Gabrielle
Sem olhar para trás, segui em direção à garagem. Não parei para conferir se ele estava me seguindo, e no fundo, desejei que não estivesse. A última coisa que eu queria era outra conversa com mais meias-verdades, rodeios e tentativas de controle.
A casa estaria vazia em alguns minutos, já que todos foram obrigados a participar daquela reunião que Jullian não parava de enfatizar como sendo "crucial". Mas eu não tinha interesse em ficar. Cada parede, cada espaço vazio parecia um lembrete cruel de como eu estava sendo aprisionada, não por tijolos, mas pelas expectativas e manipulações de todos ao meu redor.
Sem pensar muito no que estava fazendo, caminhei direto até o McLaren. Se Lucas queria me irritar com suas mentiras, eu poderia muito bem retribuir privando-o de seu mais nov
Gabrielle A cobertura tinha apenas dois apartamentos, e eu sabia exatamente qual deles pertencia a Lucas. A presença daquela mulher era desnecessária, uma irritação adicional que eu não estava disposta a suportar. Ela não precisava me acompanhar e, acima de tudo, não deveria presenciar o que viria a seguir. ― Eu sei o caminho ― murmurei, firme, saindo do elevador sem olhar para trás. Graças a Deus, ela não me seguiu. Caso contrário, não sei se minha paciência teria durado. Cada passo até a porta pareceu aumentar a ebulição dentro de mim. Quando finalmente cheguei, toquei a campainha com tamanha força que o som ecoou lá dentro como uma sirene anunciando um desastre iminente. Não levou nem meio minuto para a porta se abrir. Não me de
Gabrielle Como ele ousava insinuar que o tinha agredido deliberadamente? Ele já tinha esquecido que mentiu para mim, foi até minha casa e me drogou? E eu nem mesmo tinha começado a falar. Ele teria que me contar toda a verdade e a razão por trás de suas ações. Nunca dei motivos para ser alvo de alguém como ele. Nunca fiz nada que pudesse despertar ódio ou provocação. Nem mesmo o conhecia até uma semana atrás. Então, por que estava tão empenhado em se aproximar de mim, apenas para me trair de forma tão covarde? ― Você me drogou ― afirmei, sem hesitar. ― O que te faz pensar que fui eu? ― ele devolveu, estreitando os olhos com um brilho de provocação. ― E não foi? ― perguntei, confusa. Pelo menos poderia adm
Lucas ParkConfesso que temi sua reação ao mostrar aquele exame alterado. Tudo o que planejamos dependia dela, e eu estava apostando todas as minhas fichas. Havia apenas duas possibilidades: ela poderia recusar a participar daquela mentira, deixando todo o plano desmoronar, ou poderia concordar e, com isso, permitir que o caos que Castillo semeava em nossas vidas, se revelasse de uma maneira completamente fora do meu controle.E, no fundo, eu não sabia quais dessas opções me apavorava mais.Eu não queria que ela passasse por isso.Tudo o que eu desejava era segurá-la em meus braços e fugir dali. Longe de todas aquelas pessoas, longe de problemas que sequer deveriam ser nossos. Mas fugir
Lucas Park Ela era um furacão, explosiva e implacável quando chegava ao limite. Eu havia visto de perto a violência em sua raiva, a fúria que a consumia quando se sentia encurralada. E agora eu estava prestes a encurralá-la. Como ela reagiria quando eu contasse sobre a decisão de nossos pais? O casamento deveria ser nossa escolha. Somente nossa. Levei o que pareceu uma eternidade para convencê-la a sequer considerar a ideia. Gabrielle aceitou, mas com um pé atrás, segurando a decisão como um escudo. Era o tipo de acordo não falado que pairava entre nós: um dia, aconteceria. Só não sabíamos como ou quando. Era a nossa forma de manter o controle, mesmo em um mundo que constantemente nos tirava isso. E agora? Agora, eu a obrigaria a abrir mão disso também?
Lucas Park Ao colocar os pés na sala de reunião, compreendi imediatamente por que era eu quem deveria conduzir aquela maldita transação. Todos os olhares se voltaram para mim, mas nenhum deles transmitia confiança, apenas a expectativa cansada e, em alguns casos, o desprezo velado. Minha carranca aumentava a cada passo em direção à ponta da mesa, onde Jullian e Castillo me esperavam, carregados por seis figuras desconhecidas, estrategicamente distribuídas pela longa mesa. Eu sempre odiei essas salas de reunião. Elas me lembravam o hospital, com suas luzes frias, o ar pesado e a tensão mal disfarçada. Havia algo perturbador nas pessoas sentadas, todos olhando para o centro da mesa como se o contato visual fosse um crime. Era exatamente assim que me lembrava da junta médica me avaliando logo após recuperar a consciência.
Lucas Park Castillo e Gadreel não eram apenas programadores excepcionais — eram estrategistas natos. A especialidade de Castillo era apagar rastros; a de Gadreel, invadir sistemas. Era um jogo de equilíbrio que os tornara os mais procurados no ramo. E Leslie, claro, não hesitara em contratar os dois quando teve a chance. Lembrei-me das raras vezes que os observei trabalhando juntos. Para eles, “trabalhar” muitas vezes parecia uma extensão de seus jogos particulares. Uma vez por mês, reuniam a equipe para um jogo de “capture the flag”. Dividiam-se em dois times, e o objetivo era invadir o sistema do outro. Naquela época, eu não entendia quase nada do que faziam. Digitavam comandos em telas que pareciam labirintos. Enquanto Gadreel tentava arrombar as portas que Castillo mantinha estrategicamente visíveis, Castil
Lucas Park Meus dias estavam se tornando cada vez mais turbulentos. Onde foram parar as manhãs agradáveis que passava ao lado de Gabrielle? Por que era tão difícil ter um momento de tranquilidade, sem que algo ou alguém surgisse para implantar obstáculos e objeções? Era pedir muito querer uma manhã de paz? Já bastava ela ter me deixado após aquela breve discussão, agora eu tinha Castillo de volta, mordendo meu calcanhar. E por que, toda vez que achava que não poderia ficar pior, a porra do meu celular tocava? Aqueles filhos da puta só podiam estar de brincadeira. Eles eram pagos para resolver qualquer problema em que Gabrielle resolvesse se meter, e se cada vez que ela pisasse fora da linha eu recebesse uma ligação, poderia muito bem mandar todos ficarem em casa. Por que agiam por conta própria somente q
Lucas Park Quando me sentei no banco do motorista, com a intenção de pegar meu celular e acessar as câmeras de segurança do hotel, a porta do passageiro se abriu. Castillo deslizou para o assento ao meu lado com a calma de quem sabia exatamente o quanto sua presença me irritava. Ele ostentava um sorriso que me fez cerrar os punhos sobre o volante, enquanto eu lutava contra a vontade de apagá-lo do rosto dele com um golpe. — Nem minha mulher me segue desse jeito — praguejei, apertando o volante com força. — Eu preciso de espaço, Castillo. Será que sabe o que é isso? — Deve ser por isso que sua garota está correndo para os braços de outro cara. — Ele soltou uma risada baixa, sem um pingo de vergonha. — Não está conseguindo lidar com ela, não é mesmo?