O sol estava prestes a se recolher, pintando o céu de Eszter com tons de laranja e violeta quando Cedric, acompanhado por Tristan e Ayala, subiu até o topo da muralha. O ambiente estava tenso, como se o reino sentisse a proximidade da tormenta iminente.Ao alcançar o ponto mais alto, Cedric observou o horizonte, seus olhos varrendo a paisagem que se estendia além da muralha. A visão que se desdobrou diante dele deixou um amargo gosto de apreensão em sua boca.— O que significa isso? — questionou Cedric, franzindo a testa, com uma mistura de incredulidade e raiva, ao notar o emblema de Eszter nas roupas das pessoas do lado de fora, todas envoltas em um brilho púrpuro, sinal claro de influência de magia sombria.— Estão dominados pela mesma magia que cerca o Perverso — Ayala, com sua serenidade habitual, explicou olhando atentamente para as pessoas, reconhecendo os rostos de alguns de seus aprendizes.De entre a multidão, um homem se destacou ao aproximou-se, posicionando-se a frente do
Myra, sua mãe, a rainha que partiu deste mundo devido às artimanhas de Mamba, apresentava-se diante de Selene com uma serenidade celestial. Os olhos âmbar irradiavam amor infinito e sua boca moldava-se em um sorriso carinhoso para a filha.— Minha anjinha, esperei tanto tempo pela oportunidade de te novamente em meus braços, mesmo que breve — Myra disse usando emocionada o apelido que deu a jovem na infância. — A visitava em seus sonhos, mas ali não podia tocá-la nem abraçá-la — declarou puxando Selene para junto a si, os dedos acariciando os fios macios do cabelo da filha.— Estou em um sonho? — Selene questionou erguendo o rosto, nos olhos o brilho da confusão em ver sua mãe e das lágrimas carregadas de emoção.Sorrindo gentil, Myra balançou a cabeça em negativa.— Aqui é um pedaço do paraíso antes do portal da reencarnação. É o local em que todos os que encerram seu ciclo de vida esperam para ter sua oportunidade de reencarnação. Daqui seguem para uma nova chance, ou ficam para cui
A quietude do quarto real foi rompida pelo lento despertar de Selene. Seus olhos azuis, antes cerrados em um sono profundo, começaram a piscar lentamente, absorvendo a luz suave iluminando o quarto.Mesmo fraca e ainda sonolenta, sua mente recordou cada momento que passou ao lado da mãe. Seria um sonho? Ou foi real? Esteve de fato com Myra em um plano espiritual e descobriu o passado perturbador que explicava o ódio de Mamba por ela e seus pais?Conseguia sentir a fragrância de flores, o calor do abraço de sua mãe, a esperança por justiça luzindo nos olhos de um âmbar profundo dos elfos do clã da cachoeira de Magdala, mortos pela ambição vingativa de Mamba. Tinha de ser real.Apertou os dedos, sentindo a maciez do cobertor de lã de cordeiro em uma palma, e a calidez de uma mão grande e com calos na outra. Moveu o olhar para o lado, encontrando Cedric adormecido em uma poltrona próxima, o braço estendido sobre a cama, à mão aberta abaixo da sua.— Cedric... — murmurou sentindo a gargan
Tendo passado tanto tempo com o corpo lutando contra a magia criada por Mamba, Selene se recuperou dos efeitos mortais, mas ainda estava muito fraca e logo adormeceu nos braços de Cedric.Deixando-a dormindo serenamente no leito, com Aodh velando seu sono, Cedric pediu para Patry observar Selene, atendendo-a quando acordasse novamente, e seguiu para a sala do trono. Lá, como ocorria todos os dias, estavam reunidos à feiticeira Ayala Trever, Gael e Tristan, trabalhando incansavelmente para encontrar um modo de reverter à magia que controlava vários esztianos contra a fortaleza.Mudando o foco dos mapas estendidos sobre a mesa central, marcados por estratégias e possíveis pontos de confronto, os três maiores aliados de Cedric Darkv, o Rei Corvo, silenciaram assim que ele exigiu atenção.— Selene despertou — informou, acrescentando o que escutou da esposa: — E diz que encontrou sua mãe e o clã da qual ela fazia parte no plano espiritual. E garante que todos foram mortos por Mamba, o feit
A ordem imperativa de Cedric ecoou na sala do trono como um trovão. O Rei Corvo encarava o estrategista com ferocidade, a ira pronta para se manifestar em uma tempestade afiada através de sua espada.Ayala tentou intervir antes que a situação escalasse para uma tragédia.— Cedric, a emoção jamais deve ceder espaço à razão em tempos de guerra...— Não me venha com sermões, Ayala — Cedric a interrompeu brusco, sem retirar os olhos flamejantes dos frios castanhos do estrategista. — Retire o que disse — repetiu imperativo.— O que eu quis dizer é que proteger uma única pessoa, em detrimento de várias, é tolice — Gael corrigiu. — Precisamos focar no que é prático e eficiente. Proteger uma única vida, por mais importante que seja para vossa majestade, pode custar à de muitos outros — argumentou sem demonstrar medo diante da espada apontada para si.— Selene me salvou mais de uma vez. Sem ela, eu não estaria aqui — Cedric rebateu, sentindo a raiva borbulhar dentro de si. — Ela é minha esposa
Recordando o encontro, mesmo após horas de ter despertado, Selene ainda conseguia ouvir o som dos pássaros e da cachoeira, sentir os carinhos ede sua mãe em seu cabelo e o perfume floral.Levou a mão ao peito, sentindo as batidas cadenciadas, um sentimento de reconhecimento e amor brilhando em seu centro elemental. Precisava encontrar um modo de lidar com sua magia, despertá-la conscientemente e cumprir a promessa que fez a Myra e aos demais elfos mortos por Mamba.Com os olhos úmidos fixando-se no teto, recordou a dor da perda de sua mãe e tudo pelo que passou após aquele dia por causa da obsessão de Mamba.Agora compreendia os motivos de seu pai ser perverso com ela, causado a morte da esposa sem piedade, sem lembrar os anos de amor e felicidade passados ao lado dela. Era óbvio que, na busca incansável por vingança, Mamba causou o rompimento de pai e filha, mandando-o tranca-la na torre mais alta de Magdala e insistir que praticasse para absorver a magia lunar. Também era evidente q
Na tarde do dia seguinte, colocando em ação seu plano para tirar de Cedric o peso da promessa matrimonial, Gael levou as mãos do rei uma petição, exigindo que ele tomasse a filha de outro nobre como esposa e rainha. Juntamente com a petição, deu início a uma reunião extraordinário, o tema sendo o casamento entre Cedric e Selene. Pediam o cancelamento da união e um novo casamento, dessa vez com uma jovem de Eszter ou de algum reino amigo.O estrategista tinha passado a tarde e noite anterior falando com vários nobres, dos que cuidavam dos feudos principais, até dos vassalos inferiores, mas com algum poder de decisão, elaborando a petição e incluindo nele nomes de jovens para eleição do rei.Sentado em seu trono no salão real, com Aodh acomodado no encosto acima de sua cabeça, Cedric observava todos com aborrecimento, achando-os incoerentes e desnecessários em seus pedidos, pois, se não fosse por Selene, estaria morto ou dominado por magia sombria que o faria entregar todo o território
O Cedric teria recusado diretamente, deixado explodir as chamas queimando em seu centro elemental, mas com uma guerra literalmente batendo em seus portões, como indicou Ayala, não poderia ofender os nobres. Agir estrategicamente, com frieza e razão era a única opção.— Tirarei um tempo para pensar nisso — soltou apático. — Por enquanto, desejem que minha atual e única esposa, Selene, venha a conceber o herdeiro que tanto desejam para me substituir em breve, pelo que posso perceber a partir de seus clamores — disse sarcástico e com evidente aborrecimento.Os nobres notaram o desagrado na voz do rei, mas mantinham a esperança de que ele faria o que desejavam, casar com uma princesa adequada para substituir a filha do inimigo que ameaçava suas vidas.Dando a reunião por encerrada, Cedric ergueu-se do trono.Ocupada em mandar o líquido dos painéis de reunião de volta aos potes de magia, Ayala Trever fez um gesto para Tristan seguir o rei, que seguia a passos largos e pesados em direção ao