— Sem exageros Demir.
— Arwen você conheceu a minha mãe, quando ela ainda estava grávida de mim.
— De fato, mas Demir, já que estava com elas por que não as levou para a minha casa de uma vez?
— Você me fez de guardião da Khione desde que ela nasceu, acha mesmo que eu iria deixá-la levar uma mulher desconhecida, que por acaso estava na floresta no meio da madrugada fugindo de um demônio para a casa de vocês? — Confesso, me senti ligeiramente ofendida.
— Um motivo plausível.
— Um instante, como se já não fosse suficiente vocês se conhecerem, o Demir foi feito meu guardião assim que nasci? Você tem muito a me explicar Arwen, muito.
— Eu sempre disse para ele te contar, mas nunca me ouviu por ser esse ser extremamente teimoso.
— Podemos viajar em silêncio? Quando chegarmos a Chicago explicarei tudo a você Khione.
Estou começando a suspeitar que a minha companheira sabe tanto dela quanto eu sei sobre mim.
O restante da viagem ocorre em total silêncio, tento fechar os olhos por alguns segundos ao menos, mas minha mente se mantém elétrica, sem nenhum descanso, e em poucas horas chegamos a Chicago. Sinceramente não entendo o motivo de Demir não ter nos teletransportado já que estávamos todos juntos.
— Recarga de poderes, se é que posso chamar assim, só posso utilizá-los algumas vezes, depois desse tempo tenho que comer, descansar e obter poder antes de usá-los novamente.
— Como?
— Ah, é mesmo, me esqueço que os humanos ainda não dominaram a telepatia e leitura de pensamentos.
— Que ótimo, não posso mais ao menos pensar sozinha. — Digo, tentando não levar em conta que tenho um elfo intrometido invadindo meus pensamentos.
— Fique tranquila, você não é interessante ao ponto de me prender as suas ideias constantes.
Novamente me sinto em uma pequena quantidade ofendida. Depois de mais alguns minutos estamos na residência Davis.
— Finalmente em casa. — Arwen diz suspirando pesadamente, retirando as mãos do volante e virando-se para o banco onde eu e Khione nos encontramos.
— Por onde começo, bem, vinte anos atrás, sua mãe estava no sexto mês de gestação quando sofreu o acidente juntamente com seu pai, ele não aconteceu quando você tinha cinco anos como sempre te contei, e aliás não foi um acidente, foi totalmente planejado e executado com precisão.
— Mas quem poderia querer ferir a nossa família? Não temos inimigos. — Ela diz com a testa franzida.
Ouço o som de algo atravessando o vidro, Arwen é puxado bruscamente para fora pela pequena abertura, um grupo de... Não sei ao certo dizer o que são, estão reunidos em círculo nos olhando enquanto um deles arrasta o pobre homem até o centro.
— Demir, o que está havendo?
— Merda, isso não era pra acontecer, venham comigo, rápido!
— Mas e o Arwen?
— Eu garanto que ele sabe se virar, já passou por coisa pior do que um pequeno bando de demônios inferiores.
— Demônios, aparentemente essa família está cercada deles. — Khione dá uma risada irônica e segue atrás de nós.
— Onde vamos?
— Só me sigam, eu sabia que essa hora ia chegar, mas esperava que o Arwen estivesse aqui para explicar tudo, mas não, ele tinha que ser pego justamente nesse dia. — O elfo sussurra mais para ele do que para nós.
— Khione, eu vou ser breve e objetivo, aliás não tenho muito tempo e nem paciência para dizer com os mínimos detalhes tudo, definitivamente meus trezentos e trinta anos já levaram toda a paciência que me restava, você não é o que imagina ser, como já disse a vocês duas tudo em que acreditaram até hoje é envolto em mentiras. Estella você não foi raptada por Yaza sem um motivo, ele nunca faz algo sem motivo, ainda não sei se futuramente poderá vir a ser uma ameaça mas em breve descobrirei. Só tenho algo a dizer, vocês tem que descobrir, tem que se libertar, compreenderem quem são de verdade, e eu não vou estar aqui para ajudar vocês.
— Yaza? Como você não vai estar aqui? Por que? — Pergunto desorientada.
— Tenho que teletransportar vocês para algum lugar longe daqui antes que eles cheguem, e isso vai me custar toda a minha força, me levarão também, mas de maneira alguma podem levar vocês.
— E minha mãe? Ela está na casa!
— Não se preocupe, o seu avô sabia que estavam vindo atrás de nós, ele a levou para um hospital, ela está bem.
— Por que somos tão importantes? — No momento em que ele abria a boca para responder minha pergunta dois seres se aproximaram e o agarraram.
— Nos vemos em breve. — Disse fazendo um movimento rápido com as mãos.
A mesma fumaça verde de antes se envolveu ao nosso redor e em segundos estávamos em uma cabana.
— O que acabou de acontecer?
— Não consegui assimilar completamente para te explicar. — Disse sentando recostada na parede.
Olho em volta observando o lugar, várias prateleiras repletas de livros espalhadas pelas paredes, me aproximo lendo os títulos buscando algum que possa nos ajudar a compreender o que está acontecendo.
— Por que aqui? O Arwen nunca me trouxe neste lugar, nunca sequer mencionou sua existência.
— Convenhamos que o Arwen não te contou muita coisa Khione, e agora nós duas estamos da mesma forma, perdidas sem saber para onde ir, sem ninguém e sem saber quem somos.
— Eu sei quem sou.
— Você ao menos sabe se realmente seus pais são seus pais? Se o Arwen é realmente seu avô? Se seu nome realmente é Khione Davis? — Digo olhando em seus olhos.
— Não, não sei. — Ela enterra o rosto nos joelhos. — O que vamos fazer?
— Ia te perguntar a mesma coisa.
— Bom, por ora acho que devemos ficar aqui, ver se achamos algo que nos dê uma mínima pista de que caminho seguir.
— Não acha que deveríamos nos separar?
— Estella, não acha que ambas estávamos na mesma hora naquela floresta por algum motivo? Ou foi um simples acaso do destino? Acho que devemos ficar juntas, descobrir sobre tudo juntas.
— Tudo bem, não tenho nada a perder.
— Começando por voltar no mesmo lugar onde você estava quando acordou.
— Eu espero que você não esteja falando sério, caso contrário acabou de ficar confirmado que sua saúde mental não está boa.
— Quer descobrir o motivo de porque estava lá? Então devemos voltar e examinar o local.
— Eu disse que não tinha nada a perder? Acabei de lembrar que ainda tenho a vida.
— Só temos que ler algumas coisas sobre demônios, saber seus pontos fracos, teremos vantagens assim.
— É uma ideia incrivelmente louca, mas eu aceito.
Nesse momento ouvimos batidas vindas da porta, a noite já havia se instalado, o que deixava a situação mais aterrorizante. As batidas continuavam rápidas e espaçadas até que cessaram, minutos depois a porta veio ao chão.
KhioneMeu coração palpitava cada vez mais rápido, a cada batida na porta, e em um piscar de olhos ela veio ao chão, dei um passo para trás recuando, procurando alguma possível saída.— Vocês teriam me poupado trabalho se tivessem aberto a primeira batida. — A voz feminina soava familiar, porém ainda não conseguia destinguir seus traços da escuridão noturna, até que um feixe de luar atingiu seu rosto, revelando sua identidade.— Você! Quase nós matou de susto, como se já não bastasse tudo que aconteceu hoje.— Como eu disse, poderiam simplesmente ter aberto a porta.— Você está ciente de tudo que houve? O Demir, Arwen? — Estella esbraveja as palavras.— Uma pergunta melhor a fazer, como nos encontrou? — Ela me olha com desprezo, como se acabasse de perguntar a coisa mais estúpida que já tivesse ouvido em toda sua vida. Ainda não consigo acreditar como em quarenta e oito horas descobri que meu avô não me contou a real verdade sobre nossa família, o
Adentro os portões avistando a bela e luminosa cidade, observo cada detalhe, as grandes construções. Uma estátua gigantesca encontra-se ao lado de uma escola, ou o que imagino ser uma, chego mais perto e vejo o nome Áster escrito em letras maiúsculas, passo minhas mãos pela estátua e sinto algo inexplicáveis, um aperto se instala em meu peito, como se soubesse quem ela é, apoio minha cabeça no topo dela e ouço uma voz chamar.— Uriel, procure Uriel. — Olho para trás mas nada encontro, vejo ao redor mas ainda assim não existe ninguém ali, e por algum motivo esse nome me soa familiar. Sigo até um dos anjos mais próximos, talvez Uriel seja um dos anjos deste lugar.— Emanuel? — Pergunto sem muita certeza, mas é o nome estampado em seu crachá - Acredito que seja um crachá.— Em que posso lhe ajudar? — Diz com um sorriso terno.— Uriel, ele é daqui? — Rapidamente seu sorriso se desfaz e um semblante sério toma conta.— Uriel? Os céus abrigam muitos anjos, se
— Então com toda certeza temos que sair daqui nesse instante, ou aqueles lindos querubins ali vão acabar com a nossa existência. — Estella disse apontando para minhas costas.— Definitivamente é uma ótima ideia.— Prontas para o teletransporte? Pode ser meio diferente, aqui não tem muita energia, então não consigo nos teletransportar para muito longe.— Dá pra não explicar isso agora? Só tire a gente daqui. — Digo apressada. Em momentos estamos a alguns quilômetros de toda aquela confusão.— Até quando você vai continuar assim? — Estella aponta para meu corpo de cima para baixo.— Espero que não muito.— Esperamos, você é alvo ambulância, esperando uma espada ser cravada no seu coração.— Obrigada, isso foi ótimo, totalmente reconfortante.— Sinto muito mas é a realidade, e temos que andar rápido, antes que eles nos alcancem, possuem asas, coisas que nós não temos. Onde a droga do Demir escondeu aquele maldito banker? — Disse esbraveja
— Não seria melhor irmos para o galpão de onde a Estella veio primeiro?— Está sugerindo que cometamos suicídio? Por que até onde eu sei nós não temos como nos defender dos demônios que possam haver lá, e se por algum acaso tivermos por sua parte, mesmo assim, você não sabe sequer atirar uma flecha flamejante, então não, não é melhor irmos até o covil dos demônios.— Mas você não é um demônio? Sua espécie deveria te acolher. — Digo e ela permanece em silêncio.— Elphia e por aqui, vamos.Árvores imensamente grandes ao nosso redor cobrem o luar, fazendo com que tudo seja escuro exceto pela luz que provoco, a qual agora já não é intensa, com o passar das horas grande parte do meu corpo perdeu suas chamas que se concentram nesse instante somente em minhas mãos e braços, toco uma árvore e minha mão a atravessa, deixando um círculo de fogo.— Teria como você não deixar rastros de para onde estamos indo Khione?— Ah, dá um tempo Psyche.— É sério?
Um guarda entre tantos outros parados nas extremidades da sala se dirige em nossa direção executando a ordem de sua rainha, nos tirando dali. Caminhamos pelo palacete, descendo escadas e entrando em corredores, até que por fim chegamos ao nosso aposento temporário, o soldado se retira ficando do lado de fora da porta. Não é tão grande quanto imaginava, mas é belo, uma grande janela está aberta dando vista para o magnífico reino, há uma cama abaixo dela e com toda certeza será a minha, um lustre pende sobre nossas cabeças e algumas velas aromáticas estão acesas, não posso negar que Kastian é dona de um gosto impecável. Achego-me ao peitoril da janela afim de observar melhor o reino, ou parte dele, a qual consigo ver. É lindo, incrível, da última vez que estive aqui havia visto o quão maravilhoso era mas agora vejo mais, vejo detalhes, os animais que correm pela floresta a luz dos vagalumes, um pequeno cervo bebendo água do córrego, corujas voando, uma borboleta que pousa na coluna ce
As horas arrastam-se até a tarde finalmente chegar, quando não há mais nada a ser mostrado Kastian retorna a sala do trono, juntamente com Psyche o que não é surpreende pois durante todo o dia estiveram trocando olhares e carícias.Decido aproveitar meu tempo sozinha na biblioteca, onde acredito ser possível conseguir algumas explicações, espero estar certa, mas também achei isso do céu e além de não conseguir sanar nenhuma das minhas dúvidas ainda ganhei uma legião inteira de anjos atrás de mim, ultimamente não tenho vivido a palavra paz. Ando em direção a biblioteca, atravesso a porta circular sentando em uma das esferas mais isoladas que encontrei, pesquiso no Sys o nome Áster, o que resultou em algumas sugestões, uma escondida em específico que reparei, intitulada "Áster and Lilith", o que me fez questionar, quem é Lilith?Seleciono a sugestão e em questão de segundos o livro se materializa em meu colo, na capa não há título fico intrigada, ao contrário do comu
Deixamos as portas da biblioteca para trás indo em direção mais uma vez da praça central. O ser do qual ainda desconheço o nome nos leva até a fonte da praça e ali se senta.— Por onde começo. — Ele olha para cima e desliza a mão pelo cabelo negro.— Pelo começo seria bom. — Estella diz rindo. Ele a fita com um olhar de reprovação a piada. — Ok, me desculpe. — Ela pigarreia.— Eu e Áster sempre fomos bons amigos, Uriel era o único que me deixava vê-la, mesmo sendo uma grande porcentagem anjo ainda assim sou visto com maus olhos no céus, como sempre, anjos arrogantes, nada mudou. Mas continuando, quando tínhamos doze anos o rei Tyr declarou guerra aos demônios sem razão aparentemente, por pura bestialidade, sempre achara que os anjos eram os místicos superiores, que deveriam dominar sobre todos os outros ao invés de coexistir em paz. As tropas angelicais se dirigiram ao vale de Mavka onde o combate aconteceria, os demônios por outro lado armaram uma emboscada pegand
O sono de fato não se lembra mais de vir a mim, depois de alguns minutos de conversa com Meliorne, Estella e eu retornamos ao palácio, e aqui estou eu, virando de um lado a outro da cama repetidas vezes, pensando em quais destinos Áster pode ter tomado, o que pode ter ocorrido as ela e Lilith, se fugiram ou se foram mortas como forma de silenciar seu amor. Viro-me para a janela e fecho os olhos tentando adormecer, mas diferentemente das vezes anteriores agora ouço uma voz, abro os olhos procurando alguém, mas no recinto só vejo o Estella dormindo profundamente, volto ao estado anterior e novamente a voz vem a meus ouvidos, desta vez não a procuro só a sinto, momentos depois a reconheço, o mesmo timbre que ouvi nos céus em contato com a estátua, porém mais clara, mais vibrante e escuto com perfeição as frases dita."Khione, espero que me escute, venho tentando contatá-la a muito tempo, mas creio que os demônios tenham lançado algum tipo feitiço de bloqueio me impedindo de falar