Lucas Park
Lucas Park Lembrava com clareza a forma como ele reivindicava o corpo das garotas que lhe davam brechas, sem se importar com quem estivesse olhando. As festas que frequentávamos faziam a pequena reunião de Rodriguez parecer uma brincadeira inocente. Talvez minha raiva naquele dia tenha vindo do pensamento de que, de alguma forma, Gabrielle pudesse fazer parte daquele mundo nauseante e sujo da vida noturna. Eu não suportava a ideia de vê-la naquele território, porque sabia o quanto era difícil sair. &n
Gabrielle Durante toda a minha vida, acreditei ser autossuficiente. É claro que, para algumas situações, eu precisava contar com outras pessoas, mas, em geral, sempre fui capaz de me virar sozinha. Nunca precisei que meus pais assumissem responsabilidade por mim. Talvez seja essa a razão pela qual fui "entregue" para o Jullian, como se eles pensassem que eu não precisasse de apoio direto. Será que, se eu tivesse demonstrado alguma fraqueza ou necessidade, eles teriam me ajudado? Agora, já adulta, me acostumei a tomar decisões sem consultar ninguém. A verdade é que eu apenas esperava que Julls estivesse ali, para consertar o que quer que eu tivesse quebrado. Mas ninguém nunca me ensinou a como lidar quando, no fim, o que estivesse quebrado fosse pessoa. O que eu faria agora que, finalmente, tinha magoado alguém?
Gabrielle Sem perceber, dirigi pela primeira vez em direção ao shopping. A incerteza diante da possível reação do senhor Park, caso alguém deixasse escapar o ocorrido, não me deixava relaxar. Não que fizesse muita diferença na minha longa lista de transgressões, mas aquela era uma que os cães de guarda, que me seguiam logo atrás, não estavam presentes para encobrir. Leslie sabia e usaria contra mim na primeira oportunidade. Eu precisava resolver isso por mim mesma, pelo menos tiraria esse projétil de sua arma, que ela estava engatilhando lentamente. Leslie, com seu sorriso afiado, esperava uma chance de usar meus próprios erros contra mim. Eu sabia disso e, por mais que detestasse, precisava me antecipar aos seus passos. Cada descuido se tornava mais munição em suas mãos, e minha vida parecia um jogo de xadrez, onde eu só podia fazer movimentos previsíveis. Se de qualquer forma eu saísse do roteiro imaginário de minha mã
Gabrielle Gadreel era uma figura que impunha autoridade, mesmo em tom descontraído. Vestia uma calça cáqui e uma camisa social branca, com os dois primeiros botões desabotoados. Ele definitivamente chamava atenção. Era tão musculoso quanto Rodriguez, mas de um jeito diferente, mais natural, perigoso. Ele carregava dois copos e, sem que eu precisasse perguntar, estendeu um para mim ao se colocar ao meu lado. Ele estava ali por mim e não fez questão de esconder. Gadreel manteve o olhar firme em Rodriguez, como se formulasse algumas perguntas silenciosas, sem qualquer intenção de pronunciá-las. Exatamente como eu fazia. Eu conhecia aquele olhar. Ele estava avaliando a possibilidade de um conflito e calculando as chances de não sair do controle. Era assim que eu me parecia quando cogitava agredir alguém? Mas por que razão
Gabrielle Antes que eu pudesse iniciar a tentativa de parar Gadreel – seja lá do que ele estivesse tentando fazer – ele atendeu ao celular. Nem se importou com o fato de eu poder ouvir a conversa. Não desviou o olhar de mim, mantendo-se focado, mesmo enquanto falava. Como alguém conseguia sustentar o olhar assim, tão intenso, enquanto conversava com outra pessoa? ― Quanta chateação… ― murmurou ele, deslizando o celular de volta ao bolso. ― O serviço de quarto da rede Park é uma porcaria. ― Está hospedado no Hotel Park? ― perguntei. ― Sim, cheguei ontem à cidade, e como já estou acostumado a essa rede… ― explicou, girando o copo entre os dedos. ― Deveria ter me hospedado em um dos seus. ― Eles têm o melhor serviço da cidade ― re
Lucas Park Às vezes, quando olho no espelho, não consigo de deixar de sentir uma ponta de decepção. Não entenda errado, eu agradeço a Deus todos os dias pela nova chance que recebi, pela oportunidade de viver e fazer tudo aquilo que, por lógica e apontamento médico, eu seria incapaz de fazer. Ninguém consegue explicar como foi que eu sobrevivi, muito menos como a únicas sequelas restante fossem as dores de cabeça constante e os lapsos de memória. Meu corpo, que parecia ter sido o mais afetado de início, foi o que melhor se recuperou. Minha mente nunca voltaria a ser a mesma, fosse pela lesão no hipocampo ou pela crescente e doentia obsessão peça única mulher que eu daria minha vida. Sim, eu tinha consciência do poço fundo que estava, dia após dia, me afundando. Não me importava
Lucas Park Enquanto eu observava a expressão de deboche de Tico, algo dentro de mim se contraiu. A comparação com Castillo fez o sangue correr mais rápido. Ele ainda era uma sombra, uma lembrança incômoda que todos pareciam gostar de usar contra mim. Como se eu tivesse algo a provar — e de fato, talvez tivesse. Afinal, Gabrielle havia escolhido estar ao meu lado, mas isso não significava que eu estivesse imune à ameaça de ser substituído, seja por Gadreel ou qualquer outro fantasma que aparecesse. Tentei ignorar o peso da cerveja fria em minhas mãos, mas sabia que, até que Gabrielle e eu nos entendêssemos, todos os olhares ao redor permaneceriam como um alerta mudo de que eu não poderia vacilar. ― Só precisam aguentar mais algumas semanas ― prometi ― Enquanto isso, me deixem saber se pre
Lucas Park Eu estava preparado para tudo: desprezo, gritos e até uma nova tentativa de me afastar. Cada passo em direção ao quarto dela era acompanhado por uma busca incansável em minha mente, procurando a melhor forma de apaziguar a tempestade que, claramente, eu havia causado. Me preparei psicologicamente para o que quer que viesse... mas não para aquilo. A porta estava entreaberta, um convite silencioso. Quando entrei e caminhei em seu espaço, pronto para um confronto, o que encontrei desarmou completamente todas as armas que eu havia preparado para me defender. Ela estava adormecida, seu rosto sereno em meio aos longos cachos esparramados no travesseiro, a pele lisa e suave se revelando pela camisola de cetim vermelho que moldava cada linha de seu corpo. Dormia tão profundamente que seria um sacrilégio acordá-la. Me aproximei de sua cama e, com o máximo de cuidado