Lucas Park
Castillo e Gadreel não eram apenas programadores excepcionais — eram estrategistas natos. A especialidade de Castillo era apagar rastros; a de Gadreel, invadir sistemas. Era um jogo de equilíbrio que os tornara os mais procurados no ramo. E Leslie, claro, não hesitara em contratar os dois quando teve a chance.
Lembrei-me das raras vezes que os observei trabalhando juntos. Para eles, “trabalhar” muitas vezes parecia uma extensão de seus jogos particulares. Uma vez por mês, reuniam a equipe para um jogo de “capture the flag”. Dividiam-se em dois times, e o objetivo era invadir o sistema do outro.
Naquela época, eu não entendia quase nada do que faziam. Digitavam comandos em telas que pareciam labirintos. Enquanto Gadreel tentava arrombar as portas que Castillo mantinha estrategicamente visíveis, Castil
Lucas Park Meus dias estavam se tornando cada vez mais turbulentos. Onde foram parar as manhãs agradáveis que passava ao lado de Gabrielle? Por que era tão difícil ter um momento de tranquilidade, sem que algo ou alguém surgisse para implantar obstáculos e objeções? Era pedir muito querer uma manhã de paz? Já bastava ela ter me deixado após aquela breve discussão, agora eu tinha Castillo de volta, mordendo meu calcanhar. E por que, toda vez que achava que não poderia ficar pior, a porra do meu celular tocava? Aqueles filhos da puta só podiam estar de brincadeira. Eles eram pagos para resolver qualquer problema em que Gabrielle resolvesse se meter, e se cada vez que ela pisasse fora da linha eu recebesse uma ligação, poderia muito bem mandar todos ficarem em casa. Por que agiam por conta própria somente q
Lucas Park Quando me sentei no banco do motorista, com a intenção de pegar meu celular e acessar as câmeras de segurança do hotel, a porta do passageiro se abriu. Castillo deslizou para o assento ao meu lado com a calma de quem sabia exatamente o quanto sua presença me irritava. Ele ostentava um sorriso que me fez cerrar os punhos sobre o volante, enquanto eu lutava contra a vontade de apagá-lo do rosto dele com um golpe. — Nem minha mulher me segue desse jeito — praguejei, apertando o volante com força. — Eu preciso de espaço, Castillo. Será que sabe o que é isso? — Deve ser por isso que sua garota está correndo para os braços de outro cara. — Ele soltou uma risada baixa, sem um pingo de vergonha. — Não está conseguindo lidar com ela, não é mesmo?
Lucas Park Sabíamos que Gabrielle só conseguiu tocá-lo porque o pegou de surpresa. Entre todos nós, Gadreel era, sem dúvida, o mais habilidoso. Seus anos nas forças especiais e em operações de inteligência internacional lhe renderam muito mais do que contatos excepcionais e conhecimento estratégico; ele adquiriu uma precisão mortal e um estilo de luta sem falhas. Era impossível encontrar uma abertura em sua defesa. Ele costumava frequentar lutas clandestinas e arenas, não por necessidade, mas por puro prazer. Gadreel encontrava satisfação em ver seus oponentes sangrarem e se renderem, e esse simples pensamento fez o frio na minha espinha se espalhar como um veneno. Gabrielle, por mais determinada e feroz que fosse, não tinha chance contra ele. Ela era como uma folha seca em suas mãos, frágil diante de sua força e habilidade. — Ele jamais a machucaria, — disse Castillo de repente, quebrando o silêncio. Sua voz tinha um tom resoluto, mas a dúvida pairava no ar como uma so
Gabrielle Durante a maior parte de minha vida, sempre soube quem eu era e exatamente como me sentia, tanto em relação aos outros quanto em relação a mim mesma. Os sentimentos que direcionava e nutria para as pessoas ao meu redor eram primitivos e rasos, limitando-se as emoções básicas e de certa forma, mornas. Eu não abria brechas para criar qualquer laço, nem mesmo com aqueles que costumava ver diariamente. Os sentimentos que cultivava em relação a mim mesma, eram sólidos e impenetráveis. Nada era mais importante do que eu mesma e jamais permitiria que qualquer pessoa pudesse fazer com que eu me sentisse menos do que eu era. Talvez eu não fosse tão impenetrável quanto julgava. Com certeza não era. Lucas havia conseguido encontrar uma brecha em minha fortaleza, e de uma forma q
Gabrielle Estacionamos em frente ao clube esportivo. Era um local que todos os garotos costumavam frequentar. As garotas, no entanto, mantinham distância. Eu sempre implorei a Julls para me deixar tornar membro, mas obviamente ele nunca sequer cogitou a hipótese. Em teoria, era apenas um clube onde as pessoas se reuniam para praticar os mais variados esportes. Na prática, era um espaço para resolver desavenças. Toda a hierarquia ficava para fora daquele lugar, e os problemas pessoais eram resolvidos em boas partidas, seja lá qual fosse o esporte. Fiquei surpresa por Gadreel saber daquele lugar. ― Pensei que não conhecesse a cidade ― deixei escapar, olhando de soslaio. ― Fiz minha pesquisa ― respondeu com uma piscadela, soltando o cinto de segurança. Ele deu a volta no carro e abriu a porta para mim. Cavalheiro. N
Gabrielle O tecido de cetim parecia deslizar pela minha pele de um jeito quase indecente. Por um segundo, me senti poderosa, como se pudesse usar aquilo contra ele, mas a sensação logo deu lugar ao desconforto. Era como se cada olhar, real ou imaginário, estivesse me descobrindo ainda mais. Mas ninguém ali parecia se importar. Estavam todos focados em suas próprias lutas, como se o mundo externo não existisse. Na verdade, duvidava que alguém realmente "estivesse" ali. A descrição parecia ser uma regra implícita naquele lugar. Enquanto envolvia as faixas ao redor das mãos e punhos, sentia uma determinação crescendo dentro de mim. Se Gadreel quisesse uma retaliação, eu não facilitaria. Afinal, não era isso que eu queria? Uma chance de colocar em prática todo aquele treinamento? A
Gabrielle Gadreel era uma figura estranha, e talvez fosse exatamente isso que me intrigava. Sempre preferi os desviados. Pessoas previsíveis me entediavam. Sempre preferi aqueles que seguiam suas próprias regras, mas Gadreel era mais do que isso. Ele era um enigma que parecia intencionalmente impossível de desvendar, e isso fazia com que eu quisesse me aproximar, mesmo sabendo que poderia sair ferida. ― Como sabia? ― perguntei, com verdadeiro interesse em sua resposta. ― Você não é a única com dificuldade para dominar seus demônios, minha rainha ― murmurou ele em meu ouvido, enviando uma corrente elétrica pela minha espinha. ― A diferença é que eu não saio por aí acertando as pessoas, com tacos de golfe de cinquenta mil dólares. Sim, ele sabia. E eu nem queria imaginar como tinha
Gabrielle A cada tentativa frustrada, o suor escorria pela minha testa e o ar queimava nos meus pulmões. Ele se movia como uma sombra, e eu não conseguia prever seus movimentos. Quando me segurava, sua força era esmagadora, mas o sorriso no rosto dele era ainda pior Eu estava lutando contra o vento. Literalmente. Nem sequer cheguei perto de acertá-lo uma única vez. Gadreel se move com uma habilidade quase sobrenatural, me deixando ainda mais irritada com sua arrogância. Ele parecia se divertir a cada tentativa frustrada minha, rindo enquanto eu prendia contra seu corpo apenas para me imobilizar. E o pior de tudo era... talvez, uma pequena parte de mim estivesse gostando de alguma coisa. Era libertador. Descarregar minha frustração, minha raiva e minha violência sem medo das consequências. Não im