Capítulo 02

Por Zuldrax

Meu nome é Zuldrax, também conhecido como Zuldrax, o Temerário. Sou o atual rei de Zafis e sou temido por muitos, pois herdei de meus pais todo o potencial real de um zafisiano. Não sabia quanto tempo levaria, mas certamente eu venceria Alister, rei de Halis, na guerra que estamos destinados a lutar. O ódio entre os reinos de Zafis e Halis já existia há séculos, e eu não permitiria que a vida de tantos guerreiros tivesse sido perdida em vão.

Após o último ataque, há cerca de quatro meses, algo aconteceu que deixou Alister atordoado. Parecia que ele tinha encontrado algo importante, tão importante que recuou suas tropas e voltou para Henir, a cidade central de Halis. Pensei que talvez fosse o momento oportuno para invadir, no entanto, minhas tropas estavam cansadas e as fronteiras de Halis possuíam uma magia especial de dispersão.

Somos muito mais fortes e hábeis que os halisianos. Possuímos um tipo de energia especial que aumenta nosso potencial em combate corpo a corpo; no entanto, eles têm uma aura mágica, algo com que poderíamos lidar facilmente, desde que estivéssemos preparados.

Decidi também recuar minhas tropas para que pudessem descansar e recuperar suas forças. Momentos de trégua ocorriam com certa frequência, e sua duração podia variar de semanas a meses, ou até se estender por anos, dependendo da situação. Eu precisava revisar minhas estratégias e, principalmente, descobrir o que Alister estava tramando.

Ao final do dia, recolhi-me em meus aposentos e, com uma dióxy de comunicação, entrei em contato com meu espião chamado Haigar, guarda real de Alister e de inteira confiança dele. Ele só aceitou se submeter às minhas ordens para que eu poupasse a vida de seu filho, que mantinha cativo numa prisão em Zaríon, cidade central de Zafis.

A função para a qual eu o designara era simplesmente carregar uma dióxy especial que me permitia ver através de seus olhos e ouvir através de seus ouvidos, pois suas funções sensoriais se refletiam no meu dióxy espelho.

Dióxys são pedras raras capazes de canalizar nossa energia e reverter para um efeito específico. Dióxys normalmente são únicas, não sendo encontradas duas pedras de igual efeito. Para acionar uma dióxy é necessário estar em contato físico direto.

Vislumbrei Alister numa sala de reuniões. Ele estava com três de seus mais fortes guerreiros, magos de muito talento e, para minha surpresa, Hiratamino estava ali. Hiratamino é o mago mais velho no reino de Halis e serviu ao rei Helgon e à rainha Rainessya, pais de Alister.

Após a morte deles e da recém-nascida princesa Lenissya, Hiratamino abdicou do papel de mago real, pois fracassara ao proteger seus reis. Alister, como único sobrevivente da família real, herdou o trono e se tornou meu maior inimigo. O que estaria Hiratamino fazendo ali? Eu estava prestes a descobrir.

— Acha que é possível, Hiratamino? — questionou Alister, entregando-lhe uma dióxy e aguardando ansiosamente sua resposta. — Consegue sentir, certo?

— Impressionante! Sua energia vital permanece intacta. Não há dúvidas, ela está realmente viva!

Alister arregalou os olhos e não se conteve. Lágrimas começaram a cair, mas havia um sorriso em seus lábios que me irritava profundamente. Quem estava viva, afinal?

— Como é possível? Sua aura vital havia se dissipado. Não havia indícios de que ela pudesse ter sobrevivido — disse Hiratamino. Seu rosto de espanto foi, aos poucos, sendo substituído por um olhar de esperança e um sorriso de comoção que me deixou enojado.

— Todos nós acreditávamos nisso, mas essa dióxy localizadora é a prova de que Lenissya está viva, embora não esteja perto de nós. Agora entendo o que pode ter acontecido. Minha mãe, na tentativa de proteger a pequena Lenissya das mãos de Zadthos, utilizou uma magia de transporte dimensional, levando-a a um mundo onde ela pudesse ficar segura.

— Isso é realmente incrível! E depois de tantos anos — disse Hiratamino, deixando-se cair para trás, apoiando as costas no encosto da poltrona. — Entendo.

— Agora que sei que minha irmã está viva, não descansarei até tê-la conosco novamente.

— Se ela tiver herdado a mesma energia de sua mãe, será de grande ajuda nesta guerra. Rainessya era um prodígio, mas estava enfraquecida após o parto, e eu falhei no momento em que elas mais precisavam.

— Não se culpe mais por isso, Hiratamino. Também carrego a culpa de ter deixado Zadthos passar pelo nosso exército. Não tínhamos como prever. Vamos nos focar no futuro.

— Majestade, como bem disse Hiratamino, Rainessya era um prodígio. A magia que ela deve ter usado para levar Lenissya para outro mundo deve ser de alto nível, e talvez nenhum de nós consiga conjurá-la. Como faremos essa proeza? — perguntou o sábio Ikzar, quebrando o clima de euforia. Muito bem, Ikzar... muito bem!

— Já pensei nessa possibilidade, mas creio que deve haver alguma maneira. Hiratamino, eu convoquei você até aqui porque preciso de sua experiência. Sei que não quer mais usar magia, mas preciso do seu auxílio.

— Vossa Majestade, será uma honra servi-lo nessa importante missão. Farei o possível para trazer a princesa de volta. Sei que não posso apagar meus erros, mas trazê-la de volta ao seu lar em segurança será minha remissão perante ti.

— Conto com você! — disse Alister, virando-se para seus subordinados. — Este segredo fica entre nós. Não vamos dar esperança ao nosso povo sem ter certeza de que nossa missão dará certo. E se isso chegar aos ouvidos de Zuldrax, Lenissya correrá perigo. Então, eu lhes peço, que o que foi dito nesta sala permaneça nesta sala.

Alister se retirou em silêncio. Aquele idiota nem desconfiava que eu já sabia de tudo. Demorei alguns minutos para processar o que ouvira. Não conhecia Lenissya, não sabia do que era capaz, mas meu ódio por ela já começava a se manifestar. Ela pertencia à família real de Halis e, portanto, precisava ser eliminada, pois era uma ameaça.

Passei noites mal dormidas depois disso. Precisava de uma estratégia. Pensei em matar Hiratamino, mas aquele velho já não duraria muito mesmo, e para isso eu teria que me arriscar bastante e invadir Henir, o que era quase impossível.

Guerrear nas fronteiras é fácil, mas invadir a área central de Halis seria muito trabalhoso e, com certeza, traria muitas mortes. Meu pai morreu realizando essa façanha, e as dores geradas pelas perdas naquela época foram enormes.

Uma coisa entrava em conflito com meu anseio de atrapalhar o plano de resgate: minha vontade de matá-la. Eu sabia que, se a missão fracassasse, Lenissya continuaria viva e eu jamais conseguiria acabar com a família real. O que eu tinha que fazer, então, era esperar que eles a trouxessem para que eu pudesse agir.

Passaram-se alguns dias e nenhum de nós iniciou um novo ataque. Tanto meu reino quanto o deles possuíam uma vigília poderosa e artimanhas que impediam que inimigos invadissem o território um do outro.

Quanto àquela missão estúpida, o velho Hiratamino andava com frequência na biblioteca real da cidade central de Halis, chamada Henir, procurando algo na literatura que o auxiliasse nessa questão de passagem dimensional.

Ver aqueles tolos se esforçando me divertia. Eu faria daquela missão um curto sonho, seguido de um pesadelo infinito. Alister parecia ansioso, preocupado com o possível ataque que eu poderia realizar naquele instante, mas seu foco ainda era sua irmãzinha Lenissya.

Para preocupá-lo ainda mais, espalhei o boato de que estava armando meu exército e que iniciaria um novo ataque em breve. Mal sabia ele que eu não tinha a menor intenção de fazer isso. Me divertia atormentando-o.

Parte dos meus homens descansava em casa com suas famílias, enquanto outros vigiavam perto de nossa cidade central, Zaríon, e das fronteiras, revezando-se entre si. Embora eu quisesse ferozmente vencer essa guerra, meu povo era mais importante. Queria que aproveitassem o tempo com coisas prazerosas e fortalecessem os laços afetivos entre si. Nossa união e ódio contra o povo de Halis os fariam perecer em algum momento. Era só questão de tempo.

Alister decidiu me enviar uma proposta de paz sob o pretexto de que a Noite Negra estava se aproximando e que, em memória das pessoas que morreram naquele dia, deveríamos estender a trégua por um período mais longo. Já se passaram dezesseis anos desde que a Noite Negra ocorreu. Eu tinha apenas oito anos na época, mas me lembro da minha mãe, olhando pela janela do palácio para o horizonte, pálida, com um olhar profundamente entristecido. Acho que sabia, bem no fundo, que seu amado não voltaria mais.

Pensei em recusar o pedido de Alister, afinal, eu sabia muito bem o porquê daquilo, mas preferi não provocá-lo. Era melhor que ele acreditasse que estávamos em trégua temporária para, talvez, pegá-lo desprevenido em algum momento. Bem... esse truque já é velho, mas nunca me cansava dele. Sorri maliciosamente enquanto novas ideias surgiam em minha mente.

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