Gabrielle
Ele me conduziu até o jardim de Leslie, um lugar que carregava mais memórias do que eu estava preparada para lidar. O mesmo espaço onde, anos atrás, costumávamos brincar, agora parecia completamente transformado. Onde antes havia um gramado impecavelmente aparado, perfeito para nos sentarmos, rolarmos e rirmos sem fim, agora havia mosaicos florais em tons vibrantes, exalando perfumes doces e delicados.
Por que nunca percebi essa mudança antes? Meu coração apertou ao lembrar de como, após sua partida, passei semanas sentada naquele gramado, sozinha, chorando. Lembro-me de Jullian me levar para um passeio. Quando voltei, o gramado havia desaparecido, substituído por essas flores. Na época, ignorei, concentrando minha raiva em outro lugar. Mas agora, tudo fazia sentido. Leslie tentou apagar uma memória que acreditava ser dolorosa.<
Gabrielle Lucas havia encontrado a forma mais eficaz e precisa de me fazer ceder. Refinou essa habilidade ao ponto de torná-la quase imperceptível, uma obra-prima de manipulação envolta em toques e beijos. Eu, ingênua e vulnerável, deixei que isso acontecesse vezes demais. Não era que eu desgostasse de sentir seus lábios nos meus ou suas mãos mapeando meu corpo como se fosse território sagrado. Longe disso. Mas odiava, com uma intensidade avassaladora, como ele fazia questão de desarmar minha mente no processo. Ele me desmontava, peça por peça, até que eu não pudesse lembrar de nada além dele. ― Não vai funcionar dessa vez ― murmurei, ofegante, pressionando suas mãos para afastá-lo, com a pouca força de vontade que consegui reunir.  
Gabrielle Lucas percebeu meu silêncio e suspirou profundamente, como se também estivesse cansado de carregar o peso das expectativas. ― Eu só quero que você esteja preparada para o que está por vir ― disse ele, suavizando a voz. ― Isso não é algo que você pode enfrentar sozinha, Gabrielle. Eu o encarei, tentando decifrar suas intenções, mas algo me dizia que ele sabia muito mais do que estava disposto a compartilhar. E isso me irritava tanto quanto me confortava. ― E por acaso acha que isso mudaria, se eu estivesse grávida? ― desafiei, cruzando os braços e encarando-o. Lucas manteve o olhar fixo em mim, a intensidade em seus olhos quase me fazendo vacilar. ― Sua gravidez abrirá os portões de sua casa ― respondeu, com uma
Gabrielle Sem olhar para trás, segui em direção à garagem. Não parei para conferir se ele estava me seguindo, e no fundo, desejei que não estivesse. A última coisa que eu queria era outra conversa com mais meias-verdades, rodeios e tentativas de controle. A casa estaria vazia em alguns minutos, já que todos foram obrigados a participar daquela reunião que Jullian não parava de enfatizar como sendo "crucial". Mas eu não tinha interesse em ficar. Cada parede, cada espaço vazio parecia um lembrete cruel de como eu estava sendo aprisionada, não por tijolos, mas pelas expectativas e manipulações de todos ao meu redor. Sem pensar muito no que estava fazendo, caminhei direto até o McLaren. Se Lucas queria me irritar com suas mentiras, eu poderia muito bem retribuir privando-o de seu mais nov
Gabrielle A cobertura tinha apenas dois apartamentos, e eu sabia exatamente qual deles pertencia a Lucas. A presença daquela mulher era desnecessária, uma irritação adicional que eu não estava disposta a suportar. Ela não precisava me acompanhar e, acima de tudo, não deveria presenciar o que viria a seguir. ― Eu sei o caminho ― murmurei, firme, saindo do elevador sem olhar para trás. Graças a Deus, ela não me seguiu. Caso contrário, não sei se minha paciência teria durado. Cada passo até a porta pareceu aumentar a ebulição dentro de mim. Quando finalmente cheguei, toquei a campainha com tamanha força que o som ecoou lá dentro como uma sirene anunciando um desastre iminente. Não levou nem meio minuto para a porta se abrir. Não me de
Gabrielle Como ele ousava insinuar que o tinha agredido deliberadamente? Ele já tinha esquecido que mentiu para mim, foi até minha casa e me drogou? E eu nem mesmo tinha começado a falar. Ele teria que me contar toda a verdade e a razão por trás de suas ações. Nunca dei motivos para ser alvo de alguém como ele. Nunca fiz nada que pudesse despertar ódio ou provocação. Nem mesmo o conhecia até uma semana atrás. Então, por que estava tão empenhado em se aproximar de mim, apenas para me trair de forma tão covarde? ― Você me drogou ― afirmei, sem hesitar. ― O que te faz pensar que fui eu? ― ele devolveu, estreitando os olhos com um brilho de provocação. ― E não foi? ― perguntei, confusa. Pelo menos poderia adm
Lucas ParkConfesso que temi sua reação ao mostrar aquele exame alterado. Tudo o que planejamos dependia dela, e eu estava apostando todas as minhas fichas. Havia apenas duas possibilidades: ela poderia recusar a participar daquela mentira, deixando todo o plano desmoronar, ou poderia concordar e, com isso, permitir que o caos que Castillo semeava em nossas vidas, se revelasse de uma maneira completamente fora do meu controle.E, no fundo, eu não sabia quais dessas opções me apavorava mais.Eu não queria que ela passasse por isso.Tudo o que eu desejava era segurá-la em meus braços e fugir dali. Longe de todas aquelas pessoas, longe de problemas que sequer deveriam ser nossos. Mas fugir
Lucas Park Ela era um furacão, explosiva e implacável quando chegava ao limite. Eu havia visto de perto a violência em sua raiva, a fúria que a consumia quando se sentia encurralada. E agora eu estava prestes a encurralá-la. Como ela reagiria quando eu contasse sobre a decisão de nossos pais? O casamento deveria ser nossa escolha. Somente nossa. Levei o que pareceu uma eternidade para convencê-la a sequer considerar a ideia. Gabrielle aceitou, mas com um pé atrás, segurando a decisão como um escudo. Era o tipo de acordo não falado que pairava entre nós: um dia, aconteceria. Só não sabíamos como ou quando. Era a nossa forma de manter o controle, mesmo em um mundo que constantemente nos tirava isso. E agora? Agora, eu a obrigaria a abrir mão disso também?
Lucas Park Ao colocar os pés na sala de reunião, compreendi imediatamente por que era eu quem deveria conduzir aquela maldita transação. Todos os olhares se voltaram para mim, mas nenhum deles transmitia confiança, apenas a expectativa cansada e, em alguns casos, o desprezo velado. Minha carranca aumentava a cada passo em direção à ponta da mesa, onde Jullian e Castillo me esperavam, carregados por seis figuras desconhecidas, estrategicamente distribuídas pela longa mesa. Eu sempre odiei essas salas de reunião. Elas me lembravam o hospital, com suas luzes frias, o ar pesado e a tensão mal disfarçada. Havia algo perturbador nas pessoas sentadas, todos olhando para o centro da mesa como se o contato visual fosse um crime. Era exatamente assim que me lembrava da junta médica me avaliando logo após recuperar a consciência.