Gabrielle
— Pode soltar o ar agora, Leslie — comentei, me jogando na cadeira, o tom meio provocador.
— Não precisa ser tão dura, princesa — retrucou ela, olhando-me. — Vamos perder metade da diretoria até o final do ano desse jeito.
— Ela não estava falando sério, Less — brincou Julls, rindo.
— Sim, estava — insistiu Leslie, sua expressão fechada. — Ela é exatamente como John. E ficará pior, se permitirmos. Vocês são cegos para isso, mas eu não.
Leslie realmente me culpa por parecer o melhor empresário que esse país já teve? E depois de ela mesma ter me colocado nessa posição? A ironia me fez gargalhar. A risada escapou antes que eu pudesse contê-la, fazendo meu corpo vibrar. Era ridículo. Leslie reclamou que eu me parecia com papai, como se isso fosse algo inesperado. Ela me jogou no colo dele desde que nasci, forçando-me a aprender com ele
Gabrielle Os olhos dele se fixaram em mim, desafiadores e quase divertidos. Havia uma mistura de diversão e impaciência ali, como se esperasse por algo — uma ordem, talvez. Algo em sua postura revelava uma prontidão inquietante, como se estivesse preparado para agir a qualquer momento, não importando o que fosse pedido, mesmo que fosse um crime. Sua entrega era precisa e fluida, lembrando os soldados de elite que costumavam frequentar os eventos que John me levava. — Qual é sua patente? — perguntei, tentando arrancar alguma informação. — Essa informação é irrelevante. — Ele se inclinou-se mais perto, até seu rosto ficar a centímetros do meu. — Mas posso garantir que tenho patente suficiente para protegê-la, quando necessário. Ficamos em silêncio por um instante, os olhos presos um no outro em um debate silencioso. Havia algo nele que me desafiava — uma brincadeira velada, como se estivéssemos testando um ao outro sem dizer nada. Por um segundo, senti como se voltas
Lucas Park Às vezes, sentia uma paralisia de me consumir. É como se o tempo desacelerasse, aprisionando minha mente em um ciclo infinito, onde revivia o mesmo momento, repetidas vezes, mergulhando de novo na raiva que me consome. É um veneno lento que corroía meu orgulho. Precisava suportar tudo isso calado, esconder da pessoa que mais amo os demônios que me atormentam, só aprofundava meu inferno particular.
Lucas Park Após o término da reunião, uma discussão começou. Eu sabia exatamente para onde aquilo iria e não estava disposto a participar. Leslie sempre conduziu as conversas para o mesmo desfecho: fazer com que Gabrielle se sentisse culpada por não seguir à risco os desejos do falecido pai. Aquela mulher parecia empenhada em mantê-la presa a um dilema moral constante — seguir seus próprios interesses ou preservar o legado da família. O que eu não esperava era que Gabrielle usasse certas palavras naquele confronto. Ao que parecia, sua paciência também havia chegado ao limite.
Lucas Park O celular vibrou no meu bolso. Castillo. Ótima hora para ligar... Tudo o que eu precisava era de uma distração. Recuei alguns passos, respirando fundo, e deixei a sala. Sabia que ela ficaria furiosa por eu tê-la deixado assim, mas aquela ligação precisava ser atendida, e de jeito nenhum Gabrielle podia saber o conteúdo. Lucas Park Houve tantas vezes que bati em sua porta em busca de um conselho, pois o via como o membro mais centrado e calculista do nosso círculo. Para Castillo, o copo nunca foi meio vazio; ele desprezava a ideia de que situações poderiam ser simplesmente ruínas. Se algo parecia desfavorável, era apenas uma percepção equivocada. Aprendi com ele a persistir, a manter meus impulsos sob controle... ao menos, sempre que fosse possível. Ele era o mestre do autocontrole, e me provou isso em situaç&oti Lucas Park Dei um passo para trás, querendo ignorar de tudo aquilo. Para mim, eram só roupas, apenas lembranças vazias de algo que ele nunca deveria ter acreditado que poderia manter. Tudo o que importava era que ela estava comigo agora. Se ele tinha fantasias sobre um retorno impossível, era problema dele. Eu só queria sair dali e fingir que não tinha visto nada. Lucas Park Lembrava com clareza a forma como ele reivindicava o corpo das garotas que lhe davam brechas, sem se importar com quem estivesse olhando. As festas que frequentávamos faziam a pequena reunião de Rodriguez parecer uma brincadeira inocente. Talvez minha raiva naquele dia tenha vindo do pensamento de que, de alguma forma, Gabrielle pudesse fazer parte daquele mundo nauseante e sujo da vida noturna. Eu não suportava a ideia de vê-la naquele território, porque sabia o quanto era difícil sair. &n Gabrielle Durante toda a minha vida, acreditei ser autossuficiente. É claro que, para algumas situações, eu precisava contar com outras pessoas, mas, em geral, sempre fui capaz de me virar sozinha. Nunca precisei que meus pais assumissem responsabilidade por mim. Talvez seja essa a razão pela qual fui "entregue" para o Jullian, como se eles pensassem que eu não precisasse de apoio direto. Será que, se eu tivesse demonstrado alguma fraqueza ou necessidade, eles teriam me ajudado? Agora, já adulta, me acostumei a tomar decisões sem consultar ninguém. A verdade é que eu apenas esperava que Julls estivesse ali, para consertar o que quer que eu tivesse quebrado. Mas ninguém nunca me ensinou a como lidar quando, no fim, o que estivesse quebrado fosse pessoa. O que eu faria agora que, finalmente, tinha magoado alguém? 94. Eu não queria estar ali
95. Ele disse que a ama
96. Um plano ridículo e infantil
97. Ele não estava lá
Último capítulo