Sentindo como sua a dor que consumia Selene após a perda do pai, Cedric a estreitou em seus braços com ternura. Compreendendo que ela se sentia mal por causa do pai, pousou um beijo na testa dela com carinho, fechando as asas negras, obtidas através da conexão de almas com Aodh, em torno deles, aquecendo-a. — Meu amor, sinto muito! O Per... — cortou a fala antes de mencionar o título infame dado ao rei de Magdala. Ficou incerto do que dizer para amenizar a dor dela. Dizer que Phelix merecia o fim que teve de certo não era opção. — Sinto muito — repetiu deslizando os dedos pelos fios loiro-platinados. O pai de Selene tinha sido dominado pela maldade e ganância, não respeitava nada e ninguém. Duvidava que ainda tivesse um coração que se importasse por alguém, mesmo que esse alguém fosse a própria e única filha. A prova foi tê-la dado ao inimigo – ele – e reiniciado a guerra sem se preocupar com a segurança dela. No entanto, nada disso importava para Selene. Ela amava o pai, independent
Da janela de seu escritório, em que cuidava dos assuntos do palácio, Selene fazia uma pausa para observar com admiração e preocupação o treinamento dos filhos no pátio. Aurora e Maddox, de quinze anos, eram instruídos por Ayala, Tristan e Cedric no manejo de magia ao utilizar a espada. Cada um lidando com as instruções de seu modo. — Vamos lá, Aurora, mostre toda sua força — comandou Cedric incentivando a herdeira. — Maddox, melhore a posição dos pés e não a deixe ganhar terreno. Aurora, a primogênita por sete minutos de diferença ao nascer, demonstrava destemor e agilidade nos movimentos, a trança negra balançando conforme se esquivava dos ataques de Maddox, atenta a cada recomendação. Os olhos azuis antecipavam cada movimento, barrando-os com a espada, em que feixes de azul e vermelho circulavam no aço. — Tem que aumentar a magia de fogo no ataque e usar a lunar só para a sua proteção, Maddox — a feiticeira indicou observando-o a magia irradiada pelo jovem príncipe. Diferente da
A pedra da lua reluzia na palma de Selene, um brilho opaco e sem a magia que o Rei Phelix Völun de Magdala, seu pai, exigia. Furioso, ele chutou as costas da jovem com tamanha força que a lançou ao chão. Selene não emitiu nenhum som apesar da dor. Sabia que se gritasse ou mesmo gemesse ele a espancaria. — Não passa de uma inútil — ele bradou queixando-se: — Não herdou nem mesmo uma fagulha da magia de Myra. Alto e imponente, seus olhos azuis enevoados lançavam desaprovação e desdém a filha. O longo e liso cabelo loiro caía graciosamente em seus ombros, a aura purpúrea emanando dos fios destacando a natureza sombria de sua magia. — Selene é uma vergonha para Magdala — Phelix indicou para Mamba, seu maior aliado, parado poucos passos atrás dele. O poderoso feiticeiro, esguio e astuto, envolto em vestes brancas e azul royal, cores de Magdala, observava Selene com os frios olhos alaranjados carregados do mesmo brilho sombrio do rei. — Existe magia na princesa. Posso sentir a mesma ess
O quarto de Selene situado no topo da segunda torre de Magdala era um espaço pequeno e escuro, com uma única cama e uma latrina. Um feixe de luz fraca entrava pela única e diminuta janela, e as paredes de pedra fria pareciam fechar-se sobre ela tornando o lugar semelhante a uma cela. O que de fato era para Selene. A cama era rígida, coberta por lençóis desgastados, testemunhas dos anos de confinamento carregados de lágrimas. Tendo revirado na cama por horas e dormido só de madrugada, por causa de outra torturante tentativa de seu pai e de Mamba de obter magia lunar, despertou com o chiado de abertura, algo que sempre a preparava para o horror e repreensões diárias. Gemendo, por causa das dores que cortavam seu corpo, devido os golpes da noite anterior, sentou e passou os dedos pelos fios loiro-platinados de seu cabelo, esperando que assim tivesse uma aparência no mínimo digna para recebê-lo. Preparou-se para mais um dia de dor e sofrimento, mas algo parecia diferente. O rei Phelix e
Selene não esperava uma grande recepção em sua chegada, mas a falta de pessoas no dia de seu casamento e a frieza que a cercava era angustiante. O sacerdote começou a cerimônia, pronunciando palavras vazias em um pacto frágil. O homem ao seu lado, recebendo com ela a benção matrimonial aumentava seu receio. O pai estava louco se achava que teria qualquer chance contra o cavaleiro alto e musculoso para o qual ele a entregou em casamento. Quando Cedric entrou na capela, estranhamente Selene sentiu o coração disparar e um frio na barriga ao erguer os olhos para o rosto másculo. Ele tinha profundos olhos pretos, cabelo escuro e a pele bronzeada, como se passasse cada hora do dia sendo beijada pelo sol. Uma beleza alta, selvagem e fria, foi como sua mente o descreveu conforme ele caminhava com a expressão fechada na direção dela e do sacerdote. Inimigos de guerra unidos em matrimônio, forçados a isso em um acordo tão frágil quanto um dente-de-leão ao vento. Assim foi o matrimônio de Sel
Deixando evidente o quanto a desprezava e a queria distante de si, Cedric, a enviou para a ala oposta a que ocupava. Meses se passaram em que Selene via o “marido” somente à distância e nenhuma palavra era trocada entre eles. Passado o medo, quando dois guardas agarraram seus braços e a forçaram a ir para um quarto aconchegante na ala oposta a do rei, Selene ficou confusa, mas feliz por ter seu próprio canto, por poder ficar em um ambiente tranquilo, sem agressões e ameaças. Dias depois foi informada que teria algumas aulas com Ayala Trever, a maga poderosa de Eszter conhecida como Feiticeira Dourada. As aulas incluiriam aprender a ser uma boa rainha para Eszter e a usar magia. Relutantemente, mas sem escolha a não ser obedecer, aceitou e deu início a uma vida praticamente solitária. Cuidavam da ala quando estava nas aulas, limpando e deixando comida a sua espera, mas quando retornava ficava completamente sozinha, as refeições frias e o ambiente silencioso. Ainda assim, era melhor qu
Mantendo o corpo inconsciente de Selene junto ao seu, Cedric, seguiu em direção à ala médica da fortaleza. Ao pousar, a magia alada se desconectou de seu corpo voando de volta para as acomodações reais. De imediato foi cercado por alguns de seus homens e aldeões curiosos com o corpo que carregava ensanguentado em seus braços. Não dando atenção as indagações, com o coração acelerado, correu para dentro da propriedade até passar pelas portas de madeira do cômodo ocupado pelo médico de Eszter. — Majestade...! Colocou Selene na cama mais próxima e ordenou imperioso: — Salve-a! O idoso chamou sua equipe para atender a esposa de seu rei, ainda sem compreender como ela acabou naquela situação, com o pequeno corpo minando sangue. Cedric deixou a equipe médica cuidando de Selene e foi ao encontro de três cavaleiros que o seguiram, preocupados com a possibilidade de o rei estar ferido. — No jardim do sul deixei um homem amarrado. Peguem-no e levem para o calabouço para ser interrogado — co
Forçando as pálpebras a se abrirem, Selene observou um teto branco por um segundo, antes de uma dor aguda a fazer fecha-los com um gemido trêmulo. Seu corpo doía por inteiro. Ergueu um braço, para suavizar a luminosidade em seus olhos. Com a visão melhor, reparou nas ataduras cobrindo todo seu torso. Como um raio as lembranças do que aconteceu antes de desmaiar a atingiu. O empregado conjurando um portal; a fera esverdeada; o ataque feroz; a chegada de um ser alado, que logo soube se tratar de Cedric, junto com a certeza de que ele terminaria o serviço e a mataria como tentou no dia do casamento; o abrigo quente e reconfortante que encontrou nos braços dele. Confusa, fraca, com uma sensação pastosa na língua, e sentindo os braços e pernas pesando como chumbo, piscando observou o que a cercava. Estava em um quarto pequeno, com outras três camas, um armário com remédios e havia uma cadeira próxima a sua cama. Sentado na cadeira, em trajes elegantes e encarando-a com os profundos olho