No escritório que ganhou para cuidar das necessidades da fortaleza, de forma a se entrosar com os populares, Selene revisava a lista de afazeres. Era uma forma de esquecer os problemas pessoais, ignorar os falatórios, olhares velados, e ser útil ao reino naquele momento delicado.
Benji, o mordomo, estava atento, pronto para atender às necessidades da jovem rainha e responder suas dúvidas. Selene segurava a lista com delicadeza, enquanto Patry permanecia ao seu lado em silêncio, aguardando os pedidos de sua senhora.
Enquanto discutiam os detalhes a respeito do estoque de grãos e carnes – que Benji assinalou serem para o inverno, mas Selene sabia que o motivo era a preocupação com o retorno da guerra -, o pajem de Cedric entrou apressadamente no escritório.
O jovem de cerca de quinze primavera se curvou respeitosamente diante das três figuras presentes, mantendo a cabeça baixa
Chegando ao topo, Cedric a pousou no chão e em um instante uma sombra saiu do peito dele, indo pousar no ombro de Selene.— Amorzinho! — o corvo soltou afagando o rosto dela com a cabeça.— Aodh...! — murmurou olhando impressionada para a ave. — É através dele que consegue as asas?Cedric confirmou, estendendo a mão para ela.— A Montanha do Corvo abriga vários espécimes carregados de magia e poder, principalmente corvos, e é costume em minha família o rei conectar seu centro elemental a de um deles — iniciou entrelaçando seus dedos e levando-a para o local que desejava.— O que significa conectar o centro elemental?— Meu centro elemental e o de Aodh são um, batendo na mesma sintonia e dividindo o mesmo poder. — Analisou o corvo mexendo suavemente nos fios loiro-platinados, como uma carícia
Contando com as demonstrações de Cedric de que estavam a caminho de uma relação em que era vista como pessoa, e não a extensão da perversidade feita contra o povo de Eszter, Selene afastou o temor de que a qualquer momento seria novamente rejeitada por ele.— Cedric, porque o reino segue o formato da Constelação Corvus? — perguntou para tirá-lo do transe, corando ao perceber que talvez chama-lo de forma ínttima naquele momento não seria o ideal. — Quer dizer... Rei Cedric... É que percebo que Eszter tem muitas conexões com corvos, então pensei...Inclinando-se, Cedric a interrompeu tomando os lábios dela com os seus em um beijo amoroso. Ao erguer o rosto, o brilho vermelho tinha se extinguido e um suave sorriso enfeitava sua boca.— Gosto que me chame de Cedric — disse esfregando o nariz contra o dela devagar, a respiraç&a
Compartilhando o lanche, rindo e conversando, Selene e Cedric só notaram o passar das horas quando o céu adquiriu tonalidade alaranjada, indicando que o entardecer se iniciava. Estavam prestes a ir embora quando Selene, dando uma última olhada para a paisagem, viu uma bela flor de largas pétalas alaranjadas, quase âmbar, desabrochando no penhasco não muito longe.— Que linda! — exclamou gostando muito das cores por lhe causar uma sensação de familiaridade. Os olhos de sua mãe tinha exatamente aquela cor.Percebendo seu fascínio pelo lírio e sabendo que devia muito a ela, pois o tinha curado de um ferimento grave, Cedric tirou a capa e pousou a cesta no chão.— O que foi? — Selene questionou estranhando seu comportamento.— Fique bem aqui — pediu dando um beijo rápido nos lábios dela antes de se encaminhar para o penhasco.
E não era nada boa a notícia. As notícias fizeram Cedric, chamar Ayala, Tristan e Gael ao salão do trono.Assim que os dois chegaram, Kinur, diferente do que fez na presença de Selene, informou o que havia no bilhete deixado na muralha.— As plantações de trigo que ficam no sudeste foram devastadas por Ogros e goblins. O povo que habita aquela parte sofreu grandes perdas, além dos grãos, aldeões foram sequestrados e mortos, moradias e até o Lar da Fé foram demolidos e queimados.— Os selos não funcionaram — Ayala soltou entredentes, aborrecida por não ter recebido nenhum alerta.Tinha enviado aprendizes para cobrir cada canto do reino, colocar selos que envolveriam Eszter e alertariam intrusos. Porém, para que um ataque de tamanha magnitude ocorresse, significava que um ser poderoso corrompeu a magia protetiva. Também havia out
Retornando do treino, Selene foi abordada por Tristan. O brindou com um largo sorriso, mas logo sua alegria diminuiu ao notar a expressão carregada de preocupação do amigo.— Selene, precisa arrumar algumas peças de roupas para viajar ao sudeste do reino — Tristan indicou acompanhando-a em direção as suas acomodações. — A carruagem real foi preparada para atendê-la. Assim que estiver pronta, partiremos.— Sairemos em comitiva? — Selene questionou empolgada, apesar da tensão do amigo. Cada saída após meses confinada a fortaleza e anos trancada em Magdala a agradava.— É uma inspeção. Tivemos alguns problemas nessa parte do reino que requerem a atenção do Rei — Tristan contou, ocultando a verdade para não preocupar Selene. — Ele foi na frente e me pediu para acompanha-la até lá.
Desistir de seguir de carruagem, optando por ir a cavalo, mostrou-se a melhor decisão para Tristan e Selene. O percurso lento em direção ao sudeste tornou-se muito mais rápido.Logo atrás Kinur não os perdia de vista. Não tanto para proteger Selene, mas para garantir que a pequena traidora e seu protetor não fugissem em busca de se aliar ao inimigo. Não confiava na princesa e, pensando em todas as vezes que viu Tristan do lado dela, acreditava ainda menos na fidelidade do capitão da guarda real que dizia ser melhor amigo do Rei, mas vivia as voltas com a mulher do outro.~*~Desde que pisou na região cercada por criaturas, mesmo sem a habitual presença do corvo do seu lado, com sua grande força e magia flamejante, Cedric destruiu cada um dos seres que tomaram a área em apenas alguns dias. Porém, outras criaturas mais ladinas e traiçoeiras, sabendo que
Nem a distância era capaz de apagar seu desejo. O que era estranho para Cedric. Chegava há culpar o tempo sem uma mulher em seus braços, devido justamente ao casamento político que aceitou. Mas, no fundo, percebia que havia algo mais, que Selene despertava bem mais que só desejo carnal. Isso o preocupava e o fazia desistir de seduzi-la, mas não era do tipo que fugia a um desafio, ainda mais um que incluía os mais doces beijos, o toque suave e o perfume que o inebriava.— Amorzinho. Aodh amorzinho — Aodh disse ao seu lado, fazendo Cedric, erguer o olhar do mapa que marcava com as últimas informações sobre o território.Estando sozinho com a ave, Cedric se permitiu sorrir para o corvo pousado na cadeira. Desde a noite anterior o corvo aparecia no acampamento, um sinal claro que Selene estava cada vez mais perto.— Sinto falta da Selene. — Acariciou o topo da cabe&cc
Inspirou fundo, ainda tinha de arrumar suas coisas e planejar um modo de ir até Selene para manda-la em segurança de volta ao palácio. Havia muito a se fazer antes que retornasse para o palácio e temia deixar Selene exposta a perigos na estrada. Com traidores soltos por suas terras, todo cuidado era essencial. No fim, a ideia de Gael se mostrou um erro, lamentou.Parou de andar e deu meia volta, caminhando a passos largos em direção à cabana em que lidava com os assuntos da inspeção e proteção do reino.— Algo errado, Majestade? — Beltran questionou preocupado com a mudança de rumo.— Enviarei Aodh com uma mensagem para a comitiva trazendo a minha esposa. Ela tem de voltar para a fortaleza.Um grito que haviam dois cavaleiros se aproximando velozmente fez Cedric e Beltran se adiantarem até as novas cercas, os olhos atentos e o corpo pronto para bat