Gabrielle
Gadreel era uma figura que impunha autoridade, mesmo em tom descontraído. Vestia uma calça cáqui e uma camisa social branca, com os dois primeiros botões desabotoados. Ele definitivamente chamava atenção. Era tão musculoso quanto Rodriguez, mas de um jeito diferente, mais natural, perigoso. Ele carregava dois copos e, sem que eu precisasse perguntar, estendeu um para mim ao se colocar ao meu lado. Ele estava ali por mim e não fez questão de esconder.
Gadreel manteve o olhar firme em Rodriguez, como se formulasse algumas perguntas silenciosas, sem qualquer intenção de pronunciá-las. Exatamente como eu fazia. Eu conhecia aquele olhar. Ele estava avaliando a possibilidade de um conflito e calculando as chances de não sair do controle. Era assim que eu me parecia quando cogitava agredir alguém? Mas por que razão
Gabrielle Antes que eu pudesse iniciar a tentativa de parar Gadreel – seja lá do que ele estivesse tentando fazer – ele atendeu ao celular. Nem se importou com o fato de eu poder ouvir a conversa. Não desviou o olhar de mim, mantendo-se focado, mesmo enquanto falava. Como alguém conseguia sustentar o olhar assim, tão intenso, enquanto conversava com outra pessoa? ― Quanta chateação… ― murmurou ele, deslizando o celular de volta ao bolso. ― O serviço de quarto da rede Park é uma porcaria. ― Está hospedado no Hotel Park? ― perguntei. ― Sim, cheguei ontem à cidade, e como já estou acostumado a essa rede… ― explicou, girando o copo entre os dedos. ― Deveria ter me hospedado em um dos seus. ― Eles têm o melhor serviço da cidade ― re
Lucas Park Às vezes, quando olho no espelho, não consigo de deixar de sentir uma ponta de decepção. Não entenda errado, eu agradeço a Deus todos os dias pela nova chance que recebi, pela oportunidade de viver e fazer tudo aquilo que, por lógica e apontamento médico, eu seria incapaz de fazer. Ninguém consegue explicar como foi que eu sobrevivi, muito menos como a únicas sequelas restante fossem as dores de cabeça constante e os lapsos de memória. Meu corpo, que parecia ter sido o mais afetado de início, foi o que melhor se recuperou. Minha mente nunca voltaria a ser a mesma, fosse pela lesão no hipocampo ou pela crescente e doentia obsessão peça única mulher que eu daria minha vida. Sim, eu tinha consciência do poço fundo que estava, dia após dia, me afundando. Não me importava
Lucas Park Enquanto eu observava a expressão de deboche de Tico, algo dentro de mim se contraiu. A comparação com Castillo fez o sangue correr mais rápido. Ele ainda era uma sombra, uma lembrança incômoda que todos pareciam gostar de usar contra mim. Como se eu tivesse algo a provar — e de fato, talvez tivesse. Afinal, Gabrielle havia escolhido estar ao meu lado, mas isso não significava que eu estivesse imune à ameaça de ser substituído, seja por Gadreel ou qualquer outro fantasma que aparecesse. Tentei ignorar o peso da cerveja fria em minhas mãos, mas sabia que, até que Gabrielle e eu nos entendêssemos, todos os olhares ao redor permaneceriam como um alerta mudo de que eu não poderia vacilar. ― Só precisam aguentar mais algumas semanas ― prometi ― Enquanto isso, me deixem saber se pre
Lucas Park Eu estava preparado para tudo: desprezo, gritos e até uma nova tentativa de me afastar. Cada passo em direção ao quarto dela era acompanhado por uma busca incansável em minha mente, procurando a melhor forma de apaziguar a tempestade que, claramente, eu havia causado. Me preparei psicologicamente para o que quer que viesse... mas não para aquilo. A porta estava entreaberta, um convite silencioso. Quando entrei e caminhei em seu espaço, pronto para um confronto, o que encontrei desarmou completamente todas as armas que eu havia preparado para me defender. Ela estava adormecida, seu rosto sereno em meio aos longos cachos esparramados no travesseiro, a pele lisa e suave se revelando pela camisola de cetim vermelho que moldava cada linha de seu corpo. Dormia tão profundamente que seria um sacrilégio acordá-la. Me aproximei de sua cama e, com o máximo de cuidado
Lucas Park A porta estava aberta. Não fiz questão de bater ou perder tempo com formalidades. Jullian, sentado atrás de sua mesa, virando a cabeça em minha direção ao ouvir meus passos, com uma expressão divertida. Castillo logo o acompanha, o mesmo olhar de desdém refletido em seus olhos. Eu era uma piada. ― Juro por Deus que vou dar um tiro na cabeça de cada um nessa sala se não for importante o que têm a dizer! ― disparei, meu tom ríspido ecoando pelo ambiente. ― Bom dia para você também. ― respondeu Castillo, o sorriso ainda plantado no rosto, como se nada pudesse abalar seu humor. Jullian fechou a cara, seu semblante agora sombrio, uma ocorrência incomum. Ele parecia realmente surpreso, talvez até chocado, com meu tom e minhas pal
Art. Único: A herdeira terá posse absoluta, irrefutável e intransferível, após a maioridade de 21 (vinte e um) anos, sob o cumprimento das seguintes exigências: 1. A herdeira deverá ser apta ao cargo de CEO, tendo pleno conhecimento certificado das seguintes áreas: a. Administração de empresas e finanças corporativas b. Economia c. Engenharia d. Arquitetura e. Gestão de pessoas Essa foi a primeira das dez exigências de meu pai, nada fáceis de se cumprir. Ele era a pessoa que mais me conhecia no mundo, talvez soubesse mais de mim do que eu mesma, o que me deixava desconfortável, pois sabia exatamente como lidar com meu narcisismo. Não pude conter o riso quando li pela primeira vez, na verdade, eu ri alto e tão descontroladamente, que senti cada músculo do meu corpo vibrar. Me obrigar a ser social mediante um documento era tão John. Ele sabia que eu não gostava de participar de eventos sociais, sabia que eu não gostava das pessoas da minha idade, assim como sabi
Lucas Park, o típico herdeiro que toda garota sonha em ter como companheiro. Bonito, carismático e com uma conta cheia de dinheiro. Eu não me importava com sua simpatia, tampouco precisava de seu dinheiro, a única razão para eu não raspar sua cara no asfalto quente, é pelo simples fato que seria um desperdício. Sua simetria era assustadora quando observada por algum tempo. Com sua descendência oriental, era quase impossível não olhar em seus olhos escuros e profundos, seu nariz levemente empinado e fino, a boca era grande com lábios volumosos. Era possível ter aqueles traços naturalmente? Se a inocência tivesse um rosto, aos vinte e três anos, com certeza seria aquele. Até mesmo seu sotaque era charmoso, qual me deixou completamente surpresa. Era realmente um contraste agradável quando visto por inteiro. Exceto pelo cabelo, que estava todo brilhante, com um topete estilo John Travolta nos tempos da brilhantina. — Pode parar de me encarar agora — me censurou. Sorri
— Dave me pediu para cuidar de você — confessou Havíamos passado tanto tempo juntos no passado, que algumas perguntas não precisavam serem feitas. Dave era pai de Lucas, também era melhor amigo e sócio de meu pai, por esse motivo, passamos nossa infância inteira juntos. A mãe de Lucas havia morrido ao dar à luz, então eu emprestei a minha, simples assim. Crianças são tão ingênuas. — Como tem passado Gabrielle? — iniciou ele — Você esteve fugindo de mim desde que retornei. — Não sou uma pessoa nostálgica — confessei — Sinto muito se não te ofereci a recepção que gostaria. Ele sorriu. Não um sorriso de deboche. Ele realmente sorriu. Um sorriso envergonhado, quase escondido, que ao que parecia, eu não deveria ter notado. Ainda havia covas em suas bochechas, assim como quando éramos crianças. Olhar para ele sorrindo fez surgir um mix de emoções que eu nem sabia que era possível para alguém como eu. Senti falta daqueles dias em que passamos horas brincando e conversando