Capítulo Três

𝘌𝘴𝘵𝘦𝘭𝘭𝘢

Acordo desorientada, uma dor aguda lateja em minha cabeça, abro os olhos examinando meu corpo e o local ao redor, não me lembro de absolutamente nada, minha mente é uma completa escuridão, levanto-me da espécie de cama onde estou e quase desabo no chão, minhas pernas estão fracas, ao que parece estou deitada e desacordada a algum tempo. Ando lentamente até uma das portas e para minha surpresa está destrancada, passo por ela me deparando com um extenso corredor, tento me recordar de onde estou e de como cheguei aqui, mas novamente minhas memórias parecem um completo vazio, sigo em frente tentando achar uma saída, as janelas mostram-me que é noite, a luz do luar as atravessa fazendo com que eu enxergue ao menos dois metros a frente, vejo alguns corpos ao chão, ao que me parecem jovens, alguns com minha idade ou até menos, me pergunto o que aconteceu nesse local, chego mais perto dos cadáveres e algo me intriga, há cortes profundos na garganta de cada um, mas não algo que uma lâmina faria e sim garras bem afiadas, lobos poderiam facilmente ter causado isto mas provavelmente teriam dilacerado outras partes do corpo no processo, mas eles só possuem cortes na garganta, na artéria para ser mais exata, um ponto estratégico, o que quer que tenha os matado fez intensionalme e teve o cuidado de multilar onde sabia que seria fatal, eu poderia estar entre eles, vinte metros separam a vida da morte. Sigo em frente até uma espécie de pátio, estou cercada por arames que formam uma grade mas respiro ar puro, avisto um portão e corro até o mesmo mas um cadeados e correntes estão acoplados a ele, não há possibilidade de sair por aqui, inspeciono cada parte desta grade procurando alguma abertura e enfim encontro, ando até a direção do buraco aberto entre os arames quando escuto passos rápidos atrás de mim, viro a cabeça rapidamente vendo um vulto negro, corro o mais rápido que posso saindo deste lugar e adentrando a floresta a minha frente, ouço galhos sendo esmagados o que me faz saber que ele ainda está me seguindo, forço a visão para não me chocar contra as árvores e de repente sinto uma respiração ofegante em meu ombro, viro-me e para meu total espanto me deparo com uma mulher, grito, mas ela coloca sua mão sobre minha boca abafando o som e apontando para frente, lá está ele, vagando acredito que a nossa procura, seus olhos viram-se em nossa direção me fazendo sentir um calafrio na espinha, ficamos em total silêncio até que em um piscar de olhos aquele ser desaparece, no mesmo instante a mulher desconhecida corre em disparada puxando-me para que a seguisse, chegamos a estrada e a quietude que havia tido até este momento foi quebrada.

— O que estava aqui também se foi. - O nascer do sol estava próximo e a luz me deu uma visão de minha companheira, cabelos ruivos e sangue espalhado pelo corpo, alguns cortes e arranhões no rosto, sua estatura era alta, poderia dizer que ao menos vinte centímetros maior que a minha, olhos negros como a noite e uma feição preocupada.

— Você está bem? Aparentemente está bem machucada.

— A adrenalina ainda não me deixou sentir a dor que isso vai causar. — Disse apontando para o corpo.

— Como apareceu aqui? O que estava fazendo na floresta a está hora?

— Poderia lhe fazer as mesmas perguntas não acha? Mas isso foi resultado de uma viagem, estacionar no acostamento ao invés de descansar em um hotel não me parece uma boa ideia agora.

— Te atacaram? E esses cortes?

— Acordei com um daqueles que vimos na floresta quase arrancando a porta do meu carro, sai rapidamente do veículo mas aquele ser asqueroso conseguiu deixar marcas de sua passagem em mim. Mas como você estava na floresta? E como um deles também estava atrás de você?

— Estava em um lugar, algum tipo de galpão ou forte a alguns quilômetros daqui, despertei sem me lembrar de exatamente nada, como cheguei, ou onde estava, havia vários corpos lá também, jovens como eu que haviam sido visivelmente assassinados e algo me diz que possivelmente por uma ou mais daquelas coisas.

— Lembrasse ao menos do seu nome, ou onde mora?

— Estella, tudo que consigo lembrar e disso, me chamo Estella Warren, vinte anos. Sabe onde estamos?

— Khione Davis, e creio que estamos em algum lugar entre a Pensilvânia e Cleveland.

— Muito longe de onde você deveria estar?

— Cinco horas de onde eu deveria estar, mas isso definitivamente não é o que me preocupa, e sim o fato de não fazer ideia de onde meu carro está e pior ainda meu celular ter caído em algum lugar na floresta enquanto corria, não temos nenhum meio de comunicação nessa estrada aparentemente deserta.

— Só podemos fazer uma coisa, andar até a cidade mais próxima.

— Está certa, mas provavelmente temos trinta quilômetros ou mais a nossa frente, melhor começarmos depressa. — Começamos a caminhar e para nossa sorte o outono começou, então a falta de água não é um problema imediato, mas a exaustão física sim.

— O lugar onde estava. — Ela quebra o silêncio novamente. — Consegue ter uma ideia do que faziam lá? O objetivo de tantas pessoas?

— Algum tipo de experiência talvez, ou estavam procurando alguém, por uma razão fui poupada, devo significar algo importante para quem me capturou.

— Como sabes que foi capturada e não estava lá de livre e espontânea vontade?

— Se estivesse minha memória não teria sido aparentemente apagada. Não acha? 

— Certo, mas para onde pretende ir agora?

— Não tenho ideia, se estou desaparecida pessoas devem estar procurando por mim, uma família, amigos.

— Vai ser difícil achar um registro de desaparecida, aliás não sabemos de onde você veio, pode até ser de outro país, mas se for deste talvez meu querido Arwen possa te ajudar.

— O que é um Arwen? — Ela ri da minha pergunta como se fosse uma piada.

— Arwen é meu avô, a quem estava indo visitar.

— Ele é policial? 

— Não, porém tem mais registros sobre o que acontece nesse país que eles, e uma quantia de conhecimento consideravelmente maior.

— Bem, espero que ele saiba algo.

— Teremos que chegar até Chicago para descobrir. — Ela diz emudecendo novamente, nesse instante um veículo para ao nosso lado, um homem e uma mulher estavam em seu interior.

— O que fazem andando pela estrada? — A mulher nos indaga.

— Houve um acidente, perdi meu carro e celular, andar até a cidade mais próxima é a única opção. 

— Entrem, levaremos vocês. — Olho para Khione tentando desvendar suas expressões, certamente não devemos ir com eles, não os conhecemos, mas mesmo assim ela me puxa e abre a porta do carro, essa garota definitivamente deve estar meio atordoada pelos acontecimentos da noite, não é possível.

— Certeza que vamos entrar nesse carro com pessoas que não conhecemos? — Que fique claro, só estou cogitando a possibilidade de segui-la por que o avô dela pode me ajudar a descobrir de onde vim.

— Não temos nada a perder, temos?

— A vida?

— Confie em mim, eles não vão nos matar.

— Tudo bem. — Entro e sento ao seu lado ainda bem desconfiada.

— É bom te ver novamente. — O garoto se vira para ela.

— É bom te ver também, você não me disse seu nome da última vez. — Disse rindo.

— Demir.

— Acredito que já saiba o meu. 

— Se conhecem? — Digo espantada.

— Se te contar você não vai acreditar Estella. 

— Depois de ontem eu acredito em qualquer coisa. — Ela me conta a história de dois dias atrás, confesso que no início fiquei um pouco incrédula, mas ao relembrar da figura que nos perseguira comecei a acreditar em cada uma das partes. 

— Então você é um elfo? — Digo gaguejando.

— Sim. — Ele sorri.

— E ela? 

— Um demônio. — Diz como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Demônio? 

— Sim, mas não se preocupem, alguns deles não são asquerosos e repugnantes.

— Que elogio a minha espécie. — A mulher se pronuncia caindo em uma risada. 

— Vocês não deveriam aparecer somente em florestas ou desertos, lugares sem movimentação? — Khione pergunta confusa.

— Em teoria? Sim, mas quando um dos nossos precisa sempre nos prontificamos a ajudar.

— Quem dos seus está em perigo? — Ele ri da minha pergunta mas mesmo assim responde.

— Vocês.

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