Lucas Park
Confesso que temi sua reação ao mostrar aquele exame alterado. Tudo o que planejamos dependia dela, e eu estava apostando todas as minhas fichas. Havia apenas duas possibilidades: ela poderia recusar a participar daquela mentira, deixando todo o plano desmoronar, ou poderia concordar e, com isso, permitir que o caos que Castillo semeava em nossas vidas, se revelasse de uma maneira completamente fora do meu controle.
E, no fundo, eu não sabia quais dessas opções me apavorava mais.
Eu não queria que ela passasse por isso.
Tudo o que eu desejava era segurá-la em meus braços e fugir dali. Longe de todas aquelas pessoas, longe de problemas que sequer deveriam ser nossos. Mas fugir
Lucas Park Ela era um furacão, explosiva e implacável quando chegava ao limite. Eu havia visto de perto a violência em sua raiva, a fúria que a consumia quando se sentia encurralada. E agora eu estava prestes a encurralá-la. Como ela reagiria quando eu contasse sobre a decisão de nossos pais? O casamento deveria ser nossa escolha. Somente nossa. Levei o que pareceu uma eternidade para convencê-la a sequer considerar a ideia. Gabrielle aceitou, mas com um pé atrás, segurando a decisão como um escudo. Era o tipo de acordo não falado que pairava entre nós: um dia, aconteceria. Só não sabíamos como ou quando. Era a nossa forma de manter o controle, mesmo em um mundo que constantemente nos tirava isso. E agora? Agora, eu a obrigaria a abrir mão disso também?
Lucas Park Ao colocar os pés na sala de reunião, compreendi imediatamente por que era eu quem deveria conduzir aquela maldita transação. Todos os olhares se voltaram para mim, mas nenhum deles transmitia confiança, apenas a expectativa cansada e, em alguns casos, o desprezo velado. Minha carranca aumentava a cada passo em direção à ponta da mesa, onde Jullian e Castillo me esperavam, carregados por seis figuras desconhecidas, estrategicamente distribuídas pela longa mesa. Eu sempre odiei essas salas de reunião. Elas me lembravam o hospital, com suas luzes frias, o ar pesado e a tensão mal disfarçada. Havia algo perturbador nas pessoas sentadas, todos olhando para o centro da mesa como se o contato visual fosse um crime. Era exatamente assim que me lembrava da junta médica me avaliando logo após recuperar a consciência.
Lucas Park Castillo e Gadreel não eram apenas programadores excepcionais — eram estrategistas natos. A especialidade de Castillo era apagar rastros; a de Gadreel, invadir sistemas. Era um jogo de equilíbrio que os tornara os mais procurados no ramo. E Leslie, claro, não hesitara em contratar os dois quando teve a chance. Lembrei-me das raras vezes que os observei trabalhando juntos. Para eles, “trabalhar” muitas vezes parecia uma extensão de seus jogos particulares. Uma vez por mês, reuniam a equipe para um jogo de “capture the flag”. Dividiam-se em dois times, e o objetivo era invadir o sistema do outro. Naquela época, eu não entendia quase nada do que faziam. Digitavam comandos em telas que pareciam labirintos. Enquanto Gadreel tentava arrombar as portas que Castillo mantinha estrategicamente visíveis, Castil
Lucas Park Meus dias estavam se tornando cada vez mais turbulentos. Onde foram parar as manhãs agradáveis que passava ao lado de Gabrielle? Por que era tão difícil ter um momento de tranquilidade, sem que algo ou alguém surgisse para implantar obstáculos e objeções? Era pedir muito querer uma manhã de paz? Já bastava ela ter me deixado após aquela breve discussão, agora eu tinha Castillo de volta, mordendo meu calcanhar. E por que, toda vez que achava que não poderia ficar pior, a porra do meu celular tocava? Aqueles filhos da puta só podiam estar de brincadeira. Eles eram pagos para resolver qualquer problema em que Gabrielle resolvesse se meter, e se cada vez que ela pisasse fora da linha eu recebesse uma ligação, poderia muito bem mandar todos ficarem em casa. Por que agiam por conta própria somente q
Lucas Park Quando me sentei no banco do motorista, com a intenção de pegar meu celular e acessar as câmeras de segurança do hotel, a porta do passageiro se abriu. Castillo deslizou para o assento ao meu lado com a calma de quem sabia exatamente o quanto sua presença me irritava. Ele ostentava um sorriso que me fez cerrar os punhos sobre o volante, enquanto eu lutava contra a vontade de apagá-lo do rosto dele com um golpe. — Nem minha mulher me segue desse jeito — praguejei, apertando o volante com força. — Eu preciso de espaço, Castillo. Será que sabe o que é isso? — Deve ser por isso que sua garota está correndo para os braços de outro cara. — Ele soltou uma risada baixa, sem um pingo de vergonha. — Não está conseguindo lidar com ela, não é mesmo?
Lucas Park Sabíamos que Gabrielle só conseguiu tocá-lo porque o pegou de surpresa. Entre todos nós, Gadreel era, sem dúvida, o mais habilidoso. Seus anos nas forças especiais e em operações de inteligência internacional lhe renderam muito mais do que contatos excepcionais e conhecimento estratégico; ele adquiriu uma precisão mortal e um estilo de luta sem falhas. Era impossível encontrar uma abertura em sua defesa. Ele costumava frequentar lutas clandestinas e arenas, não por necessidade, mas por puro prazer. Gadreel encontrava satisfação em ver seus oponentes sangrarem e se renderem, e esse simples pensamento fez o frio na minha espinha se espalhar como um veneno. Gabrielle, por mais determinada e feroz que fosse, não tinha chance contra ele. Ela era como uma folha seca em suas mãos, frágil diante de sua força e habilidade. — Ele jamais a machucaria, — disse Castillo de repente, quebrando o silêncio. Sua voz tinha um tom resoluto, mas a dúvida pairava no ar como uma so
Gabrielle Durante a maior parte de minha vida, sempre soube quem eu era e exatamente como me sentia, tanto em relação aos outros quanto em relação a mim mesma. Os sentimentos que direcionava e nutria para as pessoas ao meu redor eram primitivos e rasos, limitando-se as emoções básicas e de certa forma, mornas. Eu não abria brechas para criar qualquer laço, nem mesmo com aqueles que costumava ver diariamente. Os sentimentos que cultivava em relação a mim mesma, eram sólidos e impenetráveis. Nada era mais importante do que eu mesma e jamais permitiria que qualquer pessoa pudesse fazer com que eu me sentisse menos do que eu era. Talvez eu não fosse tão impenetrável quanto julgava. Com certeza não era. Lucas havia conseguido encontrar uma brecha em minha fortaleza, e de uma forma q
Gabrielle Estacionamos em frente ao clube esportivo. Era um local que todos os garotos costumavam frequentar. As garotas, no entanto, mantinham distância. Eu sempre implorei a Julls para me deixar tornar membro, mas obviamente ele nunca sequer cogitou a hipótese. Em teoria, era apenas um clube onde as pessoas se reuniam para praticar os mais variados esportes. Na prática, era um espaço para resolver desavenças. Toda a hierarquia ficava para fora daquele lugar, e os problemas pessoais eram resolvidos em boas partidas, seja lá qual fosse o esporte. Fiquei surpresa por Gadreel saber daquele lugar. ― Pensei que não conhecesse a cidade ― deixei escapar, olhando de soslaio. ― Fiz minha pesquisa ― respondeu com uma piscadela, soltando o cinto de segurança. Ele deu a volta no carro e abriu a porta para mim. Cavalheiro. N