Ainda que deixar seu quarto representasse sofrer as mais diversas pressões, de lordes nervosos com a guerra batendo em seus portões, de súditos apavorados e de Ayala, Cedric juntou-se ao grupo de estratégia no salão real.
Sabia que ouviria reclamações; receberia informes dos lordes sobre os cuidados em volta dos territórios; e a maga insistiria quando ficassem sozinhos que precisavam dos poderes curativos de Selene, que ele só necessitava convencer a jovem a aceitar intensas aulas para controlar a magia.
Todos estavam preocupados com o recuou do rei Phelix, após dizimar os habitantes das terras do oeste, preocupação aumentada com o ataque contra ele.
— Vejo que amanheceu melhor. Os cuidados de uma esposa devem fazer maravilhas — Tristan gracejou aproximando-se dele, de forma que fosse o único a ouvir seu comentário bem humorado.
— Sim &mdash
Dando por encerrado a reunião estratégica, Cedric permaneceu próximo ao trono, observando os generais se retirarem com expressões insatisfeitas.A tensão da discussão após a rápida passagem de Selene no local ainda reverberava no ar, estando fixada nos olhos dourados da feiticeira Ayala ao solicitar uma conversa particular com o rei.— Sua atitude diante dos generais foi potencialmente perigosa — a feiticeira alertou ao ficarem sozinhos. — Ao defender Selene com tanta ferocidade pode gerar hostilidade com os lordes e o povo em um momento em que devemos nos unir.— Eles estavam desrespeitando Selene — retrucou ciente das implicações de suas ações e traço de arrependimento. — Avisei a toda Eszter inúmeras vezes nos últimos dias que não permitirei que continuem a destratá-la.Ayala fixou seu olhar penetran
Selene piscou confusa, processando a informação.— Impossível...! — balbuciou, olhando para as próprias mãos, pensando em quantas vezes tentou irradiar magia sem sucesso. — Desde a morte da minha mãe perdi a capacidade de curar...Segurando o rosto de Selene entre suas mãos como se fosse algo precioso e frágil, a fez olhá-lo.— Desde que chegou a Eszter tem emitido doses inconscientes de magia. Você me curou. Seu dom é extraordinário — indicou os dedos traçando os contornos suaves. — É por isso que insisto que deve ter aulas de magia. Para aprender a controlar e canalizar esse poder.— Mas... eu... — engoliu em seco, sentindo um bolor crescente e lágrimas quentes se formarem no canto dos olhos. — Eu não consigo... A ideia de usar magia me assusta...Foi atacada pelas lembranças d
A manhã chegou em Eszter, trazendo consigo os primeiros raios de sol que se infiltravam pelo quarto de Cedric. O Rei Corvo despertou suavemente, sentindo a maciez e o calor reconfortante em seu peito. Seus olhos encontraram Selene, ainda adormecida em seus braços.Acostumou-se fácil em ter a presença dela ao lado, notou ao hesitar em se levantar e aprontar-se para o novo dia. Com cuidado, Cedric acariciou suavemente os cabelos de Selene, perdendo-se na textura sedosa que deslizava entre seus dedos.Admirou a paz que transparecia no rosto dela. Recordações da noite anterior invadiram sua mente. Mesmo com intenções maiores que somente dormir, se contentou em estar ao lado dela em um momento de clara fragilidade, oferecer conforto e segurança após o pânico que acometeu Selene ao pensar em treinar magia.— O que fizeram com você?Seu olhar obscureceu ao imaginar Phelix e M
A atmosfera calma dentro do quarto de Selene contrastava com a agitação do lado de fora. Era estranho para ela estar, novamente, em uma espécie de prisão. Embora pudesse sair do quarto, não tinha autorização para ir além do palácio. Inspirou fundo, os dedos deslizando pelas penas de Aodh, admitindo que nem queria sair. Com seu pai atacando o povo e o rei de Eszter, permanecer ali era uma questão de segurança.A chegada de Cedric a animou, fazendo-a sair da apatia e correr para recepciona-lo.— Como você se sente? A ferida não dói? — questionou com um sorriso gentil que refletia o alívio de vê-lo bem e seguro.— Estou bem. Não se preocupe! — respondeu deslizando o polegar pela boca macia, encantando-se com o tom rosado na face de Selene.— Hoje você terá um longo dia antes do jantar no salão,
Mordendo o lábio inferior, Selene observou da porta as duas longas mesas dispostas nos extremos do salão, repletas de soldados, feiticeiros e empregados de patente alta da fortaleza.Um espetáculo de vozes animadas, cintilantes esferas por todo teto e mesas fartas. O aroma do banquete pairava no ar. A cada risada e conversa trocada entre os presentes, a pressão aumentava nela. Sentia-se mais segura e confortável mantendo-se afastada, só lidando com os poucos empregados que teve contato nos últimos dias.No fundo do salão estava Cedric, com sua própria mesa e cadeiras para pessoas importantes da base de seu reinado. A sua direita estava Ayala, seguida por um homem que ela desconhecia. A esquerda havia uma cadeira vazia e logo depois Tristan.— A senhora ocupará o lugar a esquerda do Rei — Patry indicou atrás dela, notando a insegurança no olhar de sua senhora.P
Ao caminharem lado a lado em direção as acomodações reais, Selene ficou consciente de que, com ambos restabelecidos, e por ela ter concordado em dormirem juntos, Cedric, acabaria exigindo seus direitos de marido. Sentia que o amava, mas não sabia o que esperar, o que era esperado dela. Nas outras noites pareceu tão simples, ficaram conversando, ele a consolou a respeito de seus medos. Mas agora, com ele querendo que ela assumisse seu papel no reino, havia muitas questões perturbando-a a cada passo aproximando-os do quarto dele.Sentindo a mudança corporal dela, e reconhecendo os sinais de pânico reluzindo nas íris azuladas, Cedric, imaginou quais eram os receios povoando a mente da esposa.Ela o aceitar em sua cama, não queria necessariamente dizer que o queria carnalmente.Ao atravessarem a porta, Cedric, a fechou com o pé e, inesperadamente sentou na cama puxando Selene para seu
Pego de surpresa com a presença de Selene naquela área, Cedric fitou Tristan com o cenho franzido, culpando-se por não ter avisado o melhor amigo para mantê-la longe dali.Segurando o aborrecimento, despediu-se de Gael e de Tristan, e entrelaçou a mão na dela para saírem para longe dali.— Tristan... — Selene murmurou olhando para trás, em que o amigo a fitava com o semblante culpado.— Ficará bem — Cedric disse marchando com ela para longe. — Precisamos conversar.— Se for sobre meu... o rei de Magdala, não precisa — disse desanimada.Puxando-a para dentro de um cômodo, que logo Selene percebeu se tratar de um escritório, Cedric deslizou os dedos pelo cabelo, os olhos fixos nela com desanimo.— Gael foi precipitado em seu comentário, resolveremos esse caso sem a necessidade de mortes — Cedric falou a
O aroma tentador do pão recém-assado e das frutas frescas na mesa pairava no ar do quarto de Cedric. Desfrutando o desjejum com Selene, o silêncio era quebrado apenas pelo som suave dos pássaros lá fora e ocasionalmente pelos grasnos de Aodh solicitando a atenção da jovem.Perturbado pelo sono agitado de Selene, após o pesadelo que os despertou de madrugada, Cedric questionou controlando o tom de voz:— Selene, por que você tem tanto medo do Mamba. É só por causa do acha que ele fez com Phelix, ou ele fez algo grave contra você? — questionou com olhar atento, a raiva queimando em seu centro elemental só em imaginar que a resposta fosse a segunda opção.Fugindo do olhar dele, o que aumentou as suspeitas e temores de Cedric, Selene continuou a dar frutas para Aodh enquanto respondia melancólica:— Não “acho”, sei