Lucas Park
Quando me sentei no banco do motorista, com a intenção de pegar meu celular e acessar as câmeras de segurança do hotel, a porta do passageiro se abriu. Castillo deslizou para o assento ao meu lado com a calma de quem sabia exatamente o quanto sua presença me irritava. Ele ostentava um sorriso que me fez cerrar os punhos sobre o volante, enquanto eu lutava contra a vontade de apagá-lo do rosto dele com um golpe.
— Nem minha mulher me segue desse jeito — praguejei, apertando o volante com força. — Eu preciso de espaço, Castillo. Será que sabe o que é isso?
— Deve ser por isso que sua garota está correndo para os braços de outro cara. — Ele soltou uma risada baixa, sem um pingo de vergonha. — Não está conseguindo lidar com ela, não é mesmo?
Lucas Park Sabíamos que Gabrielle só conseguiu tocá-lo porque o pegou de surpresa. Entre todos nós, Gadreel era, sem dúvida, o mais habilidoso. Seus anos nas forças especiais e em operações de inteligência internacional lhe renderam muito mais do que contatos excepcionais e conhecimento estratégico; ele adquiriu uma precisão mortal e um estilo de luta sem falhas. Era impossível encontrar uma abertura em sua defesa. Ele costumava frequentar lutas clandestinas e arenas, não por necessidade, mas por puro prazer. Gadreel encontrava satisfação em ver seus oponentes sangrarem e se renderem, e esse simples pensamento fez o frio na minha espinha se espalhar como um veneno. Gabrielle, por mais determinada e feroz que fosse, não tinha chance contra ele. Ela era como uma folha seca em suas mãos, frágil diante de sua força e habilidade. — Ele jamais a machucaria, — disse Castillo de repente, quebrando o silêncio. Sua voz tinha um tom resoluto, mas a dúvida pairava no ar como uma so
Gabrielle Durante a maior parte de minha vida, sempre soube quem eu era e exatamente como me sentia, tanto em relação aos outros quanto em relação a mim mesma. Os sentimentos que direcionava e nutria para as pessoas ao meu redor eram primitivos e rasos, limitando-se as emoções básicas e de certa forma, mornas. Eu não abria brechas para criar qualquer laço, nem mesmo com aqueles que costumava ver diariamente. Os sentimentos que cultivava em relação a mim mesma, eram sólidos e impenetráveis. Nada era mais importante do que eu mesma e jamais permitiria que qualquer pessoa pudesse fazer com que eu me sentisse menos do que eu era. Talvez eu não fosse tão impenetrável quanto julgava. Com certeza não era. Lucas havia conseguido encontrar uma brecha em minha fortaleza, e de uma forma q
Gabrielle Estacionamos em frente ao clube esportivo. Era um local que todos os garotos costumavam frequentar. As garotas, no entanto, mantinham distância. Eu sempre implorei a Julls para me deixar tornar membro, mas obviamente ele nunca sequer cogitou a hipótese. Em teoria, era apenas um clube onde as pessoas se reuniam para praticar os mais variados esportes. Na prática, era um espaço para resolver desavenças. Toda a hierarquia ficava para fora daquele lugar, e os problemas pessoais eram resolvidos em boas partidas, seja lá qual fosse o esporte. Fiquei surpresa por Gadreel saber daquele lugar. ― Pensei que não conhecesse a cidade ― deixei escapar, olhando de soslaio. ― Fiz minha pesquisa ― respondeu com uma piscadela, soltando o cinto de segurança. Ele deu a volta no carro e abriu a porta para mim. Cavalheiro. N
Gabrielle O tecido de cetim parecia deslizar pela minha pele de um jeito quase indecente. Por um segundo, me senti poderosa, como se pudesse usar aquilo contra ele, mas a sensação logo deu lugar ao desconforto. Era como se cada olhar, real ou imaginário, estivesse me descobrindo ainda mais. Mas ninguém ali parecia se importar. Estavam todos focados em suas próprias lutas, como se o mundo externo não existisse. Na verdade, duvidava que alguém realmente "estivesse" ali. A descrição parecia ser uma regra implícita naquele lugar. Enquanto envolvia as faixas ao redor das mãos e punhos, sentia uma determinação crescendo dentro de mim. Se Gadreel quisesse uma retaliação, eu não facilitaria. Afinal, não era isso que eu queria? Uma chance de colocar em prática todo aquele treinamento? A
Gabrielle Gadreel era uma figura estranha, e talvez fosse exatamente isso que me intrigava. Sempre preferi os desviados. Pessoas previsíveis me entediavam. Sempre preferi aqueles que seguiam suas próprias regras, mas Gadreel era mais do que isso. Ele era um enigma que parecia intencionalmente impossível de desvendar, e isso fazia com que eu quisesse me aproximar, mesmo sabendo que poderia sair ferida. ― Como sabia? ― perguntei, com verdadeiro interesse em sua resposta. ― Você não é a única com dificuldade para dominar seus demônios, minha rainha ― murmurou ele em meu ouvido, enviando uma corrente elétrica pela minha espinha. ― A diferença é que eu não saio por aí acertando as pessoas, com tacos de golfe de cinquenta mil dólares. Sim, ele sabia. E eu nem queria imaginar como tinha
Gabrielle A cada tentativa frustrada, o suor escorria pela minha testa e o ar queimava nos meus pulmões. Ele se movia como uma sombra, e eu não conseguia prever seus movimentos. Quando me segurava, sua força era esmagadora, mas o sorriso no rosto dele era ainda pior Eu estava lutando contra o vento. Literalmente. Nem sequer cheguei perto de acertá-lo uma única vez. Gadreel se move com uma habilidade quase sobrenatural, me deixando ainda mais irritada com sua arrogância. Ele parecia se divertir a cada tentativa frustrada minha, rindo enquanto eu prendia contra seu corpo apenas para me imobilizar. E o pior de tudo era... talvez, uma pequena parte de mim estivesse gostando de alguma coisa. Era libertador. Descarregar minha frustração, minha raiva e minha violência sem medo das consequências. Não im
Gabrielle Os olhos de Gadreel se tornaram ferozes, selvagens. Sua mandíbula se apertou e as narinas inflaram. Ele estava irritado, muito irritado. Suas mãos tremiam ligeiramente, os dedos apertando sob a mesa com força. Era como se estivesse segurando uma tempestade dentro de si, prestes a explodir. Nunca o tinha visto tão descomposto. ― Que porra esse desgraçado está fazendo? ― Perguntou, com o olhar cravado no meu. ― Como ele está te tratando? ― Não é da sua conta ― respondi, num tom áspero que pretendia encerrar a conversa. ― E pelo visto nem da sua ― rebateu, com um veneno afiado. ― O que diabos você está fazendo com um cara que nem te leva para jantar, pelo amor de Deus? Era desconfortável. Como se Gadreel estivesse tirando um véu que eu mesma tinha colocado sobre os olhos. Não queria admitir que ele estava certo, que havia algo fundame
Art. Único: A herdeira terá posse absoluta, irrefutável e intransferível, após a maioridade de 21 (vinte e um) anos, sob o cumprimento das seguintes exigências: 1. A herdeira deverá ser apta ao cargo de CEO, tendo pleno conhecimento certificado das seguintes áreas: a. Administração de empresas e finanças corporativas b. Economia c. Engenharia d. Arquitetura e. Gestão de pessoas Essa foi a primeira das dez exigências de meu pai, nada fáceis de se cumprir. Ele era a pessoa que mais me conhecia no mundo, talvez soubesse mais de mim do que eu mesma, o que me deixava desconfortável, pois sabia exatamente como lidar com meu narcisismo. Não pude conter o riso quando li pela primeira vez, na verdade, eu ri alto e tão descontroladamente, que senti cada músculo do meu corpo vibrar. Me obrigar a ser social mediante um documento era tão John. Ele sabia que eu não gostava de participar de eventos sociais, sabia que eu não gostava das pessoas da minha idade, assim como sabi