CAPÍTULO 2

Eran por volta das cinco e quarenta da tarde, e faltava apenas meia hora para o fim do meu turno no café. Eu me sentia cansada, exausta até, e meus seios estavam cheios de leite materno. Era um dos constantes lembretes de que, mesmo estando trabalhando, havia uma pequena vida esperando por mim em casa. Sentia tanta saudade de Mily que cada segundo parecia uma eternidade.

Loretta deve ter notado algo estranho em mim, porque se aproximou com aquele olhar perspicaz que sempre tinha.

— Angie, você está bem? — perguntou, fixando seus olhos em mim.

— Sim, claro, senhorita Russo, estou bem — respondi rapidamente, tentando soar convincente.

— Sério? Porque seu rosto diz o contrário — comentou ela, desconfiada.

Senti-me ainda mais desconfortável. Era meu primeiro dia no café, e eu já estava causando problemas. Não queria dar uma má impressão. Envergonhada, respondi:

— Estou bem — e sem mais o que dizer, retirei-me para limpar as mesas vazias. Precisava me distrair, afastar-me dessa conversa antes que ficasse mais complicada.

— Angie, vá pegar os pedidos das mesas cinco, oito e três, por favor! — pediu Mía com seu tom amável.

— Já vou — respondi, tentando me concentrar no trabalho.

Mas antes que pudesse ir, Mía me segurou pelo braço com entusiasmo.

— Angie, querida, você poderia me fazer um pequeno favor, sim? — pediu com aquele tom meloso que eu já tinha aprendido a reconhecer. Seus olhos brilhavam como os de um filhote de cachorro pedindo atenção.

Rose passava com uma bandeja e, ao ver a cena, interveio:

— Eu pensaria duas vezes antes de aceitar, Angela — disse a morena, olhando para Mía com um sorriso travesso.

— P-por quê, Rose? — perguntei, hesitante. Mía lançou um olhar fulminante para Rose, fingindo estar ofendida de maneira exageradamente dramática. Era típico dela.

— Angie, querida, Rose é uma amargurada. Olha, o favorzinho é assim tão simples: você vê aquele rapaz quase albino com lindos olhos esmeralda…? — perguntou Mía, corando enquanto apontava discretamente para uma mesa.

— Sim, vejo. O que você quer que eu faça? — respondi, suspeitando que isso não terminaria bem.

Mía tirou um papelzinho laranja dobrado de seu avental e me entregou.

— Quando entregar o pedido, quero que você dê este papelzinho a ele. Não é nada demais, Angela querida.

Assenti, embora por dentro soubesse que isso não era uma boa ideia. Fui pegar os pedidos, mas minha mente estava longe. Queria que o turno acabasse logo para voltar para casa com Mily. Nunca tinha ficado tantas horas longe dela, e embora soubesse que ela estava bem com minha mãe e mamãe Rebeca, não conseguia evitar essa pontada de saudade.

Enquanto limpava algumas mesas junto com Ami, ela me perguntou:

— Angela, em que você está pensando? Está assim há um tempo, como se fosse um robô.

Ri nervosa. Minha mãe Isabel tinha razão quando dizia que eu era como um livro aberto.

— Nada, Ami, jajaja, só estou pensando nas coisas que tenho que fazer quando chegar em casa — menti, embora soubesse que não estava sendo muito convincente.

Finalmente chegou o momento de entregar os pedidos. Me aproximei da mesa cinco, onde estava o garoto de olhos verdes. Havia também outros dois jovens igualmente bonitos e elegantes.

— S-seus pedidos estão prontos: um hambúrguer com um milkshake de chocolate, uma fatia de torta de mirtilo e chá de frutas vermelhas, e por último um sanduíche de banana com manteiga de amendoim e suco de morango — anunciei, tentando manter a compostura.

Duvidei se deveria entregar o papelzinho que Mía me pediu para dar ao jovem loiro. No final, decidi ser rápida e cumprir o que me pediram.

— Jovem, aqui está — estendi o papelzinho com mãos trêmulas.

— O que é isso? — perguntou ele, curioso, enquanto olhava para o pequeno papel laranja. Senti minha voz desaparecer completamente. Não sabia o que dizer.

— Oh, Luck, que pergunta é essa? — interveio um dos rapazes, com um sorriso zombeteiro. — Não vê que esse bombom está te dando seu número de celular?

Fiquei tão vermelha quanto cerejas. As palavras não saíam da minha boca. Estava completamente envergonhada.

— Até corada está a pobrezinha — riu outro dos rapazes, enquanto Luck apenas observava, também um pouco constrangido.

— Helios, seja mais sutil, olhe como está a garota — repreendeu o outro rapaz.

— Não, não, não, só me pediram para entregar esse papel, juro que não fui eu! — tentei explicar, embora minha voz continuasse presa na garganta.

Loretta percebeu que algo estava acontecendo e veio ver o que era.

— Aconteceu algo, senhores? — perguntou com gentileza.

— Não, nada demais — respondeu o jovem de cabelos castanhos. — A garota acabou de entregar uma mensagem ao meu colega; ele só estava perguntando de quem era.

Naquele momento, desejei que a terra me engolisse. Pensei que seria despedida naquele instante.

— É seu, Angela? — perguntou Loretta, segurando o papelzinho em suas mãos enquanto me olhava, esperando uma resposta.

— Não, bom, sim, p-pero tenho uma explicação, sério — gaguejei, sentindo-me cada vez mais nervosa.

— Angela, seu turno acabou. Pode ir embora.

Foi tudo o que a senhorita Russo disse. Naquele momento, pensei que tudo estava perdido. Sentia-me terrivelmente envergonhada. Victoria tinha me conseguido esmo dia.

Fui ao vestiário para trocar de roupa. Abri meu armário para pegar minhas coisas, e justo nesse momento as outras garotas entraram também para se trocar e ir embora.

— Angela, você entregou o papelzinho ao rapaz? — perguntou Mía, expectante, com aqueles olhinhos sonhadores que colocava toda vez que falava de algo romântico.

— Sim, Mía, entreguei a nota — respondi com voz monótona.

De repente, Mía me deu um forte abraço sem aviso prévio, nem sequer me deixou terminar de abotoar minha blusa.

— Céus, você tem atributos muito bons! São naturais? — perguntou, tocando um dos meus seios com a ponta dos dedos.

Pela milésima vez no dia, fiquei vermelha novamente.

— Mía, não seja tão imprudente! — repreenderam-na Ami e Zoe, vendo meu evidente desconforto.

— Sim, desculpe, Angela — riu nervosa. — Exagerei. Tem razão, você é uma garota muito tímida.

— Não se preocupe, Mía. Bom, meninas, gostei muito de conhecê-las. Tenho que ir agora. Até mais — disse, tentando encerrar a situação.

Ao sair do vestiário, Loretta nos deteve.

— Mía, sei o que você fez hoje — disse Loretta com seriedade. — Você vai ficar para limpar. As demais podem ir embora. Você também, Angela, te espero na mesma hora amanhã.

Meu coração deu um pulo. Não me tinham despedido! Saí correndo para o estacionamento, pronta para montar na minha bicicleta. Com capacete, joelheiras e luvas postas, estava prestes a sair quando, sem querer, bati no retrovisor de um carro vermelho luxuoso e caro.

— Desculpe, foi um acidente, senhor — disse rapidamente.

O jovem saiu do carro com cara de poucos amigos.

— Ei, sua cabeça de vento, será que você não olha por onde anda? Este carro acabou de ser entregue hoje pela concessionária.

— Bem, senhor, já disse que foi sem intenção e pedi desculpas.

— Como se as coisas se resolvessem com apenas pedir desculpas, garota cabeça de vento.

— Ora, senhor, já pedi desculpas, não seja grosseiro! Além disso, seu carro não sofreu nada. Não seja tão exagerado.

Ouvi vozes atrás de mim e, ao me virar, vi o mesmo jovem loiro, acompanhado de outro homem. Pareciam estar discutindo sobre algo.

— Senhor — disse, tentando acalmar a situação.

— Ei, Artemis, já cheguei. Esperei muito, irmão? — disse o jovem loiro, aproximando-se.

— Não muito, mas esta garota quase arruinou meu carro.

— Que garota? — perguntou o recém-chegado, fingindo ignorância.

— Aquela loira — respondeu, apontando para mim.

— Escute, senhor, pedi desculpas. Além disso, seu carro está bem — insisti, perdendo a paciência.

— Oi, bombom, você de novo — cumprimentou o garoto loiro, que agora reconheci como Helios.

— Oi e adeus — respondi antes de subir na minha bicicleta e partir. A última coisa que vi foi seu olhar curioso me seguindo enquanto eu me afastava.

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