Lucas Park Ela me abandonou naquela festa para se encontrar com outra pessoa. Saber disso feriu meu coração. Na verdade, eu era apenas um iludido, e sabia muito bem disso. Onde estive com a cabeça ao pensar que, ela estaria completamente disponível, apenas esperando pelo meu retorno? Como pude ser tão ingênuo em pensar que, conseguiria ter seu perdão e consequentemente seu amor, em apenas algumas horas de conversa? Era de Gabrielle que estávamos falando. Nada nela era simples. Ela era um labirinto, e cada vez que eu pensava ter encontrado a saída, percebia que estava apenas em mais um corredor sem fim. Quando me levantei, ignorando completamente a conversa deles, pois já não tinha importância para mim, as últimas palavras de Leslie foram o suficiente para que eu perdesse o sono. ― Se pretende conquistar o coração dela, terá que se esforçar muito mais do que isso. Senti meu peito apertar, como se o ar à minha volta estivesse cada vez mais rarefeito. Era ridículo, ma
Lucas Park O silêncio era tão denso que eu podia ouvir meu próprio coração acelerado. Não havia tempo para desculpas. Antes que ela começasse com as acusações, eu precisava dizer algo, ainda tendo em mente aquela foto que carregava comigo. — Você se lembra daquele episódio? — perguntei, olhando para o vidro da porta fechada. — O velho John ficou muito chateado comigo. — Acredito que "chateado" não seja a palavra correta — respondeu ela, rindo. — Eu pensei que você fosse chorar. Ela tinha razão. Naquele dia, eu a convenci a brincarmos em seu quarto, desenhando naquele vidro, pois eu não queria ficar lá embaixo com os adultos. Nunca soube exatamente qual foi o motivo daquela discussão, mas lembro-me de como John parecia tenso, e de como Leslie evitava olhar para ele. Algo grande estava acontecendo, algo que, de alguma forma, nos afetaria no futuro. Jullian havia me dito para não deixar que os mais velhos descobrissem sobre as fotos que eu tirava, mas, se por ac
Lucas Park Eu não desejava assustá-la, mas não conseguia mais lutar contra meus instintos. A puxei para perto de mim, tão perto que pude sentir sua respiração ofegante e seu calor. Pude sentir seu corpo enrijecer por um momento, como se estivesse hesitante. Mas então, seu rosto se afundou levemente em meu peito, e percebi que ela não estava fugindo. O calor entre nós era palpável, e seu suspiro suave pareceu ser um misto de medo e desejo. Eu sabia que não deveria avançar mais, mas também sabia que, naquele instante, Gabrielle estava tão dividida quanto eu. Seu cheiro era tão delicioso e doce, que me lembrava uma tigela de morangos coberta por chantilly. E, embora eu ansiasse por colidir meus lábios contra os seus, desejava desesperadamente desfazer aquele nó em seu roupão e deixá-la saber o quanto eu sonhava com o dia em que ela aceitasse ser minha de todas as formas humanamente possíveis. Meus lábios tocaram sua testa, tão ternamente, que não houve mais espaço para meus pe
Gabrielle A noite seguida de um dia inteiro de trabalho braçal é reconfortante. Deixo aqui registrado meu completo respeito pelos profissionais dos cargos mais baixos, com ênfase para os profissionais da limpeza. A verdade é que ninguém se importa com essas pessoas até precisar delas, ninguém pensa nelas como seres humanos que estão trabalhando duro para garantir a ordem e a higiene, e acima de tudo, que estão apenas tentando sobreviver e ganhar um salário para alimentar suas famílias. A forma como são tratados é simplesmente inadmissível. Se as pessoas as tratam como inexistentes, o que seria delas se eu simplesmente decidisse dar um dia de folga para o setor da limpeza? Sei que um dia não é muito tempo, mas é a única função que, se parar por apenas um dia, todos os setores se tornariam um completo caos. Seria recompensador ver todos aqueles idiotas tirando o próprio lixo, limpando a própria mesa, e os banheiros... Comecei a rir sozinha, logo pela manhã, imaginando a cena.
Gabrielle — Estou orgulhoso de você — disse finalmente, para meu alívio. — Realmente estou surpreso por estar pensando no conforto de pessoas que você nem conhece. — Pensa tão mal de mim assim? — Vamos ser francos, querida — sorriu ele. — Você é a pessoa mais apática que conheço. E eu nasci em Nova Deli. Ouvi-lo dizer, em voz alta o que pensava a meu respeito, me deu uma pequena pontada no coração. Jullian era a pessoa mais próxima que tive em toda a minha vida, conhecendo partes de minha personalidade que nem mesmo meus pais sabiam que existia. E apesar dele sempre deixar escapar que me achava uma pessoa arrogante, manipuladora e superficial, não tornava mais fácil de se ouvir. — Vejo que tem a mesma opinião de minha mãe sobre minha personalidade — observei. — É sobre mim que conversam todas as manhãs? — Sim, você é a pauta principal de nossas reuniões matinais, e devo dizer, sua mãe está muito preocupada com a forma como sua personalidade está evoluindo,
Gabrielle — Se está falando de ter escondido aquela foto por tanto tempo... — Suas evasivas não funcionam comigo. — sorriu ele. — Refiro-me à minha ausência por tanto tempo. — Dave mencionou um acidente — sondei. — Está relacionado? — Sim. Como não existe um método fácil de dizer, vou direto ao ponto — adiantou-se. — Eu sofri um acidente logo após chegar em minha cidade natal... Seus olhos estavam vidrados na estrada, mas pude notar seu nervosismo. Sua voz se tornou um pouco áspera, como que estivesse me contando um segredo obscuro, não por sua própria escolha, mas por estar sendo empurrado para essa confissão. Seu sotaque estava mais pesado e as palavras saiam mais lentamente, como que estivesse escolhendo-as uma a uma. Continuou: ― Lembro-me vagamente das luzes dos carros vindo na minha direção... depois disso, tudo se apagou. Eu acordei anos depois, perdido no tempo, sem ideia do que tinha acontecido. Um aperto gelado tomou conta do
Gabrielle — Eu não sei — confessei. Eu tentei encontrar algo que pudesse definir o que sentia, uma palavra, um nome para aquele turbilhão dentro de mim, mas era como tentar capturar a névoa com as mãos. Nada fazia sentido, e tudo parecia fora do lugar. Por que, depois de tanto tempo, ele ainda tinha esse poder sobre mim? — Isso é ótimo — disse ele, sorrindo — significa que não me odeia. — Eu não disse... — Não se preocupe — me interrompeu — estou disposto a arcar com as consequências de minha ausência. — E como exatamente pretende fazer isso? — Vou te mostrar que podemos ser muito mais do que um dia fomos. ― seus olhos se encontraram com os meus, e havia uma sinceridade neles que me desarmou. Retomamos nosso caminho e seguimos em silêncio pelo restante do percurso. Eu não esperava que ele estivesse disposto a assumir qualquer responsabilidade que pensasse ter comigo; afinal, ele não tinha nenhuma. Ele não era culpado pelo meu se
Gabrielle Já tinha se passado quatro semanas, e finalmente eu consegui descansar. Pela primeira vez na vida, entendi o anseio por merecidas férias. Não havia sido nada fácil, eu comecei a entender o que um "faz-tudo" fazia. Jullian aproveitou a situação para me humilhar. Na primeira semana, tive que limpar o chão, as janelas, as portas, esvaziar os lixos, lavar os sanitários. Cada tarefa que eu realizava me parecia interminável. O cheiro forte dos produtos de limpeza me deixava enjoada, e minhas mãos pesavam depois de tantos dias de esfregar e lavar. Na segunda semana, cuidei das entregas de correspondências e contratos, passando o dia subindo e descendo, carregando remessas de papéis e contratos para todos os departamentos. Meu corpo já não aguentei mais o sobe e desce constante, e, à noite, eu só queria desabar na cama, sem forças nem para pensar. Na terceira semana, virei a garota do bloco de notas; Fiquei obrigado a realizar todas as tarefas que eram coladas nos qua