Gabrielle
Lucas havia encontrado a forma mais eficaz e precisa de me fazer ceder. Refinou essa habilidade ao ponto de torná-la quase imperceptível, uma obra-prima de manipulação envolta em toques e beijos. Eu, ingênua e vulnerável, deixei que isso acontecesse vezes demais.
Não era que eu desgostasse de sentir seus lábios nos meus ou suas mãos mapeando meu corpo como se fosse território sagrado. Longe disso. Mas odiava, com uma intensidade avassaladora, como ele fazia questão de desarmar minha mente no processo. Ele me desmontava, peça por peça, até que eu não pudesse lembrar de nada além dele.
― Não vai funcionar dessa vez ― murmurei, ofegante, pressionando suas mãos para afastá-lo, com a pouca força de vontade que consegui reunir.
 
Gabrielle Lucas percebeu meu silêncio e suspirou profundamente, como se também estivesse cansado de carregar o peso das expectativas. ― Eu só quero que você esteja preparada para o que está por vir ― disse ele, suavizando a voz. ― Isso não é algo que você pode enfrentar sozinha, Gabrielle. Eu o encarei, tentando decifrar suas intenções, mas algo me dizia que ele sabia muito mais do que estava disposto a compartilhar. E isso me irritava tanto quanto me confortava. ― E por acaso acha que isso mudaria, se eu estivesse grávida? ― desafiei, cruzando os braços e encarando-o. Lucas manteve o olhar fixo em mim, a intensidade em seus olhos quase me fazendo vacilar. ― Sua gravidez abrirá os portões de sua casa ― respondeu, com uma
Gabrielle Sem olhar para trás, segui em direção à garagem. Não parei para conferir se ele estava me seguindo, e no fundo, desejei que não estivesse. A última coisa que eu queria era outra conversa com mais meias-verdades, rodeios e tentativas de controle. A casa estaria vazia em alguns minutos, já que todos foram obrigados a participar daquela reunião que Jullian não parava de enfatizar como sendo "crucial". Mas eu não tinha interesse em ficar. Cada parede, cada espaço vazio parecia um lembrete cruel de como eu estava sendo aprisionada, não por tijolos, mas pelas expectativas e manipulações de todos ao meu redor. Sem pensar muito no que estava fazendo, caminhei direto até o McLaren. Se Lucas queria me irritar com suas mentiras, eu poderia muito bem retribuir privando-o de seu mais nov
Gabrielle A cobertura tinha apenas dois apartamentos, e eu sabia exatamente qual deles pertencia a Lucas. A presença daquela mulher era desnecessária, uma irritação adicional que eu não estava disposta a suportar. Ela não precisava me acompanhar e, acima de tudo, não deveria presenciar o que viria a seguir. ― Eu sei o caminho ― murmurei, firme, saindo do elevador sem olhar para trás. Graças a Deus, ela não me seguiu. Caso contrário, não sei se minha paciência teria durado. Cada passo até a porta pareceu aumentar a ebulição dentro de mim. Quando finalmente cheguei, toquei a campainha com tamanha força que o som ecoou lá dentro como uma sirene anunciando um desastre iminente. Não levou nem meio minuto para a porta se abrir. Não me de
Art. Único: A herdeira terá posse absoluta, irrefutável e intransferível, após a maioridade de 21 (vinte e um) anos, sob o cumprimento das seguintes exigências: 1. A herdeira deverá ser apta ao cargo de CEO, tendo pleno conhecimento certificado das seguintes áreas: a. Administração de empresas e finanças corporativas b. Economia c. Engenharia d. Arquitetura e. Gestão de pessoas Essa foi a primeira das dez exigências de meu pai, nada fáceis de se cumprir. Ele era a pessoa que mais me conhecia no mundo, talvez soubesse mais de mim do que eu mesma, o que me deixava desconfortável, pois sabia exatamente como lidar com meu narcisismo. Não pude conter o riso quando li pela primeira vez, na verdade, eu ri alto e tão descontroladamente, que senti cada músculo do meu corpo vibrar. Me obrigar a ser social mediante um documento era tão John. Ele sabia que eu não gostava de participar de eventos sociais, sabia que eu não gostava das pessoas da minha idade, assim como sabi
Lucas Park, o típico herdeiro que toda garota sonha em ter como companheiro. Bonito, carismático e com uma conta cheia de dinheiro. Eu não me importava com sua simpatia, tampouco precisava de seu dinheiro, a única razão para eu não raspar sua cara no asfalto quente, é pelo simples fato que seria um desperdício. Sua simetria era assustadora quando observada por algum tempo. Com sua descendência oriental, era quase impossível não olhar em seus olhos escuros e profundos, seu nariz levemente empinado e fino, a boca era grande com lábios volumosos. Era possível ter aqueles traços naturalmente? Se a inocência tivesse um rosto, aos vinte e três anos, com certeza seria aquele. Até mesmo seu sotaque era charmoso, qual me deixou completamente surpresa. Era realmente um contraste agradável quando visto por inteiro. Exceto pelo cabelo, que estava todo brilhante, com um topete estilo John Travolta nos tempos da brilhantina. — Pode parar de me encarar agora — me censurou. Sorri
— Dave me pediu para cuidar de você — confessou Havíamos passado tanto tempo juntos no passado, que algumas perguntas não precisavam serem feitas. Dave era pai de Lucas, também era melhor amigo e sócio de meu pai, por esse motivo, passamos nossa infância inteira juntos. A mãe de Lucas havia morrido ao dar à luz, então eu emprestei a minha, simples assim. Crianças são tão ingênuas. — Como tem passado Gabrielle? — iniciou ele — Você esteve fugindo de mim desde que retornei. — Não sou uma pessoa nostálgica — confessei — Sinto muito se não te ofereci a recepção que gostaria. Ele sorriu. Não um sorriso de deboche. Ele realmente sorriu. Um sorriso envergonhado, quase escondido, que ao que parecia, eu não deveria ter notado. Ainda havia covas em suas bochechas, assim como quando éramos crianças. Olhar para ele sorrindo fez surgir um mix de emoções que eu nem sabia que era possível para alguém como eu. Senti falta daqueles dias em que passamos horas brincando e conversando
Eu não suportava mais tanto barulho. Não suportava mais olhar para aquele desconhecido. Mas o que me deixava mais infeliz, era aquele sentimento de posse que senti brotar em mim, assim como quando éramos crianças. Eu poderia detestar todas as pessoas, implicar com cada uma delas e maltratá-las, mas em nenhum momento em toda minha vida, consegui vê-lo da mesma forma que os demais. Lucas sempre foi importante demais para mim, tão precioso quanto meu pai. O destino me tirou os dois, um após o outro, e mesmo que tivesse me devolvido um, ele já não carregava toda a importância e carga emocional de antigamente, e mesmo se o fizesse, eu não era mais capaz de suportar nenhum volume de sentimentos. Me tornei um invólucro raso, incapaz de conter qualquer sentimento por muito tempo, sem deixá-lo escapar pelas paredes rachadas. Fiz o que deveria ter feito desde o momento em que cheguei. Me levantei e caminhei pelo gramado, ignorando o chamado de Lucas, que deixei me observando partir. C
Lucas Park Finalmente, havia chegado o dia. Eu a veria, estaria ao lado dela, e, ao contrário daquela manhã decepcionante, Gabrielle não poderia fugir. Passei horas acordado durante o voo, me preparando, repassando mentalmente tudo o que eu diria a ela quando nos encontrássemos. Ensaiei dezenas de vezes como deveria me apresentar, escolhi cuidadosamente a roupa que iria vestir e calculei o tom exato que deveria usar para não a assustar. E apesar de ter minhas mãos suando e minhas pernas tremulas, eu não poderia permitir que ela percebesse meu nervosismo, pois poderia interpretar de forma errada. De nenhuma forma ela poderia ter a impressão de que eu não queria estar ali, com ela. A verdade é que eu sabia que não nos víamos havia cerca de 10 anos, e que não sabia absolutamente nada sobre quem ela havia se tornado. Talvez ela fosse parecida com as outras garotas da sua idade e status, o que me deixaria um pouco decepcionado. As garotas com quem tive contato, daquelas que tinha