Lucas Park Os seguranças do bar se aproximaram. Senti a mão de Jullian apertando meus ombros, um aviso silencioso de que era hora de parar. Não por falta de vontade, mas por necessidade. Se eu levar isso adiante, não haveria volta. Soltei Castillo, mas com relutância, como um predador ordenou a abertura da mão da presa. Ele se levantou devagar, se recompondo com aquela calma doentia que só me deixou mais enfurecido. O sangue escorria da boca e do nariz, manchando sua paleta elegante, enquanto seu cabelo desgrenhado caía sobre a testa. Mas nada disso importava. O que mais me irritava era o sorriso. Aquele sorriso torto, diabólico, como se tudo tivesse saído exatamente como ele queria. Ele venceu. E eu sabia disso, o maldito sabia disso também. ― Não ouse! ― Rosnou Jullian atrás de mim, a voz grave e cortante, mas o controle ainda presente, mesmo no meio do caos. Quando ele soltou meus braços, senti o sangue voltar a circular, o formigamento incômodo se misturando co
Lucas Park Meu estomago revirava todo o álcool que havia ingerido ao pensar nessa possibilidade. Comigo, seria por desejo e amor. Com ele...Ele nunca se importou em tomar o que julgava merecer. Ele a forçaria, milhares de vezes, até que atingisse seu objetivo. Que péssima hora para surgir um dilema moral. Eu deveria apenas voltar para casa e tomar seu corpo contra o meu, e na manhã seguinte, a arrastaria para o cartório para assinar nossa certidão de casamento. Eu sabia que ela não recusaria e talvez fosse essa certeza que me fazia hesitar. Eu queria que ela fosse livre para me aceitar em seu próprio tempo e estar forçando tanto assim, não me tornava diferente de Gadreel. ― Não posso força-la ― disse, sentindo minha voz falhar ― E é exatamente por isso que estamos aqui ― Jullian respondeu, tão calmo que seu tom parecia um insulto velado. ― Precisamos de uma solução rápida e menos... definitiva. ― Apenas diga a verdade a ela ― Castillo deu de ombros, como se o
Gabrielle Durante toda a minha vida, nunca experimentei sentimentos complexos. Não sei dizer se a falta de convívio humano me privou de certas experiências ou se minha própria incapacidade de empatia, foi o resultado de nunca ter tido pessoas realmente próximas. Além de Julls, depois da morte do meu pai, não sobrou ninguém que genuinamente se importasse comigo. Nem mesmo minha mãe. Aquele parecia o momento perfeito para nos aproximarmos, uma brecha para tentarmos ser algo mais. Mas isso nunca aconteceu. Esperei por ela inúmeras noites, durante meses. Procurei-a por todos os cantos da casa e em cada empresa, mas nunca a alcancei. Demorou para eu entender que Leslie não queria ser encontrada. E nenhum dos empregados teve coragem de me dizer a verdade. Nem mesmo Julls. Antes da morte do meu pai, eu pouco me importava com os motivos que levavam Leslie a se manter distante. Eu sabia que John provavelmente a obrigava. Mas depois que ele morreu, eu acreditei que poderíamos fin
Gabrielle Assim que cruzamos a porta da sala subterrânea, ele arregalou os olhos, incrédulo. A limpeza do ambiente, contrastando com o branco imaculado das paredes e do chão de granito natural, transmitia uma sensação de frieza que eu apreciava. Embora, geralmente, eu evitasse tons brancos — pois me lembravam hospitais e doença —, ali essa escolha me trazia segurança. Saber que as paredes poderiam ser pintadas como eu quisesse, se necessário, também me dava uma certa tranquilidade. No centro do espaço, entre os oito pilares estruturais do solar, estava uma imensa mesa de vidro blindado, quadrada, com 2x2 metros de extensão. Era grande o suficiente para eu me divertir à vontade, como se estivesse organizando uma festa particular. À frente da entrada, dispostas ordenadamente na parede, estavam minhas ferramentas. A diversidade de instrumentos me dava uma infinidade de possibilidades: vidro, ferro, madeira — qualquer material que eu desejasse experimentar, ali encontraria
Gabrielle Faltavam apenas quatro semanas para a grande festa. A tensão pairava sobre todos naquela casa, mas era em Leslie que ela se fazia mais evidente. Por alguma razão, ela decidiu se aproximar de mim. Naquela manhã quente de quarta-feira, enquanto tomávamos café, ela sentou-se ao meu lado. — Lucas me contou que você quer passar esses dias no solar — começou, com uma expressão séria. — Esse é um evento importante, princesa. Você deveria participar das decisões finais. — Não me permitiu opinar em absolutamente nada até agora — retruquei, sem olhar para ela. — Não faz sentido me meter nas escolhas nesse ponto. — Me perdoe por isso, eu só me empolguei um pouco — admitiu, forçando um sorriso. — Essa é a primeira festa que damos aqui em casa, e o primeiro aniversário seu com convidados. Não aceito nada menos que a perfeição. Levantei-me calmamente da mesa. — Faça como desejar. Se me der licença... — Espere — pediu, com um tom mais suave. — Eu gostaria
Gabrielle Lucas e eu permanecemos sentados, em silencio, por mais alguns longos minutos. Ele parecia perdido em pensamentos e por mais que eu não quisesse percebe-lo, tornou-se impossível não olhar para ele. Estava tão bonito concentrado daquela forma. Sem nem mesmo perceber, minha mão se moveu até a sua, que se encontravam unidas, em cima da mesa. O silêncio de Lucas me engoliu como um abismo. Por que era tão difícil para ele entender? Como posso amar alguém e ao mesmo tempo ter medo de que esse amor se tornar a arma que usariam contra mim? ― Me desculpe por isso ― pedi ― Sua mãe está dizendo a verdade? ― me lançando um olhar acusatório ― Prefere a morte do que admitir que sente alguma coisa por mim? ― Não é dessa forma. ― É tão ruim assim estar apaixonada por mim, Gabrielle? ― perguntou, deixando a voz pesada fal
Gabrielle Enquanto caminhávamos pelos corredores do shopping, percebi olhares curiosos em nossa direção. Desde o momento em que saímos da sala de reunião, ele havia se mantido ao meu lado, colado em mim, como se fôssemos amigos íntimos desde sempre — o tipo de proximidade que apenas Lucas tinha comigo. Suas mãos, entrelaçadas nas costas, lembravam-me a postura de um soldado em descanso. Aquilo me fez pensar: ele não devia ser uma pessoa comum. Jullian jamais deixaria um completo desconhecido me acompanhar. — Quem é você? — Essa informação é irrelevante — disse ele, sem desviar o olhar do caminho à nossa frente. — O que importa não é quem eu sou, mas o que posso fazer por você. A resposta foi direta e fria, e, de algum modo, fazia todo o sentido. Sim, ele estava certo. Não era importante sua origem, sua formação e nem mesmo seu nome. M
Gabrielle Ao fundo, vi que Leslie já estava acomodada, sentada no último assento e sorrindo para mim. Caminhei vagarosamente em sua direção, deixando os olhares pesados que se pousavam sobre mim. A ansiedade era palpável; todos aguardavam um pronunciamento da minha parte. A diversidade de rostos chamou minha atenção — alguns eu conhecia, outros não. Aqueles que já eram familiares, ainda mais nervosos, especialmente uma garota de rosto magro e corpo esquelético. Ela vestia um terno preto discreto, contrastando com a formalidade do momento. O que Rodriguez pensaria ao ver uma de suas “concubinas” tão modestamente vestidas? Quando me coloquei ao lado de Leslie, ela apenas sorriu. Nunca tinha visto aquele sorriso antes. Era dirigido a mim? Ela me indicou um lugar vazio na ponta da mesa, e percebi que, pela primeira vez, todos na sala estavam diante de seu CEO. A atmosfera era tensa, para dizer o mínimo.