso lar — respondeu Zuldrax.— Já deveríamos estar procurando por Saitron — resmunguei para Lenissya.— Controle sua amiga apressadinha — ordenou Alister à irmã. — Estamos em reunião agora.— É claro que estou com pressa! — respondi em alto tom. — Quanto mais cedo resolvermos tudo, mais rápido eu volto para casa. Será que isso ainda não est
POR LINCYO ambiente do outro lado era misterioso, tanto em aparência quanto nas estranhas vibrações que emanavam ao redor. Parecia que estávamos no interior de uma caverna, cujas rochas, formando todas as paredes, tinham um tom amarelo fosco. A única iluminação vinha de fendas no teto.— Isso é holiath? — reconheceu Lenissya, apalpando uma das paredes. — Nossa!— Aproximem-se! — ordenou uma voz estranha e profunda. Como era impossível determinar de onde vinha, e por não ter ecoado, percebi que estava apenas em minha mente.Caminhei pelo corredor da caverna de holiath ao lado de Lenissya. Atrás de nós, estava o unigus que nos guiara até ali, e, um pouco à frente, uma fileira de unigus ainda maiores formava um corredor, conduzindo-nos ao líder. Saitron, o maior entre eles, possuía uma coloração mais acinzentada. Lenissya se curvou respeitosamente, e eu a imitei, observando atentamente.— Então o nosso Guardião está em ação. — Saitron sequer abriu a boca para dizer isso, e confirmei: co