Segredos do Passado, Prazeres do Presente
Segredos do Passado, Prazeres do Presente
Por: Jay Kelren
Capítulo 1

Sombras à Beira-mar

O vento frio da manhã batia contra o rosto de Camila enquanto ela observava o mar agitado. As ondas quebravam com força, ecoando dentro dela o mesmo tumulto que tentava deixar para trás. Era estranho pensar que agora, naquele pequeno vilarejo costeiro, sua vida poderia tomar um rumo diferente. Longe do caos e das cicatrizes que ainda marcavam sua alma.

Davi. Seu novo patrão. O nome soava enigmático, assim como o próprio homem. Poucos na vila falavam sobre ele, e os que o mencionavam o faziam em sussurros, como se ele fosse mais uma lenda do que uma pessoa real. Um artista brilhante, mas isolado. Um homem rodeado de sombras.

Camila suspirou, voltando seus pensamentos para o presente. Ela havia começado o trabalho há poucos dias, e Davi mal tinha falado com ela. Apenas instruções curtas, seguidas de longos períodos de silêncio. Ele era alto, com cabelos negros que pareciam desarrumados de propósito, e olhos que carregavam um peso imensurável. Tudo nele gritava controle, e isso a intrigava e assustava ao mesmo tempo.

Quando chegou ao ateliê naquela manhã, algo estava diferente. A porta de vidro, normalmente entreaberta, estava totalmente escancarada. O ar frio do oceano invadia o espaço, espalhando o cheiro da tinta fresca misturado com o sal do mar. Ela entrou devagar, olhando ao redor, admirando as grandes telas que cobriam as paredes, algumas ainda inacabadas, outras com figuras abstratas que a faziam sentir algo inexplicável.

“Você chegou cedo”, uma voz grave ecoou de algum lugar. Camila se virou rapidamente e viu Davi emergindo de trás de uma enorme tela. Seus olhos escuros pareciam analisá-la com uma intensidade quase sufocante.

“Desculpe se estou incomodando”, ela murmurou, sentindo-se um pouco desconfortável com a forma como ele a olhava.

Davi não respondeu de imediato. Em vez disso, caminhou até a janela, acendendo um cigarro, sem tirar os olhos dela.

— Você não incomoda — disse por fim, soprando a fumaça para o lado. — Mas há coisas aqui que podem… incomodá-la.

Camila franziu o cenho, sem saber como interpretar aquilo.

— O que quer dizer? — perguntou ela, tentando manter a compostura.

Ele deu um leve sorriso de canto, enigmático.

— Há coisas que você não entenderá sobre mim, Camila. Coisas que talvez você nem queira saber.

Ela engoliu em seco, sentindo um calafrio percorrer sua espinha. Algo nele a atraía, mas ao mesmo tempo, um instinto profundo a avisava para ter cuidado. Talvez fosse o tom de sua voz ou o jeito como ele mantinha distância, mesmo quando estavam no mesmo cômodo.

— Não vim aqui para entender você. Apenas para trabalhar — respondeu com firmeza, tentando esconder a perturbação em sua voz.

Davi deu uma risada baixa, abafada.

— Bom. Mantenha isso em mente. — Ele se afastou, caminhando até uma das telas inacabadas. — Pegue os pincéis. Quero terminar isso hoje.

Camila obedeceu, pegando o material necessário. Mas enquanto ele começava a pintar, não conseguia desviar os olhos dele. Cada movimento era calculado, como se ele controlasse tudo ao redor — até o ar que ela respirava. Era quase impossível ignorar a presença de Davi. E, mais do que isso, o crescente desejo que ela não queria admitir.

Enquanto os minutos se arrastavam, o silêncio entre eles parecia ganhar um peso insuportável. Finalmente, ela quebrou a tensão.

— Por que você se esconde aqui? — perguntou, hesitante.

Davi parou de pintar, o pincel suspenso no ar. Por um momento, ela achou que ele não fosse responder. Mas então, ele a olhou de forma penetrante, seus olhos parecendo ver algo muito além dela.

— Talvez eu esteja esperando alguém para me encontrar — disse suavemente, antes de voltar ao seu trabalho.

As palavras pairaram no ar, enigmáticas e provocantes. Camila não sabia se ele se referia a ela ou a outra coisa, mas, de alguma forma, sentiu que, a partir daquele momento, ela estava muito mais envolvida na vida de Davi do que jamais imaginou.

O trabalho continuou em silêncio, mas a tensão entre eles permanecia palpável. Camila tentava se concentrar nas tarefas, mas seus pensamentos voltavam constantemente para a figura enigmática de Davi. O homem que parecia ser uma mistura de mistério e desejo, escondido atrás de uma fachada de controle e indiferença.

Quando o sol começou a se pôr, tingindo o céu com tons dourados e rosados, Davi se levantou da tela, esticando os braços cansados.

— Você pode ir agora — disse ele, a voz ainda grave, mas com um tom de cansaço. — Não temos mais nada a fazer hoje.

Camila acenou com a cabeça, pegando suas coisas e se preparando para sair. Ao passar por Davi, ela sentiu o olhar dele sobre ela, como se ele estivesse tentando ler algo em seus olhos.

— Até amanhã, então — disse ela, tentando soar casual, mas sentindo um nervoso crescente.

Davi fez um gesto de concordância, sem responder. Camila saiu do ateliê e caminhou até a vila, o vento frio agora parecia mais ameno. Mas, enquanto se afastava, uma sensação de inquietação a acompanhava. O dia tinha sido um mergulho em um mundo de mistério e sombras, e ela sabia que, apesar de sua tentativa de manter distância, estava inevitavelmente atraída pelo enigma que Davi representava.

A noite desceu sobre a vila, e Camila se deitou em sua cama, ainda pensando em Davi. Seus segredos, sua presença enigmática e a maneira como ele a fazia sentir-se ao mesmo tempo intrigada e assustada. O futuro estava incerto, mas uma coisa estava clara: sua vida havia tomado um rumo inesperado, e Davi tinha uma grande parte nisso.

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