Gabrielle Faltavam apenas quatro semanas para a grande festa. A tensão pairava sobre todos naquela casa, mas era em Leslie que ela se fazia mais evidente. Por alguma razão, ela decidiu se aproximar de mim. Naquela manhã quente de quarta-feira, enquanto tomávamos café, ela sentou-se ao meu lado. — Lucas me contou que você quer passar esses dias no solar — começou, com uma expressão séria. — Esse é um evento importante, princesa. Você deveria participar das decisões finais. — Não me permitiu opinar em absolutamente nada até agora — retruquei, sem olhar para ela. — Não faz sentido me meter nas escolhas nesse ponto. — Me perdoe por isso, eu só me empolguei um pouco — admitiu, forçando um sorriso. — Essa é a primeira festa que damos aqui em casa, e o primeiro aniversário seu com convidados. Não aceito nada menos que a perfeição. Levantei-me calmamente da mesa. — Faça como desejar. Se me der licença... — Espere — pediu, com um tom mais suave. — Eu gostaria
Gabrielle Lucas e eu permanecemos sentados, em silencio, por mais alguns longos minutos. Ele parecia perdido em pensamentos e por mais que eu não quisesse percebe-lo, tornou-se impossível não olhar para ele. Estava tão bonito concentrado daquela forma. Sem nem mesmo perceber, minha mão se moveu até a sua, que se encontravam unidas, em cima da mesa. O silêncio de Lucas me engoliu como um abismo. Por que era tão difícil para ele entender? Como posso amar alguém e ao mesmo tempo ter medo de que esse amor se tornar a arma que usariam contra mim? ― Me desculpe por isso ― pedi ― Sua mãe está dizendo a verdade? ― me lançando um olhar acusatório ― Prefere a morte do que admitir que sente alguma coisa por mim? ― Não é dessa forma. ― É tão ruim assim estar apaixonada por mim, Gabrielle? ― perguntou, deixando a voz pesada fal
Gabrielle Enquanto caminhávamos pelos corredores do shopping, percebi olhares curiosos em nossa direção. Desde o momento em que saímos da sala de reunião, ele havia se mantido ao meu lado, colado em mim, como se fôssemos amigos íntimos desde sempre — o tipo de proximidade que apenas Lucas tinha comigo. Suas mãos, entrelaçadas nas costas, lembravam-me a postura de um soldado em descanso. Aquilo me fez pensar: ele não devia ser uma pessoa comum. Jullian jamais deixaria um completo desconhecido me acompanhar. — Quem é você? — Essa informação é irrelevante — disse ele, sem desviar o olhar do caminho à nossa frente. — O que importa não é quem eu sou, mas o que posso fazer por você. A resposta foi direta e fria, e, de algum modo, fazia todo o sentido. Sim, ele estava certo. Não era importante sua origem, sua formação e nem mesmo seu nome. M
Gabrielle Ao fundo, vi que Leslie já estava acomodada, sentada no último assento e sorrindo para mim. Caminhei vagarosamente em sua direção, deixando os olhares pesados que se pousavam sobre mim. A ansiedade era palpável; todos aguardavam um pronunciamento da minha parte. A diversidade de rostos chamou minha atenção — alguns eu conhecia, outros não. Aqueles que já eram familiares, ainda mais nervosos, especialmente uma garota de rosto magro e corpo esquelético. Ela vestia um terno preto discreto, contrastando com a formalidade do momento. O que Rodriguez pensaria ao ver uma de suas “concubinas” tão modestamente vestidas? Quando me coloquei ao lado de Leslie, ela apenas sorriu. Nunca tinha visto aquele sorriso antes. Era dirigido a mim? Ela me indicou um lugar vazio na ponta da mesa, e percebi que, pela primeira vez, todos na sala estavam diante de seu CEO. A atmosfera era tensa, para dizer o mínimo.  
Gabrielle — Pode soltar o ar agora, Leslie — comentei, me jogando na cadeira, o tom meio provocador. — Não precisa ser tão dura, princesa — retrucou ela, olhando-me. — Vamos perder metade da diretoria até o final do ano desse jeito. — Ela não estava falando sério, Less — brincou Julls, rindo. — Sim, estava — insistiu Leslie, sua expressão fechada. — Ela é exatamente como John. E ficará pior, se permitirmos. Vocês são cegos para isso, mas eu não. Leslie realmente me culpa por parecer o melhor empresário que esse país já teve? E depois de ela mesma ter me colocado nessa posição? A ironia me fez gargalhar. A risada escapou antes que eu pudesse contê-la, fazendo meu corpo vibrar. Era ridículo. Leslie reclamou que eu me parecia com papai, como se isso fosse algo inesperado. Ela me jogou no colo dele desde que nasci, forçando-me a aprender com ele
Gabrielle Os olhos dele se fixaram em mim, desafiadores e quase divertidos. Havia uma mistura de diversão e impaciência ali, como se esperasse por algo — uma ordem, talvez. Algo em sua postura revelava uma prontidão inquietante, como se estivesse preparado para agir a qualquer momento, não importando o que fosse pedido, mesmo que fosse um crime. Sua entrega era precisa e fluida, lembrando os soldados de elite que costumavam frequentar os eventos que John me levava. — Qual é sua patente? — perguntei, tentando arrancar alguma informação. — Essa informação é irrelevante. — Ele se inclinou-se mais perto, até seu rosto ficar a centímetros do meu. — Mas posso garantir que tenho patente suficiente para protegê-la, quando necessário. Ficamos em silêncio por um instante, os olhos presos um no outro em um debate silencioso. Havia algo nele que me desafiava — uma brincadeira velada, como se estivéssemos testando um ao outro sem dizer nada. Por um segundo, senti como se voltas
Lucas Park Às vezes, sentia uma paralisia de me consumir. É como se o tempo desacelerasse, aprisionando minha mente em um ciclo infinito, onde revivia o mesmo momento, repetidas vezes, mergulhando de novo na raiva que me consome. É um veneno lento que corroía meu orgulho. Precisava suportar tudo isso calado, esconder da pessoa que mais amo os demônios que me atormentam, só aprofundava meu inferno particular.
Lucas Park Após o término da reunião, uma discussão começou. Eu sabia exatamente para onde aquilo iria e não estava disposto a participar. Leslie sempre conduziu as conversas para o mesmo desfecho: fazer com que Gabrielle se sentisse culpada por não seguir à risco os desejos do falecido pai. Aquela mulher parecia empenhada em mantê-la presa a um dilema moral constante — seguir seus próprios interesses ou preservar o legado da família. O que eu não esperava era que Gabrielle usasse certas palavras naquele confronto. Ao que parecia, sua paciência também havia chegado ao limite.