— Nós? — Khione e eu rimos de sua afirmação.
— Isso não tem a menor possibilidade de ser verdade, sabe disso não é mesmo?
— Concordo com ela, você mesmo disse que o Arthur nunca havia levado uma humana em seu reino, exceto por mim.
— Estella você não sabe ao menos de onde veio, como pode dizer que certamente não é uma de nós? Já você Khione, eu estava certo o Arthur nunca levou humanos até nosso reino, e pelo visto não começou com essa prática, sinto muito você não é da espécie que pensa.
— Sinto lhe informar meu querido amigo de orelhas pontudas mas você está enganado.
— Não confiam na minha palavra, isso era de se esperar, infelizmente não posso provar a vocês já que a base de informações de Elphia só registra os nascimentos nos seis reinos.
— Muito convincente. — Digo debochando da situação.
— Detesto ter que atrapalhar a conversa de vocês, mas chegamos a Cleveland, e já que nenhuma de vocês tem um celular, ali na frente podem usar a cabine telefônica.
— Ótimo. — Saímos do carro e vamos em direção a cabine, vejo que esqueci minha jaqueta no banco do carro e viro-me rapidamente para ir buscá-la, porém ele não está mais lá.
— Khione. — Grito pois ela está um pouco a minha frente, a mesma olha para trás com um olhar confuso. - Eles sumiram.
— Como assim?
— Sumiram, evaporaram, desapareceram, se foram.
— Está tudo bem, me espere aqui. — Ela entra na cabine e dá início a uma conversa, imagino que seja o avô de que tanto fala, ou ao menos espero, definitivamente, a voz que deveria existir dizendo que seguir estranhos é igual a suicídio deve ter morrido junto com todas as minhas lembranças, me distraio com as pessoas andando depressa pela rua, uma fila quilométrica é visível em frente ao que suponho que seja um café na esquina, observo cada detalhe dessa cidade tentando encontrar algo familiar ou algum gatilho que dispare minhas memórias mas novamente o vazio reina.
— O Arwen está vindo nos buscar. Você deve estar com fome, não é?
— Sério? Eles sumiram e você está pensando em comida? — Digo gesticulando minhas mãos no ar.
— Nós podemos fazer alguma coisa sobre o sumiço deles? — Indaga arqueando as sobrancelhas
— Não?
— Não, então, mas podemos fazer algo sobre a nossa fome. — Diz apontando para o mesmo café em que minha atenção estava minutos atrás.
— Posso não lembrar muita coisa mas tenho certeza de que precisamos de dinheiro para comprar algo, e como podemos ver. — Puxo os bolsos para fora. — É algo que não tenho, e acredito que você também não.
— Isso não é um problema.
— Como isso não é um... — Ela me puxa pelo braço praticamente me arrastando pela rua.
— Fique aqui.
— Não mesmo, vou com você.
— Ah. — Ela suspira rindo ironicamente. — E por acaso é boa na arte do roubo? É, verdade, mesmo que fosse não se lembraria, então só me espere aqui se não quiser ser presa.
— Eu vou com você. — Digo agarrando seu pulso como uma criança que não quer se distanciar da mãe.
— Se você insiste, mas não me responsabilizo se não conseguir correr como será necessário.
— Sinceramente? Eu corri de um daqueles seres, acha mesmo que não consigo fugir de um guarda?
— Um bom argumento.
Andamos até o final da rua, onde se encontrava nosso alvo, a fila já havia diminuído e agora pouco mais de três pessoas estavam aglomeradas ali, sem contar com um guarda na entrada.
— Está vendo aquela porta ali? - Disse apontando para a porta principal.
— Sim.
— Definitivamente não entraremos por ali.
— Por onde então? Temos outra alternativa?
— Preste atenção, aquela janela ali está totalmente aberta e é a de acesso direto a cozinha.
— Algo me diz que você já fez isso várias outras vezes.
— Quieta. - Ela sela minha boca com a mão. — Só me siga.
Começamos a andar lentamente até a janela que ficava em um beco, apertado por sinal, observamos o movimento da cozinha e em alguns segundos, ela já estava dentro e com uma caixa de rosquinhas em uma mão e dois cafés na outra, como tinha equilíbrio para carregar aquilo e correr ao mesmo tempo? Realmente, não faço ideia.
— Vamos, vamos. - Diz me entregando os cafés e pulando de volta para o beco. O segurança corre vindo atrás de nós, felizmente corremos mais rápido descendo a rua.
— Você é completamente louca. — Digo mordiscando uma rosquinha.
— Graças a minha loucura você está comendo. — Ela sorri.
— E graças a você também estamos em uma rua sem saída, sentadas em uma calçada de uma cidade que não conhecemos.
— Ah, de nada por te salvar daquela coisa noite passada. — Diz me dando um murro fraco.
— Onde você disse para seu avô nos encontrar?
— Na estrada onde entramos para Cleveland.
— Acha mesmo que em um caminho desse tamanho ele vai conseguir nos encontrar?
— Não sei, mas creio que sim, ele sempre me acha.
— Então baseamos nosso resgate na esperança de que ele sempre te acha?
— Só espere Estella.
— Tudo bem, tudo bem.
— Inclusive acho que está na hora de começarmos a andar, ou não chegaremos antes dele na estrada.
— Seria ótimo se o Demir aparecesse agora, nos pouparia muito tempo.
— Seu desejo é uma ordem. — Ele aparece deixando uma fumaça esverdeada pelo ar.
— Que? Como?
— Já ouviu falar em teletransporte e monitoramento?
— Estava nos espionando?
— Espionando não, observando, cuidando, seriam palavras mais adequadas.
— De qualquer forma, se você pode se teletransportar por que não nos leva até a casa de infância da Khione de uma vez?
— Uma boa pergunta, mas não iria desperdiçar a viagem do Arwen até aqui, mas posso nos teletransportar até o carro.
— Então faça... — Tudo ao redor fica escuro e em segundos a luz voltou a iluminar meus olhos.
— Pronto. — Disse ele limpando a manga da blusa.
— Que infernos! Como vocês chegaram aqui? Demir eu já te disse para não fazer isso.
— Vocês se conhecem?
— De muitas e muitas primaveras.
— Sem exageros Demir.— Arwen você conheceu a minha mãe, quando ela ainda estava grávida de mim.— De fato, mas Demir, já que estava com elas por que não as levou para a minha casa de uma vez?— Você me fez de guardião da Khione desde que ela nasceu, acha mesmo que eu iria deixá-la levar uma mulher desconhecida, que por acaso estava na floresta no meio da madrugada fugindo de um demônio para a casa de vocês? — Confesso, me senti ligeiramente ofendida.— Um motivo plausível.— Um instante, como se já não fosse suficiente vocês se conhecerem, o Demir foi feito meu guardião assim que nasci? Você tem muito a me explicar Arwen, muito.— Eu sempre disse para ele te contar, mas nunca me ouviu por ser esse ser extremamente teimoso.— Podemos viajar em silêncio? Quando chegarmos a Chicago explicarei tudo a você Khione.Estou começando a suspeitar que a minha companheira sabe tanto dela quanto eu sei sobre mim.O restante da vi
KhioneMeu coração palpitava cada vez mais rápido, a cada batida na porta, e em um piscar de olhos ela veio ao chão, dei um passo para trás recuando, procurando alguma possível saída.— Vocês teriam me poupado trabalho se tivessem aberto a primeira batida. — A voz feminina soava familiar, porém ainda não conseguia destinguir seus traços da escuridão noturna, até que um feixe de luar atingiu seu rosto, revelando sua identidade.— Você! Quase nós matou de susto, como se já não bastasse tudo que aconteceu hoje.— Como eu disse, poderiam simplesmente ter aberto a porta.— Você está ciente de tudo que houve? O Demir, Arwen? — Estella esbraveja as palavras.— Uma pergunta melhor a fazer, como nos encontrou? — Ela me olha com desprezo, como se acabasse de perguntar a coisa mais estúpida que já tivesse ouvido em toda sua vida. Ainda não consigo acreditar como em quarenta e oito horas descobri que meu avô não me contou a real verdade sobre nossa família, o
Adentro os portões avistando a bela e luminosa cidade, observo cada detalhe, as grandes construções. Uma estátua gigantesca encontra-se ao lado de uma escola, ou o que imagino ser uma, chego mais perto e vejo o nome Áster escrito em letras maiúsculas, passo minhas mãos pela estátua e sinto algo inexplicáveis, um aperto se instala em meu peito, como se soubesse quem ela é, apoio minha cabeça no topo dela e ouço uma voz chamar.— Uriel, procure Uriel. — Olho para trás mas nada encontro, vejo ao redor mas ainda assim não existe ninguém ali, e por algum motivo esse nome me soa familiar. Sigo até um dos anjos mais próximos, talvez Uriel seja um dos anjos deste lugar.— Emanuel? — Pergunto sem muita certeza, mas é o nome estampado em seu crachá - Acredito que seja um crachá.— Em que posso lhe ajudar? — Diz com um sorriso terno.— Uriel, ele é daqui? — Rapidamente seu sorriso se desfaz e um semblante sério toma conta.— Uriel? Os céus abrigam muitos anjos, se
— Então com toda certeza temos que sair daqui nesse instante, ou aqueles lindos querubins ali vão acabar com a nossa existência. — Estella disse apontando para minhas costas.— Definitivamente é uma ótima ideia.— Prontas para o teletransporte? Pode ser meio diferente, aqui não tem muita energia, então não consigo nos teletransportar para muito longe.— Dá pra não explicar isso agora? Só tire a gente daqui. — Digo apressada. Em momentos estamos a alguns quilômetros de toda aquela confusão.— Até quando você vai continuar assim? — Estella aponta para meu corpo de cima para baixo.— Espero que não muito.— Esperamos, você é alvo ambulância, esperando uma espada ser cravada no seu coração.— Obrigada, isso foi ótimo, totalmente reconfortante.— Sinto muito mas é a realidade, e temos que andar rápido, antes que eles nos alcancem, possuem asas, coisas que nós não temos. Onde a droga do Demir escondeu aquele maldito banker? — Disse esbraveja
— Não seria melhor irmos para o galpão de onde a Estella veio primeiro?— Está sugerindo que cometamos suicídio? Por que até onde eu sei nós não temos como nos defender dos demônios que possam haver lá, e se por algum acaso tivermos por sua parte, mesmo assim, você não sabe sequer atirar uma flecha flamejante, então não, não é melhor irmos até o covil dos demônios.— Mas você não é um demônio? Sua espécie deveria te acolher. — Digo e ela permanece em silêncio.— Elphia e por aqui, vamos.Árvores imensamente grandes ao nosso redor cobrem o luar, fazendo com que tudo seja escuro exceto pela luz que provoco, a qual agora já não é intensa, com o passar das horas grande parte do meu corpo perdeu suas chamas que se concentram nesse instante somente em minhas mãos e braços, toco uma árvore e minha mão a atravessa, deixando um círculo de fogo.— Teria como você não deixar rastros de para onde estamos indo Khione?— Ah, dá um tempo Psyche.— É sério?
Um guarda entre tantos outros parados nas extremidades da sala se dirige em nossa direção executando a ordem de sua rainha, nos tirando dali. Caminhamos pelo palacete, descendo escadas e entrando em corredores, até que por fim chegamos ao nosso aposento temporário, o soldado se retira ficando do lado de fora da porta. Não é tão grande quanto imaginava, mas é belo, uma grande janela está aberta dando vista para o magnífico reino, há uma cama abaixo dela e com toda certeza será a minha, um lustre pende sobre nossas cabeças e algumas velas aromáticas estão acesas, não posso negar que Kastian é dona de um gosto impecável. Achego-me ao peitoril da janela afim de observar melhor o reino, ou parte dele, a qual consigo ver. É lindo, incrível, da última vez que estive aqui havia visto o quão maravilhoso era mas agora vejo mais, vejo detalhes, os animais que correm pela floresta a luz dos vagalumes, um pequeno cervo bebendo água do córrego, corujas voando, uma borboleta que pousa na coluna ce
As horas arrastam-se até a tarde finalmente chegar, quando não há mais nada a ser mostrado Kastian retorna a sala do trono, juntamente com Psyche o que não é surpreende pois durante todo o dia estiveram trocando olhares e carícias.Decido aproveitar meu tempo sozinha na biblioteca, onde acredito ser possível conseguir algumas explicações, espero estar certa, mas também achei isso do céu e além de não conseguir sanar nenhuma das minhas dúvidas ainda ganhei uma legião inteira de anjos atrás de mim, ultimamente não tenho vivido a palavra paz. Ando em direção a biblioteca, atravesso a porta circular sentando em uma das esferas mais isoladas que encontrei, pesquiso no Sys o nome Áster, o que resultou em algumas sugestões, uma escondida em específico que reparei, intitulada "Áster and Lilith", o que me fez questionar, quem é Lilith?Seleciono a sugestão e em questão de segundos o livro se materializa em meu colo, na capa não há título fico intrigada, ao contrário do comu
Deixamos as portas da biblioteca para trás indo em direção mais uma vez da praça central. O ser do qual ainda desconheço o nome nos leva até a fonte da praça e ali se senta.— Por onde começo. — Ele olha para cima e desliza a mão pelo cabelo negro.— Pelo começo seria bom. — Estella diz rindo. Ele a fita com um olhar de reprovação a piada. — Ok, me desculpe. — Ela pigarreia.— Eu e Áster sempre fomos bons amigos, Uriel era o único que me deixava vê-la, mesmo sendo uma grande porcentagem anjo ainda assim sou visto com maus olhos no céus, como sempre, anjos arrogantes, nada mudou. Mas continuando, quando tínhamos doze anos o rei Tyr declarou guerra aos demônios sem razão aparentemente, por pura bestialidade, sempre achara que os anjos eram os místicos superiores, que deveriam dominar sobre todos os outros ao invés de coexistir em paz. As tropas angelicais se dirigiram ao vale de Mavka onde o combate aconteceria, os demônios por outro lado armaram uma emboscada pegand