Capítulo 05

Por Lorena

Nos dias que se seguiram, Alister não ousou colocá-la em maiores riscos. Ele a manteve presa naquele lugar e não a submeteu a outros tipos de magia. Talvez estivesse arrependido do que fizera no primeiro dia. Talvez seu amor fraterno estivesse falando mais alto. Mesmo assim, as condições em que ela se encontrava não eram as melhores. Permanecia trancada e vigiada naquele quarto escuro. Ela não dizia nada e frequentemente chorava em silêncio.

Alister algumas vezes tentou falar com ela, mas eles não se entendiam. Ela olhava confusa para ele e depois escondia seu rosto nas capas. Logo Alister percebeu a necessidade de um feitiço que permitisse se comunicarem.

Os halisianos também eram uns trapaceiros, pois criaram um feitiço para ensinar a fala e a escrita para as crianças de forma imediata. Nem sempre usavam esse feitiço, pois as crianças que recebiam esse conhecimento implantado não desenvolviam muito bem o intelecto e a capacidade de raciocínio. No entanto, ela já não era mais criança, então a consequência seria mínima ou mesmo nula.

Alister conjurou o feitiço de ensinamento linguístico. Ela se virou para olhá-lo e, com medo, fechou os olhos. Logo o conhecimento do idioma do conjurador foi compartilhado com ela. Alister foi quem disse as primeiras palavras que ela entendeu:

— Está tudo bem, não vou te machucar.

Ela abriu os olhos e ficou a encará-lo, confusa, como se estivesse tentando entender o que tinha acontecido. Logo ouvimos sua voz doce ecoar por aquele quarto:

— Eu entendi o que disse, mas como? Quem são vocês? Por que estão fazendo isso comigo?

Alister colocou sua mão direita sobre a cabeça dela, olhou em seus olhos e falou em tom sereno. Não acho que tentar ser gentil agora apagaria a primeira impressão ruim que ela teve.

— Em breve tu entenderás tudo, mas, por enquanto, a única coisa que posso te dizer é que procuro em você uma pessoa muito importante para mim.

Isso não ajudou em nada; ao contrário, ela ficou ainda mais confusa e um tanto irritada:

— Não estou entendendo, poderia me explicar isso direito? Ou melhor, poderia me soltar e me levar de volta para casa? Meus pais devem estar muito preocupados comigo.

— Lenissya, tu já estás em casa.

— Não, não estou, e meu nome não é Lenissya, é Lorena!

— Amigos, deixem-nos a sós um pouco! — pediu Alister educadamente.

Droga, agora que estava ficando interessante! Eu estava gostando de vê-la com raiva. Por alguns minutos, Alister ficou sozinho com ela e depois Haigar voltou ao seu posto de vigia. Ela estava pensativa, mas algo nela havia mudado. Estava mais desinibida. Olhou para Haigar e disse:

— Olá!

Haigar permaneceu em silêncio e ela continuou:

— Você é sempre assim tão calado? Qual é o seu nome?

— Haigar, e gosto de falar apenas quando necessário.

— E você não acha necessário conversar um pouco enquanto vigia? Ajuda a passar o tempo e o tédio. Faz muito tempo que trabalha aqui? Consegue usar aqueles poderes estranhos? Como é esse lugar? — Ela gesticulava com os braços enquanto perguntava.

— Princesa, você faz perguntas demais. Sirvo o rei desde que era jovem. Esses poderes que você fala são chamados de energia aura e são canalizados na forma de magia. Quanto a esse lugar, trata-se de uma sala secreta no palácio real. Faz parte do reino de Halis.

— Halis? Princesa? Quer dizer que sou uma princesa? E essa magia é usada frequentemente? — Ela passou de curiosa para confusa. Fez um leve biquinho com os lábios enquanto pensava, com os olhos fixos nas reações de Haigar.

— Sim! — disse Haigar, sem querer passar mais informações do que deveria. Deve ter percebido que deixou informações importantes escaparem.

— Em que situações? — perguntou ela em um tom mais sério.

— No dia a dia, e também em guerra.

— Não acredito! Aqui nesse reino tem guerra? Poxa, isso é ruim. Você tem família, filhos?

— Apenas um filho.

— E onde ele está?

Lenissya tocou no ponto fraco dele. Durante uma das batalhas que travei com Halis, eu tinha sequestrado seu filho Daigar e o mantinha cativo. Utilizava a vida dele como forma de convencer Haigar a me obedecer. Ele o fazia porque tinha prometido à sua falecida esposa que protegeria o filho com sua vida, se necessário.

Ele faria qualquer coisa por Daigar sem hesitar, com uma exceção: ferir ou causar qualquer dano direto a alguém de seu povo. Haigar procurava ser o mais correto e leal possível aos seus, mas eu não permitia que ele seguisse sempre seus princípios. Haigar não respondeu à pergunta de Lenissya e ela, num tom sereno e com um olhar profundo, disse:

— É por isso que não é bom fazer guerra. Pessoas se ferem e se machucam, pessoas queridas são perdidas e a dor gera ódio que leva a mais dor. Guerra não faz sentido! Por que vocês não param com isso?

Haigar permaneceu em silêncio. Vendo que ele não ia dizer mais nada, ela também se calou. O que Alister havia falado para que ela ficasse assim? Além disso, de onde tirou essa filosofia? Será que já tinha presenciado alguma guerra? Não, pois se tivesse, ela não falaria algo tão utópico. Sentiria na pele o que é raiva e o desejo de vingança. Ela não era dali, não sabia de nada! Como poderia entender? Mas o que ela disse parecia fazer sentido.

Durante a noite, eu não consegui dormir. Tentava entender a situação e até comecei a duvidar da identidade daquela garota. Magia para tentar mostrar sua energia oculta não funcionou, e se magia para desfazer um possível selo que a ocultasse também não, então... o que mais poderia ser feito?

Olhei para o teto e pensei comigo mesmo. Se eu soubesse antes que Lenissya sobrevivera e quisesse chegar até ela, o que eu faria? Obviamente, tentaria sentir sua energia e vê-la. Quem sabe existisse alguma outra forma de passar entre mundos. Talvez Rainessya soubesse disso e por isso a selou... para protegê-la!

Um pensamento me veio à mente e me fez perceber que estávamos tentando pelo caminho errado. Partíamos da ideia de que a energia estava presa dentro dela e precisava ser liberada, em vez de considerar que ela sempre esteve lá, mas éramos nós que não a víamos.

O selo, portanto, deveria estar na aura externa, tornando-a invisível para nós e também para a própria Lenissya. Se isso fosse certo, então o tipo de magia que precisavam para liberar o selo era bem mais simples do que se imaginava.

Saí do meu quarto em direção à biblioteca real. Precisava checar isso, pois já tinha lido algo a respeito. No caminho, encontrei Drakhan, um forte guerreiro que me servia fielmente em todas as batalhas. Ele estava olhando o pátio pela janela do corredor e, sentindo minha presença, disse:

— Está tudo muito calmo, não achas, Zuldrax?

— De fato! Mas o que fazes aqui acordado até essa hora?

— Devo estar sempre alerta, mas o mesmo te pergunto. Por que andas pelo palácio até essa hora? E o que tem acontecido para que passes tantos dias trancado no quarto? Teus homens esperam por ordens!

— Não te apresses, caro Drakhan! Tudo deve acontecer a seu devido tempo. No momento, só estou com um pouco de insônia e achei que seria interessante ler um pouco.

Mesmo confiando nele, sempre gostei de pensar sozinho e agir como eu bem quisesse. Sempre fui uma criança independente. Aos quatro anos, eu já assistia meu irmão mais velho treinando e depois, sozinho, dedicava-me a desenvolver minhas habilidades. Eu era paciente na medida do possível e sabia que, não importava quanto tempo levasse, um dia seria tão ou mais forte do que ele.

Quando eu tinha sete anos, perdi meu irmão e só então comecei a receber treinamento especial com o pai de Drakhan. Foi quando o conheci. Crescemos e treinamos juntos por um tempo, e ele se tornou meu melhor amigo.

Uma coisa em minha personalidade nunca mudou: eu não gostava que me questionassem ou que ficassem me rodeando demais. Mesmo que eu tivesse supervisão nos treinos, a maior parte deles eu realizava sozinho. Drakhan não falou mais nada, pois me conhecia muito bem e sabia o quanto sou teimoso.

Segui sozinho para a biblioteca. Passei alguns minutos checando as prateleiras e não demorou muito até que encontrasse o que procurava. Um livro com uma capa azul-escuro sobre magia halisiana média. Folheei as páginas impacientemente e logo achei o feitiço.

Eu não podia fazer nada, mas Haigar podia. Voltei para o meu quarto com o livro e entrei em contato com ele usando minha dióxy de comunicação. Haigar estava sentado na escada vigiando Lenissya, que dormia calmamente. Contei a ele minha hipótese e lhe falei do feitiço de liberação sensorial. Claro que ele não aceitaria tão facilmente algo vindo de mim e pronunciou palavras agressivas em tom alto. Lenissya estava em sono profundo e sequer se mexeu.

— O que você quer com isso, seu desgraçado? Se for algum truque para machucar a princesa, saiba que eu não permitirei.

— Não seja estúpido, Haigar! Isso é justamente para saber se ela é realmente a princesa. No momento, temos o mesmo objetivo: desvendar a identidade da garota.

Essa explicação o convenceu. Ele usou sua magia para chamar Alister, que logo chegou. Sua primeira reação foi perguntar se havia acontecido algo. Haigar lhe explicou o que eu havia dito, como se a ideia tivesse partido dele. Alister pensou por alguns instantes e logo concluiu que realmente pudesse ser isso. Impaciente como sempre, invocou de imediato o feitiço de liberação sensorial.

Uma luz branca começou a circundar Lenissya enquanto ela ainda dormia. Aos poucos, essa luz branca começou a se dissipar, revelando uma aura de um azul tão claro que era quase branco. Sua aura era intensa, tinha força, e um brilho diferente do habitual. Não havia dúvidas de sua origem real. Aquela jovem era, de fato, Lenissya!

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