Cheguei tarde. Sabia que Sofia não estava de bom humor; se havia algo que ela não tolerava era a falta de pontualidade e irresponsabilidade. Isso era importante para nós dois, mas para ela significava muito mais. Ela tinha se apaixonado por uma pequena que visitava há dois meses, e hoje seria o dia em que conheceríamos nossa futura filha adotiva. Ainda me surpreendia o quão rápido tudo havia avançado. Só tinha visto fotos da menina, mas já sentia curiosidade em conhecê-la. Estacionei o carro ao lado do conversível de Sofia. Ao descer, vi-a conversando com uma freira. Assim que percebeu minha presença, ela veio até mim com aquela expressão que sempre adotava quando estava irritada. —Você chegou tarde, Artemis —murmurou rispidamente, tirando seus óculos de sol. Suspirei, derrotado. Não sabia que desculpa inventar para justificar meu atraso. Sabia que não havia nada que pudesse acalmá-la naquele momento. —Está bem, vamos entrar. Já está quase terminando o horário de visitas para as
Não consegui dormir a noite toda. Quem, no meu lugar, conseguiria? Meu cérebro tinha muito o que processar, e tudo em muito pouco tempo. As cores da aurora começavam a se filtrar pela janela, pintando o céu com tons quentes e suaves. Respirei profundamente, tentando acalmar meus nervos, e olhei para minha pequena Emily, ainda profundamente adormecida. Sua respiração tranquila e seu rosto angelical me encheram de ternura. —Você não foi um erro, Emily —murmurei baixinho, acariciando sua bochecha—. Disso eu tenho certeza. Ainda assim, quero saber a verdade, filha. Sua chegada deve ter uma explicação. Hoje era o dia. Hoje a verdade seria revelada, ou pelo menos parte dela. Ami e Rose me acompanhavam, e embora fosse surpreendente, Emily havia se apegado muito à insuportável da Rose. Naquele momento, ela estava dando o mamadeira com uma delicadeza que eu nunca imaginei que ela teria. —Olha, Ángela! Ela já está segurando o mamadeira sozinha! —exclamou Rose com ternura, emocionada com os
Ver aquela garotinha sentada debaixo da árvore, encharcada pela chuva e chorando em silêncio, despertou algo em Helios que ele não soube identificar imediatamente. Era como um puxão no peito, uma sensação visceral que o impelia a se aproximar dela. Ele se inclinou, colocando-se à altura dela, para observá-la melhor. Seu cabelo castanho estava grudado no rosto molhado, e seus olhos, embora nublados pelas lágrimas, pareciam refletir uma dor tão profunda que o atingiu diretamente. "É apenas uma criança", pensou Helios, sentindo seu coração apertar ao vê-la tão frágil, tão perdida no meio daquela tempestade. Ele não podia ignorá-la. Não queria. —Choro porque sou uma idiota, ingênua nível supremo —disse ela de repente, limpando as lágrimas com desajeitamento, como se tentasse esconder sua vulnerabilidade. Sua voz era apenas um murmúrio, mas carregava tanto sofrimento que Helios sentiu um nó na garganta. Ele queria dizer algo, fazer algo para aliviar aquele peso que parecia esmagá-la. M
Ainda não consigo entender como fiquei grávida. Mas quando vejo o rostinho da minha pequena Emily, sei que, se pudesse voltar no tempo, não mudaria absolutamente nada. Eu faria o meu melhor por Mily, meu pequeno milagre inesperado. Quando anunciei minha gravidez, a tempestade se instalou. Meus avós e minha mãe ficaram extremamente irritados com a notícia, especialmente meu avô Alonso. Ele não se cansava de dizer que "a história estava se repetindo". Mas, claro, a história da minha mãe está muito longe de ser como a minha. Ela teve um relacionamento, um amor adolescente, do qual eu fui o resultado: outra decepção para a família Mendoza. O nascimento de Emily causou um terremoto em nossa vida familiar. Minha mãe e minha avó perderam seus empregos, meu avô perdeu o dele e, como se isso não fosse suficiente, sofreu um acidente vascular cerebral. Fui expulsa da escola por causa da gravidez e comecei a trabalhar com minha prima Victoria. Mas, em vez de ajudá-la, acabei sendo um fardo par
Mily, que agora dormia profundamente, alheia aos meus pensamentos. Inclinei-me sobre ela e beijei sua testa suavemente, inalando o doce aroma de sua pele. Não importava o que os outros pensassem ou dissessem. Ela era minha, meu pequeno milagre inesperado, e faria o que fosse necessário para protegê-la. Mesmo que isso significasse enfrentar o mundo inteiro sozinha. —Angie, acorda, filha, vai se atrasar —a voz da minha mãe interrompeu meus pensamentos enquanto ela me sacudia suavemente, tentando não despertar a pequena que dormia ao meu lado. Pisquei várias vezes, tentando afastar a letargia que sempre me acompanhava pela manhã. O sono ainda me envolvia como um cobertor pesado, e por um segundo pensei em ignorá-la e permanecer ali, aconchegada ao lado de Mily. Mas sabia que não podia. Hoje era um dia importante, um novo começo. —Mãe, que horas são? —perguntei, esticando os braços enquanto tentava despertar. Nunca fui de levantar cedo. Meu corpo parecia programado para resistir a qual
Eran por volta das cinco e quarenta da tarde, e faltava apenas meia hora para o fim do meu turno no café. Eu me sentia cansada, exausta até, e meus seios estavam cheios de leite materno. Era um dos constantes lembretes de que, mesmo estando trabalhando, havia uma pequena vida esperando por mim em casa. Sentia tanta saudade de Mily que cada segundo parecia uma eternidade. Loretta deve ter notado algo estranho em mim, porque se aproximou com aquele olhar perspicaz que sempre tinha. — Angie, você está bem? — perguntou, fixando seus olhos em mim. — Sim, claro, senhorita Russo, estou bem — respondi rapidamente, tentando soar convincente. — Sério? Porque seu rosto diz o contrário — comentou ela, desconfiada. Senti-me ainda mais desconfortável. Era meu primeiro dia no café, e eu já estava causando problemas. Não queria dar uma má impressão. Envergonhada, respondi: — Estou bem — e sem mais o que dizer, retirei-me para limpar as mesas vazias. Precisava me distrair, afastar-me dessa con
Já tinha chegado em casa alguns minutos atrás. Antes de entrar, parei para comprar fraldas, lenços umedecidos para bebês e uma barra de chocolate porque, bem, uma garota precisa se dar alguns pequenos prazeres. Mas é claro, nem tudo podia ser tão fácil. Assim que entrei na loja, me deparei com alguns dos meus antigos colegas do ensino médio. Só de vê-los foi suficiente para que aquele nó familiar de raiva se formasse no meu peito. Quantas vezes eles me fizeram sentir como se eu fosse menos que eles? As provocações sempre estavam lá, esperando para me lembrar do que eu já sabia: que nunca fui parte do grupo deles, que nunca me viram como mais do que um alvo fácil. Mas o que eu ia dizer a eles agora? Nada. Não valia a pena gastar palavras com aquelas cabeças ocas. Tudo parecia estar indo bem até que cheguei ao caixa. Lá estavam elas: Molly e Vanessa, duas meninas da minha antiga turma. Não sei o que essas pessoas têm, mas parece que estão sempre procurando formas de me fazer sentir
Era domingo, e minha mãe, junto com mamãe Beca, decidiram que seria um bom dia para fazer um piquenique. Apesar de eu ter insistido que não era o melhor momento, ambas se empenharam tanto que, no fim, não tive outra escolha a não ser aceitar. Afinal, um pouco de ar fresco não faria mal a ninguém, certo? Peguei o vestido de Emily, um estilo verão na cor rosa, e o combinei com sapatinhos vermelhos. Enquanto o preparava, pensei em como poderia arrumar seu cabelo. Com apenas seis meses, ela já tinha mechas macias e abundantes que me lembravam muito de mim quando era pequena. —Emily, você tem muito cabelo para uma bebê de apenas seis meses —eu disse enquanto escovava delicadamente seus fios—. O que acha de colocar uns "bombons" no cabelo, como os que mamãe usava quando era pequena? Você gostaria de usar um penteado como o da mamãe...? Eu me lembrava perfeitamente de como minha mãe costumava fazer dois chiquinhos que chamávamos de "bombons". Eu adorava esses penteados, tanto que até tent