𝘌𝘴𝘵𝘦𝘭𝘭𝘢
Acordo desorientada, uma dor aguda lateja em minha cabeça, abro os olhos examinando meu corpo e o local ao redor, não me lembro de absolutamente nada, minha mente é uma completa escuridão, levanto-me da espécie de cama onde estou e quase desabo no chão, minhas pernas estão fracas, ao que parece estou deitada e desacordada a algum tempo. Ando lentamente até uma das portas e para minha surpresa está destrancada, passo por ela me deparando com um extenso corredor, tento me recordar de onde estou e de como cheguei aqui, mas novamente minhas memórias parecem um completo vazio, sigo em frente tentando achar uma saída, as janelas mostram-me que é noite, a luz do luar as atravessa fazendo com que eu enxergue ao menos dois metros a frente, vejo alguns corpos ao chão, ao que me parecem jovens, alguns com minha idade ou até menos, me pergunto o que aconteceu nesse local, chego mais perto dos cadáveres e algo me intriga, há cortes profundos na garganta de cada um, mas não algo que uma lâmina faria e sim garras bem afiadas, lobos poderiam facilmente ter causado isto mas provavelmente teriam dilacerado outras partes do corpo no processo, mas eles só possuem cortes na garganta, na artéria para ser mais exata, um ponto estratégico, o que quer que tenha os matado fez intensionalme e teve o cuidado de multilar onde sabia que seria fatal, eu poderia estar entre eles, vinte metros separam a vida da morte. Sigo em frente até uma espécie de pátio, estou cercada por arames que formam uma grade mas respiro ar puro, avisto um portão e corro até o mesmo mas um cadeados e correntes estão acoplados a ele, não há possibilidade de sair por aqui, inspeciono cada parte desta grade procurando alguma abertura e enfim encontro, ando até a direção do buraco aberto entre os arames quando escuto passos rápidos atrás de mim, viro a cabeça rapidamente vendo um vulto negro, corro o mais rápido que posso saindo deste lugar e adentrando a floresta a minha frente, ouço galhos sendo esmagados o que me faz saber que ele ainda está me seguindo, forço a visão para não me chocar contra as árvores e de repente sinto uma respiração ofegante em meu ombro, viro-me e para meu total espanto me deparo com uma mulher, grito, mas ela coloca sua mão sobre minha boca abafando o som e apontando para frente, lá está ele, vagando acredito que a nossa procura, seus olhos viram-se em nossa direção me fazendo sentir um calafrio na espinha, ficamos em total silêncio até que em um piscar de olhos aquele ser desaparece, no mesmo instante a mulher desconhecida corre em disparada puxando-me para que a seguisse, chegamos a estrada e a quietude que havia tido até este momento foi quebrada.
— O que estava aqui também se foi. - O nascer do sol estava próximo e a luz me deu uma visão de minha companheira, cabelos ruivos e sangue espalhado pelo corpo, alguns cortes e arranhões no rosto, sua estatura era alta, poderia dizer que ao menos vinte centímetros maior que a minha, olhos negros como a noite e uma feição preocupada.
— Você está bem? Aparentemente está bem machucada.
— A adrenalina ainda não me deixou sentir a dor que isso vai causar. — Disse apontando para o corpo.
— Como apareceu aqui? O que estava fazendo na floresta a está hora?
— Poderia lhe fazer as mesmas perguntas não acha? Mas isso foi resultado de uma viagem, estacionar no acostamento ao invés de descansar em um hotel não me parece uma boa ideia agora.
— Te atacaram? E esses cortes?
— Acordei com um daqueles que vimos na floresta quase arrancando a porta do meu carro, sai rapidamente do veículo mas aquele ser asqueroso conseguiu deixar marcas de sua passagem em mim. Mas como você estava na floresta? E como um deles também estava atrás de você?
— Estava em um lugar, algum tipo de galpão ou forte a alguns quilômetros daqui, despertei sem me lembrar de exatamente nada, como cheguei, ou onde estava, havia vários corpos lá também, jovens como eu que haviam sido visivelmente assassinados e algo me diz que possivelmente por uma ou mais daquelas coisas.
— Lembrasse ao menos do seu nome, ou onde mora?
— Estella, tudo que consigo lembrar e disso, me chamo Estella Warren, vinte anos. Sabe onde estamos?
— Khione Davis, e creio que estamos em algum lugar entre a Pensilvânia e Cleveland.
— Muito longe de onde você deveria estar?
— Cinco horas de onde eu deveria estar, mas isso definitivamente não é o que me preocupa, e sim o fato de não fazer ideia de onde meu carro está e pior ainda meu celular ter caído em algum lugar na floresta enquanto corria, não temos nenhum meio de comunicação nessa estrada aparentemente deserta.
— Só podemos fazer uma coisa, andar até a cidade mais próxima.
— Está certa, mas provavelmente temos trinta quilômetros ou mais a nossa frente, melhor começarmos depressa. — Começamos a caminhar e para nossa sorte o outono começou, então a falta de água não é um problema imediato, mas a exaustão física sim.
— O lugar onde estava. — Ela quebra o silêncio novamente. — Consegue ter uma ideia do que faziam lá? O objetivo de tantas pessoas?
— Algum tipo de experiência talvez, ou estavam procurando alguém, por uma razão fui poupada, devo significar algo importante para quem me capturou.
— Como sabes que foi capturada e não estava lá de livre e espontânea vontade?
— Se estivesse minha memória não teria sido aparentemente apagada. Não acha?
— Certo, mas para onde pretende ir agora?
— Não tenho ideia, se estou desaparecida pessoas devem estar procurando por mim, uma família, amigos.
— Vai ser difícil achar um registro de desaparecida, aliás não sabemos de onde você veio, pode até ser de outro país, mas se for deste talvez meu querido Arwen possa te ajudar.
— O que é um Arwen? — Ela ri da minha pergunta como se fosse uma piada.
— Arwen é meu avô, a quem estava indo visitar.
— Ele é policial?
— Não, porém tem mais registros sobre o que acontece nesse país que eles, e uma quantia de conhecimento consideravelmente maior.
— Bem, espero que ele saiba algo.
— Teremos que chegar até Chicago para descobrir. — Ela diz emudecendo novamente, nesse instante um veículo para ao nosso lado, um homem e uma mulher estavam em seu interior.
— O que fazem andando pela estrada? — A mulher nos indaga.
— Houve um acidente, perdi meu carro e celular, andar até a cidade mais próxima é a única opção.
— Entrem, levaremos vocês. — Olho para Khione tentando desvendar suas expressões, certamente não devemos ir com eles, não os conhecemos, mas mesmo assim ela me puxa e abre a porta do carro, essa garota definitivamente deve estar meio atordoada pelos acontecimentos da noite, não é possível.
— Certeza que vamos entrar nesse carro com pessoas que não conhecemos? — Que fique claro, só estou cogitando a possibilidade de segui-la por que o avô dela pode me ajudar a descobrir de onde vim.
— Não temos nada a perder, temos?
— A vida?
— Confie em mim, eles não vão nos matar.
— Tudo bem. — Entro e sento ao seu lado ainda bem desconfiada.
— É bom te ver novamente. — O garoto se vira para ela.
— É bom te ver também, você não me disse seu nome da última vez. — Disse rindo.
— Demir.
— Acredito que já saiba o meu.
— Se conhecem? — Digo espantada.
— Se te contar você não vai acreditar Estella.
— Depois de ontem eu acredito em qualquer coisa. — Ela me conta a história de dois dias atrás, confesso que no início fiquei um pouco incrédula, mas ao relembrar da figura que nos perseguira comecei a acreditar em cada uma das partes.
— Então você é um elfo? — Digo gaguejando.
— Sim. — Ele sorri.
— E ela?
— Um demônio. — Diz como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Demônio?
— Sim, mas não se preocupem, alguns deles não são asquerosos e repugnantes.
— Que elogio a minha espécie. — A mulher se pronuncia caindo em uma risada.
— Vocês não deveriam aparecer somente em florestas ou desertos, lugares sem movimentação? — Khione pergunta confusa.
— Em teoria? Sim, mas quando um dos nossos precisa sempre nos prontificamos a ajudar.
— Quem dos seus está em perigo? — Ele ri da minha pergunta mas mesmo assim responde.
— Vocês.
— Nós? — Khione e eu rimos de sua afirmação.— Isso não tem a menor possibilidade de ser verdade, sabe disso não é mesmo?— Concordo com ela, você mesmo disse que o Arthur nunca havia levado uma humana em seu reino, exceto por mim.— Estella você não sabe ao menos de onde veio, como pode dizer que certamente não é uma de nós? Já você Khione, eu estava certo o Arthur nunca levou humanos até nosso reino, e pelo visto não começou com essa prática, sinto muito você não é da espécie que pensa.— Sinto lhe informar meu querido amigo de orelhas pontudas mas você está enganado.— Não confiam na minha palavra, isso era de se esperar, infelizmente não posso provar a vocês já que a base de informações de Elphia só registra os nascimentos nos seis reinos.— Muito convincente. — Digo debochando da situação.— Detesto ter que atrapalhar a conversa de vocês, mas chegamos a Cleveland, e já que nenhuma de vocês tem um celular, ali na frente podem usar a cabi
— Sem exageros Demir.— Arwen você conheceu a minha mãe, quando ela ainda estava grávida de mim.— De fato, mas Demir, já que estava com elas por que não as levou para a minha casa de uma vez?— Você me fez de guardião da Khione desde que ela nasceu, acha mesmo que eu iria deixá-la levar uma mulher desconhecida, que por acaso estava na floresta no meio da madrugada fugindo de um demônio para a casa de vocês? — Confesso, me senti ligeiramente ofendida.— Um motivo plausível.— Um instante, como se já não fosse suficiente vocês se conhecerem, o Demir foi feito meu guardião assim que nasci? Você tem muito a me explicar Arwen, muito.— Eu sempre disse para ele te contar, mas nunca me ouviu por ser esse ser extremamente teimoso.— Podemos viajar em silêncio? Quando chegarmos a Chicago explicarei tudo a você Khione.Estou começando a suspeitar que a minha companheira sabe tanto dela quanto eu sei sobre mim.O restante da vi
KhioneMeu coração palpitava cada vez mais rápido, a cada batida na porta, e em um piscar de olhos ela veio ao chão, dei um passo para trás recuando, procurando alguma possível saída.— Vocês teriam me poupado trabalho se tivessem aberto a primeira batida. — A voz feminina soava familiar, porém ainda não conseguia destinguir seus traços da escuridão noturna, até que um feixe de luar atingiu seu rosto, revelando sua identidade.— Você! Quase nós matou de susto, como se já não bastasse tudo que aconteceu hoje.— Como eu disse, poderiam simplesmente ter aberto a porta.— Você está ciente de tudo que houve? O Demir, Arwen? — Estella esbraveja as palavras.— Uma pergunta melhor a fazer, como nos encontrou? — Ela me olha com desprezo, como se acabasse de perguntar a coisa mais estúpida que já tivesse ouvido em toda sua vida. Ainda não consigo acreditar como em quarenta e oito horas descobri que meu avô não me contou a real verdade sobre nossa família, o
Adentro os portões avistando a bela e luminosa cidade, observo cada detalhe, as grandes construções. Uma estátua gigantesca encontra-se ao lado de uma escola, ou o que imagino ser uma, chego mais perto e vejo o nome Áster escrito em letras maiúsculas, passo minhas mãos pela estátua e sinto algo inexplicáveis, um aperto se instala em meu peito, como se soubesse quem ela é, apoio minha cabeça no topo dela e ouço uma voz chamar.— Uriel, procure Uriel. — Olho para trás mas nada encontro, vejo ao redor mas ainda assim não existe ninguém ali, e por algum motivo esse nome me soa familiar. Sigo até um dos anjos mais próximos, talvez Uriel seja um dos anjos deste lugar.— Emanuel? — Pergunto sem muita certeza, mas é o nome estampado em seu crachá - Acredito que seja um crachá.— Em que posso lhe ajudar? — Diz com um sorriso terno.— Uriel, ele é daqui? — Rapidamente seu sorriso se desfaz e um semblante sério toma conta.— Uriel? Os céus abrigam muitos anjos, se
— Então com toda certeza temos que sair daqui nesse instante, ou aqueles lindos querubins ali vão acabar com a nossa existência. — Estella disse apontando para minhas costas.— Definitivamente é uma ótima ideia.— Prontas para o teletransporte? Pode ser meio diferente, aqui não tem muita energia, então não consigo nos teletransportar para muito longe.— Dá pra não explicar isso agora? Só tire a gente daqui. — Digo apressada. Em momentos estamos a alguns quilômetros de toda aquela confusão.— Até quando você vai continuar assim? — Estella aponta para meu corpo de cima para baixo.— Espero que não muito.— Esperamos, você é alvo ambulância, esperando uma espada ser cravada no seu coração.— Obrigada, isso foi ótimo, totalmente reconfortante.— Sinto muito mas é a realidade, e temos que andar rápido, antes que eles nos alcancem, possuem asas, coisas que nós não temos. Onde a droga do Demir escondeu aquele maldito banker? — Disse esbraveja
— Não seria melhor irmos para o galpão de onde a Estella veio primeiro?— Está sugerindo que cometamos suicídio? Por que até onde eu sei nós não temos como nos defender dos demônios que possam haver lá, e se por algum acaso tivermos por sua parte, mesmo assim, você não sabe sequer atirar uma flecha flamejante, então não, não é melhor irmos até o covil dos demônios.— Mas você não é um demônio? Sua espécie deveria te acolher. — Digo e ela permanece em silêncio.— Elphia e por aqui, vamos.Árvores imensamente grandes ao nosso redor cobrem o luar, fazendo com que tudo seja escuro exceto pela luz que provoco, a qual agora já não é intensa, com o passar das horas grande parte do meu corpo perdeu suas chamas que se concentram nesse instante somente em minhas mãos e braços, toco uma árvore e minha mão a atravessa, deixando um círculo de fogo.— Teria como você não deixar rastros de para onde estamos indo Khione?— Ah, dá um tempo Psyche.— É sério?
Um guarda entre tantos outros parados nas extremidades da sala se dirige em nossa direção executando a ordem de sua rainha, nos tirando dali. Caminhamos pelo palacete, descendo escadas e entrando em corredores, até que por fim chegamos ao nosso aposento temporário, o soldado se retira ficando do lado de fora da porta. Não é tão grande quanto imaginava, mas é belo, uma grande janela está aberta dando vista para o magnífico reino, há uma cama abaixo dela e com toda certeza será a minha, um lustre pende sobre nossas cabeças e algumas velas aromáticas estão acesas, não posso negar que Kastian é dona de um gosto impecável. Achego-me ao peitoril da janela afim de observar melhor o reino, ou parte dele, a qual consigo ver. É lindo, incrível, da última vez que estive aqui havia visto o quão maravilhoso era mas agora vejo mais, vejo detalhes, os animais que correm pela floresta a luz dos vagalumes, um pequeno cervo bebendo água do córrego, corujas voando, uma borboleta que pousa na coluna ce
As horas arrastam-se até a tarde finalmente chegar, quando não há mais nada a ser mostrado Kastian retorna a sala do trono, juntamente com Psyche o que não é surpreende pois durante todo o dia estiveram trocando olhares e carícias.Decido aproveitar meu tempo sozinha na biblioteca, onde acredito ser possível conseguir algumas explicações, espero estar certa, mas também achei isso do céu e além de não conseguir sanar nenhuma das minhas dúvidas ainda ganhei uma legião inteira de anjos atrás de mim, ultimamente não tenho vivido a palavra paz. Ando em direção a biblioteca, atravesso a porta circular sentando em uma das esferas mais isoladas que encontrei, pesquiso no Sys o nome Áster, o que resultou em algumas sugestões, uma escondida em específico que reparei, intitulada "Áster and Lilith", o que me fez questionar, quem é Lilith?Seleciono a sugestão e em questão de segundos o livro se materializa em meu colo, na capa não há título fico intrigada, ao contrário do comu