POR LINCYLogo que meu irmão saiu para a escola e meu pai para o trabalho, abri o portal de volta para São Paulo. Nessa hora, Bruna e Jonas já deveriam ter saído para o trabalho, enquanto Lorena e Zuldrax provavelmente estariam tomando café. Ao passar para o outro lado, ouvi murmúrios vindos do quarto deles. Como a porta estava entreaberta, decidi dar uma olhada.— Está tudo bem aí? — perguntei. Zuldrax estava deitado, trêmulo, embaixo do cobertor, enquanto Lenissya segurava um copo de água e um comprimido, tentando convencê-lo a tomá-lo.— Zuldrax está com febre e não quer tomar o remédio.— Ela já me deu esse remédio antes. O gosto é terrível! — Zuldrax tentou se explicar.— Eu já disse que é só engolir inteiro com a água que você não sente o gosto.— Eu não quero isso.Fiquei com pena ao vê-lo encolhido. Tinha me esquecido de que, por ser de outro mundo, ele não tinha anticorpos para as doenças daqui.— Vai mesmo fazer birra na frente da Lincy? O poderoso e imponente ‘Zuldrax, o te
POR LINCYA empresa que me contratou contava com outros oito funcionários e ocupava duas modestas salas comerciais no terceiro andar. Chequei meu relógio enquanto me sentava em meu lugar. Em mais alguns minutos, eu teria chegado atrasada. Havia algumas pastas sobre a mesa, com uma nota colada por cima. “Cheque os autos e me mande um relatório resumido ao fim do dia.”Isso era a cara do meu chefe. Desde que comecei a pontuar questões relacionadas aos processos que recebia, ele me colocara na função de checar tudo. Abri a primeira pasta e prendi todas as folhas em uma prancheta. As divisórias entre os funcionários eram feitas de paredes falsas baixas, o que, suponho, serve para dificultar conversas paralelas que possam afetar o rendimento do trabalho. Isso era bom, pois eu podia usar minha aura inteligente para folhear os documentos, grata por ser uma maga.Com um panorama geral do cenário, coloquei a prancheta sobre a mesa e comecei a folhear manualmente as páginas nos principais pont
POR LORENAA manhã de quarta-feira começou chuvosa. Zuldrax olhava com curiosidade pela janela da sala, acompanhando a força das águas da chuva escorrendo pelas ruas. Algum lugar provavelmente acabaria alagado, mas esse não era um detalhe que ele precisava saber.O pior momento fora de madrugada, quando ele acordou com o som dos trovões e pegou a espada no armário, pronto para enfrentar o invasor. Tive que explicar que o barulho vinha da tempestade, e ele passou um bom tempo acordado, observando os raios iluminarem o céu noturno através do vidro da janela.— Assim que a chuva der uma trégua, saímos para o trabalho — avisei a ele.— Espero que o próximo fim de semana esteja ensolarado. Queria sair com vocês no sábado à tarde — disse Lincy, apertando o travesseiro contra o peito. Ela parecia querer dizer algo mais. — Poderíamos ir ao cinema.— É uma ótima ideia. Zuldrax vai adorar — respondi, imaginando como seria a experiência de ver um filme em uma tela grande, com um sistema de som p
POR LORENA— Interdimensionais são seres eternos, capazes de se mover entre dimensões. Normalmente, nos estabilizamos na sétima. Como os humanos só enxergam três dimensões, não conseguem nos ver andando entre eles — explicou Zadiel.— E quantas dimensões existem? — Não consegui reprimir minha curiosidade; esses mistérios sempre mexem com a minha imaginação.— Mais do que vocês podem imaginar. Lenissya, você e Zuldrax enxergam mais de três. O dom que possuem não é apenas ver auras; vocês conseguem enxergar a quarta e a quinta dimensão. A quarta dimensão é a da assinatura, ou seja, a energia aura. A quinta dimensão é a da energia vital. Uma concentra a força que emana da mente e do espírito; a outra, a força da alma. Esse é um dom importante, incorporado nos genes de vocês. As pessoas têm uma ideia equivocada ao afirmar que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço. Isso acontece o tempo todo, pois alma, aura, corpo, mente e espírito coexistem no mesmo lugar, mas em dimensões diferent
POR LINCYBia e Jeff surgiram no momento mais inoportuno. Sentia-me afogada em um mar de dúvidas. Cumprimentei-os, ainda atordoada e incapaz de articular qualquer palavra. O medo me envolvia por completo. O que significaria assumir o papel de ômega? Qual seria nossa missão como escolhidas, e que desafios teríamos que enfrentar?De forma alguma eu poderia me tornar ômega! No entanto, Zuldrax parecia relutante em aceitar a marca e seu significado. O que ele realmente entende de marcas? O que eu entendo delas? Alissya tinha orgulho de sua marca, de se sentir única, mas agora Lorena também a possuía, e, além disso, tinha um marido protetor ao seu lado para defendê-la.— Que filme irado! — disse Jeff. Bia estava encolhida ao lado dele, com um semblante de desaprovação. Para alguém que esperava muitos tiros e explosões, realmente foi o filme perfeito.— Aquele cara é bom — comentou Zuldrax, pensativo. Me pergunto se ele se referia à atuação do ator ou se acreditava que todos os movimentos e
POR LINCY— Por que estou sentindo um cachorro na minha cabeça? — resmungou Lorena assim que ganhamos um pouco de distância.— Formei um elo com ele — explicou Zuldrax, finalmente concentrando sua energia para aquecer o filhote, que estava tão à vontade e calmo nos braços dele que parecia até estar dormindo. — Meu povo, em sua origem, formava elos com animais, conectando-se a eles por meio do compartilhamento de energias.— É por isso que você entende tanto de animais? Minha cabeça está uma confusão.— Você só vai senti-lo quando estiver perto de mim. Logo o pequenino aqui vai se harmonizar com meus pensamentos, e a comunicação irá além de apenas sentir.— Como é que você nunca me contou uma coisa dessas?— Achei que soubesse. Está nos livros de Zaríon.— Eu achava que aquilo era ficção. — A voz de Lorena era uma mistura de riso e choro. — Como vou explicar para os meus pais que você tem um cachorro agora? Meu pai é alérgico.— Pensei que entendesse mais sobre o meu povo. — A voz dele
POR LORENAEu estava envergonhada e um pouco nervosa só de pensar em cantar para mais pessoas. Cantar era um passatempo particular, mas, se Lincy confiava em mim, eu não podia desapontá-la. O primeiro desafio foi o fato de eu não conhecer a música. Para complicar ainda mais, ela era cantada em inglês, uma língua completamente desconhecida para mim.Percebendo que eu soletrava as palavras de forma um pouco errada, Lincy usou o feitiço de ensinamento linguístico para me transmitir seu conhecimento do idioma. Zuldrax e Zadiel tinham razão; feitiços como esse realmente me pareciam uma trapaça. Ela estudou por anos e, em um instante, conseguiu me passar tudo o que sabia.— Essa música é linda! — falei, assim que compreendi o significado da letra pela primeira vez. Agora eu entendia por que ela a havia escolhido.— Meus pais amam essa música. Parece que a usaram na entrada do casamento deles.— Entendi. Mais um motivo para eu me esforçar para arrasar nesse cover.Baixei um playback e ensaia
POR LORENAAbri o portal, pronta para mais um dia agitado. Zuldrax foi de grande ajuda carregando as coisas pesadas, enquanto Lin e eu ajudávamos na organização das mesas e decoração.— Aí está bom! — disse Lincy. Zuldrax estava no alto de um pé de manga, ajustando uma lâmpada, enquanto Noturno, agitado, abanava o rabo lá embaixo, querendo subir também.— Não, você não pode — falei, pegando-o mais uma vez, entre tantas outras. O espertinho já estava aprendendo a usar a energia vermelha de Zuldrax, o que o levava a fazer coisas estranhas.— Vou bloquear minha energia para ele não pegar emprestado — respondeu Zuldrax, arqueando as sobrancelhas enquanto saltava de volta para o chão.— Lin, mamãe está te chamando! — Hugo gritou da janela e logo voltou para dentro.— Obrigada por hoje! Vocês foram de grande ajuda. Estão liberados para se arrumarem — agradeceu ela, sorrindo, antes de entrar na casa. Pouco depois, Guido e Catarina saíram. O carro deles já tinha sido retirado da garagem e col