Um homem robusto com diversas cicatrizes por todo o rosto, de roupas esfrangalhadas olhava-me fixamente, de repente sinto algo emaranhado em meus pés, olhando para baixo vejo raízes brilhantes que aos poucos tomam conta de boa parte do meu corpo, e mesmo tentando retirá-las vejo que o esforço é inútil, me sinto tomada cada vez mais envolta por seu brilho e uma sensação de tranquilidade se instala por mim, fecho os olhos antes de ser coberta por completo, logo após sinto todas as raízes se desfazendo ao meu redor, retomo a visão e estou em um bosque, ou algum tipo de floresta, casas e mais casas podem ser vistas, uma redoma evolve toda a aparente cidade, ando alguns metros tentando entender o que está acontecendo e como cheguei ali, associo imediatamente toda essa situação ao meu visitante indesejado, mas não faz sentido, aliás não faz sentido alguma aquelas raízes em plena cidade também, nada tem o mínimo de nexo, até que um garoto alto e forte se aproxima de mim com um sorriso no rosto.
— Olá, vejo que pela sua cara o Arthur tem dedos nisso, vista isso, não deve ser muito agradável ficar nessa condição, não se assuste, ele adora fazer isso, mas nunca trouxe uma humana até nós, exceto por você claramente, não tema, de nenhuma forma faremos mal algum a você. — Disse ainda sorrindo, visto as roupas que me entregou rapidamente, não estava crendo no que meus olhos viam, o garoto a minha frente era exatamente igual ao elfo do livro que havia ganhando de vovô, mesmas orelhas pontudas, pele bronzeada, ornamentos prateados dentre outras coisas, mal conseguia me mexer ou assimilar tudo que estava acontecendo, as palavras simplesmente não saiam de minha boca, somente um silêncio ensurdecedor.
— Venha, vou te mostrar a cidade antes que o Arthur te transporte novamente. — Mais uma vez uma chama verde se faz no ar, dessa vez se direcionando a mim, ela queima sobre meu peito e recobro meus sentidos, sigo atrás dele pois de alguma forma sei que não tenho escolha.
— Onde estamos? — Arrisco a lhe dirigir a palavra.
— Elphia.
— Impossível. — Dou uma risada incrédula.
— Olhe a sua volta e tire suas próprias conclusões. — Diz sem paciência.
— Elphia não existe, não pode existir, é um lugar fictício, fantasiado, irreal.
— Isso parece fictício para você? — Observo crianças brincando a beira de uma fonte, situada no exato meio da cidade, as luzes artificiais não exitem aqui, vagalumes iluminam todos os locais com seu brilho, um animalzinho que não sou capaz de reconhecer foge de seu dono pela rua, a água é límpida e o ar mais puro, as cores são vívidas, exatamente iguais a de Elphia no livro, algo impossível, não havia possibilidades disso ser real.
— Vejo que está espantada, não deveria, provavelmente já conhece muito mais daqui do que alguns nativos.
— Como? Como é possível?
— Faça uma pergunta melhor, por que seria impossível?
— Ninguém nunca... - Ele me interrompe.
— Nunca nos viu? — Sua risada ecoa pela praça — Muitos já nos viram, em tempo algum vieram aqui em nossa casa, mas sim em florestas, cuidando de animais, resgatando algum dos nossos, porém nunca acreditaram, os humanos são seres céticos, não acreditam em nada que não possam compreender, sentem medo de nós quando eles próprios ameaçam nosso planeta e sua própria espécie, seria muito mais fácil um humano atacar a outro do que um elfo atacar um humano, mas eles não vêem assim, para eles somos aberrações que não merecem o direito a existência. — Fico sem reação a tais palavras, e sinto novamente a sensação de tranquilidade invadindo meu corpo, iminentemente as raízes se envolvem em mim. Acordo ao som do despertador me avisando que seis da manhã já chegou e tenho que levantar se não quiser me atrasar para mais um dia de trabalho, lembro de tudo que aconteceu, mas uma dúvida paira em minha mente, sonho ou realidade? Resolvo não dar muita importância ao assunto no momento, aliás se chegar atrasada mais uma vez na lanchonete George me demitirá de bom grado, e ainda preciso do dinheiro deste trabalho.
— Está cinco minutos atrasada senhorita Davis.
— George são cinco minutos, e você nem abriu ainda.
— Saiba que vou descontar do seu pagamento. — Esse é o babaca do meu chefe, mas não vou perder meu tempo tendo raiva dele, sinto pena por ele ser tão amargurado ao ponto de fazer da vida de seus funcionários um inferno.
A medida que o tempo passa começo a pensar mais e mais na noite passada, estou completamente intrigada e decidida a descobrir o que aconteceu, tenho certeza que vovô tem uma explicação para isso, mesmo cogitando a possibilidade de aquilo realmente ter acontecido acredito que tenha sido um sonho, afinal o meu querido Arwen insistiu durante toda a ligação de ontem que esse mundo era real, meu subconsciente deve ter o levado a sério. O dia passa depressa, mal vejo a hora de estar em casa, e quando digo casa me refiro a onde cresci, Chicago, com meu avô e mamãe, finalmente depois de alguns meses os verei novamente. Minhas horas de trabalho finalmente acabam e a viagem começa, setecentos e noventa milhas, o que resultam em longas doze horas de viagem, que consequentemente me farão parar para dormir em algum hotel vinte e quatro horas no meio da madrugada, a noite já vai cair e o crepúsculo já está no horizonte, ligo o rádio do carro e sintonizo em um música calma, o silêncio de viajar sozinha me incomoda, me faz pensar de mais, e me faz ficar cada vez mais curiosa se assim posso dizer por saber o que houve ontem, preciso de respostas.
A estrada está tranquila sem muita movimentação o que não era esperado para uma sexta a noite, mas agradeço internamente, ao menos não terei que lidar com motoristas embriagados e apressados, depois de algum tempo passo por um hotel mas ainda é cedo para parar, continuo dirigindo mais um pouco e quando vejo o relógio marca duas da manhã, meus olhos estão quase se fechando involuntariamente então decido que é melhor estacionar, por não ter visto nenhum hotel durante horas acho prudente dormir em meu carro e não correr o risco de algum acidente. Encosto no gramado e durmo serenamente. Acordo horas depois assustada com sons de batidas no vidro, olho para o lado e imediatamente solto um grito, um ser com asas e uma aparência fantasmagórica me olha sorrindo malévolamente, passando suas garras afiadas pela porta.
𝘌𝘴𝘵𝘦𝘭𝘭𝘢Acordo desorientada, uma dor aguda lateja em minha cabeça, abro os olhos examinando meu corpo e o local ao redor, não me lembro de absolutamente nada, minha mente é uma completa escuridão, levanto-me da espécie de cama onde estou e quase desabo no chão, minhas pernas estão fracas, ao que parece estou deitada e desacordada a algum tempo. Ando lentamente até uma das portas e para minha surpresa está destrancada, passo por ela me deparando com um extenso corredor, tento me recordar de onde estou e de como cheguei aqui, mas novamente minhas memórias parecem um completo vazio, sigo em frente tentando achar uma saída, as janelas mostram-me que é noite, a luz do luar as atravessa fazendo com que eu enxergue ao menos dois metros a frente, vejo alguns corpos ao chão, ao que me parecem jovens, alguns com minha idade ou até menos, me pergunto o que aconteceu nesse local, chego mais perto dos cadáveres e algo me intriga, há cortes profundos na garganta de cada um, mas não a
— Nós? — Khione e eu rimos de sua afirmação.— Isso não tem a menor possibilidade de ser verdade, sabe disso não é mesmo?— Concordo com ela, você mesmo disse que o Arthur nunca havia levado uma humana em seu reino, exceto por mim.— Estella você não sabe ao menos de onde veio, como pode dizer que certamente não é uma de nós? Já você Khione, eu estava certo o Arthur nunca levou humanos até nosso reino, e pelo visto não começou com essa prática, sinto muito você não é da espécie que pensa.— Sinto lhe informar meu querido amigo de orelhas pontudas mas você está enganado.— Não confiam na minha palavra, isso era de se esperar, infelizmente não posso provar a vocês já que a base de informações de Elphia só registra os nascimentos nos seis reinos.— Muito convincente. — Digo debochando da situação.— Detesto ter que atrapalhar a conversa de vocês, mas chegamos a Cleveland, e já que nenhuma de vocês tem um celular, ali na frente podem usar a cabi
— Sem exageros Demir.— Arwen você conheceu a minha mãe, quando ela ainda estava grávida de mim.— De fato, mas Demir, já que estava com elas por que não as levou para a minha casa de uma vez?— Você me fez de guardião da Khione desde que ela nasceu, acha mesmo que eu iria deixá-la levar uma mulher desconhecida, que por acaso estava na floresta no meio da madrugada fugindo de um demônio para a casa de vocês? — Confesso, me senti ligeiramente ofendida.— Um motivo plausível.— Um instante, como se já não fosse suficiente vocês se conhecerem, o Demir foi feito meu guardião assim que nasci? Você tem muito a me explicar Arwen, muito.— Eu sempre disse para ele te contar, mas nunca me ouviu por ser esse ser extremamente teimoso.— Podemos viajar em silêncio? Quando chegarmos a Chicago explicarei tudo a você Khione.Estou começando a suspeitar que a minha companheira sabe tanto dela quanto eu sei sobre mim.O restante da vi
KhioneMeu coração palpitava cada vez mais rápido, a cada batida na porta, e em um piscar de olhos ela veio ao chão, dei um passo para trás recuando, procurando alguma possível saída.— Vocês teriam me poupado trabalho se tivessem aberto a primeira batida. — A voz feminina soava familiar, porém ainda não conseguia destinguir seus traços da escuridão noturna, até que um feixe de luar atingiu seu rosto, revelando sua identidade.— Você! Quase nós matou de susto, como se já não bastasse tudo que aconteceu hoje.— Como eu disse, poderiam simplesmente ter aberto a porta.— Você está ciente de tudo que houve? O Demir, Arwen? — Estella esbraveja as palavras.— Uma pergunta melhor a fazer, como nos encontrou? — Ela me olha com desprezo, como se acabasse de perguntar a coisa mais estúpida que já tivesse ouvido em toda sua vida. Ainda não consigo acreditar como em quarenta e oito horas descobri que meu avô não me contou a real verdade sobre nossa família, o
Adentro os portões avistando a bela e luminosa cidade, observo cada detalhe, as grandes construções. Uma estátua gigantesca encontra-se ao lado de uma escola, ou o que imagino ser uma, chego mais perto e vejo o nome Áster escrito em letras maiúsculas, passo minhas mãos pela estátua e sinto algo inexplicáveis, um aperto se instala em meu peito, como se soubesse quem ela é, apoio minha cabeça no topo dela e ouço uma voz chamar.— Uriel, procure Uriel. — Olho para trás mas nada encontro, vejo ao redor mas ainda assim não existe ninguém ali, e por algum motivo esse nome me soa familiar. Sigo até um dos anjos mais próximos, talvez Uriel seja um dos anjos deste lugar.— Emanuel? — Pergunto sem muita certeza, mas é o nome estampado em seu crachá - Acredito que seja um crachá.— Em que posso lhe ajudar? — Diz com um sorriso terno.— Uriel, ele é daqui? — Rapidamente seu sorriso se desfaz e um semblante sério toma conta.— Uriel? Os céus abrigam muitos anjos, se
— Então com toda certeza temos que sair daqui nesse instante, ou aqueles lindos querubins ali vão acabar com a nossa existência. — Estella disse apontando para minhas costas.— Definitivamente é uma ótima ideia.— Prontas para o teletransporte? Pode ser meio diferente, aqui não tem muita energia, então não consigo nos teletransportar para muito longe.— Dá pra não explicar isso agora? Só tire a gente daqui. — Digo apressada. Em momentos estamos a alguns quilômetros de toda aquela confusão.— Até quando você vai continuar assim? — Estella aponta para meu corpo de cima para baixo.— Espero que não muito.— Esperamos, você é alvo ambulância, esperando uma espada ser cravada no seu coração.— Obrigada, isso foi ótimo, totalmente reconfortante.— Sinto muito mas é a realidade, e temos que andar rápido, antes que eles nos alcancem, possuem asas, coisas que nós não temos. Onde a droga do Demir escondeu aquele maldito banker? — Disse esbraveja
— Não seria melhor irmos para o galpão de onde a Estella veio primeiro?— Está sugerindo que cometamos suicídio? Por que até onde eu sei nós não temos como nos defender dos demônios que possam haver lá, e se por algum acaso tivermos por sua parte, mesmo assim, você não sabe sequer atirar uma flecha flamejante, então não, não é melhor irmos até o covil dos demônios.— Mas você não é um demônio? Sua espécie deveria te acolher. — Digo e ela permanece em silêncio.— Elphia e por aqui, vamos.Árvores imensamente grandes ao nosso redor cobrem o luar, fazendo com que tudo seja escuro exceto pela luz que provoco, a qual agora já não é intensa, com o passar das horas grande parte do meu corpo perdeu suas chamas que se concentram nesse instante somente em minhas mãos e braços, toco uma árvore e minha mão a atravessa, deixando um círculo de fogo.— Teria como você não deixar rastros de para onde estamos indo Khione?— Ah, dá um tempo Psyche.— É sério?
Um guarda entre tantos outros parados nas extremidades da sala se dirige em nossa direção executando a ordem de sua rainha, nos tirando dali. Caminhamos pelo palacete, descendo escadas e entrando em corredores, até que por fim chegamos ao nosso aposento temporário, o soldado se retira ficando do lado de fora da porta. Não é tão grande quanto imaginava, mas é belo, uma grande janela está aberta dando vista para o magnífico reino, há uma cama abaixo dela e com toda certeza será a minha, um lustre pende sobre nossas cabeças e algumas velas aromáticas estão acesas, não posso negar que Kastian é dona de um gosto impecável. Achego-me ao peitoril da janela afim de observar melhor o reino, ou parte dele, a qual consigo ver. É lindo, incrível, da última vez que estive aqui havia visto o quão maravilhoso era mas agora vejo mais, vejo detalhes, os animais que correm pela floresta a luz dos vagalumes, um pequeno cervo bebendo água do córrego, corujas voando, uma borboleta que pousa na coluna ce