Lucas Park
Como pude ser tão cego? Ele havia me dito com todas as palavras que não se tratava de dinheiro, e eu ainda insistia em enxergar o conglomerado como o prêmio. Gadreel não queria a segunda maior empresa do mundo; ele queria vê-la em ruínas, tudo destruído, e tudo por uma simples diversão doentia — para me provar que podia. Era minha culpa. Eu havia trazido essa desgraça até ela.
― Por que ele faria isso? ― perguntou Jullian, inclinando-se ligeiramente sobre a mesa, a descrença estampada no rosto.
― Por minha causa. ― disse uma voz às nossas costas, firme e cheia de um peso que fez o ar da sala congelar.
Todos nos viramos, surpresos, ao ver Leslie parada ali. Desde quando estava ali? Será que ouvira toda a nossa conversa em silêncio? Ela sustentava nosso olhar,
Gabrielle Levaram apenas alguns meses para que tudo aquilo que eu construí desmoronasse. Acho que é verdade quando dizem que um exército é tão forte quanto seu membro mais fraco. Eu deveria saber que ele era o elo mais fraco da corrente que eu forçava contra os portões de minha mente. Eu havia construído muralhas altas, cada tijolo cimentado com autossuficiência. Lucas, no entanto, era a brecha que, por mais que tentasse remendar, continuava a abrir-se, dilacerando qualquer defesa que eu pudesse armar. Não adiantava o quanto eu tentasse, ele estava em minha mente, martelando, como um câncer que se espalha silencioso, até comprometer matar todo o sistema que me mantem viva. Lucas se tornou essa doença que eu nem mesmo estava disposta a me curar. Cada pensamento sobre ele vinha como uma dor surda, um peso que me arrastava. E, mesmo assim, a ideia de me curar dele era insuportável. De alguma forma, o desconforto se tornara uma prova da força com que ele vivia em mim,
Gabrielle Quando entrei no estacionamento, tudo aquilo que estava se formando em meu coração apenas se materializou. Eu precisava colocar para fora, de alguma forma. Eu não poderia permitir que aquela fúria fosse depositada em outra pessoa, principalmente se essa pessoa fosse Lucas. De nenhuma forma eu poderia permitir que ele visse aquilo que a tanto custo eu tentava esconder. A passos apressados e nem tão largos quanto eu gostaria, caminhei até estar diante de meu primeiro carro, aquele que eu mais valorizava em minha coleção, o primeiro presente de meu pai. Abri a porta malas e retirei a chave de roda em formato de cruz, e sem nem mesmo me permitir pensar, retirei meus saltos, os jogando em qualquer lugar daquela imensa garagem. Tudo o que eu queria era silenciar os gritos em minha mente. Rapidamente pulei para cima do capo da Porsche v
Art. Único: A herdeira terá posse absoluta, irrefutável e intransferível, após a maioridade de 21 (vinte e um) anos, sob o cumprimento das seguintes exigências: 1. A herdeira deverá ser apta ao cargo de CEO, tendo pleno conhecimento certificado das seguintes áreas: a. Administração de empresas e finanças corporativas b. Economia c. Engenharia d. Arquitetura e. Gestão de pessoas Essa foi a primeira das dez exigências de meu pai, nada fáceis de se cumprir. Ele era a pessoa que mais me conhecia no mundo, talvez soubesse mais de mim do que eu mesma, o que me deixava desconfortável, pois sabia exatamente como lidar com meu narcisismo. Não pude conter o riso quando li pela primeira vez, na verdade, eu ri alto e tão descontroladamente, que senti cada músculo do meu corpo vibrar. Me obrigar a ser social mediante um documento era tão John. Ele sabia que eu não gostava de participar de eventos sociais, sabia que eu não gostava das pessoas da minha idade, assim como sabi
Lucas Park, o típico herdeiro que toda garota sonha em ter como companheiro. Bonito, carismático e com uma conta cheia de dinheiro. Eu não me importava com sua simpatia, tampouco precisava de seu dinheiro, a única razão para eu não raspar sua cara no asfalto quente, é pelo simples fato que seria um desperdício. Sua simetria era assustadora quando observada por algum tempo. Com sua descendência oriental, era quase impossível não olhar em seus olhos escuros e profundos, seu nariz levemente empinado e fino, a boca era grande com lábios volumosos. Era possível ter aqueles traços naturalmente? Se a inocência tivesse um rosto, aos vinte e três anos, com certeza seria aquele. Até mesmo seu sotaque era charmoso, qual me deixou completamente surpresa. Era realmente um contraste agradável quando visto por inteiro. Exceto pelo cabelo, que estava todo brilhante, com um topete estilo John Travolta nos tempos da brilhantina. — Pode parar de me encarar agora — me censurou. Sorri
— Dave me pediu para cuidar de você — confessou Havíamos passado tanto tempo juntos no passado, que algumas perguntas não precisavam serem feitas. Dave era pai de Lucas, também era melhor amigo e sócio de meu pai, por esse motivo, passamos nossa infância inteira juntos. A mãe de Lucas havia morrido ao dar à luz, então eu emprestei a minha, simples assim. Crianças são tão ingênuas. — Como tem passado Gabrielle? — iniciou ele — Você esteve fugindo de mim desde que retornei. — Não sou uma pessoa nostálgica — confessei — Sinto muito se não te ofereci a recepção que gostaria. Ele sorriu. Não um sorriso de deboche. Ele realmente sorriu. Um sorriso envergonhado, quase escondido, que ao que parecia, eu não deveria ter notado. Ainda havia covas em suas bochechas, assim como quando éramos crianças. Olhar para ele sorrindo fez surgir um mix de emoções que eu nem sabia que era possível para alguém como eu. Senti falta daqueles dias em que passamos horas brincando e conversando
Eu não suportava mais tanto barulho. Não suportava mais olhar para aquele desconhecido. Mas o que me deixava mais infeliz, era aquele sentimento de posse que senti brotar em mim, assim como quando éramos crianças. Eu poderia detestar todas as pessoas, implicar com cada uma delas e maltratá-las, mas em nenhum momento em toda minha vida, consegui vê-lo da mesma forma que os demais. Lucas sempre foi importante demais para mim, tão precioso quanto meu pai. O destino me tirou os dois, um após o outro, e mesmo que tivesse me devolvido um, ele já não carregava toda a importância e carga emocional de antigamente, e mesmo se o fizesse, eu não era mais capaz de suportar nenhum volume de sentimentos. Me tornei um invólucro raso, incapaz de conter qualquer sentimento por muito tempo, sem deixá-lo escapar pelas paredes rachadas. Fiz o que deveria ter feito desde o momento em que cheguei. Me levantei e caminhei pelo gramado, ignorando o chamado de Lucas, que deixei me observando partir. C
Lucas Park Finalmente, havia chegado o dia. Eu a veria, estaria ao lado dela, e, ao contrário daquela manhã decepcionante, Gabrielle não poderia fugir. Passei horas acordado durante o voo, me preparando, repassando mentalmente tudo o que eu diria a ela quando nos encontrássemos. Ensaiei dezenas de vezes como deveria me apresentar, escolhi cuidadosamente a roupa que iria vestir e calculei o tom exato que deveria usar para não a assustar. E apesar de ter minhas mãos suando e minhas pernas tremulas, eu não poderia permitir que ela percebesse meu nervosismo, pois poderia interpretar de forma errada. De nenhuma forma ela poderia ter a impressão de que eu não queria estar ali, com ela. A verdade é que eu sabia que não nos víamos havia cerca de 10 anos, e que não sabia absolutamente nada sobre quem ela havia se tornado. Talvez ela fosse parecida com as outras garotas da sua idade e status, o que me deixaria um pouco decepcionado. As garotas com quem tive contato, daquelas que tinha
Lucas Park Tentei controlar a aversão daquelas pessoas, que crescia conforme eu olhava para elas. Sei que é errado julgar sem conhecer, mas era algo que se podia sentir pelo ambiente. Aquela soberba fedia, e me lembrar do dossiê de cada um deles, não me fez gostar mais de nenhuma daquelas cabeças vazias. — Que bom te ver, cara! — disse Ramon Rodriguez, me puxando para um abraço. — Vou te apresentar ao pessoal. Ele era meu colega de turma na época do colégio. Não me lembrava de sua aparência, nem se éramos muito próximos, mas, segundo as anotações de Dave, podíamos ser considerados melhores amigos. Olhando para ele, sorrindo para todas as garotas que passavam por nós, parecia ser mais ignorante do que supus ao ver sua foto. Ramon era mais alto que eu, mais forte e muito barulhento. Vestia uma camisa de linho clara, completamente aberta, exibindo seu corpo musculoso, que fazia questão de mostrar para todos. A primeira impressão não poderia ter sido pior. Para mim, e