Gabrielle
Lucas e eu permanecemos sentados, em silencio, por mais alguns longos minutos. Ele parecia perdido em pensamentos e por mais que eu não quisesse percebe-lo, tornou-se impossível não olhar para ele. Estava tão bonito concentrado daquela forma. Sem nem mesmo perceber, minha mão se moveu até a sua, que se encontravam unidas, em cima da mesa.
O silêncio de Lucas me engoliu como um abismo. Por que era tão difícil para ele entender? Como posso amar alguém e ao mesmo tempo ter medo de que esse amor se tornar a arma que usariam contra mim?
― Me desculpe por isso ― pedi
― Sua mãe está dizendo a verdade? ― me lançando um olhar acusatório ― Prefere a morte do que admitir que sente alguma coisa por mim?
― Não é dessa forma.
― É tão ruim assim estar apaixonada por mim, Gabrielle? ― perguntou, deixando a voz pesada fal
Gabrielle Enquanto caminhávamos pelos corredores do shopping, percebi olhares curiosos em nossa direção. Desde o momento em que saímos da sala de reunião, ele havia se mantido ao meu lado, colado em mim, como se fôssemos amigos íntimos desde sempre — o tipo de proximidade que apenas Lucas tinha comigo. Suas mãos, entrelaçadas nas costas, lembravam-me a postura de um soldado em descanso. Aquilo me fez pensar: ele não devia ser uma pessoa comum. Jullian jamais deixaria um completo desconhecido me acompanhar. — Quem é você? — Essa informação é irrelevante — disse ele, sem desviar o olhar do caminho à nossa frente. — O que importa não é quem eu sou, mas o que posso fazer por você. A resposta foi direta e fria, e, de algum modo, fazia todo o sentido. Sim, ele estava certo. Não era importante sua origem, sua formação e nem mesmo seu nome. M
Gabrielle Ao fundo, vi que Leslie já estava acomodada, sentada no último assento e sorrindo para mim. Caminhei vagarosamente em sua direção, deixando os olhares pesados que se pousavam sobre mim. A ansiedade era palpável; todos aguardavam um pronunciamento da minha parte. A diversidade de rostos chamou minha atenção — alguns eu conhecia, outros não. Aqueles que já eram familiares, ainda mais nervosos, especialmente uma garota de rosto magro e corpo esquelético. Ela vestia um terno preto discreto, contrastando com a formalidade do momento. O que Rodriguez pensaria ao ver uma de suas “concubinas” tão modestamente vestidas? Quando me coloquei ao lado de Leslie, ela apenas sorriu. Nunca tinha visto aquele sorriso antes. Era dirigido a mim? Ela me indicou um lugar vazio na ponta da mesa, e percebi que, pela primeira vez, todos na sala estavam diante de seu CEO. A atmosfera era tensa, para dizer o mínimo.  
Gabrielle — Pode soltar o ar agora, Leslie — comentei, me jogando na cadeira, o tom meio provocador. — Não precisa ser tão dura, princesa — retrucou ela, olhando-me. — Vamos perder metade da diretoria até o final do ano desse jeito. — Ela não estava falando sério, Less — brincou Julls, rindo. — Sim, estava — insistiu Leslie, sua expressão fechada. — Ela é exatamente como John. E ficará pior, se permitirmos. Vocês são cegos para isso, mas eu não. Leslie realmente me culpa por parecer o melhor empresário que esse país já teve? E depois de ela mesma ter me colocado nessa posição? A ironia me fez gargalhar. A risada escapou antes que eu pudesse contê-la, fazendo meu corpo vibrar. Era ridículo. Leslie reclamou que eu me parecia com papai, como se isso fosse algo inesperado. Ela me jogou no colo dele desde que nasci, forçando-me a aprender com ele
Gabrielle Os olhos dele se fixaram em mim, desafiadores e quase divertidos. Havia uma mistura de diversão e impaciência ali, como se esperasse por algo — uma ordem, talvez. Algo em sua postura revelava uma prontidão inquietante, como se estivesse preparado para agir a qualquer momento, não importando o que fosse pedido, mesmo que fosse um crime. Sua entrega era precisa e fluida, lembrando os soldados de elite que costumavam frequentar os eventos que John me levava. — Qual é sua patente? — perguntei, tentando arrancar alguma informação. — Essa informação é irrelevante. — Ele se inclinou-se mais perto, até seu rosto ficar a centímetros do meu. — Mas posso garantir que tenho patente suficiente para protegê-la, quando necessário. Ficamos em silêncio por um instante, os olhos presos um no outro em um debate silencioso. Havia algo nele que me desafiava — uma brincadeira velada, como se estivéssemos testando um ao outro sem dizer nada. Por um segundo, senti como se voltas
Lucas Park Às vezes, sentia uma paralisia de me consumir. É como se o tempo desacelerasse, aprisionando minha mente em um ciclo infinito, onde revivia o mesmo momento, repetidas vezes, mergulhando de novo na raiva que me consome. É um veneno lento que corroía meu orgulho. Precisava suportar tudo isso calado, esconder da pessoa que mais amo os demônios que me atormentam, só aprofundava meu inferno particular.
Lucas Park Após o término da reunião, uma discussão começou. Eu sabia exatamente para onde aquilo iria e não estava disposto a participar. Leslie sempre conduziu as conversas para o mesmo desfecho: fazer com que Gabrielle se sentisse culpada por não seguir à risco os desejos do falecido pai. Aquela mulher parecia empenhada em mantê-la presa a um dilema moral constante — seguir seus próprios interesses ou preservar o legado da família. O que eu não esperava era que Gabrielle usasse certas palavras naquele confronto. Ao que parecia, sua paciência também havia chegado ao limite.
Art. Único: A herdeira terá posse absoluta, irrefutável e intransferível, após a maioridade de 21 (vinte e um) anos, sob o cumprimento das seguintes exigências: 1. A herdeira deverá ser apta ao cargo de CEO, tendo pleno conhecimento certificado das seguintes áreas: a. Administração de empresas e finanças corporativas b. Economia c. Engenharia d. Arquitetura e. Gestão de pessoas Essa foi a primeira das dez exigências de meu pai, nada fáceis de se cumprir. Ele era a pessoa que mais me conhecia no mundo, talvez soubesse mais de mim do que eu mesma, o que me deixava desconfortável, pois sabia exatamente como lidar com meu narcisismo. Não pude conter o riso quando li pela primeira vez, na verdade, eu ri alto e tão descontroladamente, que senti cada músculo do meu corpo vibrar. Me obrigar a ser social mediante um documento era tão John. Ele sabia que eu não gostava de participar de eventos sociais, sabia que eu não gostava das pessoas da minha idade, assim como sabi
Lucas Park, o típico herdeiro que toda garota sonha em ter como companheiro. Bonito, carismático e com uma conta cheia de dinheiro. Eu não me importava com sua simpatia, tampouco precisava de seu dinheiro, a única razão para eu não raspar sua cara no asfalto quente, é pelo simples fato que seria um desperdício. Sua simetria era assustadora quando observada por algum tempo. Com sua descendência oriental, era quase impossível não olhar em seus olhos escuros e profundos, seu nariz levemente empinado e fino, a boca era grande com lábios volumosos. Era possível ter aqueles traços naturalmente? Se a inocência tivesse um rosto, aos vinte e três anos, com certeza seria aquele. Até mesmo seu sotaque era charmoso, qual me deixou completamente surpresa. Era realmente um contraste agradável quando visto por inteiro. Exceto pelo cabelo, que estava todo brilhante, com um topete estilo John Travolta nos tempos da brilhantina. — Pode parar de me encarar agora — me censurou. Sorri