Selene piscou confusa, processando a informação.
— Impossível...! — balbuciou, olhando para as próprias mãos, pensando em quantas vezes tentou irradiar magia sem sucesso. — Desde a morte da minha mãe perdi a capacidade de curar...
Segurando o rosto de Selene entre suas mãos como se fosse algo precioso e frágil, a fez olhá-lo.
— Desde que chegou a Eszter tem emitido doses inconscientes de magia. Você me curou. Seu dom é extraordinário — indicou os dedos traçando os contornos suaves. — É por isso que insisto que deve ter aulas de magia. Para aprender a controlar e canalizar esse poder.
— Mas... eu... — engoliu em seco, sentindo um bolor crescente e lágrimas quentes se formarem no canto dos olhos. — Eu não consigo... A ideia de usar magia me assusta...
Foi atacada pelas lembranças d
A manhã chegou em Eszter, trazendo consigo os primeiros raios de sol que se infiltravam pelo quarto de Cedric. O Rei Corvo despertou suavemente, sentindo a maciez e o calor reconfortante em seu peito. Seus olhos encontraram Selene, ainda adormecida em seus braços.Acostumou-se fácil em ter a presença dela ao lado, notou ao hesitar em se levantar e aprontar-se para o novo dia. Com cuidado, Cedric acariciou suavemente os cabelos de Selene, perdendo-se na textura sedosa que deslizava entre seus dedos.Admirou a paz que transparecia no rosto dela. Recordações da noite anterior invadiram sua mente. Mesmo com intenções maiores que somente dormir, se contentou em estar ao lado dela em um momento de clara fragilidade, oferecer conforto e segurança após o pânico que acometeu Selene ao pensar em treinar magia.— O que fizeram com você?Seu olhar obscureceu ao imaginar Phelix e M
A atmosfera calma dentro do quarto de Selene contrastava com a agitação do lado de fora. Era estranho para ela estar, novamente, em uma espécie de prisão. Embora pudesse sair do quarto, não tinha autorização para ir além do palácio. Inspirou fundo, os dedos deslizando pelas penas de Aodh, admitindo que nem queria sair. Com seu pai atacando o povo e o rei de Eszter, permanecer ali era uma questão de segurança.A chegada de Cedric a animou, fazendo-a sair da apatia e correr para recepciona-lo.— Como você se sente? A ferida não dói? — questionou com um sorriso gentil que refletia o alívio de vê-lo bem e seguro.— Estou bem. Não se preocupe! — respondeu deslizando o polegar pela boca macia, encantando-se com o tom rosado na face de Selene.— Hoje você terá um longo dia antes do jantar no salão,
Mordendo o lábio inferior, Selene observou da porta as duas longas mesas dispostas nos extremos do salão, repletas de soldados, feiticeiros e empregados de patente alta da fortaleza.Um espetáculo de vozes animadas, cintilantes esferas por todo teto e mesas fartas. O aroma do banquete pairava no ar. A cada risada e conversa trocada entre os presentes, a pressão aumentava nela. Sentia-se mais segura e confortável mantendo-se afastada, só lidando com os poucos empregados que teve contato nos últimos dias.No fundo do salão estava Cedric, com sua própria mesa e cadeiras para pessoas importantes da base de seu reinado. A sua direita estava Ayala, seguida por um homem que ela desconhecia. A esquerda havia uma cadeira vazia e logo depois Tristan.— A senhora ocupará o lugar a esquerda do Rei — Patry indicou atrás dela, notando a insegurança no olhar de sua senhora.P
Ao caminharem lado a lado em direção as acomodações reais, Selene ficou consciente de que, com ambos restabelecidos, e por ela ter concordado em dormirem juntos, Cedric, acabaria exigindo seus direitos de marido. Sentia que o amava, mas não sabia o que esperar, o que era esperado dela. Nas outras noites pareceu tão simples, ficaram conversando, ele a consolou a respeito de seus medos. Mas agora, com ele querendo que ela assumisse seu papel no reino, havia muitas questões perturbando-a a cada passo aproximando-os do quarto dele.Sentindo a mudança corporal dela, e reconhecendo os sinais de pânico reluzindo nas íris azuladas, Cedric, imaginou quais eram os receios povoando a mente da esposa.Ela o aceitar em sua cama, não queria necessariamente dizer que o queria carnalmente.Ao atravessarem a porta, Cedric, a fechou com o pé e, inesperadamente sentou na cama puxando Selene para seu
Pego de surpresa com a presença de Selene naquela área, Cedric fitou Tristan com o cenho franzido, culpando-se por não ter avisado o melhor amigo para mantê-la longe dali.Segurando o aborrecimento, despediu-se de Gael e de Tristan, e entrelaçou a mão na dela para saírem para longe dali.— Tristan... — Selene murmurou olhando para trás, em que o amigo a fitava com o semblante culpado.— Ficará bem — Cedric disse marchando com ela para longe. — Precisamos conversar.— Se for sobre meu... o rei de Magdala, não precisa — disse desanimada.Puxando-a para dentro de um cômodo, que logo Selene percebeu se tratar de um escritório, Cedric deslizou os dedos pelo cabelo, os olhos fixos nela com desanimo.— Gael foi precipitado em seu comentário, resolveremos esse caso sem a necessidade de mortes — Cedric falou a
O aroma tentador do pão recém-assado e das frutas frescas na mesa pairava no ar do quarto de Cedric. Desfrutando o desjejum com Selene, o silêncio era quebrado apenas pelo som suave dos pássaros lá fora e ocasionalmente pelos grasnos de Aodh solicitando a atenção da jovem.Perturbado pelo sono agitado de Selene, após o pesadelo que os despertou de madrugada, Cedric questionou controlando o tom de voz:— Selene, por que você tem tanto medo do Mamba. É só por causa do acha que ele fez com Phelix, ou ele fez algo grave contra você? — questionou com olhar atento, a raiva queimando em seu centro elemental só em imaginar que a resposta fosse a segunda opção.Fugindo do olhar dele, o que aumentou as suspeitas e temores de Cedric, Selene continuou a dar frutas para Aodh enquanto respondia melancólica:— Não “acho”, sei
No escritório que ganhou para cuidar das necessidades da fortaleza, de forma a se entrosar com os populares, Selene revisava a lista de afazeres. Era uma forma de esquecer os problemas pessoais, ignorar os falatórios, olhares velados, e ser útil ao reino naquele momento delicado.Benji, o mordomo, estava atento, pronto para atender às necessidades da jovem rainha e responder suas dúvidas. Selene segurava a lista com delicadeza, enquanto Patry permanecia ao seu lado em silêncio, aguardando os pedidos de sua senhora.Enquanto discutiam os detalhes a respeito do estoque de grãos e carnes – que Benji assinalou serem para o inverno, mas Selene sabia que o motivo era a preocupação com o retorno da guerra -, o pajem de Cedric entrou apressadamente no escritório.O jovem de cerca de quinze primavera se curvou respeitosamente diante das três figuras presentes, mantendo a cabeça baixa
Chegando ao topo, Cedric a pousou no chão e em um instante uma sombra saiu do peito dele, indo pousar no ombro de Selene.— Amorzinho! — o corvo soltou afagando o rosto dela com a cabeça.— Aodh...! — murmurou olhando impressionada para a ave. — É através dele que consegue as asas?Cedric confirmou, estendendo a mão para ela.— A Montanha do Corvo abriga vários espécimes carregados de magia e poder, principalmente corvos, e é costume em minha família o rei conectar seu centro elemental a de um deles — iniciou entrelaçando seus dedos e levando-a para o local que desejava.— O que significa conectar o centro elemental?— Meu centro elemental e o de Aodh são um, batendo na mesma sintonia e dividindo o mesmo poder. — Analisou o corvo mexendo suavemente nos fios loiro-platinados, como uma carícia